Tudo pode mudar escrita por Gaby Mendes


Capítulo 9
Capitulo 9


Notas iniciais do capítulo

Eu já havia dito antes, mas, vou repetir: Eu estava de ferias e sem internet.
Resolvi voltar com esse capitulo que tirou muito de mim, me fez arrepiar e suar frio, tanto por ser minha primeira tentativa, quanto por ele em si. Sem delongas, bom capitulo, e fantasminhas comentem ♥



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Eu acabei adormecendo sem perceber. Não era de se estranhar, afinal, eu estava cansada e havia dirigido por horas.

Olhando em meu relógio de pulso, vi que já estava amanhecendo e que também minhas 48 horas estavam acabando. Acabando antes de que eu tivesse uma decisão definitiva em mente.

Eu sabia que tudo ia mudar, assim que meus olhos cruzassem com os do Doutor. Eu só não sabia qual seria minha reação. Há muito tempo eu não sei qual vai ser minha reação ao encontra-lo.

Os primeiros raios de sol nasciam revelando uma linda pintura entre o céu e o mar, sem dúvida, uma das coisas mais lindas que eu já havia visto. É tão estranho pensar que mesmo morando e vivendo num planeta tão rico em belezas, não nos damos tempo para ver o sol nascendo.

Fiquei imaginando como seria em Gallifrey, será que lá, os sóis nasciam e morriam como aqui? Será que lá, eles se cruzavam, formando um eclipse todo dia? Eu nunca saberia, por que essa era a ferida do Doutor, e eu não queria que a cicatriz se abrisse.

O sol havia se erguido do mar quando tudo escureceu, transformando o amanhecer num total breu. Eu sabia o que aquilo queria dizer, meu prazo havia findado, e a tempestade iminente estava chegando.

Aos poucos uma fenda foi se abrindo, e uma luz equivalente a um sol apareceu. Não era equivalente a um sol, era o sol, o sol do outro mundo se equalizando com o nosso.

Os ventos se cruzavam e assoviavam, o mar estava revolto. A luz antes clara e límpida, tomava tons avermelhados, e eu que estava sentada na praia agora estava de pé, observando o apocalipse que eu havia provocado.

– O QUE FOI QUE EU FIZ? – Foi o único pensamento que me veio em mente.

Minhas retinas queimariam se eu continuasse olhando para o centro de tudo aquilo, as luzes eram tão bonitas e seduzentes que me faziam querer continuar lá. Coloquei as costas da mão em meu rosto, para tentar evitar que a areia e o sal que agora voava em minha direção não me machucasse, em vão, eu já estava coberta pela areia daquele pedaço maldito do inferno.

Os ventos me empurravam, quase caí, mas de algum modo consegui me manter em pé, para ver o que tanto esperei. O meu desejo estava se realizando, mas o inferno a minha volta não deixava de me lembrar de tudo o que viria após.

Enfim, vi a velha caixa azul, no meio do vermelho e laranja, a caixa azul imponente que enfrentou o fogo para conseguir o impossível. Quando ela atravessou a fenda, houve um estrondo e por um momento perdi a audição, fui jogada para longe com a onda de choque que o rompimento de barreiras causou, tudo estava em câmera lenta a minha volta.

Eu voava na direção oposta da TARDIS em tamanha lentidão que me fez escutar o meu piscar de olhos, cai arrastando as costas na areia, mas sem tempo de sentir dor ou queimação. Eu desmaiei antes que pudesse pensar no que havia acontecido.

*

Eu acordei e a primeira coisa que escutei foi o alarme do meu carro. Abri meus olhos devagar, tentando criar uma ponte entre a razão e a emoção. Tentei me levantar, mas minhas costas doíam por que havia sido arrastada por alguns metros na areia. Me forcei a ter coragem e me erguer sob aquelas circunstâncias.

Por Deus, como eu havia desejado ter aquela vida de volta. Mas quando eu olhei para o céu aquela manhã, eu não sentia nada mais que culpa.

– O que foi que eu fiz? – Ainda era o principal pensamento que eu tinha.

O alarme ainda ressoava pela Baía quase vazia, procurei pelos bolsos da calça, as chaves do carro. – CALADO!!!- Gritei desligando o barulho azucrinante.

A verdade é que minha irritação nada tinha a ver com o alarme ou com o barulho, que por sinal foi bom saber que eu ainda podia escutar, eu estava irritada por saber que havia sido culpa minha. Eu sofria por antecipação, mas sabia que nem todo sofrimento que eu sentisse iria apagar tudo o que havia feito.

Meu pai havia dito que os impactos seriam relativamente pequenos. Como eu queria que isso fosse verdade. Que pelo menos uma vez, alguma verdade na minha vida se concretizasse. Mas depois do que eu vi, toda certeza em mim foi embora, eu só via pessoas morrendo.

Entrei dentro do carro, ele havia resistido bem. Eu não poderia dizer o mesmo dos vidros, mas a lataria estava praticamente intacta. Me encostei no banco de motorista, puxando a alavanca para que o banco deitasse. Eu não queria olhar lá fora. Eu não queria ver a Tardis. Eu não queria encontrar o Doutor.

– Um pouco tarde para isso! – Minha consciência bradou.

Sim, era tarde demais. Era tarde demais para eu o mandar embora, era tarde demais para salvar as pessoas que haviam morrido. Olhei meu reflexo no pedaço de espelho retrovisor interno do carro que havia resistido. Quem era essa? Por que eu não faria isso, a antiga Rose jamais colocaria pessoas em risco, apenas por uma paixão adolescente. Mas não havia sido eu que havia passado dos limites que eu mesma impuz, esse havia sido o Doutor. Será que era isso então, eu havia feito o Doutor quebrar suas regras? Eu era essa mulher? Uma mulher que faz o mundo quebrar por uma vontade boba.

Ele fez besteira, ele quebrou suas regras por que me queria de volta. Foi então que uma ficha dura e fria caiu em mim, ele voltou por que precisava de sua Rose, a Rose que o fazia ver o mundo colorido, o fazia ter esperança.

Eu não era mais essa Rose, eu era a Rose nublada. A Rose que está perdida e não sabe como se encontrar. Ele fez besteira por que queria a garota rosa e amarela. Eu não era mais ela, eu não sentia que houvesse esperança pra mim.

O caco do retrovisor interno caiu, fazendo com que eu não visse mais o meu reflexo. Quem era eu, afinal? Eu era boa ou era quebrada? Peguei o caco cortante em minhas mãos. Eu era a que inspirava esperança ou era a que trazia destruição? Segurei o pedaço de vidro firmemente. Eu era a Rose rosa e amarela ou a Rose preto e cinza? Coloquei o caco apontado para artéria do meu pescoço. O Doutor que precisa de mim ou sou eu que preciso dele?

Segurei o caco até que meus dedos ficassem brancos, ainda apontando para minha artéria, suspirei pesadamente e larguei o pedaço de vidro, chorando.

Eu não era a Rose que me matava.

Minha mão sangrava, passei a palma ensanguentada pelo banco, mas acabei encontrando uma mochila debaixo do banco de passageiro, ela era preta sem detalhes. Abri com curiosidade, a primeira coisa que encontrei foi uma carta.

Mesmo com a mão machucada, desdobrei a carta, era do meu pai.

Querida Rose,

Eu sei exatamente qual vai ser sua reação ao descobrir o que mais essa mochila carrega. Mas quero que saiba, que eu sempre vou te amar, não importando se você estiver aqui ou em qualquer outro universo.

Sei também, o quanto deve estar confusa agora que o momento se aproxima. Já disse a você que seja qual for sua decisão, eu estarei ao seu lado.
Mas indo direto ao ponto, o que quero dizer é que nessa mochila você vai encontrar, os tais mapas que o Doutor precisa, eu não sei para o quê ele quer, mas acredito que seja importante para quando vocês estiverem juntos.

Vai ficar tudo bem, não chore, como eu sei que esta fazendo agora. Nem se culpe pelo o que vai acontecer com o nosso mundo, ele sempre esteve perdido, sempre foi uma causa perdida, mas acredito que no fim vai ficar tudo bem.

Lembre-se das coisas boas que vivemos, lembre-se do seu irmãozinho e de sua mãe, e quando estiver nos céus, viajando pelas estrelas, olhe para elas como se estivesse olhando para mim nos nossos melhores momentos.

Eu te amo, minha menina.

Eu estava chorando, meu pai podia estar morto agora. Minha família, todos que conheci. Meu pai tem tanta certeza que vou com aquele homem que ate se despediu.

Olhei para o resto da mochila e vi que eram todos mapas. Eu agora estava com raiva. Joguei o vidro, o mesmo com que cortei minha mão para longe e gritei.

Eu queria ter certeza que eu não iria, mas eu tinha certeza que eu ia acabar indo. Eu não sou a Rose ruim ou boa, eu sou a Rose estupida que vou ir embora com aquele homem!

Joguei tudo que encontrei para longe, queria me jogar de uma ponte para não sentir mais nada. Nem raiva, nem culpa, nem medo e muito menos amor.

Foi o amor que me trouxe aqui e seria ele que me destruiria.

Foi então que enfim, eu acabei olhando para a Tardis. Lá estava ela, parada, parecendo esperar para que eu fosse até ela, peguei a mochila e sai do carro. Eu não sabia descriminar o que estava sentindo, mas segui até ela.

Meu destino estava tão somente nas minhas mãos, mas minhas mãos estavam trêmulas e sem firmeza para conseguir tomar uma decisão, estavam ensanguentadas e não apenas com o meu sangue, mas, com o sangue de todo aquele planeta.

Então, faltando seis metros para que chegasse a porta da cabine azul, a porta se abre. Meu coração falha, minha respiração se desregula, meu estômago dá voltas. Ele está na porta, olhando para o mar, não parecendo acreditar no que vê.

E eu estou parada, sem conseguir tirar meus olhos dele ou meus pés do chão. Ele então sai da cabine, se vira e me olha. Meu coração dispara, minha boca fica seca, e aos poucos um sorriso vai dançando em meus lábios.

– Rose...- Ele sussurra para si mesmo também não conseguindo acreditar.

Seu sorriso se forma por completo, o sorriso mais lindo que eu já havia visto.

Seus olhos parecem mais velhos, eles envelheceram, mas há um brilho diferente neles, um brilho que já havia identificado antes quando o vi por vídeo, mas agora pessoalmente, o brilho esta ainda mais vivido.

– Rose, eu não posso acreditar. – Ele ainda sussurra, mas anda em minha direção, a cada passo começo a perder cada pedaço do que eu sentia, tudo se despedaça como um iceberg na Antártica. Ele se aproxima de forma que eu possa ver nossa diferença de altura.

– Tenho medo de que você não seja real. – Digo em tom de voz baixo, tinha medo que ele fosse um holograma ou mais um de meus sonhos. – Tenho medo que não possa te tocar. – Digo ecoando meus pensamentos.

Ele então pega meu rosto entre suas mãos. Seu toque é tão reconfortante, tão delicado e simples. Seus olhos nos meus, me fazem sentir tão pequena que desvio o olhar. Ele faz círculos com os polegares em minhas bochechas, seu toque é tão leve que me faz fechar os olhos.

– Olhe para mim, Rose Tyler. – Ele diz com uma voz calma, mas, imperativa, eu não obdeço, constrangida. Havia se passado tanto tempo, e aquilo estava sendo mais intimo do que qualquer abraço que havíamos dado. – Por favor, olhe para mim. – Pede docemente, eu obdeço.

Ele então tira suas mãos do meu rosto e pega minhas mãos que estavam nervosamente batendo na minha calça. Ele não tira seus olhos de mim, mas parece tranquilo ao pegar minhas mãos e coloca-las em seu rosto. – Veja que eu sou real. – Ele diz apertando-as carinhosamente, suas mãos estão sobre as minhas, e estamos tão perto. – Veja que eu estou aqui por você.

Eu nervosamente toco seu rosto, meus dedos caminham por sua pele, sinto o quanto ela é macia, me perco na sensação, e o vejo fechar os olhos por alguns instantes, chego a esquecer que elas estavam cheias de sangue. Passo meus dedos por sua testa vagarosamente, passo meus indicadores em seus olhos fechados, descendo por sua bochecha, passando delicadamente por seu nariz, quando chego ao sua boca, ele abre os olhos.

Me surpreendo ao ver o quanto está preso no momento ele está, tão preso quanto eu, numa sintonia que nunca tivemos antes. Ele então faz uma coisa que surpreende, ele umedece os lábios, não se importando que eu estou com um dos meus indicadores lá.

Eu sinto arrepios por todo meu corpo. Sinto frio e calor, me sinto feliz e triste. – Eu estou aqui para você. – Diz sussurrando.

– Doutor, eu... – Eu tento falar, mas, ele apenas me cala colocando as pontas de seus dedos na minha boca, passando-os devagar.

– Palavras estragam os momentos especiais. – Ele aproxima sua boca de minha orelha e coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. – Palavras ditas antes do tempo, apenas atrapalham. – Ele beija minha orelha, me proporcionando mais arrepios, ele desce sua boca por meu pescoço. – Eu esperei tanto por isso... – Ele me abraça, me prendendo com seus braços. – Esperei para que fosse o momento certo...- Estamos tão próximos que sinto seu cheiro tão indescritível. Ele continua beijando meu pescoço, mas troca de lado, não deixando de olhar para mim no meio do caminho. – O momento é agora, Rose. – Diz em meus ouvidos como se fosse um segredo que apenas nós pudéssemos saber.

A declaração me faz perder o ar, o iceberg acaba de se despedaçar no mar gelado. Aquilo estava mesmo acontecendo? Eu estou presa em seus braços, presa no instante em que ele diz meu nome. Ele destrói todas as minhas defesas como se fosse papel em contato com água. Meus sentimentos desaparecem quanto ele calmamente e sem falar uma palavra, agarra minha mão e me leva até a Tardis.

Mesmo tendo passado algum tempo na nave, eu ainda me surpreendi, estava tudo igual, tudo como no dia que eu havia saído, tudo tão intocável que cheguei a pensar que ele não teve outras depois de mim, mas eu sabia que ele teve. Por que o Doutor é um homem que precisa de companhia por que a solidão o faz ser ruim.

– Ela não mudou nada. – Disse olhando para tudo em minha volta.

Ele sorriu. – Ela esperou por você, Rose. Esperou pelo dia que você voltasse.

Eu corri pelos corredores tão diferentes e ao mesmo tempo tão familiares da Tardis, até que cheguei a uma porta tão familiar quanto possível. A porta com flores na maçaneta, a porta do meu quarto.

Abri devagar ainda com receio de estar sonhando, entretanto, quando vi que tudo estava a mesma bagunça da última vez, tudo tão intocado, sorri. Sorri por que lembrei dos bons momentos, sorri por que lembrei que esse já foi meu lar.

– Eu só vim aqui uma única vez. – Ele estava no batente da porta, observando cada reação minha. – Não toquei em nada, mas me surpreendi em saber que tudo estava igual.

Ruborizei ao pensar que ele esteve em meu quarto sem meu consentimento. O que ele poderia ter visto? O que deveria ter pensado ao ver a bagunça? Por que eu me importava? – Espero que não tenha se atentado a bagunça. – Disse me abaixando e recolhendo alguns pertences.

– Não, eu não me atentei. Mas, se quer saber, eu não ligo.

Óbvio que ele não ligava, ele não era minha mãe. Mas que rumo estranho essa conversa estava tomando. Ele ainda estava no batente da porta e eu estava no chão recolhendo um porta retrato quebrado. Estava desatenta, acabei por passar os cacos de vidro, novamente no meu machucado.

Gemi com a dor. O Doutor veio até minha direção, me ajudando a levantar. Estavamos próximos de novo – O momento chegou, Rose. – Minha consciência gritava, eu sentia os meus arrepios novamente, apenas por ele segurar minhas mãos.

– Você se machucou, vem vou fazer um curativo. – Ele teve cuidado ao me tirar do quarto, afastou algumas pelúcias e cacos do caminho e quanto chegamos ao corredor me levou até a cozinha.

Enquanto procurava por gazes e álcool, eu olhei para o relógio que ficava na parede, o tempo passava vagarosamente. Olhei para os ponteiros que faziam seu curso tão perfeitamente, será que mais alguém lá fora também estava reparando nisso? Senti um ardor na minha mão machucada e franzi as sobrancelhas.

– Desculpe, você estava distraída. – Ele passou o algodão com álcool cuidadosamente, depois amarrou o curativo com o nó. – Não é tão grave, daqui alguns dias vai melhorar.

Eu olhei para sua expressão compenetrada, nem parecia o mesmo homem de quando tinha que tomar uma decisão difícil. Ele havia mudado e eu também.

– O que aconteceu com você? – Eu perguntei.

– Muitas coisas, conheci lugares incríveis, civilizações magnificas e me diverti um pouco. Também tive outras companheiras, você iria gostar delas, elas também foram radiantes.

– Imagino que tenham sido. – Disse me levantando e o dando as costas, eu não estava chorando, mas estava magoada. Não por que ele continuou a vida, mas por que ele nunca tentou voltar, não até agora. Não antes de deixar um buraco no meu coração. Ele tocou no meu ombro.

– Sei que deve estar magoada, mas quero que saiba que eu nunca te esqueci. Não houve um só momento em que eu não pensasse como seria com você do meu lado, o que você falaria, o que você faria. – Ele suspirou. – Eu nunca parei de pensar em você.

Eu me virei com os olhos marejados. – Por que você nunca voltou, então?

– Mas, eu voltei. Eu estou aqui. – Ele tentou tocar meu rosto, mas eu me afastei.

– Quantos anos se passaram, Doutor? – Eu perguntei com raiva. – Você sabe quanto tempo se passou?

– Não sei. – Ele disse olhando para baixo.

– Três anos. E você sabe o que aconteceu comigo nesses três anos? – Ele negou. – Diga!

– Eu não sei.

– Certo, então você volta e acha que eu ainda sou a mesma idiota de antes? – Ele olhou toda a raiva que eu emanava. – A que vai te esperar até o último dia para que quanto você quiser vá embora e a largue num Universo qualquer?

– Eu achei que seria melhor para você. – Ele mantinha a voz calma. – Eu achei que seria feliz com sua família, com o Mickey. Eu achei que poderia seguir em frente. Que nós dois poderíamos seguir em frente.

– Você decidiu por mim, então? Você fez a droga de uma escolha por mim? – Eu gritei e peguei em meus cabelos não acreditando no que havia ouvido. – Eu achei que você tinha entendido. Por Deus, eu achei que você tinha entendido e respeitado minha decisão quando eu voltei para te ajudar. Achei que tinha entendido que eu ficaria com você até o fim, o meu fim, o fim de tudo. Achei que tinha percebido que eu havia trocado minha família por você e que ia respeitar minha dor. Achei que tinha entendido que eu te amava e queria ficar com você mesmo que não fosse para sempre. –Eu chorava. – Achei que você quisesse isso também.

Ele me olhou, me olhou com seus olhos castanhos. – Rose, eu escolhi você. Escolhi você desde o principio, desde quando eu era o meu outro eu, e continuaria escolhendo até que não houvesse mais o que escolher. – Ele deu a volta por mim e se abaixou ficando de joelhos na minha frente. – Mas, eu não iria suportar que você se tornasse alguém como eu. Eu não vou suportar que você chore todas as noites por não ter ao seu lado sua família. E por mais que me doa, se você assim escolher, eu vou embora da sua vida. Vou embora e nunca mais volto.

Eu estava com as mãos em meu rosto, tentando esconder minhas lágrimas, minha tristeza, minha repulsa por ter o acusado. Eu não sabia mais quem eu era. E tudo que eu sentia era vergonha. – Não se envergonhe, Rose. Olhe para mim. – Eu não obdeci. – Olhe. Por favor.

– Me desculpe. – Eu tirei as mãos do rosto, mas não olhei para seus olhos. – Eu não sei por que fiz isso.

Ele se levantou e olhou para mim também, vi novamente o mesmo brilho, a saudade, algo mais, a nostalgia. – Me perdoe também. – Ele me abraçou e cochichou em meu ouvido. Eu assenti. – Fale, Rose. Eu te perdoou.

Ele me abraçava com carinho, encostei minha cabeça em seu peito escutando seus dois corações que estavam em um ritmo acelerado. – Eu te perdoou.- Disse o abraçando ainda mais, querendo sumir em seus braços, me perder em seu cheiro.

Ele então se afasta um pouco, me olha nos olhos e me beija. Confesso que fico um pouco abobada de inicio, mas quando ele pede passagem com língua, eu deixo e me vou me perdendo em seu toque tão viciante. Beija-lo é diferente de tudo o que eu pude imaginar, é pular de uma ponte, é voar no infinito, é estar perto do céu e do inferno como se não houvesse separação. Ele se separa um pouco de mim para respirar, ele sorri sem graça, eu sorriu como se não acreditasse, então nós olhamos e é como se o fogo e a gasolina se encontrassem, é como se uma explosão estivesse prestes a queimar tudo. E pela primeira vez, em anos, nós encontramos querendo que tudo queime a nossa volta.

Dessa vez, sou eu que volto a beija-lo, ele parece surpreso e ao mesmo tempo receoso, eu não ligo. Estou nas pontas dos pés e me segurando em sua nuca, nossa batalha é muito mais do que apenas química ou biológica, é uma batalha para saber se aquilo deve mesmo acontecer. - É o momento – Minha consciência brada. Eu respondo diminuindo a distancia entre ele e eu. Ele então me para e pega na minha cintura, fazendo os mesmos círculos que fazia na minha bochecha quando nos reencontramos.

– Hoje eu quero que você sinta, Rose. – Suas mãos caminham pelo meu ventre. – Quero que sinta cada arrepio, quero que sinta cada sensação e quero que se lembre desse dia. – Suas mãos sobem pelas minhas costas – Quero que se lembre de cada toque. – Suas mãos chegam a minha nuca e ele aproxima sua boca da minha. – Quero que sinta cada beijo. – Ele sela nossos lábios brevemente. – E principalmente – Ele me olha como se pudesse desvendar cada segredo meu. – Quero que se lembre do dia que você foi minha e eu fui seu.

Cada pêlo do meu corpo pareceu se arrepiar. Cada célula do meu ser, pareceu parar ao ouvir aquilo. Meus sentidos vitais congelaram por um segundo quando ele terminou a frase.

Ele me beijou antes que eu pudesse expressar qualquer reação, seu beijo parecia melhorar, parecia ficar com um gosto diferente, um gosto ainda mais viciante.

Suas mãos caminhavam pelo meu corpo, a cada toque eu ficava mais febril, mais avida, com mais vontade de tê-lo ainda mais perto. Ele então fez sinal para que eu entrelaçasse minhas pernas em seus quadris, eu obdeci, dessa vez sem questionar.

– Quero que feche os olhos. – Eu desci de seu colo e fechei os olhos. – Eu sei que você deve estar curiosa, mas, não vale espiar. – Eu bufei, mas, manti os olhos fechados. Escutei uma porta se abrindo. – Dê-me sua mão. – Eu estiquei minhas mãos. Ele pegou a direita. Com cuidado me levou até o que parecia ser o centro do lugar. – Pode olhar.

E eu olhei e me surpreendi. Uma coisa que eu sempre quis descobrir era o quarto dele. Tinha vezes que eu imaginava que era todo azul e cheio de coisas antigas, outras tantas, imaginava ser do futuro, mas, nada comparado ao que era de verdade.

O chão era de uma madeira marrom escuro, totalmente encerado que brilhava, as paredes eram em tons de azul, os azuis da Tardis, uns mais foscos outros brilhantes, sua cama estava no centro mas um pouco mais elevada por que havia uma espécie de elevação no meio do quarto, mas de fato, o mais impressionante foi quando ele apagou as luzes, revelando um universo em hologramas.

– Têm vezes que eu perco horas aqui, apenas olhando o céu. – Ele toca em um planeta de anéis e o movimento faz ele girar até onde eu estou. – Eu sempre acabo achando um novo. – Eu estou tão perplexa com a beleza do lugar que não percebo ele chegando atrás de mim e me beijando a nuca. – Muitas das vezes, acabo sonhando com todos esses lugares.

– Você já foi em todos? – Pergunto encostando num buraco negro, agora tão inofensivo.

Ele me abraça mais forte e respira em meus ombros. – Não todos, e mesmo que fosse, a tanto para se ver, e nós temos todo o tempo. – Ele me vira para que eu o olhe. Ele está ainda mais bonito nessa meia luz que os planetas causam.

Ele me beija e aos poucos vamos caminhando para trás, até que eu sinto sua cama em minhas pernas. Eu sorriu para ele e ele me joga em sua cama docemente. Suas mãos estão por todo meu corpo, sua boca está perto de minha orelha.

Eu estou mais nervosa do que na minha primeira vez. Por que de certa forma, é a minha primeira vez com o homem que eu amo, com homem que quebrou barreiras e passou por uma fenda, apenas, para me ter. E eu sou sua, sempre serei.

Seus lábios vão descendo pelo meu corpo, e eu sinto palpitações em meu ventre. Ele tira minha camiseta, e recomeça o percurso de beijos, eu estou tão quente. Estou sendo consumida por uma febre que nunca tive antes, uma febre cujo remédio é o homem que agora está tirando minha calça vagarosamente.

Ele beija minhas pernas, e me faz arfar. Por que ele ainda têm tanta roupa? Eu olho para ele tentando pedir para que ele fique mais acessível. Ele sorri maliciosamente, como nunca fez antes, e tira seu sobretudo, camisa e gravata. Por Deus, como é possível? Vejo seus olhos brilhantes num tom que parecia ser impossível de alcançar. Ele volta a beijar meu pescoço, e eu arranho suas costas. Tudo estava tão confuso e tão certo, tão rápido e tão lento, tudo estava indescritível.

Quando ele já está sem roupas, percebo que hora chegou. O momento em que eu me entregaria por completo aquele homem, o momento que eu esperei desde o principio. Ele me olha implorando por permissão e eu assinto. Em meio as indas e vindas que ele dava dentro de mim, eu olhei para uma galáxia em especial, uma que tinha os tons Rosa, Amarelo, Dourado e Azul, O azul e o dourado dançavam juntos no centro da galáxia enquanto o Rosa e o Amarelo, acompanhavam suas orbitas em volta deles. Então quando cheguei ao clímax, os tons Rosa e Amarelo se intensificaram, praticamente engolindo o centro. Quando eu e o Doutor nos separamos, o que restou foi apenas o dourado.

Exausta e com um sentimento que nunca antes havia sentido, deitei no peito dele, sentindo o palpitar de seus corações.

– Qual é aquela galáxia? – Perguntei bocejando. Eu mostrei para ele o fazendo sorrir.

– É a galáxia de Rose. – Eu sorri com sua resposta e adormeci em seguida, ouvindo suas doces palavras. – E ela acaba de se formar de um buraco negro.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Odiaram? Criticas? Comentem e me respondam se querem mais ou não.
Amo vocês povo lindo

KISSES SWEETIES



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