Tudo pode mudar escrita por Gaby Mendes


Capítulo 2
Capitulo 2


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de agradecer a todos que comentaram no primeiro capitulo, de verdade pessoal, não esperava que já comentassem de inicio. De qualquer maneira, obrigada.

Mas um pouco da mente de Rose.



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Eu acordei assustada. Há algumas semanas vinha sonhando com a TARDIS e o Doutor tentando atravessar o mundo de Pete.

Só que tudo era nebuloso em minha mente. Eu nunca sei realmente quais são os meus sonhos. Minha psicóloga disse que é um bloqueio que minha mente tem, para não me fazer sofrer, mas sinceramente acredito que seja mais por causa dos antidepressivos que eu tomei boa parte do tempo no Universo Paralelo.

No fundo, eu sei que estou fugindo da realidade, por que é mais fácil me apegar numa esperança furada do que encarar a verdade. E a verdade é que ele não vai voltar.

Me levantei e olhei para o relógio, ainda eram 6 da manhã. Provavelmente ninguém acordado. Coloquei os pés no chão frio e olhei para meus pés, não pude deixar de pensar naqueles all-stars sujos que o Doutor calçava.

Senti uma pontada no meu peito por pensar nele novamente, por mais que o tempo passasse e agora eu estivesse com 22 anos, eu ainda estava fragilizada por tudo aquilo que aconteceu.

Rose Tyler... – Esfreguei meus olhos para tentar estancar as lágrimas e em uma tentativa em vão de esquecer tudo o que tinha vivido.

Segui pelos corredores da mansão com cuidado para ninguém acordar. Não adiantou muito por que quando cheguei na grande e espaçosa cozinha, meu pai estava acordado.

– Pesadelos? – Ele disse assim que me viu.

– Uhum. – Aos poucos o sono ia indo embora e eu ia ficando mais desperta. – Preocupações?

Ele assentiu, apesar de dar um duro para conseguir sustentar as vaidades da minha mãe, nas últimas semanas ele parecia mais preocupado do que o habitual. Ele não gostava de entrar nesses assuntos em casa, mas eu sabia que ele estava em crise, ele e um terço da população mundial.

– Você não precisa se preocupar, Rose. Eu tenho tudo sob controle.

– É difícil manter alguma coisa sob controle, quando se têm Jackie Tyler como esposa.

Ele me olhou, então sorriu, apreciando minha tentativa de humor. As poucas rugas que denunciavam sua idade apareciam quando ele sorria.

Ele me ofereceu uma xicara de chá – Os pesadelos ainda te atormentam, não é?

– Sim. – Disse enquanto tomava um gole do chá. – Por mais que eu tente, eles sempre estão lá para me lembrar de tudo. Eles sempre voltam.

Meu pai me olhou com pena. Eu odiava quando as pessoas me viam assim, como vitima, mais uma vítima do Doutor.

– Pai, eu não sou uma vítima.

Ele assentiu. – Eu sei, e por mais que me machuque ver você assim, eu sei e respeito sua dor, suas escolhas.

Quando eu cheguei ao mundo paralelo, eu sofri muito. Eu culpei muito meu pai. Eu achava que se tivesse ficado, eu poderia ter me salvado, poderia ter ficado com o Doutor. Por muito tempo culpei aquele que me salvou, principalmente quando soube que ele havia dito que eu não era sua filha.

Eu acreditei ou quis acreditar que ele havia feito aquilo de propósito, apenas para destruir minha vida. Mas com o tempo vi que aquilo ia acontecer de um jeito ou de outro, o Doutor ia me abandonar, assim como ele fez com Sarah Jane, por que o Doutor mente. E eu apenas tive sorte em ser abandonada no lugar onde minha família estava.

– Eu venho sonhando que ele tenta me resgatar. Que a Tardis encontra um jeito e que... que eu posso ir. Mas, quando eu acordo, tudo esta como sempre foi, eu ainda estou no meu quarto, e ele ainda esta longe daqui. - Meu pai me abraçou.

– Vai ficar tudo bem, Rose. – Ele afagava meus cabelos – Prometo que vai.

Mesmo recebendo o carinho de meu pai, vendo que ele não se importava de como eu o tratei no começo, eu me senti mal. Era incrível que sempre tudo acabava com eu me autodestruindo mais uma vez quando se tratava do Doutor. Sempre acabava com eu me sentindo culpada ou eu me sentindo a pior das pessoas, e que mesmo assim, em meu íntimo, eu ainda ansiava, eu ainda implorava para que ele voltasse.

O fim era o mesmo todas às vezes, eu quebrada por um homem que me abandonou.

Quando já estava mais calma subi para o meu quarto e tomei mais um antidepressivo, pelo menos dopada eu poderia dormir sem que nenhuma memória voltasse e me assombrasse. Sem que meu subconsciente fantasiasse uma volta de um príncipe encantado numa caixa azul.

*

No dia seguinte, por algum motivo, eu acordei mais disposta. Eu até aceitei acompanhar minha mãe em sua rotina consumista já que era meu dia de folga.

– Todos ficaram ótimos em você, querida. – Eu já havia experimentado dez vestidos diferentes, e mesmo não gostando de nenhum, a resposta era sempre a mesma.

– Achei legal. – respondi sem vontade.

– Rose, você tem que se animar! Tem que sair do preto e cinza, às vezes eu me sinto mais jovem que você! – Minha mãe adora cores, azul, verde, roxo, até carmim, ela usava. Enquanto eu preferia me manter discreta e fria.

– Será que podemos ir agora, mãe?

– Não me diga que esta com fome. Você nunca come nada, por mais apetitoso que pareça. – Disse ela devolvendo os cabides à vendedora e passando o cartão.

– Eu estou cansada, e por ser meu dia de folga, achei que poderia ir ao pub com Mickey.

Minha mãe gargalhou. – A quem você esta tentando enganar Rose Tyler?

– É verdade, eu combinei de sair com o Mickey hoje à noite.

– Você pode mentir para todos, até mesmo para você, mas a mim, você não engana. – Ela acenou para as atendentes enquanto seguíamos pela porta do shopping. – Eu sei que assim que você chegar em casa ou vai dormir ou vai se enfiar naquele escritório para fazer sei-lá-o-que-que-envolve-números.

– Tudo bem, você venceu. – Coloquei as mãos para cima em rendição. – Eu ia tentar terminar meu projeto.

Minha mãe colocava as compras no porta-malas. – Você tem que descansar de verdade, Rose. Três horas de sono por dia, não sustentam a vida de ninguém.

– Eu estou bem dormindo minhas três horas, mãe. – Eu dirigi em silêncio o resto do caminho. Ás vezes assentia, às vezes negava. Talvez minha mãe tivesse razão, eu deveria descansar ter uma boa noite de sono de verdade, sem efeitos de remédios ou qualquer outra porcaria.

Não demorou muito para que nós chegássemos em casa. Mesmo com as reclamações de Jackie em meus ouvidos, eu segui para o escritório, se é que ainda poderia ser chamado assim.

O “escritório” mais parecia um laboratório de experiências com cobaias.

– A qualquer momento, um Frankstein vai sair daí para matar a mim e ao seu irmão! Quando estiver com meu sangue espalhado pelos moveis, não diga que eu não avisei! – Gritava minha mãe a plenos pulmões. Sorri com o exagero dela, afinal, até agora não havia tido nenhum sinal de resultado. Por que eu criaria um monstro? Eu já tinha problemas demais para resolver, mais um, não deixaria as coisas mais fáceis, não me ajudaria a abrir uma ruptura no tecido do espaço-tempo, muito menos e encontrar o Doutor.

Quando eu estava trabalhando, eu sempre pensava, no quanto eu havia mudado em três anos. Eu estava mais inteligente, fazia cálculos que enlouqueceriam a cabeça de qualquer um, sabia a tabela periódica praticamente de cor, fazia experimentos científicos.

Em que momento na minha antiga vida, eu, Rose Tyler, seria assim?

Quando e por que eu entraria numa faculdade? Como eu saberia que a vida é muito mais do que a Terra e o sistema solar?

De fato, eu tinha uma dívida com o Doutor. Uma dívida que jamais poderia ser quitada ficando engaiolado nesse universo. E por mais que o Doutor não se lembrasse mais de quem eu sou, ou de quem eu fui, eu precisava quitar essa dívida.

Ainda que o Doutor tivesse achado alguém melhor, eu queria que ele me visse como estou hoje. Menos fútil e consumista mais parecida com algo que eu nunca poderia ser com minhas próprias pernas. Mais parecida com ele.

É obvio que as coisas boas que eu havia me tornado, não anulavam as ruins. Mas eu poderia suportar, eu tinha que suportar. Eu tinha rupturas em minha alma, talvez uma bipolaridade ou esquizofrenia, mas eu poderia aguentar para demonstrar para ele o quanto eu evolui. Eu poderia me soldar a uma mascara, apenas para que ele visse o melhor de mim.

Mas pensando dessa maneira, agindo dessa maneira, eu estava sendo egoísta. Eu estava me superiorizando, mesmo sabendo que isso não significaria nada para o Doutor.

Eu estava me transformando numa coisa que eu não era, estava traçando planos para ser perfeita, mesmo que eu fosse a pior das pessoas. Eu estava tão cansada, tão triste e tão confusa que eu já estava me perdendo dentro de mim de novo, me perdendo e me afogando cada vez mais nos meus egoísmos, nos meus buracos.

A verdade é que eu estava em carne-viva por dentro. Eu estava apodrecendo e me transformando em pedra.

Talvez o melhor mesmo fosse que o Doutor não está aqui para me ver, por que eu não aguentaria seu olhar de reprovação, não aguentaria suas palavras de repúdio, não suportaria sua desaprovação.

– Ele encontrou alguém melhor. – Sussurrei segurando meus joelhos num canto qualquer – Alguém que não morreu, alguém que possa mostrar o quão a vida ainda bela. Por que eu não posso fazer isso. Não mais.

E sentindo as lágrimas virem, eu adormeci antes que pudesse sentir mais culpa do que já sinto.

*

– Rose... Rose... – Essas palavras me seguiam aonde quer que eu fosse.

– Vai embora! – Eu caminhava pela maldita baia, enquanto escutava lamúrias, gritos. – Você não vai voltar! Por que ainda está me perturbando!!

– Acredite em mim, Rose. Eu estou indo... – A voz foi ficando mais nítida mais forte. – Nós estamos procurando por um jeito de te ver, de te encontrar.

– Nós quem? Pare com isso, por favor!! – Eu implorava chorando.

– Eu estou perto, Rose Tyler. Encontre-me, eu sei que você pode. – Era o Doutor, pelo menos, seus olhos me observando.

– Eu não consigo! Está tudo lacrado! – Eu tentava falar sem murmurar ou gaguejar, mas não conseguia.

– Por favor, Rose. Não desista de mim...

Eu me levantei. – Você sabe que eu não faria isso.

– Rose Tyler, Eu....

Quando abri meus olhos, eu estava no laboratório. No mesmo lugar e com as mesmas roupas. Foi um sonho, mas que me fez ter uma certeza. Eu não podia desistir, não agora que o Doutor estava tão perto, não agora que algo dentro de mim se acendeu. Eu tinha uma possibilidade em um bilhão.

– Acho que já sei por onde tenho que começar. – Disse me levantando e voltando aos estudos. Sendo um tiro no escuro ou não, eu tinha que começar.


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Notas finais do capítulo

Próximo capitulo teremos um ponto de vista diferente... Continuem comentando Please.

Gostaram??