Lances da vida escrita por Jana


Capítulo 18
Revelação


Notas iniciais do capítulo

Confesso que pensava que alguém ia matar a charada. Mas o momento da revelação chegou. Acho que deixarei o pessoal chocado agora.



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SOLUÇO

Tive um encontro com Bocão essa manhã para uma espécie de avaliação para o estado. Ele conversou com minha família, até com Luane. Depois fomos para meu quarto, enquanto ele me enchia de perguntas.

Contei para ele que pedi para ver as cicatrizes de Astrid, mas não contei que estamos trabalhando juntos e nem que ela é a única pessoa que me faz esquecer tudo o que passei como se nunca houvesse acontecido. Muito menos que dormi com ela na noite passada.

Bocão sacudiu a cabeça. – Você não pode confrontar a vítima, Soluço.

– Eu não a confrontei

– Você deu em cima dela?

– Quem?

– Astrid

– O quê? Não. Menti

– Ok, o negócio é o seguinte. Afaste-se dela.

– Tenho escolha?

– Não. Bocão abre a pasta. – olha, seu serviço comunitário está acabando. Um gazebo para a senhora Doroty Reymond. Você está trabalhando lá há três semanas.

– Com sorte termino o serviço até o final da próxima semana.

Parece que Bocão ficou impressionado. – Ótimo trabalho, Soluço. Você foi difícil no inicio, mas tem caráter. Nos encontramos de novo semana que vem para falar sobre como vai ser quando te liberarem.

Essa visita do Bocão me deu um alivio, finalmente estou prestes a me livrar do risco de voltar para a prisão. Só preciso manter Astrid em segredo por mais uns dias.

Bato na porta de Luane. Ela está com certeza. Bato até ela responder. – O que você quer?

– Só abra a merda da porta.

Ela abre uma fresta. Eu empurro até abrir totalmente. Entro e abro as cortinas para entrada de luz.

– Deixa fechada

– Precisamos conversar e não enxergo nada assim

– Não quero conversar.

– Isso é mal

– Mamãe e papai estão em casa?

– Não

Estou nervoso, não sei por onde começar. A única coisa que eu sei é que estou pronto para gritar para quem quiser ouvir o que está guardado a um ano. A vida não é encobrir sujeira e viver num mundo de fantasia.

– Você atropelou a Astrid e eu assumi a culpa. Isso me consumiu, mas chega. Eu não teria feito isso se soubesse que você ia se comportar como um maldito zumbi. Fala alguma coisa Luane... qualquer coisa.

– Eu não sei lidar com isso. Ela começa a chorar compulsivamente. Pego um lenço e jogo para ela.

– Eu sinto tanto, Soluço. Eu podia tê-la matado

– Mas não matou

– Eu fiquei ali vendo te algemarem e não fiz nada.

Eu sempre fui o rebelde da família, Luane era a gêmea certinha. Estava bêbado e mesmo assim quis assumir a culpa no lugar dela. Ela não aguentaria a prisão. Eu sim.

Nem a policia e nem meus próprios pais questionaram minha culpa.

O acidente aconteceu porque ela foi desviar de um esquilo.

– Acabou

– Não acabou, Soluço. Não vai acabar. Vou levar essa culpa para o resto da vida. Não posso olhar para a Asty. Soluço eu nem consigo mais olhar para você. Você não faz ideia do quanto.

Eu realmente não faço ideia.

– Por favor não conta para ninguém. Prometa-me que nunca vai contar para ninguém.

Olhei para ela, minha irmã gêmea, a pessoa que deveria me conhecer mais do que ninguém. Ela deveria sentir a minha dor tanto quanto sinto a dela. Ela sabe que esse segredo está me consumindo por dentro. Sei que ela sabe, mas ignora a minha dor e foca em si mesma. Ela se tornou uma estranha para mim.

ASTRID

Estou cantarolando uma música que minha mãe cantava para mim quando era criança. Na época que tudo era mais simples e meu pai vivia conosco. Minha mãe só precisava cuidar de mim.

Agora ela trabalha como garçonete e está namorando por culpa minha. Graças ao Soluço já estou aceitando melhor isso.

Apesar de aquela noite do beijo ser mágica, estava conformada a ser só sua amiga e guardar para mim esse sentimento. Mas virou algo mais. Quando estou com ele esqueço que sou manca. Tudo que penso é em como é bom conversar com ele e beijá-lo.

Todos os dias descíamos dois pontos antes para conseguir ficar algum tempo juntos. Hoje ele teve uma reunião com o orientador do departamento correcional e não pode vir. Espero que esteja tudo bem.

Eu o perdoei. A dois dias ele quis conversar sobre o assunto, dizendo que tinha algo importante para falar sobre isso e eu o cortei com beijos.

Chego na casa da senhora Reymond, começo meu trabalho. Terminei o último bulbo e jantamos.

Quando estávamos recolhendo a louça a senhora Reymond se desequilibrou e quase caiu. Fiquei preocupada e liguei para seu filho antes de ir.

Fui para o ponto quando tudo já estava bem. Um carro cantou pneu perto de mim enquanto eu caminhava. Era o mesmo carro daquele dia.

– Olha, se não é a namorada retardada do Soluço.

Continuo andando

– Ela te quer, Dagur. Mostra a ela do que você é capaz. Eles começam a rir.

O que eu faço agora? Se tentar correr eu não consigo por causa da perna, voltar para a casa da senhora Reymond não dá, está longe.

Tentei fugir pelo lado oposto, mas caí. Machuquei minhas mãos e meu joelho. Torci para que eles fossem embora. Não ouvi mais nada e vejo que o ônibus está chegando. Entrei e fui para casa.

Cheguei e Soluço estava cortando a grama. Ele desligou o motor e veio até mim.

– O que aconteceu? Por que está machucada?

– Calma, Soluço. Eu chorava

– Calma nada. O que aconteceu?

– Foi o Dagur.

– Eu mato ele, ele te tocou?

– Não, eles só me assustaram. Eu caí e me machuquei.

– Vou garantir que isso nunca mais aconteça.

– É. E como você pensa em me defender quando eu for para o Canadá?


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Notas finais do capítulo

Isso aí gente. O Soluço não atropelou a Asty. Ele é inocente.