– Vovô? – gritou Henry entrando na loja – Vovô, você está aqui?

– Henry? Está tudo bem? – disse Belle com uma expressão preocupada

– Sim, mas eu preciso falar com Mr. Gold, ele está por aqui?

– Estou aqui garoto. Qual é a urgência?

Rumplestiltskin deu um rápido olhar para o garoto que carregava um pedaço de papel em suas mãos trêmulas e entendeu imediatamente.

– Belle, querida, você poderia nos dar licença por um momento? Nós precisamos ter uma conversa de cavalheiros.

Belle sorriu para a cena. Ela estava realmente feliz com a relação que Rumple estava desenvolvendo com o neto. Ela sabia o quanto o homem havia sofrido com a morte do filho e Henry era a redenção de Rumple por tudo o que ele deveria ter feito por Baelfire.

Ela decidiu buscar o almoço deles no Granny’s para dar a ambos mais privacidade enquanto tinham a conversa de cavalheiros, como disse Rumple.

– Vejo que teve sucesso em sua tarefa, Henry – ele apontou com a cabeça para o papel.

– Eu acho que sim! – o garoto sorriu e entregou a lista à Gold – Dois meses de observação escondida e eu devo dizer, não é uma coisa fácil em nossa família.

– De alguma forma eu acredito em você – Gold sorriu de volta – Agora vejamos.

Seus olhos passaram rapidamente por todas as palavras no papel intitulado “Operação Swan” e então novamente com mais atenção a cada uma.

– Muito impressionante. Acredito que você realmente tenha coberto tudo. Apenas isso – ele apontou para o item olhos – você não pode considerar semelhança física. Apenas não é como isso funciona.

Henry aprovou quieto enquanto o homem riscava o item da lista.

– Quando podemos contar a eles? Nós temos todas as evidencias agora, certo?

– Certo. Prepare uma reunião com todos essa noite.

– Todos? – seus olhos se arregalaram.

– Sim. É um assunto delicado e eu não tenho intenções de explicar duas vezes.

**

A reunião aconteceu no apartamento dos Charming com a desculpa de um jantar de família, que Henry insistira na presença de todos. O que ele não esperava era que os namorados de suas duas mães estariam ali com sua família. Isso apenas faria as coisas mais desconfortáveis, mas Mr. Gold disse que explicaria apenas uma vez.

– Você está bem, querido? Você parece nervoso –Regina perguntou ajeitando seu cabelo.

– Claro, mãe. – ele mentiu e rapidamente teve a ideia – Você notou como minha mãe está bonita hoje?

– Bom, eu... Suponho que... bom, claro.

Ele sorriu para as bochechas coradas de Regina encarando Emma que ria de alguma aparente piada contada por David e se virou para Gold com uma piscadela. Era isso, era hora de começar.

– Posso ter a atenção de todos, por favor? Tem algo que eu gostaria de contar a todos. – Rumple aguardou todos se sentarem – O jovem Henry veio até mim há dois meses com uma ideia extraordinária em sua cabeça. Nós trabalhamos juntos desde então para checar todos os fatos para contar a todos.

Ele descansou o olhar por um momento em Belle com um pedido silencioso de desculpas, que ela replicou com um breve aceno e um sorriso gentil.

Regina se virou no lugar, desconfortável com seu filho trabalhando em segredo com Rumplestiltskin já que, por sua experiência previa, aquilo nunca terminava bem. Mesmo que ele fosse um herói agora, ela ainda não confiava completamente nele. Ela procurou o olhar de Emma que encontrou rapidamente, também procurando pelo seu e ela soube que a loira também não estava feliz com aquilo.

– Era uma vez – Gold começou e Emma revirou os olhos – quando a vida foi trazida à nossa terra, a magia tomou conta de nossos destinos, como vocês bem sabem.

Ele olhou para cara rosto que o encarava de cenho franzido e novamente para Belle que lhe deu um sorriso tímido, encorajando-o a continuar.

– Nesse mundo, isso seria tomado como um assunto religioso. Estou na verdade explicando essa parte para você em particular, Ms. Swan – ele olhou para Emma que assentiu – Em nosso mundo, onde a magia está presente, quando a vida acontece está sempre ligada à um proposito e quando a pessoa atinge esse proposito, pode então viver plenamente o seu final feliz. Seria o que acontece depois do “felizes para sempre” já que agora seria possível controlar a própria vida e destino, sem interferência do autor – ele olhou para Henry que tinha as bochechas vermelhas – Se, por alguma razão a vida for interrompida antes disso, a pessoa irá nascer de novo e de novo até conseguir.

– Você quer dizer reencarnação?

– Seria algo como isso Ms. Swan, mas em nosso mundo as coisas acontecem um pouco diferentes. Quando uma alma renasce, ela dá alguns passos exatamente como em sua ultima vida.

– Agora você me perdeu – disse Hook recebendo um olhar nada amigável de Regina.

– Usarei você de exemplo, pirata. Se Hook morresse sem atingir seu proposito, ele provavelmente irá renascer e ainda assim ser um pirata bêbado, mesmo se criado por uma família amorosa que vive longe do mar – Regina sorriu com a explicação – Mas normalmente o que mantemos são nossos talentos. Eles podem ser a única coisa que deixam identificar uma alma renascida.

Ele se virou de costas para pegar a lista de Henry e o garoto sorriu sussurrando.

– Você precisa falar do Whale primeiro.

– Sim, obrigado Henry. Nosso amado Henry acaba de me lembrar um assunto importante antes de seguirmos. Alguns acreditam que se a pessoa pode renascer, ela pode fazer isso no mesmo corpo. Dr. Whale é um bom exemplo disso. Mas se uma alma se vai, é impossível trazê-la de volta para o mesmo corpo.

O olhar de Regina cruzou o de David. Eles tiveram uma péssima experiência com os experimentos do Dr. Whale.

– O que eles não consideram é que um corpo não tem mais uma alma. Por isso, um corpo morto tem somente as memorias de seus últimos momentos então eles revivem sua morte outra vez.

– Espere um momento – Regina interrompeu – Você está dizendo que se Whale tivesse sucesso, a pessoa não seria real?

– Veja bem, querida, o corpo está vivo, mas sem alma. Ainda possui as ultimas memorias e desejos então o que quer que escute deles, são somente seus últimos pensamentos haja visto que o cérebro ainda está lá.

Regina sentiu seu corpo mais pesado e sua cabeça girava. Emma a lançou um olhar preocupado. Ela também se lembrava, mesmo estando presa na Floresta Encantada quando aconteceu. Agora que ela havia visto o apanhador de sonhos de Regina, ela não podia deixar de se sentir protetora com a outra mulher e por um momento, sentiu raiva da própria mãe.

– Você pode se apressar no que precisa dizer, Gold? Não estou vendo nenhum sentido nessa historia.

– Se é assim que deseja –ele continuou – Deixe-me te perguntar uma coisa, Regina. Se me lembro bem, seu primeiro amor tinha uma tatuagem no pulso, não tinha?

– Sim. Ele tinha o nome do irmão morto no seu pulso esquerdo. – Regina respondeu com um olhar distante no rosto, lembrando-se de seu encontro com o corpo sem alma no estabulo.

– E qual era o nome do irmão dele?

– Leonard. Mas ele o chamava de Leo*. (*Leo = leão)

Snow abriu a boca em surpresa. Ela foi a primeira a entender o que isso significava e um por um, todo mundo no ambiente seguiu seus pensamentos.

– A tatuagem de leão? – Robin perguntou com um sorriso esperançoso no rosto.

– Não seja idiota, você é mais velho do que Daniel – Emma respondeu rude.

Regina levantou uma sobrancelha e encarou Emma. A loira estava agindo muito estranho ultimamente, especialmente com Robin. Ela pediu uma explicação alguns dias antes e Emma mentiu dizendo que era apenas pela situação de Regina com Robin e Zelena. A morena sabia que ela estava mentindo, mas por alguma razão fingiu acreditar. Ambas concordaram em não brigar por isso se Emma parasse de tratar Robin daquela maneira.

– O que? – Emma franziu o cenho – Foi uma pergunta estupida.

– Mas você pode ver o motivo da confusão, não pode Ms. Swan? – Gold sorriu – Ambos tem uma tatuagem relacionada a um leão, essa com certeza seria uma evidência.

– Ah é? E o que mais? Ele nem mesmo gosta de cavalos.

– Isso é outra evidência – Henry sorriu com um brilho no rosto – Ele não gosta, e isso com certeza vai contra ele. Quero dizer, se tivesse alguma possibilidade já que Robin já estava vivo quando Daniel nasceu.

– Parem aí mesmo todos vocês! – Regina finalmente disse – O que diabos você está tentando dizer? Você está tentando me convencer de que Daniel está vivo?

Sua voz estava tão furiosa quanto o olhar em seu rosto e Henry deu dois passos para trás. Não era dessa forma que ele esperava que sua mãe reagisse.

– E se ele estivesse? – Gold deu um passo à frente.

– Isso não faz nenhum sentido – Regina se levantou com as mãos na cintura.

– Para o bem dessa conversa, vamos dizer que faça – David tentou – Qual o seu ponto Gold? Você está dizendo que sabe quem ele poderia ser?

– Oh, eu responderei isso, mas primeiro, Regina deve responder à minha pergunta.

– Eu... eu iria...

Ela olhou para a lista nas mãos de Gold e seu coração disparou.

Ela viu a morte de Daniel no apanhador de sonhos e ela já não sofria por ele. E se isso fosse porque ela sabia que ele estava bem? Mas mesmo que ele estivesse vivo, uma coisa os impediria.

– Eu provavelmente ficaria muito feliz e brincaria com ele, já que agora ele seria uma criança.

– E se ele não for uma criança? – Henry tentou – A maldição, se lembra? O tempo é diferente.

– De fato, mas o tempo parou para todos da nossa terra, inclusive ele.

Emma olhava a cena com um olhar vazio no rosto. Tudo o que ela queria era que Regina fosse feliz. Ela se sacrificou pela felicidade da outra, ela se transformou na Dark One, ela transformou Hook no Dark One também por isso. Eles acabaram bem apesar disso, depois de uma breve visita ao submundo, mas tudo o que ela fez foi por Regina e ela estava bastante ciente disso. Ela queria amar Hook com todos os músculos de seu corpo e ela provavelmente conseguiria se não fosse pela presença constante da morena em sua vida. Ela constantemente se esquecia de seus pais, se esquecia de Hook e se sentia culpada por isso, mas Regina merecia sua felicidade, talvez mais do que qualquer um ali especialmente depois de Emma ver seu apanhador de sonhos. Quando Emma viu as lagrimas nos olhos da outra mulher na pequena tela redonda, ela sabia que era seu trabalho e objetivo pessoal fazer Regina a pessoa mais feliz já existente. Ela passou por muita coisa e por causa de sua mãe, Snow.

– Você está bem, amor? – Hook passou seu braço em volta do pescoço de Emma.

– Isso é apenas... eu estou apenas...

– Mãe, pense nisso. Eu não posso te dar a resposta, você deve descobrir sozinha – Henry pediu com um olhar suplicante.

– Ok garoto, o que nós temos que fazer? – Emma se levantou e andou até a direção dele recebendo um sorriso extraordinário de seu filho.

– Você precisa apenas observar como eu fiz. Você precisa comparar Daniel com outras pessoas e irá descobrir!

De repente Regina se deu conta o porque seu filho estava fazendo tantas perguntas sobre Daniel ultimamente. Ele com certeza acreditava naquilo e tinha um palpite sobre quem seria.

– É por isso que estava fazendo tantas perguntas antes? – Emma perguntou – Mas isso não faz nenhum sentido, Henry. Você esteve fazendo várias perguntas à David sobre coisas que ele gosta e bem, David não é Daniel e não precisamos saber de suas preferências para saber disso.

– Você me perguntou se eu gostava de cavalos e tatuagens – disse Snow – Você esteve despistando! Você já tem a resposta, não tem?

Henry sorriu. Claro que ele tinha, mas não poderia arriscar ser muito obvio então fez perguntas para todos em Storybrooke.

– Eu tenho um palpite. Mãe – ele se virou para Regina – quantos anos Daniel tinha quando morreu?

– Você já sabe disso, você me perguntou isso essa manhã. – Regina franziu o cenho e Henry assentiu – Tudo bem, ele tinha 28.

– Claro que tinha – ele piscou para Gold.

Foi somente quando Emma tocou o ombro de Henry com a mão e sua jaqueta mostrou seu pulso esquerdo que Regina notou a pequena flor. Ela já havia visto esse símbolo antes em um brasão que ela conhecia muito bem.

Os olhos de Regina eram um misto de surpresa e terror. Uma vez que se lembrou do brasão, e imagem do leão abaixo das flores parecia colada bem em frente aos seus olhos. O leão do brasão era também bem parecido à tatuagem de Robin, mas a flor era a mesma e disso ela tinha a absoluta certeza.

De repente, imagens aleatórias apareceram em sua cabeça. O colar de Emma com o anel, a tatuagem, a forma como Emma rapidamente encontrou o cavalo de Violet – que Regina sabia ter sido sem ajuda de sua anterior magia negra, já que Emma lhe confessou depois que não queria que Henry de forma alguma sequer desconfiasse que ela estava envolvida com o sumiço do cavalo e implicava em como ela facilmente encontrou o animal -, o sacrifício de Emma por sua felicidade, a forma como Emma entrou em sua vida com a idade exata em que Daniel saiu...

Sua cabeça estava rodando rapidamente e de repente todo o cômodo ficou preto. Ela não podia sentir o corpo caindo de encontro ao chão, mas pôde sentir algo queimando seu braço e uma voz distante chamando seu nome.

Quando ela finalmente abriu os olhos, Emma e Henry tinham lagrimas em seus rostos. A mão da loira segurando seu braço esquerdo e a outra agora segurando sua cabeça enviavam vibrações por todo seu corpo.

Destino.

Uma vez Snow White fez Regina perder seu amor verdadeiro.

Uma vez ela viu a felicidade sumir em frente aos seus olhos.

Uma vez ela prometera vingança.

Uma vez lhe foi prometido felicidade novamente e magica foi usada para encontrar o caminho dessa felicidade.

Uma vez ela viu uma estranha entrar por seu jardim para lhe devolver aquele a quem ela mais amava.

Uma vez ela viu essa mesma estranha leva-lo embora.

Uma vez lhe foi pedido para que amasse novamente.

Uma vez elas lutaram pelo filho dela. Filho delas.

Uma vez ela descobriu que havia uma pessoa disposta a entregar a própria alma por ela.

Agora, ela entendia que o destino brincava com ela. Magia é imprevisível e ela, acima de todos, deveria saber disso. Ela deveria saber que pó de fada nunca iria apontar para o seu amor verdadeiro, mas sim a direção até ele, caso contrario seria fácil demais. Caso contrário, todos iriam simplesmente utilizar o pó de fada e viveriam felizes para sempre e não é assim que a vida funciona. Você deve lutar por isso, lutar pelo que acredita, lutar pelo que deseja.

– Por favor, diga alguma coisa – Emma encarou a morena com o olhar mais preocupado – Por que ela está tão quieta? Alguma coisa está errada. Faça algo, Gold!

– Eu... – Regina tentou – Estou bem.

Emma deu o melhor sorriso que pôde e a ajudou a se levantar, nunca soltando seu braço.

– O que diabos aconteceu?

Ela seguiu o olhar da outra mulher até seu pulso. Regina estava encarando a tatuagem da flor que ela havia feito aos 16 anos.

“- Eu gosto dessa – Emma apontou para o desenho no papel amassado sobre a mesa.

– Oh, porém isso não é uma tatuagem.

– Não me importa. Eu amei! É simples e um tanto familiar na verdade. Onde viu isso?

O rapaz coçou a nuca. Ele não queria parecer infantil para a loira gata em sua frente, mas ele também não pode evitar as palavras que escorregaram de sua boca.

– Eu tive um sonho estranho a noite passada sobre um brasão de leão com algumas dessas flores e não pude parar de pensar nisso até desenhar.

Emma o olhou por um momento e sorriu. Isso era perfeito.

– Então podemos dizer que isso é único, não podemos?

– Acho que sim. Talvez até especial – ele sorriu de volta.

– Então, é a flor!”

As memorias vieram como um soco no estomago. Por um momento ela não pôde respirar até encontrar os olhar de Regina cravado no dela.

– O brasão... – ela começou

– Não aqui.

Com um rápido movimento com a mão, uma fumaça roxa envolveu as duas mulheres e que de repente apareceram na sala de estar de Regina. Emma deu um rápido olhar pelo ambiente para entender onde estava e, como um ímã, seus olhos voltaram à Regina.

– Emma, o que isso... significa? – Regina perguntou com a voz trêmula.

Para Emma, aquilo era apenas uma confirmação do que ela já sabia há algum tempo, mas também um novo sentimento de esperança e felicidade preencheu seu coração. Robin era apenas um caminho. Regina nunca iria associar sua flor ao brasão se não fosse pelo leão de Robin e provavelmente, ela também não iria.

– Eu acho que significa – Emma deu um passo à frente e colocou ambas as mãos na cintura da morena com um sorriso travesso – que nós sempre iremos nos encontrar.