Humanos escrita por Nando


Capítulo 8
David


Notas iniciais do capítulo

E estou de volta! Lamento pelo atraso mas o novo cap está aqui! Aproveitem!



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Alguma coisa está errada. Em pouco tempo o clima tinha ficado mais pesado. Era como se algo estivesse a acontecer debaixo do meu nariz mas que eu ainda não tinha notado. Engoli o último garfo de arroz e levantei-me da mesa. Mais um dia a almoçar sozinho. Margarida tinha deixado de almoçar comigo dando desculpas do estilo: “Já combinei com umas amigas…” e coisas parecidas. Aquela rapariga tentava distanciar-se de mim, mesmo nas aulas evitava ao máximo falar comigo. Perguntei-lhe se passava alguma coisa com ela mas ela apenas respondeu que andava atarefada. Comecei a tratar do livro sozinho preferindo não lhe dizer nada. Nunca entendi as raparigas e não era agora que iria entender, se ela quisesse falar comigo ela viria ter comigo.

            Mas ela não era a única a agir estranhamente. O meu irmão também se começava a distanciar de mim. Aparentava estar muito mais cansado e numa noite quando me levantei para ir á casa de banho dei uma olhada no quarto dele e ele estava na frente do computador. O meu irmão no computador a meio da noite?! Nem mesmo para estudar ele ficava acordado até tão tarde, ou seja, se ele não estava a estudar de certeza que estaria a fazer outra coisa, mas o quê?

            Sentei-me nas escadas e pus os phones nos ouvidos com a música no máximo, para ver se me livrava destes pensamentos. Passei por músicas de estilos diferentes, desde o rock até ao pop, quando avistei um grupo ao longe que falava animadamente, e Jack estava nesse grupo! Outro que andava a agir estranhamente! Jack tinha começado a fazer amigos e em pouco tempo tinha se integrado. Nunca esperaria isso dele… Sempre pensei que fosse do tipo antissocial mas acho que as aparências iludem…

            Levantei-me e decidi dar uma volta pela escola. Às vezes ajudava-me a relaxar e a descontrair, e era disso que estava a precisar.

            Quando contornei o canto deparei-me com Adrian a fitar o horizonte com um olhar perdido sem vida. O último que me faltava verificar. Deixei-me estar parado á espera que me dirigisse a palavra. Após uns segundos de espera, Adrian notou a minha presença e virou-se na minha direção, o olhar estava vazio e com uma voz fraca disse:

            -Não tens mais nada para fazer?

            Dei um sorriso e respondi:

            -Hoje senti-me com vontade de observar a desgraça dos outros!

            Adrian não respondeu. Limitou-se a baixar a cabeça, tal como pensara, algo o tinha afetado fortemente. Uma voz na minha cabeça associou à derrota de “Soul” que encarou o meu pai mas que saiu com o rabo entre as pernas, Adrian provavelmente queria entrar para esse grupo e vê-lo ter sido destruído de forma tão simples devia tê-lo afetado. Será que ele iria desistir tão facilmente do seu sonho? Decidi perguntar-lhe:

            -Então pelo jeito que estás posso presumir que desistes do nosso desafio?

            Adrian deu um salto como se tivesse sido picado. Ficou parado a olhar para mim como se acabasse de ter acordado e então disse entre gaguejos:

            -Nem pensar… Eu vou ganhar com certeza… Só estou um pouco cansado…

            -Cansado de perder?

            A cara de Adrian ficou vermelha e então respondeu com voz firme:

            -Até parece! Eu consigo ganhar em tudo! E posso provar!

            -Oh! Para alguém tão deprimido até tens uma grande força de vontade! Mas em que coisa tu poderias ganhar?

            Adrian mordeu o lábio e após uns momentos de hesitação decidiu por fim dizer:

            -Um jogo de basquetebol, amanhã na aula de educação física, cada um de nós pode escolher alguém para ajudar!

            Um jogo de basquete? Passou-me muita coisa na cabeça mas nunca imaginaria que seria algo tão inesperado! E ele iria fazer 2 contra 2 para provar a sua superioridade. Dei um sorriso. Parece que o Adrian estava de volta!

            -Eu aceito as tuas condições Adrian, veremos quem ganha!

            Adrian vira as costas e vai embora sem dizer mais nada. Fiquei a vê-lo afastar-se para então me virar na direção contrária. A campainha tocou e eu aumentei a velocidade de cada passo até me dar de frente com a porta da sala aberta. Entrei e sentei-me ao lado de Margarida, que não me dirigiu palavra. Encolhi os ombros e limitei-me a sentarem silêncio. Fixei a minha atenção no professor tentando dar o máximo de atenção. Tinha que melhorar as notas para poder entrar na Universidade. Passei a aula inteira a tirar notas sobre a matéria dando olhares de relance para Margarida. O olhar dela estava mais vazio que o normal, alguma coisa acontecera com ela.

            O toque final soou. Os alunos levantaram-se de um salto em direção á saída. Margarida junta-se a eles sem dizer nada e eu não a impedi. Quando me dei conta estava sozinho na sala com a Sara. Toda a gente dizia que ela era louca e que tinha problemas. Eu próprio já tinha presenciado uma tentativa de suicídio por parte dela que consegui evitar no último momento. Naquele momento não me apetecia estar na mesma sala que ela. Dirigi-me em direção á porta mas fui evitado por ela, que me chamou. Virei-me calmamente e fiquei parado á espera que ela dissesse alguma coisa, o que acabou por acontecer:

            -Aconteceu alguma coisa entre ti e a tua namorada?

            Olhei interrogativamente para ela:

            -Que namorada? Que eu saiba não tenho nenhuma…

            Ela deu um risinho, até que conseguia ser fofa, nem parecia tão doida como contavam:

            -Estou a falar da Margarida!

            Fiquei parado a olhar para ela racionando sobre o que ela tinha dito. Eu e a Margarida namorados? A sério que parecia isso? Nunca pensei que o que fazíamos podia ser considerado coisas de namorados! Nunca tivera uma namorada antes então não percebia de nada sobre o assunto. Mas para ser namorado não é preciso amar-se um ao outro? Eu até podia sentir muita coisa pela Margarida mas de certeza que não era amor, pois não sentia as mesmas coisas que diziam que o amor fazia, nunca sentira isso por ninguém, e não devia ser agora que teria. Os meus pensamentos foram interrompidos por Sara:

            -David, tás aí?

            Abanei a cabeça a me tentar livrar destes pensamentos e respondi:

            -Só fiquei surpreso por dizeres que eu e a Margarida somos namorados! Nunca tive esse sentimento por ela e ouvir alguém dizer que somos namorados deixou-me meio confuso!

            -A sério que não namorais? Andais sempre juntos e todos os rapazes na nossa turma estão caidinhos por ela! Pensei que tu também estarias!

            A sério que todos os rapazes gostavam dela? O que ela tinha de especial? Para mim era só outra rapariga, a única diferença era que ela estava a ajudar-me com o livro, mas do jeito que as coisas estavam provavelmente iria continuar com uma carreira a solo.

            -Não estou apaixonado por ela. Foi só para a ajudar a entrar na turma e como podes ver ela já deixou de andar comigo como todos os outros!

            Sara abriu um largo sorriso e dirigiu-se até mim, põe-se de bicos de pés e dá-me um beijo na bochecha. Fiquei paralisado e então ela sussurra-me ao ouvido:

            -Mesmos que todos te abandonem lembra-te que eu estarei sempre contigo!

            Afastou-se de mim e saiu porta fora sem dizer mais nada. Fiquei parado com a mão na bochecha sem saber o que fazer. Olhei para o relógio e vi que faltava pouco tempo para o autocarro sair. Foi como uma estalada. Comecei a correr que nem um doido e ainda consegui chegar a tempo. Inventei uma desculpa esfarrapada para o meu irmão e o autocarro arrancou. Virei-me para a janela e comecei a pensar no que a Sara tinha dito. No final ela não era assim tão má e até podia-me ajudar no lugar da Margarida… Outro pensamento veio-me então á mente – tinha um jogo de basquete amanhã e precisava de alguém, o único bom em desporto era o meu irmão, que se encontrava ao meu lado, e apenas ele me podia safar já que eu era terrível no desporto. Virei-me para o meu irmão e disse no tom mais amigável que consegui:

            -Eu e o Adrian planejámos um jogo de basquete amanhã na aula de educação física e preciso de alguém para jogar do meu lado, podias ser tu essa pessoa…

            Pedro deitou-me um olhar que me fez calafrios, ele ia preparar-se para dar um redondo não, mas eu consegui evitar:

            -Por favor, não tenho mais ninguém!

            Pedro deu um longo suspiro e acabou por anuir, disse-lhe obrigado um montão de vezes, com ele conseguiria ganhar facilmente a Adrian.

            Não trocamos mais nenhuma palavra, até chegarmos a casa. O meu pai não iria jantar essa noite – trabalho como General. Ele tinha ficado conhecido por ter derrotado Soul e agora era convocado para uma dúzia de trabalhos. Acabei de jantar e segui direto para o quarto mas essa noite não consegui dormir. As palavras de Sara e o beijo na bochecha não saíam da minha mente. Estaria apaixonado pela Sara? Impossível! Não havia nenhum sentimento por ele, e também não havia nenhum pela Margarida. No final eu continuo a ser um coração de pedra que nunca irá se apaixonar e que apenas pensa no seu futuro!


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Notas finais do capítulo

E então gostaram? Não esqueçam de comentar a vossa opinião sobre a fic e de favoritar! Isto é tudo! Até á próxima!



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