#3

Funeral

Nove anos se passaram desde o casamento de Kurt e Sebastian. Kurt e Blaine nunca mais se viram, muito menos se falaram.

Blaine sentia falta de Kurt todos os dias de sua vida. Ele vivia completamente afastado de tudo e todos. Gostava da vida que levava e onde a levava. Ele simplesmente deixava a vida o guiar, já que o caminho que ele escolheu não pôde ser o tomado por ele.

Já Kurt, com o tempo, acabou abafando seus sentimentos, os guardando no lugar mais profundo de seu coração.

O castanho nunca deixou de amar Blaine, mas havia se permitido apaixonar-se por Sebastian, já que este era seu marido agora.

Kurt não sabia como era a aparência de Blaine agora, mas ainda lembrava de como os abraços do moreno eram maravilhosos. Ainda lembrava como se sentia protegido ao lado do amigo. Lembrava como era a bela voz de Blaine. E, claro, lembrava de seus sentimentos, por mais que tentasse lutar contra eles.

Kurt e Sebastian voltavam de um jantar entre amigos para seu apartamento discutindo pelos mesmos motivos de sempre: Kurt queria ter filhos e um apartamento maior.

O castanho queria ser escritor, queria terminar seu livro que, por enquanto, era apenas uma ideia em sua cabeça.

Eles entravam no prédio discutindo e continuavam sua discussão dentro de casa. Eles sempre começavam a mesma discussão, sempre pelo mesmo motivo e sempre faziam as pazes no final.

– Precisamos de um aparamento maior para criar nossos filhos. – Kurt argumentava enquanto trocava sua roupa.

– Kurt, não acho que essa seja a melhor hora para termos filhos. Talvez ainda esteja muito cedo. – Sebastian disse saindo do banheiro pronto para dormir.

– Muito cedo? Nós estamos casados há nove anos. – Kurt disse, se levantou e viu o marido se aproximar.

– É isso o que você quer? – Perguntou o mais alto, pegando as mãos de Kurt em seguida. – Porque tudo que eu quero está bem aqui nas minhas mãos.

Kurt não teve mais argumento algum. Sebastian havia ganhado agora e tudo estava resolvido. O Hummel simplesmente se esticou um pouco e capturou os lábios do marido para si.

Logo em seguida os dois foram dormir, abraçados, confortáveis nos braços um do outro.

[...]

– Sebastian era o melhor amigo que alguém poderia ter. – Dizia Andrew, o melhor amigo de Sebastian. – Me desculpem, eu não consigo mais.

O loiro falou e começou a chorar. A dor de ter perdido seu amigo era grande demais.

Sebastian havia falecido na noite anterior àquela e eles estavam apenas entre amigos em um funeral não muito comum. Mas eles sabiam que era exatamente assim que Sebastian iria querer seu funeral.

– Kurt, você não gostaria de falar alguma coisa? – Perguntou Burt ao filho, que assentiu sorrindo fraco e ficou em frente a todos.

– Eu não tenho mais lágrimas para derramar. Acho que chorei o suficiente por uma vida inteira e simplesmente minhas lágrimas secaram. – Kurt disse dando um sorriso fraco novamente. – Sebastian não era apenas meu marido, ele era meu melhor amigo. Aquele com quem eu podia contar sempre, porque ele sempre estava ao meu lado. Ele sempre me ajudou, me apoiou, me incentivou. Ele estava sempre alegre, encontrava felicidade nos mínimos detalhes da vida e fazia todos sorrirem com ele. Aliás, me fazer sorrir era a especialidade dele, já que ele dizia que meu sorriso era a obra mais bonita de Deus. Não posso dizer que vou ficar bem, apenas posso dizer que vou tentar levar a vida. Não sei como fazer isso. É difícil estar acostumado com alguém que acordava ao seu lado, vivia ao seu lado, dormia ao seu lado, durante nove anos, entendem? Eu vou ter que aprender a dormir e acordar sozinho, a... bom, a viver sozinho e sei que não será fácil. Ele sempre soube de todos os meus segredos, todas as minhas alegrias, até o fato de que ele não foi meu primeiro amor. Eu me permiti me apaixonar por ele e agora eu não sei mais como fazer para aprender a viver sem ele. Eu sei que ele vai continuar ao meu lado e que eu nunca vou esquecer ele. Sei também que essa dor, com o tempo, se tornará apenas saudade, mas no momento ela machuca muito. Seb, amor, seja lá onde você está agora, apenas saiba que eu te amo e nunca vou deixar de amar.

Kurt disse e sentou novamente.

[...]

Um mês se passou e a vida de Kurt estava uma tremenda bagunça. Como ele queria voltar para o ensino médio quando ele tinha seus dois melhores amigos, Sebastian e Blaine, ao seu lado. A vida era tão mais simples ou, pelo menos, aparentava ser. Eles sempre faziam com que a vida parecesse mais fácil e bonita.

Aqueles dois coloriam os dias de Kurt, mas agora Sebastian havia partido por culpa de um maldito tumor no cérebro e Blaine estava sabe-se lá onde.

Kurt se sentia sozinho. Ele tinha Rachel e Quinn, mas elas não queriam conversar com Kurt no momento, pois sabiam que começariam a tentar alegrar Kurt e nunca iriam conseguir. As cicatrizes dele teriam que se curar sozinhas, mas, como diria uma música que Kurt gosta muito, cicatrizes fazem de nós quem somos.

*FLASHBACK ON*

Kurt recebeu um bilhete de Sebastian para que os dois se encontrassem no auditório da escola, mas, antes de ele ir para lá, ele foi até a sala de física falar com Blaine, que também havia o chamado.

– Então é verdade o que todos estão dizendo? Kurt Hummel está mesmo namorando Sebastian Smythe? – Blaine perguntou ao amigo. – Pensei que eu fosse ser o primeiro a saber, mas claro que eu estava enganado.

– B, eu e ele não estamos namorando, estamos saindo. Ainda não tenho certeza de meus sentimentos. Eu estou confuso. – Disse o castanho. – Ainda mais porque eu sou perdidamente apaixonado por você, mas você não aparenta notar. – Completou ele mentalmente.

– E a parte de que eu não estou a par disso? – Perguntou Blaine e Kurt sentou-se na bancada ao lado do moreno.

– Eu iria te contar quando tivesse certeza do que estava sentindo. – Disse Kurt escorando sua cabeça no ombro de Blaine.

– Mas você poderia ter me contado até sua confusão de sentimentos, K. Amigos servem para isso, caso você não saiba. – Disse o moreno encarando Kurt quando o mesmo levantou a cabeça.

Os dois estavam muito próximos. Milímetros separavam suas bocas e ambos sentiam a respiração um do outro. Os dois queriam aquilo, um simples beijo, mas tinham medo de admitir um para o outro.

Blaine colocou sua mão no rosto de Kurt e avançou um pouco mais e, nesse momento, o sinal tocou. Kurt teria uma aula vaga, mas Blaine tinha um teste importante para o qual não poderia se atrasar.

– M-me desculpa... E-eu preciso ir. – Blaine disse descendo da bancada e saindo da sala.

Kurt passou sua mão por seus lábios imaginando como teria sido sentir o beijo de Blaine, um beijo pelo qual ele tanto ansiava. Um beijo que talvez nunca acontecesse. Por mais que o castanho sonhasse com isso, sabia que seu primeiro beijo não seria com Blaine.

O castanho foi para o auditório e o encontrou vazio, então resolveu esperar por Blaine no corredor para saber como o moreno havia ido em seu teste.

– B, como foi seu teste? – Kurt perguntou com um sorriso adorável nos lábios.

– Eu não sei, provavelmente fui bem. Eu estava pensando no meu amuleto de sorte. – Blaine disse tímido.

– Um dia você ainda vai ter que me contar que amuleto é esse. – Kurt disse rindo. – Quer ir comer algo comigo? Eu não almocei ainda, estou morrendo de fome.

– Claro, quero sim. – Os dois saíram andando para fora da escola, mas, antes que pudessem completar o trajeto, Kurt empurrou Blaine para dentro de uma sala. – Fiz algo de errado?

– Hoje mais cedo, antes de você sair correndo por causa do seu teste... você ia me beijar? – Kurt perguntou, indo direto ao ponto.

– E-eu? – Perguntou o moreno. – C-claro que n-não.

– Se não ia, por que está gaguejando para me responder? – Kurt perguntou com os braços cruzados. – Eu conheço você, Anderson.

– Kurt, você é meu melhor amigo. Todo o amor que eu sinto por você é amor de amigo. – Ao ouvir aquelas palavras Kurt simplesmente revirou os olhos e foi saindo da sala.

O castanho encontrou Sebastian no caminho e o cumprimentou sem muita vontade.

Sebastian estava investindo em Kurt já fazia um certo tempo e, agora era a hora de Kurt se “aproveitar” disso.

Kurt simplesmente empurrou Sebastian contra o armário mais próximo e o beijou. Não sabia de onde tinha tido coragem para tal ato, só sabia que tinha mesmo feito aquilo. E, mais que isso, ele sabia que Blaine estava o observando.

*FLASHBACK OFF*

– Maldita amizade. Cadê você agora para consolar seu amigo, Blaine? – Kurt falava consigo mesmo.

Não ligava se parecia um louco. Estava sozinho em casa, sem ninguém para julgá-lo. Ele vestia uma roupa qualquer com um casaco de Sebastian jogado por cima de si.

Sim, é verdade, no início Kurt estava com Sebastian para jogar um ciúme ridículo para cima de Blaine. Mas, depois de casar com o outro, acabou se apaixonando. Era inevitável, praticamente impossível, não se apaixonar.

– Eu deveria ter namorado outra pessoa. Deveria ter ido sozinho para New York. – Kurt dizia já chorando. – Deveria ter me isolado, mas não. Eu fui burro. Perdi as duas pessoas que mais amo. E uma delas eu não sei nem onde está agora. – Ele falava quase quebrando as coisas dentro de casa. – Será que Blaine pelo menos sente a minha falta? Será que ele sabe o que aconteceu com Seb? Aquele que ele costumava chamar de melhor amigo? E, se ele sabe, será que se importa? Ele não deve estar nem aí para nós.

[...]

“Oi, Quinn. Tudo bem?” – Perguntou Blaine do outro lado da linha.

“Não, nada bem.” – Começou a loira. “Não tem jeito fácil ou bom de falar isso, então trataremos isso como um curativo que, quanto mais rápido se puxa, menos se dói, ok?”

“Você está me assustando, Fabray. Aconteceu alguma coisa com Kurt?” – O moreno perguntou preocupado, tentando não demonstrar muito o pavor em sua voz, mas não tinha como.

“Aconteceu.” – Ela soltou um suspiro. “Ele é viúvo agora.”