Esdra

Nunca se dera bem com os magos. Desde quando morava com os pais, quando ainda eram vivos, Esdra já se envolvia em pequenas intrigas com os aprendizes de magia. Isso porque ele não dominava nenhuma energia, sendo, por isso, constantemente vítima de chacotas.
Com o passar do tempo sua aversão só aumentou. Ele não conseguia engolir a forma corrupta como a cidade de Mabra era governada pelos magos, que detinham toda a renda, enquanto que pessoas normais como ele viviam em péssimas condições em pequenos vilarejos.

Julia

Jamais aceitaria se casar por dinheiro. Orfã, Julia sempre fora pobre, mas ao invés de se sentir atraída por dinheiro, aprendera a sua real importância. E ele não a faria feliz se se casasse com o mago Jordan. Era Esdra que ela amava e era com ele que queria construir uma família, mesmo isso significando que teriam dificuldade para sustentar seus filhos.
Além do mais, Jordan desmostrara ser muito ciumento e possessivo, pois ficava furioso sempre que a via com Esdra. Entretanto, ele devia realmente amá-la, a ponto de querer casar-se com uma pobre como ela, que, ainda por cima, não dominava nenhuma energia.

Jordan

(Anos depois)

Nos anos de pouca chuva era comum as pessoas pobres, que perdiam suas colheitas, irem aos jardins das casas dos controladores de energia - mantidos frescos pelos controladores da água -, à procura de alguma fruta ou raiz para comer.
Mas ver aquele sujeito à janela de sua casa reacendeu todo o ódio que sentira dele desde a adolescência. Além de estar sempre colocando o povo contra os controladores, Esdra lhe roubara a mulher por quem era apaixonado. Isso fora há anos atrás, mas ele jamais se esqueceria. Era um mal que precisava ser eliminado. E ele sabia como.

***

– Estava subindo na macieira do meu jardim para tentar me roubar ou sabe se lá que coisa pior planejava. - Inventou ao pequeno grupo de controladores, sabendo que considerariam um insulto à honra um nulo - como chamavam pejorativamente aqueles que não controlavam nenhuma energia - atentar contra um mago, mesmo contra o seu patrimônio.
– Além do mais ele sabe e vive informando o povo que desviamos os recursos dos vilarejos. Mais dia, menos dia essa conversa chega aos Superiores, que vão investigar. — Precisava fazer com que não parecesse pessoal
– O que sugere que façamos? - Perguntou um dos que escutavam.
– Temos que eliminá-lo. - Disse com raiva, e, por um momento, estremeceu pois sabia o que isso significava: toda a família de Esdra teria que ser eliminada, para não haver testemunhas, o que incluia Julia.

Lúcia

Mesmo sendo só uma criança, ela entendia a gravidade do que estava acontecendo. Chorava copiosamente, embora sua mãe pedisse que fizesse silêncio. Sua irmã mais nova, Judra, estava assustada, com os olhos arregalados e agarrada ao pescoço da mãe, mas sem entender o que acontecia. Lúcia se encolheu num canto do pequeno cômodo, enquanto sua mãe, Julia, colocava Judra dentro do armário velho onde ficavam as poucas roupas de toda a família. Distinguia vozes exaltadas no andar de baixo e temia por seu pai. Julia se agachou no canto onde ela estava a abraçou para a confortar, mais que isso, percebeu, para a proteger.
Tudo que ouviu por trás do choro, que enevoava seus sentidos, e do aperto de sua mãe foi uma voz arrogante:
– Você é um nulo imprestável. Não consegue nem se defender disso. - Em seguida ouviu um estrondo seco e passos na escada.
Segundos depois viu vultos borrados pelas lágrimas, um clarão, um impacto em seu pequeno corpo e então tudo cessou, já não via mais ninguém, não sentia nada, nem chorava, sequer respirava.