Amigos são algo que nem sempre estamos preparados pra lidar, e mais ainda quando a pessoa em questão não tem o mesmo significado pra você que costumava ter. Ali, olhando os olhos castanhos de Stefan, após ele ter salvo minha vida, eu não sabia se teria estômago pra uma conversa, que era o que ele parecia prestes a iniciar após nos levantarmos do chão.

— Elena... - ele queria conversar, mas não sabia o que dizer. Eu queria ir pra algum canto e chorar, eu estava mal e olhar pra ele só me fazia sentir pior.

— Eu preciso ir, Stefan. - eu tenho absoluta certeza de que havia dor nos meus olhos e ele parecia decepcionado. Comigo ou consigo mesmo? Eu não sei. - Obrigada por ter me salvado. Eu só preciso realmente correr. - E eu corri. Corri como se minha vida dependesse disso e quando parei por falta de ar e precisando descansar, me vi em um parque. Eu conhecia o lugar e meus olhos se encheram de lágrimas. Eu frequentava aquele lugar com a minha mãe nos dias em que a mesma estava de folga, era como um ritual para nós, toda semana, durante a tarde, nós vínhamos e brincávamos, eu tinha uns 9 anos quando começou e ao passo que fui crescendo, vínhamos para caminhar e conversar sobre tudo.

Eu sentia tanto a falta dela. Eu a amava. Eu a amo. A mulher que me influenciava mais que qualquer outra. Era meu porto seguro. Era a minha ambição ser como ela era. Agora existem apenas as lembranças que guardo com tanto carinho.

Meu pai. Oh, Deus! Eu não sabia o que pensar. Estava feliz por ele, mas fazia tão pouco tempo, eu não estava preparada, apenas queria mais tempo. Eu estava sendo egoísta. Eu sabia que não tinha o direito de fazer o drama que estava fazendo, mas é difícil pra mim. Eu queria tempo. Precisava de tempo. Mas não poderia fazer meu pai infeliz, eu teria que engolir meu egoísmo por ele.

Eu peguei o celular e mandei uma mensagem a ele dizendo que estava bem e que voltaria pra casa em breve. Guardei o celular sem esperar a resposta, eu só queria ficar sozinha, apenas eu e minhas lembranças.

Imagens de Stefan e Damon vieram na minha cabeça e me deixaram confusa. Stefan era meu amigo a tanto tempo e eu não sabia como encara-lo e conversar com ele, pois já fazia um bom tempo que eu ao menos o dizia "Oi". E era difícil pra mim. Eu era um companhia muito triste para qualquer pessoa ultimamente e preferia continuar assim.

Damon... Maldito Damon! O que ele estava fazendo ali? Sua presença era totalmente indesejável de minha parte. Ele era bonito, isso era inegável, mas sua personalidade arrogante e fria estragava todo o físico perfeito. Porém, eu não podia dizer muito sobre ele, era bonita e irrevogavelmente triste. Algumas coisas não se podem mudar.

Eu via o céu tomar a cor alaranjada do pôr do sol e decidi ir pra casa, rezando para não encontrar conhecidos no caminho. Um casamento, um futuro "irmão", amigos te salvando de atropelamento e lembranças familiares eram muito pra lidar em um dia só, e eu sabia que a conversa com meu pai não tardaria a chegar.

Chegando em casa quase meia hora depois pude ver meu pai sentado no sofá encarando o que parecia ser uma caixinha de alianças, imediatamente o pânico me tomou. Ele não teria terminado o noivado, teria? Eu estava seriamente preocupada, havia prometido a mim mesma deixar o egoísmo que me dominou de lado para ver meu pai feliz e ao ver sua expressão quando me olhou, me vi sendo dominada pela culpa esmagadora. Tinha decepção e compreensão em seu olhar.

— Filha... Eu sinto muito. - Seu olhar me dizia o quanto ele realmente sentia, mas não era culpa dele, era minha, apenas.

— Pai, deixe-me falar. Okay? - Vi seu olhar confuso mas ele assentiu e deixou que eu prosseguisse, e assim o fiz. - Eu amo você, mais do que qualquer outra coisa no mundo. Admito que minha reação não foi aquilo que esperava, mas sei que compreende. Eu fui egoísta e pensei somente em como eu me senti, mas não pensei em você e isso foi errado, afinal o casamento é seu. - Ele abriu a boca para me interromper mas eu fiz um sinal de pare com a mão e ele a fechou, assentindo levemente com a cabeça. - Eu sei que a mamãe morreu faz um tempo e a minha cabeça e coração sofrem como se tivesse sido semana passada, mas você tem o direito de continuar a sua vida e ser feliz, e pensando nisso, eu afirmo aqui que aceito o seu casamento. Só espero que não seja tarde demais... - Disse a última frase apontando para a caixinha, agora na mesa de centro de frente para o sofá. Meu pai levantou, veio até mim, me abraçou e sussurrou em meu ouvido.

— Eu amo você, e não, não é tarde demais. Obrigada por ser a melhor filha do mundo. - E eu me senti bem, como se tivesse feito a coisa certa e eu sabia que era exatamente isso que tinha feito.