Lances da vida escrita por Jana


Capítulo 10
Festival de outono


Notas iniciais do capítulo

Não me matem. Acreditem, esse capítulo doeu mais em mim escrever do que em vocês lerem.



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SOLUÇO

Minha mãe bate na porta do meu quarto sábado à noite, antes de sair para o festival de outono. – Tem certeza que não quer ir, Soluço? Vai ser legal. Claro que vai. – Tenho.

– Luane também vai. Não acredito. Como ela conseguiu isso. Minha irmã vive dentro daquele quarto feito um urso em hibernação. A vejo mais nos corredores da escola do que em casa. – Vou ficar e relaxar. Digo. Nem pensar que vou a essa festa para ser a atração principal.

– Seu pai e eu gostaríamos que você fosse. O Dr. E a senhora Tompson estarão lá e seu pai conta com a indicação dele. Coloque uma das roupas novas que comprei e mostre a pessoa limpa que você é.

Eu não quero vestir essas roupas e ficar dando show de falsa felicidade. – É isso que você quer?

– Sim.

– Tá ok. Vejo vocês mais tarde. Disse secamente. Essa merda toda está me vencendo pelo cansaço.

– Obrigada, Soluço. Ela fala como se eu fosse um colega. Quem é essa pessoa que eu costumava chamar de mãe? Ela tem que perceber que sou a mesma pessoa de sempre. Ela deve amar o velho Soluço sem precisar criar um novo e melhorado.

Depois que todos vão. Preparo algo para comer e vou até o jardim. Sento com um jeans surrado e uma camiseta confortável antes de ter que colocar aquelas roupas de banqueiro e ir para o festival.

Estava na minha até ouvir uma voz familiar.

– Sabia que te encontraria aqui.

Olho para minha velha namorada Kendra, que parece ótima. Estava com uma blusa justa rosa e uma pequena saia branca.

– Você não vai à feira? Perguntei.

– Eu ia, mas você não estaria lá. Ela diz sussurrando em meu ouvido.

– Você queria que eu fosse?

– Não, porque quero você só para mim. Você virou lenda em Berk. Todos querem ver o misterioso e perigoso Soluço.

– É isso que pensam de mim? Que sou perigoso?

– Só estou repassando o boato. Você esteve na prisão. Dizem que muitas coisas aconteceram contigo lá que te mudaram.

– E o que você acha? Pergunto curioso pela motivação dela vir aqui. – Você me acha perigoso?

– Certamente. Ela olhava para mim, mas senti como se ela pensasse outra coisa. – Foi como dizem?

– Algumas vezes.

– Pensou em mim lá?

– Todos os dias. Eu admiti. – E você?

– Senti muito sua falta, mas não soube lidar com o que aconteceu.

– Não se culpe, Kend. Aquela noite foi uma merda completa.

– Se você diz.

Olhei para o lado. Estava morrendo para saber a resposta para uma certa pergunta.

– Você se lembra do que aconteceu?

Ela se estremeceu. – Não muito. Estava quase tão bêbada quanto você e corri quando os policiais chegaram. Você sabe que sou filha do prefeito e não poderia me envolver nessa confusão.

– Entendo.

– Eu não esperava que você fosse preso, só me assustei.

– Calma, tudo bem. Eu me assustei também.

Eu precisava partir para a próxima pergunta. É estranho, mas preciso saber em que pé estamos. – Você ficou com alguém esse ano?

– Ninguém importante.

Estou confuso, não sou ciumento. Tá, sou muito ciumento. Mas a verdade é que senti falta dela.

– Vem aqui. Sentei-a no meu colo. – Passou- se muito tempo, Kend. Mas estou no jogo se você estiver.

Ela se acomodou melhor e passou os braços no meu ombro enquanto observo seus grossos lábios molhados de algo que ela passou. Quem criou esse negócio é um gênio.

Pego as pontas de seus cachos dourados entre os dedos girando. Seu cabelo está diferente de como lembrava. Eu costumava gostar de brincar com seus cachos. – Mudou a cor?

Sim, clareei. Gostou?

Como posso dizer que parece mais palha do que seda. – Preciso de tempo para me acostumar.

Eu deveria tê-la beijado logo. Já a beijei tantas vezes, mas eu hesitei. Não sei por que. Ela beija bem, qual o problema comigo?

Ela passa a mão nos meus cabelos, bagunçando. - Senti sua falta.

Se ela sentiu tanto minha falta, por que tenho essa sensação de que ela me esconde algo? Droga, tenho que parar com esses jogos mentais comigo mesmo. Já sei o que vai me fazer esquecer.

Puxei sua nuca para um beijo e no instante que meus lábios tocaram os dela, senti o cheiro de cereja vindo do gloss que ela usava. Droga, detesto cereja.

Enquanto beijava abri meus olhos focando na janela de Asty. Agora, além de lábios de cereja nos meus, eu também esperava que Astrid Hofferson não me visse beijando Kendra.

Não me pergunte por que me importo com isso.

Recuei e disse. – Vamos entrar.

Enquanto entramos, limpei minha boca. Espero que esse gosto saia logo.

Ela em momento algum questionou o motivo de não estarmos indo rápido demais, afinal, foi um ano.

Deitei na cama ao lado dela e passei a mão no seu novo piercing no umbigo.

– Acho que nós dois mudamos, né?

– Deixa eu conferir o quanto. Ela deslizou as mãos pelo meu peitoral até minha calça a desabotoando. Eu a detive.

– O que houve? Ela disse.

– Nada.

Não a culpo, minha cabeça está uma confusão. Eu precisava ir mais devagar. A um ano eu nem esperava chegar no quarto.

Ela deitou a cabeça no meu ombro e passou a mão no meu peito. Fiquei aliviado dela não ter pedido para falar no assunto. Talvez ela tenha entendido que não posso verbalizar meus sentimentos bagunçados.

Em um movimento rápido ela ficou de pé e calçou os sapatos.

Estava me convencendo que minha vida voltou ao normal. Tenho minha namorada de volta e estou em casa de novo.

Admito que as coisas estão estranhas entre nós. Seu cabelo é falso, seu lábios tem um gosto diferente e seus beijos são desesperados e não sexy.

– Vi você conversando com Sabrina Will ontem.

– Ela queria saber se vou lutar esse ano.

– Você acha ela bonitinha?

– Por que a pergunta?

– Porque aquelazinha lá é uma manipuladora.

– Eu não estou interessado em nenhuma outra garota Kend. Relaxa.

– Que bom.

Ela morde os lábios. – Estou feliz que está de volta, mas...

– Mas o quê?

– Podemos manter isso em segredo, Soluço? Meu pai é candidato a reeleição em novembro e ele já me perdoou por ter tido contato com você no passado. O melhor é que ninguém saiba disso por enquanto.

Esse comentário não deveria me chocar, mas chocou. O que eu poderia dizer além de. – Tudo bem .

Ela foi embora e fiquei olhando para sua foto em minha cabeceira. Como posso achar que está tudo igual, se parece tão diferente.

ASTRID

Visto um vestido longo florido e um suéter azul claro. Minha mãe o comprou porque sabe que não gosto de expor minha perna esquerda cheia de cicatrizes. Lá no fundo ela espera que os garotos me vejam como Astrid Hofferson e não a garota que Soluço atropelou. Advinhe, isso não vai acontecer.

Nos dirigimos a feira da cidade de Berk. Eles transformaram o local em um parque de diversões com roda gigante e tudo. O pavilhão de comidas é todo iluminado parecendo o natal. Minha mãe deixa seus brownies dela na mesa, depois olhou a multidão. – Olha, o Tom está aqui. Ela aponta para uma mesa afastada. Ao lado dele sua mãe, senhora Reymond, minha chefe.

– Devemos ir lá e cumprimenta-los? Digo.

– Seria bom, né?

Quando chegamos Sr. Reymond ficou de pé. – Vivian, que bom que veio. Oi Asty.

Sr. Reymond se aproximou e cochichou em minha orelha. – Não estamos no restaurante, pode me chamar de Tom.

– Seria estranho. Eu disse. Chamar o chefe de minha mãe pelo primeiro nome é tão...Familiar.

– Ok, quando estiver preparada pode tentar.

Minha mãe sentou-se ao lado de seu chefe e eu dei a volta e me sentei ao lado da senhora Reymond.

– Foi muito generoso de sua parte dar emprego para minha filha senhora Reymond. Estou muito agradecida.

– Eu que sinto agradecida, sua filha é ótima com os narcisos. Quando voltar do Canadá eles já estarão crescendo.

Sorri com a lembrança da viagem. Só isso me faz sorrir esses dias.

– vivian, o que acha de mostrarmos para os jovens como se dança?

O que está rolando? Minha mãe nunca dança. Quando vinha nos festivais com meu pai sempre ficava sentada.

– Adoraria. Mamãe diz. – Asty, você não se importa, né?

Eu estou sem entender. Minha mãe dançando com seu patrão, isso não é ilegal? Olho em volta para ver se mais alguém está notando. Com certeza, inclusive avistei um grupo de garotos olhando e rindo disso.

Me mata de vergonha.

Ela não tem noção do ridículo que está passando, já não basta eu ser vista como estranha e agora a minha mãe também ser alvo de piadas.

– Astrid. Estou afim de fazer um prato para mim enquanto meu filho não está aqui. Você me acompanha?

– Sim, claro.

Eu segurava o prato enquanto ela ia apontando o que queria. Como ela pode não notar o que está acontecendo?

– O que você tanto olha?

– Nada.

– Esse nada está recebendo muita atenção.

Continuei passando por todos os pratos e me deparo com as almondegas especiais. Congelei. Será que Luane e Soluço estão aqui?

– Isso parece bom. Ela fala apontando para as almondegas.

– É gostoso também.

Dou outra conferida na pista de dança e felizmente minha mãe não está mais lá. Mas vejo Kendra dançando com Logan como se ele fosse o amor da vida dela.

Gostaria de ter alguém que me amasse apesar de meus defeitos e que não me abandonasse ao encontrar outra mais bonita. Talvez esse cara não exista.

Observei as crianças da minha sala correndo pelo local. Logan e Kendra entraram num brinquedo. Melequento está tentando convencer Merida a ir na xícara. Minha prima Amanda está na roda gigante.

– Vá se juntar aos seus amigos. Disse a senhora Reymond.

– Eu não tenho amigos. Sou uma perdedora ou solitária.

– Besteira, você é uma moça inteligente e bonita.

– Eu não sou bonita.

– Você pode não estar na moda, mas você tem um rosto muito bonito quando não faz cara de assustada.

Devo estar com essa cara de assustada agora.

– E que história é essa de não ter amigos? Todo mundo tem que ter pelo menos um.

Olhei em volta e avistei Luane, sentada sozinha em uma mesa. Seus pais estavam distraídos conversando com outro casal. Eu até iria lá falar com ela, mas ela me ignoraria.

Senhora Reymond me tocou. – ela é sua amiga?

– Costumava ser.

– Vai lá falar com ela.

– Eu não saberia o que dizer.

– Como queira, mas quando for velha como eu vai se arrepender de não ter mais amigos.

Olho para minha mãe que voltou a dançar com o Sr. Reymond.

Senhor Reymond. Tom. Chefe da minha mãe. Filho de minha patroa. É claro que ele está afim da minha mãe. Não sei como me sinto sobre isso.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e mais uma vez não me matem.