Olá, meu nome é Eowyn Reynolds, tenho dezessete anos. Há dois anos vivia em Londres. Foi quando tudo mudou.

Dois anos atrás, quando minha vida acabou.

Dois anos atrás, quando meu pesadelo começou.

Flashback on

“Mas eu não estou com sono!”

“Nem eu!”

Olhei para as caras emburradas de meus irmãos mais novos. Sarah tinha treze anos, Daniel onze. Éramos cinco irmãos ao todo, com intervalos de dois anos entre cada um. Mathew, de dezenove, trabalhava pra pagar a faculdade. Lanna, de dezessete, tomava conta da casa, e eu dos pequenos

“Não to nem ai. Já são nove horas, não vou levar pito de mamãe e de papai por culpa de vocês dois!”

“Isso não é justo! Você não vai dormir agora!”

“Isso porque eu ainda tenho que lanchar, tomar banho e estudar, coisas que não pude fazer por ter de passar o dia tomando conta de vocês. Cama. Agora.”

Os dois foram dormir e eu lanchar. Fiquei estudando na sala junto de meus dois irmãos mais velhos. Lanna foi a primeira a ir dormir. Algum tempo depois olhei para o relógio: meia noite e meia.

“Matt, vou tomar meu banho agora. Boa noite.”

“Também já vou subindo. Não consigo mais estudar!”

Subimos cada para os nossos quartos. Ele dividia o dele com Daniel, e eu dividia o meu com Lanna e Sarah.

Entrei no banheiro de nosso quarto e tomei meu banho. Vesti meu roupão e fui em direção à cozinha beber um copo d'água.

Antes de descer um degrau sequer ouvi vozes, um grito logo em seguida. Olhei para o andar de baixo. Daniel estava morto, estirado no chão. Cinco pessoas estavam de pé ao seu lado.

Corri de volta ao meu quarto e tranquei a porta. Vi os rostos assustados de  minhas irmãs, pedindo alguma explicação. Corri até o móvel mais perto e tentei empurra-lo em direção à porta.

“Me ajudem!”- pedi as minhas irmãs, que vieram em meu socorro. Vinte segundos depois o móvel estava bloqueando a porta.

“Eowyn o que está...”

Não deixei Lanna terminar de falar. Puxei as duas em direção ao banheiro e tranquei a porta.

“Estranhos na casa. Mataram Daniel.”

Mal terminei de falar ouvimos mais três gritos. Meus pais e irmão também não! Lágrimas silenciosas escorreram pelo meu rosto. 

Pouco segundos depois ouvimos o barulho da porta sendo arrancada e o móvel afastado. Meu coração parou de bater quando ouvi passos vindo em direção ao banheiro. Abracei minhas irmãs com mais força. Meu medo não era de morrer, e sim de perde-las.

A porta foi arrancada e minhas irmãs soltaram um grito. Na nossa frente estavam as pessoas mais lindas que eu já tinha visto. Lindas e terríveis.

Um deles avançou em direção a Lanna e torceu seu pescoço. Sarah deu um grito de terror, e eu cobri seus olhos e assisti uma cena que era pior que o mais terrível de meu pesadelos: Presas surgiram da boca do jovem, que as fincou no pescoço sem vida de minha irmã.

O vampiro, eu tinha certeza que era isto que ele era, drenou o corpo de Lanna em segundos. Jogou o corpo para um lado e se voltou para nós duas. Em segundos tinha me lançado para um canto e agarrado minha irmã, que berrava de terror. Corri em direção aos outros, que se assustaram com aquilo. Sem mais forças para me manter em pé, cai de joelhos na frente de um dos vampiros e implorei. - “Por favor, a Sarah não! Eu faço qualquer coisa! Por favor!”

“Pare!” - Ouvi a voz de um dos vampiros dizer. No mesmo instante o primeiro soltou minha irmã, que caiu no chão, imóvel. O que havia falado se ajoelhou e ergueu meu rosto. Seus olhos frios e verdes olhavam dentro dos meus.

“Se deixarmos você e sua irmã viverem, você fará o que quisermos?”

“Sim.”

“Se nós mandássemos você matar?”

“Mataria quem quer que fosse.”

“E se quiséssemos que se transformasse em uma de nós?”

Não tremi ao tirar meu cabelo do meu pescoço, deixando minha resposta bem clara.

Ele se virou para encarar o rosto de outro vampiro, que assentiu com o que ele perguntou com o olhar.

No segundo seguinte os quatro vampiros estavam reunidos, um deles com minha assustada irmã no colo. Um deles falou - “Não demorem.”

Sumiram, deixando eu e o que havia falado comigo sozinhos. Ele se virou para mim.- “Qual é o seu nome?”

“Eowyn Sc...”

“De agora em diante seu nome será Eowyn Reynolds. Continuará como humana por agora, e quando tiver idade o suficiente, sera transformada em um de nós.”

“E quando será isso?”

“Quando dissermos. No meio tempo, nos servira como puder. Agora vá se vestir.”

Foi quando notei que ainda estava de roupão. Voltei para o quarto e abri meu guarda-roupa. Peguei uma calça jeans e minha camiseta preferida. Olhei para ele como que pedindo privacidade, mas ele continuou impassível. Bufei e despi meu roupão. Tentei me vestir o mais rapidamente o possível, mas não foi rápido o bastante. Realmente não é uma sensação agradável se despir na frente de um vampiro, ainda mais um que você acabou de conhecer e que matou sua família. 

“Preciso de levar alguma roupa extra?”

“Não, nós arranjaremos outras para vocês. Agora vamos. VocÊ tem trabalho a fazer.”

Flashback off

Foi assim que começou meu pesadelo, minha sina.

Ouço batidas na porta: um aviso.

Tenho trabalho a fazer.