SOLUÇO

Pedi ao Logan para me encontrar na quadra para um pouco de um contra um. Estava praticando lance livre quando ele chega no seu Focus.

– Parece um homem de meia idade nesse carango.

– É melhor do que o que você dirigi.

– Não dirijo nenhum.

– Exatamente.

Começamos a nos encarar. Então digo o que tem que ser dito. – Sobre você e Kendra, que tal uma trégua?

– É justo.

Começamos nossa partida. Ele faz o arremesso e erra. – Basquete não é mesmo seu forte, Logan.

– Me tenha em um tatame e chuto seu traseiro.

– Você é peso leve, Log. Eu te imobilizaria em dez segundos.

– Então pare de falar e comece a agir, grandão. Amanhã depois da escola.

Giro em volta dele e arremesso. – Tenho que trabalhar.

Ele segura a bola. – Você sempre diz que vai trabalhar, mas nunca diz onde. Dizem por aí que você é homo e vai se encontrar com seu amante depois das aulas. Foi ele que te fez esses machucados?

– Não venha com essa merda.

Ele dribla, lança e encesta. – Por quê? Vai me ameaçar como fez com o Melequento?

– Ele estava tentando me tirar do sério, sabe disso.

– Você mudou Soluço, não te reconheço mais. E não tem nada a ver com Kendra.

– Continuo o mesmo, as pessoas que não enxergam.

–Você vive na defensiva. Só você não percebe.

– Então todo mundo é o mesmo, só eu que mudei?

– Não é isso, todos mudaram. Você é o único que não aceita. Você não namora mais a Kendra, não é mais o garanhão da luta livre. Você virou um cara durão, um ex presidiário carrancudo.

O que? Vou mostrar quem é ex presidiário carrancudo. Driblo pela quadra e quando ele se coloca na minha frente o empurro .

– Falta.

–Foi você mesmo que falou para eu aceitar, estou sendo durão.

Continuamos fazendo mais alguns arremessos.

– Sabe do que você precisa? Logan diz

– De um novo melhor amigo?

– Não. De uma namorada. Escolha uma garota que te atrai. Diz um nome.

– Astrid Hofferson

– Estou falando sério.

– Eu também

– Cara, você é doente. Ela foi a causa da sua prisão.

– Sei bem disso.

– Você está dizendo que é atraído pela Astrid Hofferson, a garota que manca porque você ferrou aperna dela com o carro?

– Você está agindo igual ao Melequento.

Ele não se contém e começa rir compulsivamente e rolar. Estou considerando seriamente chutar o traseiro dele agora mesmo. Mas ele não é o Melequento ou o Dagur, é o Logan.

Pego minha bola, mando ele para o inferno e vou para a casa.

Estou sozinho em casa, estava prestes a aproveitar então a campainha toca. Abro a porta e quem está a minha frente é Kendra.

– Oi. Diz ela

– Oi

– Seus pais estão?

– Não. Ela sabe muito bem que eles não estão.

Ela entra e vai direto para meu quarto. Nós não vamos dar uns amassos hoje, eu sei disso, mas ela não sabe ainda. Vê isso pela forma que está vestida. Blusa super decotada que os peitos quase saltam para fora e um short que revela mais coisas que eu gostaria que minha namorada revelasse. Mas ela não é minha namorada. É do Logan.

Kendra caminha pelo meu quarto tocando em cada canto até que pega meu sabre de luz.

– Quando vai se livrar desses brinquedos? Pergunta manuseando o sabre

Eu ignoro sua pergunta

Ela suspira - Sei que o Logan te contou. Mas é você que eu amo. Você sabe disso. Ela se aproxima e tenta me beijar.

Eu viro o rosto. – Um namorado só não basta para você?

– Eu quero os dois.

– Acabou Kendra

– Não acabou e você sabe disso. Você é meu e só meu e ninguém mais vai ter.

– Termina com o Logan, o cara quer casar contigo.

Ela ri. – Meus pais aprovam ele, preciso fazer o jogo deles. Eu preciso de um namorado que possa sair em público e você pode ser meu namorado privado, Soluço.

–Sem chance

– Quer apostar? Você pode ser meu pequeno segredo. Afinal você gosta de guardar segredos, não é Soluço?

Meus batimentos aceleram. Um pensamento me ocorre...ela sabe.

– O que você quer?

– Não fica assim tão tristinho Soluço. Eu quero você. Ela diz e se aproxima novamente para um beijo.

Dessa vez eu não recuo.

ASTRID

Levou uma semana para minha mãe chamar o Sr. Reymond para jantar. Ela me perguntou umas vinte vezes se estava tudo bem com isso. Não tive coragem de dizer que não.

Minha mãe parecia muito feliz, ela sorria como eu não via a muito tempo. Mas eu não estava bem com nada disso.

Aproveito uma oportunidade e vou para o meu quarto. Não estou afim de ficar vendo minha mãe ter um encontro com outro homem que não é o meu pai.

– Com licença. Vou para meu quarto, esqueci de ligar para a Rapunzel.

Por um momento começo a me sentir muito sozinha, preciso desesperadamente de alguém para desabafar, mas não tenho.

Pego o telefone e disco o número dos Strondus sem nem saber o que estou fazendo.

– Alô. É ele, não sei o que falar. – Asty, sei que é você pelo identificador de chamadas

– Oi

– O que foi?

– Eu só...queria falar com você

– Por que está chorando? Aconteceu alguma coisa?

E agora? Eu não quero que ele saiba que sou fraca. Eu sou tão estúpida.

– Se não me responder eu vou ai. Não quero nem saber se sua mãe vai gostar.

– Não, não venha. Me encontre no parque daqui a pouco.

– Ok

Desço dizendo a minha mãe que vou me encontrar com Rapunzel e saio. Chego no parque e o Soluço chega logo em seguida. Ele se aproxima e me puxa para um abraço.

Me derramo em seu peito, minhas lágrimas molhando sua camisa. Falo tudo de uma vez só com o rosto abafado na camisa dele.

Ele pega a minha mão e entrelaça nossos dedos. Como sonhei com esse momento. Soluço me leva até o carvalho e se senta encostando no tronco e me sento ao seu lado.

– Ok, agora fala.

– minha mãe está tendo um encontro nesse exato momento com seu chefe, Sr.Reymond. Eu quero que ela seja feliz, mas não sei se estou pronta para vê-la com outro homem. Meu pai não liga para mim e não sei se você sabe, mas ele se casou de novo e a nova mulher dele quer um filho, como se ele não já tivesse uma. E além disso tudo meu médico quer que eu volte a jogar tênis. E na hora do desespero eu ligo justo para você.

– Você acha que sua mãe vai ser feliz com ele, o Sr.Reymond?

– Sim. Mas tenho medo que tudo mude

– Você está focando muito no que pode vir a acontecer. Tente tirar da mente essas coisas.

–De que forma?

– Pega uma raquete.

– Isso não é engraçado, Soluço

– Não estou brincando. Posso ver as cicatrizes?

– Não. Balanço minha cabeça agitadamente

– Por favor, não surta.

– Não estou surtando

– Eu fui preso por isso e nem ao menos tenho ideia de como é

Olho para ele que tem seus olhos focados em mim. – por que está me olhando assim?

– Você se lembra do acidente?

Nego

– Nada mesmo? Não lembra da nossa conversa antes do acidente? O momento do acidente? Nada mesmo?

–Nada. Tudo o que sei foi o que me disseram depois.

– Nós brigamos

– Sobre o quê?

Ele dá um risinho. – Kendra

Tento disfarçar o máximo para ele não notar que lembro. A parte da briga, cada palavra que ele cuspiu em mim que me doeu como ferro em brasa é a única coisa que lembro como se acontecesse nesse instante. O resto da noite está coberto de uma névoa de escuridão.

– Não lembro.

– Você disse que ela estava me traindo, que a viu com outro cara, só não quis dizer com quem. Você tinha razão. Ela estava com o Logan antes de eu ir para a prisão. Ele me olha intensamente e eu não consigo me desviar. – Você também disse que me amava.

– Eu não me lembro. Sussurro

– Asty. Ele pega minha mão e passa em seu rosto. – Eu devia ter feito isso a um ano.

Ele se inclina e me beija.