[Personagens]

Victor trabalhava sem parar, em seu sufocante e aquecido escritório. Era uma tarde de inverno da época, por isso, o barulho crepitante das lareiras se tornava algo comum.
–Irmão? -Henry chamou sua atenção, ao se aproximar dele.
–Sim, Henry? Será que pode ser breve, por favor? Estou trabalhando em algo novo. -Victor sequer olhou para ele, muito concentrado no novo projeto.
–Desculpe-me. Gostaria de lhe perguntar algo. -Ele continuou andando, tentando obter o olhar de Victor Frankenstein. -De que horas papai irá nos visitar? -Henry finalmente alcançou seu tão desejado objetivo. Victor virou os olhos para seu irmão.
–Sarah, saia. -Victor ordenou, friamente, à empregada que trabalhava há 3 anos na mansão. Ela o obedeceu, deixando os dois irmãos a sós. -Henry, já conversamos sobre isso. -Ele falou, suspirando pesadamente.
–Não fale como se eu fosse uma criança, Victor! Odeio quando faz isso. Sou só 3 anos mais jovem que você. Do que se trata?
–Papai não gosta de mim, irmão. Isso é do que se trata. Ele aparenta ser rabugento com todos. Parece uma característica dos Frankensteins. -Victor desabafou. Foi como se precisasse vomitar as palavras que acabara de dizer.
–Não fale bobagens. Nós mesmos não somos rabugentos, talvez seja somente papai.
–Senhores? -Sarah voltou, interrompendo a conversa.-Acabou de chegar uma carta.
–Quem a enviou?- Os dois perguntaram simultaneamente.
–Não possui remetente. -Sarah indagou, entregando a carta ao mais velho.
Victor fitou o papel e o tateou, como se fosse um homem cego e depois conseguiu uma conclusão.
–É para você, Henry. -O jovem estranhou, mas não hesitou.
–Para mim? Como sabe?
–Logo saberá, irmão. Leia.
Henry abriu o envelope, que de fato não continha informativos.

Querido Henry F.,

Meu Deus, o que estou fazendo? Acho que nunca quis ou gostei de escrever cartas, ainda menos para você, meu amigo. Por favor, peço que mantenha isso em sigilo. Não quero que Elizabeth saiba disso, se o fizer, irá rir até que seu coração pare de bater.
Bem, não redigi esta carta para declarar o quão estranha é tamanha sensação. Diferentemente de você, não sou tão obediente. Escrevi esta, para lhe dizer que estou indo para a Inglaterra. Irei morar em uma ruazinha próxima à sua. Acabei de voltar da minha viagem e só então me dei conta que precisava fazer-lhe uma visita. Infelizmente, não poderei ir hoje, pois estou exausto. A mudança ocorrerá amanhã cedo. Estou com saudades. Mande abraços para Victor e seu pai (já estão se falando novamente?).
Caricidamente,
Thomas Salvatore.

Henry leu e releu a carta. Era do seu amigo de infância e assim como ele, morria de saudades.
Lembra-se muito bem de como tudo aconteceu.
Era noite, quando Thomas chegou na casa de Henry e interrompeu o seu profundo sono. Ainda lembrava do barulho irritante das pedrinhas batendo na janela da casa dos Frankensteins.
Thomas subiu até o quarto do amigo, anunciando a sua nova aventura, como costumava dizer. Ele dizia que seu pai iria fazer uma viagem de negócios e que deveria acompanhá-lo, infelizmente.
Nesse dia, o garoto chorou tanto, que pegou um enorme resfriado. Passou dias na cama, sempre esperando o Dr. Walker, o primeiro negro a conseguir um cargo importante na sociedade, apesar de nem sempre ser respeitado, graças a sua origem.

Henry despertou. Foi como se estivesse dormindo com os olhos abertos. Ele sorriu e começou a chorar.
–É ele, Victor! Thomas escreveu esta carta! -Se animou. -Ele voltou para Inglaterra.
–Que maravilha! Diga a ele para nos visitar. Sempre gostei desse garoto. Faz parte de uma ótima família. -O irmão mais jovem apenas segurou o riso. Conhecia Thomas há muito tempo e sabia que ele não era tão comportado, como ele. Por causa dele, até teve umas baixas na escola.
–Senhores, por favor, peço sua atenção. -A jovem empregada teve a palavra novamente. -Recebi outra carta, mas esta tem identificação. -Sarah apontou para a mesa, em que se encontrava o papel.
Victor foi o primeiro a tomar uma atitude e seguiu até o lugar.
–É de nosso pai, Henry. Mas não é de hoje. -Victor afirmou.
–Certamente, senhor Frankenstein. Ela foi enviada antes de ontem, mas só chegou hoje.
Victor leu a carta, prestando atenção em cada palavra de seu pai.
–O que diz nela, irmão? Fale!-Henry exigiu.
–Em sumo, papai está vindo nos visitar daqui a 1 hora. Sarah, pegue um pano. Quero esconder minhas pesquisas que estava fazendo há pouco tempo.
–Por quê? -Henry perguntou, indignado com a insistência de seu irmão.
–Como já disse, meu querido irmão, papai não gosta de mim. Temo que ele destrua minhas pesquisas, arruinando o resultado de um trabalho de muito esforço e dedicação.
–Está errado. -Henry colocou sua mão no ombro de Victor, tentando convencê-lo. -E gostaria muito de um dia saber quais são suas pesquisas que tanto fala. Eu me importo com você, Victor. Posso não ser nosso pai ou nossa falecida mãe ou até mesmo, posso nem ser o mais velho, mas eu tenho orgulho de você. Tenho orgulho de ser seu irmão. -E se abraçaram, fortemente.
Os dois foram para seus respectivos quartos e se prepararam para a chegada de seu pai, o grandioso e renomado Elliot Frankenstein.