Tudo pode mudar escrita por Gaby Mendes


Capítulo 4
Capitulo 4


Notas iniciais do capítulo

Especial por ter tido 11 comentários em apenas uma semana. Continuem comentando então, sweeties.



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Eu caminhei pelos corredores da Tardis, procurando por um livro que não havia encontrado na biblioteca. Eu ainda me surpreendia em como aquela nave podia ser grande e confusa quando queria ser.

Era uma pena que eu não poderia voltar A Grande Biblioteca. Poder eu até poderia, mas eu sempre evitei voltar á um lugar duas vezes, principalmente se na primeira fui perseguido por um enxame de Vasta Nerada que comia tudo que tinha carne. Podia ser apenas uma superstição idiota, mas até hoje, meus instintos nunca falharam. Excetuando-se uma ou duas vezes, mas convenhamos, eu tenho mais de novecentos anos, instinto nenhum, aguenta a tanto tempo sem ter, sequer, uma margem de erro.

Com ou sem Grande Biblioteca, eu ainda tinha a Tardis com sua biblioteca incrível, e seus livros que são atualizados a cada novo período literário, seja ele humano ou não.

Clássicos da Historia Moderna, História pós-moderna, História Posterior a Pós-Moderna, História Revolucionária da Modernidade, Modernidade e Seus Feitos Modernos. - E eu que achava que seria fácil. E por isso que eu tenho isso! – Tirei a chave de fenda dos bolsos e apontei pelas estantes do meu quarto – Vamos lá, belezinha, é só ajustar isso aqui, apertar mais isso e... – A chave apitou – E lá vamos nós!

Corri pelos corredores da Tardis, fazendo uma curva ali, uma volta acolá, pulando algumas vezes, seguindo pela direita e esquerda. – Vamos, você consegue. – Disse diminuindo o passo já que o sinal havia ficado mais forte. A sônica estava emitindo barulhos como aqueles detectores de metais, só que ao invés de metais, ela procurava um livro.

Só me dei conta que havia chegado ao meu destino, por que havia uma porta no meu nariz. Me afastei, não acreditando no que meus olhos estavam vendo.– Está errado, não pode ser, quer dizer, o que estaria fazendo aqui? – Eu estava na porta do quarto de Rose.

Havia se passado tanto tempo que eu não voltava lá. Eu estive ocupado, isso é certo, mas eu nunca pensei que aquele quarto ainda estivesse ali, no mesmo lugar, com a mesma porta feita de madeira e com maçaneta detalhada por flores. A Tardis nunca joga nada fora, ela sempre acaba se apegando e por mais que eu nunca mais encontre o casino onde eu passava boa parte do meu tempo livre, ela nunca se desfaz de nada.

Guardei a chave de fenda novamente, me aproximando cautelosamente da maçaneta, eu ainda me lembrava do dia que Rose me trancou do lado de fora de seu quarto por ter a chateado.

– Eu falei que eu não queria comer nada que viesse a ter haver com insetos! – Disse ela gritando.

– Mas não são insetos! Tecnicamente são frutos-do-mar de Cretos.

– Que fossem do mar de Nárnia! Eu odeio insetos! – Disse batendo a porta. – Agora sai daqui, e só me chame quando fomos conhecer um lugar aonde os insetos tenham sido erradicados!

– Rose, me perdoa! Eu só queria que você provasse alguma coisa diferente. – Disse me encostando do lado de fora de sua porta. – Eu não vou sair daqui até que diga que me perdoa.

Escutei seus passos se aproximando da porta, eu achei que ela fosse abrir, mas ela apenas trancou. – Isso vai demorar, uns novecentos anos, então aconselho que prepare um jeito mais confortável de ficar aí.

Sorri com a lembrança, Rose era tão juvenil, com tanta alegria que nunca achei que fosse acabar como acabou. Eu nunca criei esperanças, sempre vivi um dia após ao outro, mas com ela, eu sempre imaginei como seria nosso futuro juntos.

Abri a porta com medo do que iria encontrar, das lembranças que aquele lugar me traria. Aos poucos fui vendo que tudo estava como da última vez que vi, da última vez que entrei para verificar se Rose não estava tendo pesadelos.

O quarto era bagunçado, com roupas, sapatos e colorido espalhado por todos os lugares. Ela era assim, tinha esse poder com as coisas, com as pessoas. Transformava tudo em tocava em uma coisa melhor, mais vivida e alegre, mais reluzente como sua alma era.

Perdido em lembranças, localizei o livro em cima do criado mudo. “Universos Paralelos e Suas Vertentes” estava aberto em uma página qualquer.

De certo que Rose impressionou-se por conhecer seu pai do Universo Paralelo. Seu pai bem sucedido, rico e com vários empregados. Não que ela deixasse levar por aquele mundo, mas ela conheceu os extremos do que Peter Tyler poderia ter sido.

Eu vi a tristeza em seus olhos quando ele virou as costas e foi embora, não se importando que tinha uma filha tão maravilhosa quanto ela. Mas agora, vendo que ela ainda procurava por um meio de entender melhor os Universos Paralelos, vi que ela sempre quis ter sua família completa.

– Talvez, eu tenha tomado a decisão certa. – Disse em voz alta, tentando me convencer.

Mas então, se essa era a decisão certa a tomar, por que ainda me doí tanto pensar que ela esta sendo feliz longe de mim? Por que eu ainda sou tão egoísta em relação ao amor dela? Por que apenas em pensar que ela seguiu em frente com outro, já me faz ficar nauseado?

Peguei o livro do criado mudo, me sentei na cama de Rose e voltei ao índice, procurando algo que me ajudasse a entender e a achar uma alternativa em que eu pudesse ter novamente minha humana rosa e amarela.

(...) Quando tomamos uma decisão, em algum mundo paralelo não tomamos a mesma, assim alteramos ligeiramente essa realidade.
Uma questão, diversas alternativas que realizamos ao mesmo tempo, só que em universos paralelos.

(...) A teoria das supercordas, ou teoria das cordas supersimétricas, é uma versão da teoria das cordas, que incorpora férmions e supersimetria.

Essa teoria requer um mundo de 10 dimensões, com algumas enroladas em um nível microscópico e algumas dimensões "grandes" que percebemos como "real". Caso contrário, há efeitos quânticos que tornam a teoria inconsistente ou 'anômala'. Em 10 dimensões do espaço-tempo, os efeitos podem precisamente se cancelar deixando a teoria livre de anomalias. Entretanto, ela cria um mundo onde à distinção entre o espaço e o tempo é falacioso (como descrito pela relatividade geral). Um mundo onde, de fato, a própria noção de espaço-tempo desaparece. (...)

...uma nova teoria dimensional com 11 dimensões, chamada teoria-M. A Teoria-M também foi prefigurada na obra de Paul Townsend aproximadamente ao mesmo tempo. A onda de atividade que começou neste momento é às vezes designada de segunda revolução das supercordas. A teoria-M tem o mérito de englobar as teorias de supercordas e de constituir um quadro de trabalho muito elegante e abrangente.

– Droga! – Disse largando o livro. Aparentemente nada nele pode me ajudar, e claro eu teria que continuar procurando. – Eu não vou desistir! Não vou! – Disse me levantando e trombando em alguma coisa.

Abaixei ao ver um porta-retrato quebrado. Na foto, estavam eu e Rose sorrindo, ao fundo uma praia com dois sóis a pino. Eu fui estúpido por não ter aproveitado mais aqueles momentos, por ter sido tão frígido enquanto Rose queria que eu a abraçasse. Se eu pudesse reescrever a história e reviver cada momento, eu teria feito tudo de outra maneira. Teria a abraçado mais, teria escutado seus problemas com interesse, teria tido que a amava.

– Eu prometo que nós vamos nos encontrar de novo. Eu juro por tudo que considero mais sagrado que eu vou te buscar. – Disse olhando para imagem. A promessa estava feita, eu agora tinha que cumpri-la.

*

Não sei quantas horas passei em meio a livros. Parei de contar quantas vezes eu colocava coordenadas na Tardis. Cansei de tentar me manter acordado e adormecer sem perceber. Também não sei quanto tempo se passou desde a última vez me olhei no espelho.

Só que eu não precisava olhar para saber que as olheiras e o cansaço me consumiam. Eu estava apático, mais magro que o normal, minhas costas doíam e minha mente pesava.

Eu estava no fundo do poço, mas mesmo assim, parava meus estudos uma vez ou outra, para salvar algum planeta em dificuldade. O grande e poderoso Timelord parecia apenas uma lenda distante perto do homem que eu era agora.

Era a centésima primeira ou quadragésima quarta biblioteca que eu entrava? Eu não sabia e nem tinha cabeça para pensar nisso. Peguei todos os livros sobre luas, lendas, dimensões que encontrei e sentei-me em uma das grandes mesas de estudo. Vez ou outra alguém se dirigia até minha mesa, tentando iniciar uma conversa. Mas vendo meus olhares de repreensão e de desinteresse, logo desistiam.

– O que o senhor procura? – Uma garota que aparentemente trabalhava no local, perguntou.

– Uma resposta. – Respondi secamente.

– Uma alternativa, eu diria.

Eu suspirei, mas não olhei em seus olhos. – Se você quer colocar assim.

Ela puxou uma cadeira e sentou do meu lado. – O que você está procurando, não vai encontrar nesses livros.

Me senti desconfortável com a proximidade da garota. – Como pode ter certeza disso? – Respondi ríspido.

– Por que você quer reencontrar um amor. E para isso, de nada, vai adiantar procurar em livros científicos.

Eu estava cansado dos joguinhos psicológicos da garota. – Você é uma daqueles que tem poderes psíquicos, não é? – Ela assentiu – Por que não vai aplicar um golpe na frente de um banco ou algo assim?

Ela sorriu sem graça. – Você já ouviu falar da lenda dos mares que unem as dimensões? – Perguntou.

Eu já tinha ouvido falar. Há muito tempo atrás, quando ainda não havia a separação entre as dimensões, houve uma garota que vivia pulando entre um mundo e o outro, e ela se divertia com todas suas versões. Entretanto, um dia ela se apaixona, mas em seu mundo seu amor não é correspondido. Então, ela visita seus outros eus, e fica enciumada ao ver que em todas as outras realidades, ela pôde viver seu amor.

– Então, ela resolve matar todos os seus outros eus, para que em cada universo apenas ela possa amar. – Continua a garota como se ouvisse meus pensamentos. – Com isso, ela cria um paradoxo e os mundos são selados. Sem ter a quem a amar, ela joga um enigma para aquele que se apaixonar por alguém que é impossível.

– E qual é o enigma? – Perguntei, pois não me lembrava do resto da história.

– Tão forte sejas o amor que este podes quebrar todas as barreiras que o colocarem a prova. Mas que sejas posto a prova, os sóis devem queimar juntos, assim como os corações batem em uma só batida. – Ela suspirou. – Minha mãe sempre me contava essa história quando eu era criança.

Eu comecei a pensar, a pensar como nunca tinha pensado. Sóis postos a prova? Corações? Algo não estava se encaixando, sim era uma lenda melodramática, mas até que fazia algumas ligações interessantes.

– O que você acha que ela quer dizer? – Ela perguntou. – A lenda faz algum sentido?

– É uma lenda, não tem que fazer sentindo. Sóis, corações? Isso não tem nenhuma conexão, a não ser que são planetas e que giram e que em algum momento o sol passa num mesmo lugar em ambos os mundos e que isso... Isso pode... – Eu não acreditava que isso era possível, uma lenda tão estúpida pudesse me ajudar. – Não! Não poder ser!

– O que? – Ela perguntou curiosa.

– Não, não e não! – Me levantei andando de um lado pro outro. – A Doutor você é burro!

Ela sorriu. – Então parece que você descobriu a resposta para o que procurava.

– Eu encontrei uma alternativa. – Disse piscando. – É só encontrar o ponto de encontro dos sóis, ajustar as coordenadas e pronto.- Estava tão feliz que abracei a desconhecida.

– Fico feliz em ter ajudado. – Ela disse enquanto eu arrumava minhas coisas.

Eu já ia embora quando voltei e perguntei seu nome.

– É Ággelos Amabillis. Significa Mensageiro do Amor.

– Parece que cumpriu bem sua Missão. – Sorri em despedida, em agradecimento. Nem tudo estava perdido.

*

– Rose... Rose... – O sinal estava tão ruim, desejei que eu tivesse feito um lacre menos resistente.

Vai embora! – Ela gritou, eu não podia vê-la, mas senti que ela estava prestes a chorar. Ela ia chorar mais uma vez por minha culpa.

– Acredite em mim, Rose. Eu estou indo... – Batia nos controles para que eles se estabilizassem – Nós estamos procurando por um jeito de te ver, de te encontrar. – Disse desesperado, com medo de que ela não acreditasse.

– Nós quem? Pare com isso, por favor!!

– Eu estou perto, Rose Tyler. Encontre-me, eu sei que você pode. – Não sabia se daria tempo de completar a mensagem, não sabia nem se ela ainda queria me encontrar.

– Eu não consigo! Está tudo lacrado! – Sua voz era fraca, como se ela se esforçasse demais para tentar manter uma regularidade.

– Por favor, Rose. Não desista de mim... – Implorei me segurando para que minhas lágrimas não fossem as próximas a cair.

– Você sabe que eu não faria isso.

– Rose Tyler, Eu.... – Te amo. – Não! Não! De novo, não! – O sinal havia caído mais uma vez, havia caído antes que eu pudesse completar a frase. De novo.

Chutei os controles com raiva. Tinha demorado tanto para que eu conseguisse um sol que estivesse estéril, para que eu conseguisse esse misero sinal, e agora ele tinha se ido.

Restava esperar que Rose tivesse meios para tentar me ajudar. Restava esperar que ela não desistisse de mim e tentasse mais uma vez. Tudo estava nas mãos dela agora.

Eu sentia que ela podia decifrar por piores que tenham sido as informações. Afinal, ela era Rose Tyler, a garota, agora mulher, cujos olhos são portas para o infinito, para a imensidão.

Só que eu não desistiria tão fácil, eu estava lutando e agora eu iria até o fim.Até o fim, pela mulher que eu amo. Até o fim, para que eu pudesse ser feliz.

Por que eu só seria feliz ao lado de Rose. Eu só seria completamente feliz se a tivesse do meu lado mais uma vez, nem que seja para ela me dispensar.


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Notas finais do capítulo

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