Um dia - One shot escrita por Guinha Aguilar


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Oi gente ♥
Faz um tempão que não posto nada aqui no Nyah!, mas vivo escrevendo.
Espero que gostem dessa One que eu fiz. Não sei o porquê, mas a ideia bateu e eu gostei muito dela para deixá-la escondida.
Se gostar ou se não gostar, deixe um comentário para me ajudar a melhorar. São sempre bem-vindos.
Obrigada!
Mil e um beijos,
Guinha.



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“Tu tens um medo:

Acabar.

Não vês que acaba todo o dia.

Que morres no amor.

Na tristeza.

Na dúvida.

No desejo.

Que te renovas todo o dia.

No amor.

Na tristeza.

Na dúvida.

No desejo.

Que és sempre outro.

Que és sempre o mesmo.

Que morrerás por idades imensas.

Até não teres medo de morrer.

 

E então serás eterno.”

(Cântico VI, Cecília Meireles)

 

(...)

 

Harry e eu sempre tínhamos sido daquele jeito. Autênticos. Fervorosos. Solitários.

̶̶ Sua solidão completa a minha! — Ele dizia, em uma boca cheia de sorrisos.

Eu sempre senti que ele me pertencia, mas eu jamais tinha pedido para aquilo acontecer, porém aconteceu. Nós acontecemos. E estávamos felizes por pertencermos um ao outro... Ou, pelo menos, eu estava. Ele vivia procurando outras pessoas, outros sorrisos e olhares, mas não fazia por mal. Em um dia ele chegava e dizia:

̶̶ Não dá mais!— E sua expressão demonstrava cansaço. Amuava-me em um canto, incapaz de entender o porquê.

̶̶ Mas... Por quê?

̶̶ É que eu encontrei Fulana. Ela me faz feliz, desculpa! — E ia embora com a garota e a felicidade.

Eu até pensava em chorar, espernear e me culpar, mas como é que dizem?! Galinha de casa não se corre atrás. E ele era a galinha da minha casa, já que sempre voltava. Aquela outra garota não era quem ele queria. Infelizmente, ela não era eu.

Agora começa a história de quando – finalmente – nos demos conta de que éramos sim um do outro, mas que nunca, de forma alguma, daríamos certo como o casal que tanto queríamos ser e éramos fracos demais para aceitarmos quem deveríamos, por sua vez, ser.

Em um desses finais, eu decidi colocar um ponto final ao em vez de uma vírgula, e exclui-o de todas as minhas redes sociais. Eu não queria saber quem era a da vez e, em meu íntimo, torcia para que tudo desse errado, mesmo sem querer.

Mas Harry sempre arranjava um jeito de voltar para onde ele nunca devia ter saído. Devido ao meu ponto final, ele não pôde continuar a frase, mas fez uma nova. Em minha opinião, era maldade chegar com aquele sorriso e piscar pra mim, fazendo-me sua cúmplice fiel.

Meu pai e eu estávamos conversando sobre alguns problemas sérios de saúde quando ele me ligou. Meu pai me olhou torto, mas depois sorriu e retirou-se do quarto, calado. Eu não costumava aceitar ligações de números desconhecidos, mas, por algum motivo, atendi.

̶̶ Até que enfim, pequena! — Sua voz me atingiu em cheio, baixando minha guarda.

̶̶ Harry? — Gaguejei, surpresa.

̶̶ Oi, pequena! — Ele pareceu sorrir. – Como é que você está?

̶̶ Como você conseguiu meu número? — Ele gargalhou.

̶̶ Eu sei de cor, oras. ­– Revirei os olhos para aquele fato óbvio. – Fiquei esperando você me desbloquear das redes há um tempão, mas seu ponto final está mais firme do que eu pensava, heim.

̶̶ Sim, está. – Menti. – Que número é esse?

̶̶ Eu comprei um chip pra poder falar com você. Não conseguia pelo outro e não ia simplesmente aparecer no seu portão. ­– Ele respirou e ficou quieto por alguns segundos, eu sabia que ele estava tomando coragem para falar o que queria.

̶̶ Harry, eu...

̶̶ Não! – Ele gritou. – Sou eu quem te devo essa. Pequena, eu sei a merda que eu fiz desde que eu a fiz. Eu nunca quis te deixar e, quando digo nunca, incluo todas as outras vezes. Ninguém nunca fez por mim o que você faz. Ninguém nunca me esperou tanto tempo assim, todos sempre abriram mão assim que puderam. Eu estou acostumado a abandonar pessoas e a ser abandonado, mas por algum motivo, você não virou as costas pra mim.

Ficamos alguns minutos em silêncio. Eu estava absorvendo tudo o que havia sido dito e ele estava apenas pensando em tudo que já havia acontecido. Soltou um longo e pesado suspiro, depois continuou seu discurso.

̶̶ A minha intenção não é te convencer de nada, até porque eu realmente entendo que toda história tem um final, mas não acho que esse seja o nosso. Eu falo tanto sobre valores e, na verdade, não sei nada sobre isso. São incontáveis as vezes que eu te dei tchau e sumi sem dar explicação alguma, isso não tem perdão, eu sei que não. Mas mesmo assim estou aqui, pedindo desculpas. – Lágrimas quentes escorriam pelas minhas bochechas, fazendo-me sentir raiva de tudo que eu ainda sentia por ele.

̶̶ Sabe, Harry, vou dizer pra você o que eu sempre digo: amor é amor. O que eu sinto por você supera o amor. É um misto de todos os sentimentos bons do mundo. E, novamente, eu digo que jamais viro as costas para aqueles que amo. – Ele soltou o ar, aparentemente aliviado. – Mas isso não muda e nem significa nada.

̶̶ Precisamos nos ver... – Ele concluiu, colocando fim à conversa por telefone.

Naquela mesma tarde ele foi. Com todo o seu charme e aquele sorriso destruidor. Encarei-o por alguns segundos, segurando o sorriso até não conseguir mais, então abaixei a cabeça e passei a encarar o chão. Seus braços firmes me alcançaram, puxando-me para um abraço.

Existem abraços que soam como despedida, mas aquele soava mais como um retorno, um recomeço. Sua mão direita acariciava meus cabelos e a outra impedia-me de ir longe. Minha cabeça estava em seu peito e eu estava totalmente entregue. Como sempre, ele havia me feito refém.

̶̶ Oi, pequena. Que saudade eu tava de você. – Depositou um beijo na minha testa. Encarei seus olhos e dei um meio sorriso.

̶̶ Também estava. Até que faz bastante tempo, né?

̶̶ Muito tempo! Foi o nosso recorde.

̶̶ O nosso não. O seu! – Retruquei. Ele me olhou de canto e fez uma careta.

̶̶ É, você tem razão. Foi o maior tempo que fiquei sozinho. ­– Arqueei as sobrancelhas. – Você me conhece. A Agatha me fez feliz por uma semana, mas eu ficava procurando você nela. E não achei...

̶̶ Você não precisava procurar por mim, Harry. Eu sempre estive aqui.

Eu queria poder dizer que sempre estaria, mas eu não gostava de mentir, muito menos pra ele. Eu não poderia ficar sempre à disposição de quem não sabia o que queria da vida. Eu sabia o que queria da minha e ficar de estepe não estava entre as opções.

Minha avó costumava dizer que o amor não é suficiente e que, tampouco, cura todas as feridas, apenas as estanca. Ela também dizia que o tempo sim era capaz de muito e que, apenas ele, era capaz de cicatrizar os machucados abertos. Para mim, ela dizia aquilo porque nunca teve uma oportunidade para realmente amar, mas eu estava errada. O que ela mais tinha em si era amor, e feridas. Abertas, fechadas ou apenas marcas.

̶̶ Eu sei que esteve. Eu que não queria dar o braço a torcer. Eu te deixei como se tivesse motivo, com que cara eu ia voltar atrás?

̶̶ Com a mesma que você voltou todas as outras vezes. — Fui curta e grossa. – Como se nada tivesse acontecido. ­– Eu sentia-me cansada, como se já tivesse vivido muitos anos.

̶̶ É, eu sei. Desculpa. — Suspirei. – Prometo que foi a última vez que te deixei.

̶̶ Não me prometa nada, por favor. Ainda mais que vai ficar do meu lado pra sempre quando ambos sabemos que não vai. Eu estou cansada, sabe?! – Ele assentiu, sentando-se ao meu lado na calçada. – Não é como se eu estivesse cansada das pessoas e sim do que elas fazem. É a mesma coisa com você, Harry. Eu te amo e sabes disso melhor que ninguém, mas essas coisas que você faz acabam comigo. Não nasci para ser segunda opção. Na verdade, ninguém merece isso. — Olhei o céu nublado com lágrimas nos olhos. — Eu não vou ficar aqui pra sempre. Sua vida sempre segue, por que eu tenho que parar a minha?

̶̶ Você não tem. Eu sei como é esperar por alguém que não vem, já fui a segunda opção de muita gente. Mas eu sei que isso não me dá o direito de fazer o mesmo com você ou qualquer outra pessoa. — Olhou para baixo, sorrindo de maneira irônica. – Eu não preciso de muito. Só quero tentar de novo, com você.

̶̶ E como vai ser dessa vez? Quanto tempo vamos funcionar até você procurar outros corpos?

̶̶ Eu não sei, pequena. É um risco. Eu estou disposto a corrê-lo, e você?

Busquei seus olhos escuros atrás da verdade, mas não consegui lê-los como queria. Achei que ele tivesse mudado, mas a realidade era que era eu quem estava diferente de antes. Cansada, madura e desconfiada. Talvez machucada demais para correr outro risco por alguém que nem se preocupara em cumprir as promessas que fazia.

Novamente encarei o céu, onde a lua já se fazia presente apesar da claridade que ainda tinha. Ela parecia me encarar, com uma feição culpada de quem não podia me ajudar a escolher os meus caminhos. Aquela responsabilidade era apenas minha.

Olhei o menino ao meu lado. Abandonado pelo pai, com uma mãe ocupada demais para lhe dar atenção e criado por uma avó alcoólatra e irresponsável. Ele tinha grandes chances de ser só mais um jovem perdido, mas não era. Não era culpa dele se o abandono fazia parte da sua criação, ele era impulsivo demais para pensar com clareza.

E contrariando tudo que eu tinha jurado a mim mesma, entreguei-me aquele sentimento forte e inexplicável e deixei as feridas para o tempo cuidar. Fiz as promessas que eu sabia que iria cumprir e jurei que nunca o deixaria, mesmo que ele fosse embora dez outras vezes. Ele também fez promessas e disse que jamais me deixaria de novo. E, por incrível que pareça, ele cumpriu tudo o que disse que faria. Quem quebrou as promessas fui eu.

Em um dia feliz, meus pais e eu sofremos um grave acidente de carro. Meu pai morreu na hora e minha mãe uns dias depois. Eu, com grande sorte, quebrei apenas uma perna, saindo ilesa. Quando voltei pra casa, senti-me vazia. Apesar de o Harry estar sempre comigo, ele se tornou insuficiente de uma hora pra outra. Nem todo o amor do mundo me faria feliz novamente.

Certo dia, sem falar pra ninguém, entrei no carro e fui até uma trilha que eu fazia com os meus pais. Depois de duas horas de subida, encontrava-se um precipício que mostrava um enorme terreno cheio de árvores e lagos. Apesar da chuva, ali fazia muito calor. Desculpei-me com os meus pais por pensamento, pensei no quanto amava Harry e entreguei-me. Corajosamente assumo que morri assim que cheguei ao chão e, devo confessar, a dor não foi grande.

Apesar da ferida que abri no Harry, ele seguiu em frente, sempre feliz. Como a minha avó sempre dizia: não há feridas que o tempo não cure. E, sem pedir permissão, eu dei a mim mesma um novo final, mesmo achando que aquele momento não era o certo para eu chegar ao fim.


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Notas finais do capítulo

E aí, galerê.
O que acharam?
Contem pra mim aí.
Espero que eu não tenha sido a única a amá-la, haha.
Nos vemos em breve, espero.

Beijões,
tia Gui. ♥