Sábado, quatro e meia.
Japão, Inazuma.

— Desculpe a demora, Salazar. — a Dra. Furukawa disse com um sorriso no rosto e entregando uma pequena barra de cereal para Victor. — Como está?

— Eu odeio barras de cereal e que me chamem pelo o sobrenome. — Victor comentou e a mulher ruiva ajeitou os óculos com a fala do garoto, no qual não deixava o menino ver os olhos, cujo ele se lembra de serem azuis, por conta da luz do local. — Eu estou vivo, então é o que importa.

— Você perdeu um conhecido ontem, certo? — perguntou a Victor. — Como está com isso?

Victor mexeu num fio que saia de seu suéter de lã, pensando que provavelmente teria que cortar aquilo quando saísse de casa.

— Eu me sinto péssimo. Mas ao mesmo tempo, eu não sinto nada. — disse Victor a ela, ainda não a encarando. — Eu me lembro de uma conversa que eu e ele tivemos. Era pequena, mas ele aparentava confiar em mim mesmo sabendo que eu sou... — ele fez gesto como se dissesse que ele era louco, desenhando um circulo no ar com os dedos perto da orelha.

— Você chorou?

Victor a olhou. A psiquiatra logo percebeu que ele não iria responder, então riscou a pergunta no caderno e pulou para a próxima e Victor não respondeu, novamente. O moreno ficou sem responder por oito questões completas, sem se importar de que parecia que ela estivesse falando sozinha.

Ela retirou os óculos, deixando a mostra os olhos azuis. Estavam faltando vinte minutos para acabar a sessão, já que o tempo que ela perdeu fazendo perguntas ao vento ocupou a metade daquilo.

— Victor, por favor, me responda. — ela disse. — Soube que você está em grupo com seis meninas, sendo uma delas a sua irmã. Você pode as definir em uma palavra?

O garoto a olhou, parando de mexer no suéter verde que ele usava.

— Importantes. — falou a mulher, que deu graças a deus por ele ter respondido. — Todas elas são importantes para mim. E idiotas.

A médica riu da última fala do garoto.

— Isso é bom. Elas são importantes para você. Demonstra que a cada momento que passa você está deixando o seu lado maligno mais controlado, e se apegando as pessoas ao seu redor. — disse a Furukawa, apoiando os cotovelos na mesa e segurando o rosto com a mão.

— Eu não irei me apegar a elas, porque assim elas vão se apegar em mim. — disse Victor à psicóloga. — Se eu me apegar a elas, talvez eu até mesmo morra para salvá-las, e eu não sou imortal e nem de titânio. Eu sou feito de carne e osso, elas também são.

Ele fez uma pausa.

—Eu não quero as fazer sofrer, porque então eu me sentirei um vilão e eu não quero ser um vilão mais do que já estou virando. — disse o mesmo. Ele não sentiria tão mal em ser vilão, portando de vez em quando algo dentro dele mesmo dói profundamente.

O relógio da mulher começou a apitar, mostrando que era o final da consulta. Ambos se levantaram ao mesmo tempo, e quando Victor ia sair após se curvar de leve a mulher, Furukawa o chamou.

— Victor. — a mulher o chamou, e o garoto parou sem a olhar. — Às vezes nós podemos ser um pouco descuidados e fazer os outros se apegarem a nós, mesmo com o risco de que eles sofram por causa disso.

Ele anotou aquelas palavras em mente, se virando a mulher e sorrindo a ela. A mulher ficou feliz por ter arrancado um pequeno sorriso daquele menino que nunca tinha sorriso sem ser sarcasticamente durante anos de consulta.

— Até o próximo sábado, Dra. Furukawa. — Victor falou a mesma, assim se virando e abrindo a porta da sala, e por fim a fechando atrás de si.

Ele piscou uma vez e olhou para a sua frente, vendo as meninas sentadas nas cadeiras de espera. Victor revirou os olhos, andando até elas com certa cara de sem saco.

— Acordem. — disse ao chegar perto delas, que acordaram num pulo uma atrás da outra.

— Oh, Victor! — Yuume exclamou, cutucando Seirin para acordá-la. — Já acabou a consulta?

Ele afirmou com a cabeça, assim deixando-as para trás e ignorando os gritos das mesmas correndo atrás dele como desesperadas e o chamando por nomes feios por ele sempre ir andando na frente.

***

Sofrer: Sentir dor física ou moral, padecer.
Suportar, tolerar.