E, depois de tudo o que ela fez, ele não foi capaz de amá-la. Não da forma que ela desejava, pelo menos. Depois de todo o sofrimento, de toda a luta, de todas as coisas em sua vida que a mulher abriu mão, lá estava ele. Indo embora. Sem olhar para trás. Feliz com outra pessoa. Enquanto os dois se abraçavam aliviados, ela chorava olhando a cena da janela de sua casa. Seu coração estava partido e não havia nada que pudesse o curar naquele momento.

Sempre havia sido ele. Ela sabia. Mesmo quando ele jurava que eles eram apenas amigos. Ela via o jeito que os dois se olhavam, e sabia que nunca teria aquilo. As ligações na madrugada, as brincadeiras, as declarações, o cuidado... Ela nunca teria aquilo com ele – sempre soube. Então por quê? Por que havia se permitido ir tão longe? Por que havia lutado tanto por algo que nunca daria certo?

O quão engraçado pode ser o amor? Pessoas falam de amor o tempo todo, mas não param realmente para pensar no quão cruel o mesmo pode ser. Quem foi que disse que o amor só existe se for correspondido? Quem foi que disse que o amor só existe se há um final feliz? Apenas nos casos mais raros o amor é lindo como os filmes mostram. Em sua maioria, o amor era daquela forma, como ela estava vivendo. Um sentimento ingrato, que suga sua vida e não dá nada em troca. Quem criou esse tal de amor não o fez com muito cuidado, deixando diversas pontas soltas. E ela era apenas mais uma ponta solta, sozinha e sem esperança, no final da linha.

Ele não era perfeito. Nunca havia sido ótimo para ela e talvez nem fosse tão bom quanto seu ex namorado, mas nada daquilo importava, pois quando a mulher olhava no fundo de seus olhos, a vida parecia perfeita. Seus olhos brilhantes combinavam perfeitamente com seu sorriso, o que fazia com que qualquer outra pessoa sorrisse com ele. Havia rumores sobre a sexualidade do rapaz, mas eram apenas rumores, nada que a impedisse de se apaixonar perdidamente por ele. Infelizmente, depois de alguns anos juntos, algo a fez enxergar um fundo de verdade nos tais rumores, que a devastou, porém não a fez pensar em largá-lo em nenhum momento.

Apenas os dois sabem o quanto lutaram para ficar juntos. Ele a amava tanto! Da forma dele, mas amava. A mulher havia o ajudado por anos, sempre estando ao seu lado e provando seu amor, de uma forma que ele sabia que jamais poderia retribuir, e aquilo partia seu coração. Ele queria amá-la daquela forma, queria desejá-la como mulher e fazê-la se sentir ao menos um terço do quão maravilhosa era. Mas seu coração sempre pertenceu ao melhor amigo, que havia crescido com ele e o ensinado a amar. Era um amor proibido, impossível, que os dois guardaram no fundo de seus corações e juraram proteger para sempre. Mas hora ou outra aquele sentimento repreendido acorda como um bebê na madrugada, acordando a todos e não parando de chorar até que alguém vá tratá-lo.

Obviamente, não foi ela que terminara tudo. Mesmo sabendo que ele não poderia amá-la, mesmo sabendo que estava sendo traída, mesmo que o marido não a tocasse mais. A ideia de deixá-lo era totalmente inviável para a mulher. Então, em um belo dia, ele entrou pela porta com os olhos carregados de lágrimas que estavam prestes a cair, e ela soube. Aquele amor havia feito com que ela se tornasse egoísta a ponto de fazê-lo sofrer com culpa por não amá-la no lugar de simplesmente aprender a viver sem ele. Os dois se abraçaram e se beijaram como se nada mais importasse, chorando compulsivamente, sabendo que aquele era o fim.

E lá estava ela. Vendo seu marido ir embora com o melhor amigo, a deixando sem olhar para trás. Seu corpo estava fraco, sua cabeça doía, seus olhos estavam inchados de tanto chorar, sua maquiagem estava toda borrada, suas roupas velhas estavam amassadas, seu quarto estava uma bagunça e não havia nenhuma luz ali. Tal imagem, sem nenhuma alteração, era a representação do sentimento que tanto desejamos sentir. Naquele momento, a mulher entendeu o que era o amor.