Fraquezas escrita por Carolina Rondelli


Capítulo 1
Amor é fraqueza


Notas iniciais do capítulo

Capítulo único.
A fanfic é para o Concurso Cultural, mas espero que todos gostem e consigam enxergar um pouco da importância da Boom para o rumo da história como eu imaginei.



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Naquele dia de inverno, Boom estava com mais frio que o normal. Era um tanto curioso que, devido ao seu poder de controlar as energias, ela conseguia sempre se manter aquecida, independente do que acontecesse. Mas Boom sabia muito bem que o frio que sentia não dizia respeito a condições térmicas, mas sim ao vazio que sentia dentro de si.

Dois anos exatos haviam se passado depois de tudo que aconteceu. Foi tão depressa que Boom nunca pensara que a culpa daquele ato a perseguiria durante toda a sua vida.

Nascida em uma família de controladores, Boom descobriu desde cedo que podia envolver seu pulso de energia e paralisar as pessoas. Porém, o que demorou a descobrir, foi que essa energia podia causar choque nas pessoas, podia matá-las.

Vivia com sua família: sua mãe, seu pai e sua irmã de três anos de idade.

— Se eu sair daqui agora, o almoço de hoje vira um ensopado de carne queimada — a mãe dissera para a Boom de treze anos, exatamente dois anos atrás. — Tire sua irmã do banho.

— Como eu amo tomar conta da pirralha... — esquentada como sempre, Boom reclamou por pelo menos dez minutos antes de se levantar e ir até o banheiro, onde sua irmã, Bethany, estava na banheira. — Acabou o tempo, vamos sair daí.

Porém, Bethany estava gostando muito do banho, e não queria sair. Boom então teve que tirar a menina a força da banheira. A irmã começou a chorar e de debater, fazendo a habitual pirraça, tirando a paciência da irmã mais velha, que já era escassa.

Boom não desistiu, e continuou tentando tirar sua irmã de lá, mas a banheira estava escorregadia e quando a garota se apoiou nela para tentar um jeito melhor de tirar sua irmã de lá, escorregou, e Bethany se soltou de sua mão. Ela iria bater a cabeça e poderia se machucar seriamente se Boom não tivesse um reflexo muito bom.

O que ela não esperava, era que, quando colocasse as mãos em sua irmã, elas estariam carregadas de energia, que em contato com a água, causaram um estrago muito grande. Em um momento, Bethany estava chorando alto demais, no outro não se ouvia nem um barulho.

— Está tudo bem? — era Simus Galveta batendo na porta, interrompendo Boom de seus pensamento atordoantes.

Boom não respondeu.

Simus era uma ótima pessoa com ela. Depois que Bethany ficou seriamente ferida, com quase todo o corpo queimado devido ao choque, seus pais não conseguiam conviver com Boom, então ela fugiu de casa e Simus a acolheu. Mas isso não significa que ela queria falar com naquele momento.

— Gabriel está aqui — ele disse.

Dessa vez Boom respondeu.

— Diga a ele que vou me vestir e já deixo ele entrar.

Gabriel Galek. Ou seu salvador. Significava a mesma coisa para Boom.

Depois que ela fugiu de casa, passou alguns meses na rua. Não controlava energias desde o que fez com sua irmã, e se culpava todos os dias por isso. Entretanto, se viu obrigada a fazê-lo quando alguns homens se aproximaram e tentaram abusar dela. Depois do episódio, Boom tentava treinar o controle pelo menos uma vez por semana, de madrugada, em algum lugar vazio.

Boom sabia que o controle era proibido, mas não sabia da existência dos silenciadores. Em uma madrugada, ela estava treinando como sempre quando foi vista por um silenciador. Estaria morta se um grupo de pessoas não tivesse aparecido e ido atrás do terrível “monstro” sem face.

No entanto, nenhuma das pessoas que salvaram a sua vida pararam para ver como ela estava, apenas correram atrás do silenciador. Ninguém além de um garoto que colocou a mão do seu ombro enquanto ela chorava desesperadamente.

— Você está bem? Ele te machucou?

A primeira reação de Boom foi dar um tapa em sua mão e se afastar.

—Ei! — ele protestou. — Eu salvei sua vida, calma.

— Obrigada — ela continuou longe dele, hesitante.

— Sou Gabriel Galek — ele estendeu a mão, mas Boom não apertou. — Tudo bem... Tenho observado você treinar o controle há algum tempo. Contei ao meu pai e ele achou que poderia haver silenciadores por perto.

— Silenci o quê? — ela perguntou, confusa.

— Aquela coisa que tentou te matar — ele explicou —, era um silenciador. Eles matam gente como você. Como nós.

A partir daquele momento, Boom e Gabriel criaram um laço muito forte. Ele a apresentou para Simus, que prometeu cuidar dela e dizer para as pessoas que Boom era uma sobrinha que foi morar com ele após a morte dos pais. Ele a treinava, e logo ela se tornou parte da Guilda.

As coisas entre os dois começaram a ficar mais sérias há alguns meses, o que envolveu alguns beijos depois de várias lutas vencidas. Gabriel sabia a importância daquele dia para Boom, e ela sabia que ele iria aparecer. Ele era a única pessoa com quem ela conseguia falar sobre aquele dia.

— Pode entrar — Boom foi até a porta e chamou Gabriel, que estava esperando do lado de fora.

— Como você está? — ele quis saber.

— Como acha que estou? — ela rebateu, já com raiva.

— Segura e amada — ele se aproximou dela e a abraçou —, é assim que deve se sentir sempre que estivermos juntos.

Boom estava feliz, pela primeira vez em muito tempo, até que o mundo virou de cabeça para baixo. Carlos Galek havia morrido, o pai de Gabriel. Quando Boom foi tentar consolá-lo, recebeu um retorno muito pior do que pensava.

— Precisamos terminar — Gabriel disse.

— O quê? — ela não conseguiu compreender.

— Meu pai está morto.

— E o que isso tem a ver com nós dois?

— Não vou descansar enquanto não matar aquele silenciador nojento que fez isso com meu pai.

— Ótimo, eu vou te ajudar.

— Sei que vai, mas não podemos ficar juntos — ele não era o tipo de pessoa que volta atrás em uma decisão.

— Por quê? — era a única coisa que ela precisava saber.

— Não posso me preocupar com uma vingança e me preocupar com você — ele explicou. — Amor é uma fraqueza. E você é a minha fraqueza.

Boom não discutiu, e levou a situação com toda maturidade apesar de ter ficado devastada. Ela sabia que, da mesma forma que aconteceu com o sentimento de culpa sobre o que aconteceu com a irmã estava com ela para sempre, o que sentia por Gabriel também.

***

Algum tempo depois, quando tudo em Acigam estava violento, quando os silenciadores apareciam cada vez mais frequentemente e estavam dentro de uma verdadeira guerra civil, Leran Yandel, o Encantador de Flechas, teve sua irmã levada para o castelo da rainha Nagisa. Boom queria ajudá-los, assim como Gabriel. Porém, Leran queria levar Judra, a garota por quem estava apaixonado, mas que todos descobriram ser uma silenciadora.

Gabriel não concordava com isso, Judra matou seu pai, então ele foi impedir que Leran soltasse a garota.

Sem que ninguém percebesse, Boom observou como tudo aconteceu. Gabriel brigou com Judra, tentou matá-la. Leran, talvez porque Judra era a sua melhor chance de salvar sua irmã, ou também porque ainda sentia algo por ela, impediu que ele fizesse o que pretendia.

Mas Judra era uma silenciadora, e nada podia mudar esse fato. Ela pegou a faca que Gabriel iria usar para matá-la e enfiou em sua barriga.

Boom segurou o grito e esperou que Leran e Judra saíssem, depois de uma cena dramática, quando Gabriel morreu antes de perdoar Leran.

Ela se aproximou do corpo da única pessoa que conseguiu amar depois de sua irmã, beijou seus lábios e fez uma promessa:

— Eu não fui sua fraqueza, afinal, essa vingança foi. Mas não se preocupe, vou terminá-la por você.

Ela então seguiu Leran e Judra de uma distância segura, até que eles chegaram ao palácio. Ela não se atreveu a entrar, por mais que quisesse matar Judra, ainda queria que Leran salvasse sua irmã.

Ela esperou, portanto, do lado de fora, na parte de trás do castelo, onde julgava que ficassem o quarto da rainha Nagisa.

Ali, parada, ela só conseguia pensar no fato de Gabriel ter salvado sua vida tantas vezes e ela ter sido incapaz de fazê-lo daquela vez.

Boom se surpreendeu com um barulho de vidro se estilhaçando e viu, para sua grande surpresa, Judra despencando de uma das janelas. O inconfundível cabelo loiro, a roupa que Leran deu para ela usar, e um pergaminho na mão.

Ela não perderia sua oportunidade. Pela primeira vez depois do que aconteceu com sua irmã, ela direcionou a energia em forma de choque para o corpo de Judra, para sua surpresa, ela sabia exatamente o que fazer.

Judra se debateu por muito tempo e a energia de Boom levou a silenciadora para o chão em câmera lenta. Então Boom se afastou, satisfeita, sabendo que cumpriu a promessa que fez à Gabriel Galek, acabou com a pessoa que matou seu pai. E realizou sua própria vingança, acabou com a garota que matou o amor da sua vida.

O que Boom não sabia, e que não ficou sabendo por um bom tempo, é que, em vez de vestir apenas a roupa que Leran havia dado a ela, Judra não tirou a roupa de silenciadora que estava. Roupa que era feita para impedir que o silenciador seja afetado por controladores. Boom salvou a vida de Judra, levando-a para o chão em segurança envolta em uma nuvem de energia que no máximo faziam cócegas a ela.

No fim, o amor foi a fraqueza de Boom.


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Notas finais do capítulo

Espero comentários nos reviews, muito obrigada por terem lido!



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