Simples & Intensamente escrita por Dama do Poente


Capítulo 5
O Suficiente


Notas iniciais do capítulo

Pessoas que comentaram o capítulo passado: muitíssimo obrigada!! Não sei se sabem, mas eu não odeio o Luke: nem do livro, nem da fic; e escrevi uma one-shot sobre ele, ta bem curtinha e se não for incômodo, gostariam que dessem uma olhadinha! Vou deixar o link nas notas finais.
Quanto ao capítulo: espero que gostem!!



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“Eu estou tão casada desse velho amor

Do tipo que parte seu coração

Meu corpo já teve o suficiente”

– Same Old Love, Selena Gomez

Quanto tempo havia passado desde aquele sábado em que dera um fim ao seu casamento? Uma semana? Alguns dias? Um mês? Thalia não tinha certeza, só sabia que era muito bom ser melhor amiga do chefe: ela não tinha cabeça alguma para trabalhar, para fotografar coisa alguma, especialmente depois de descobrir que a amante de Luke era uma modelo que ela costumava admirar.

― Isso que é gostar de ser trouxa! ― ela suspirou ao saber quem era a amante.

Não iria suportar ouvir todos os colegas de trabalho se lastimarem, como se alguém tivesse morrido ― ouvir Annabeth reclamar era o suficiente, até porque ela fazia juras de morte ao mesmo tempo, e era engraçado ―, além do mais, poderia trabalhar de casa, onde ficaria perto dos filhos, que ficaram bem triste ao não ver o pai todos os dias.

Luke saíra de casa antes mesmo que ela pudesse pedir, deixando a aliança para traz. Ela não guardou o anel, nem juntou ao seu: tratou de se desfazer das duas jóias! Que derretessem o outro e transformassem em algo mais útil. O álbum de casamento? Ok, ela o deixou, para que mostrasse aos filhos, e também porque realmente ficara linda no vestido.

Ela conseguiu escapar de todo mundo, exceto daquele acusado de ser o pivô da separação.

― Como eles estão? ― Nico lhe pergunta ao lhe visitar.

― Em parte não entendem, mas por outro lado estão chateados. ― ela suspira, olhando para os filhos que assistiam Bob Esponja.

― E você?

― Eu estou cansada! ― ela afirma ― Eu deveria estar triste, chorando pelos cantos ou com pena dos meus bebês... Ok, estou com pena deles, mas eu estou é cansada de fingir que estou com pena de mim: já agüentei o suficiente disso e preciso me cuidar, né?

― Concordo: meu afilhado precisa da mãe por perto, e sei lá o que tá vindo por aí também! ― Nico murmura, apontando para barriga de Thalia ― Aliás, pré-natal: tem feito?

Não, ela não tinha feito, e ele não deveria saber, embora ela apostasse que já sabia sim!

― Sinceramente, o que será dessa criança sem mim ou Annabeth por perto? ― ele balança a cabeça negativamente ― Triste é que nem posso ficar pegando no seu pé: ou eu te perturbo aqui, ou vou perturbar a Bianca e comer doce até engordar!

Thalia sorriu pela primeira vez desde o fatídico dia. Bianca di Angelo, a irmã mais velha de Nico, enfim decidira o que queria da vida ― e não, não era o convento em que se enfiou aos 14 anos de idade ―: seria uma mestra confeiteira, e nada melhor do que voltar à cidade natal para aprender! Veneza não era apenas linda, mas deliciosa também.

― Como Bia está? E desde quando você engorda?

― Desde que Hades tomou a revista de Marie e perguntou se eu queria um estágio... Pra que fomos dizer sim? Éramos loucos ou estávamos bêbados? Agora eu estou estressado e comendo feito você na TPM, e você tá nessa vibe gótica que eu sou desde que nasci.

― Talvez os dois para o porquê de termos aceitos; estressado você sempre foi, querido, e eu não como muito na TPM!

― Aham, e eu sou virgem! ― o moreno revira os olhos.

― Age como o tal às vezes, com essa sua vibe “gótica” aí...

― Sim, sempre! ― ele dá de ombros ― E Bianca está bem e... Ei, eu não ajo como um virgem!

― Age sim, e eu só não vou cantar Like a Virgin para você, porque eu não gosto da Madonna! Tenho traumas!

― Você não é a única que teve uma mãe viciada em Madonna, ok? Pode não parecer, mas é bem capaz da minha família inteira saber a discografia da Madonna até hoje... Especialmente porque Hades continua a ouvir... ― os dois amigos se entreolham, começando a rir imediatamente.

Aquelas risadas boas, que damos ao ver nosso seriado de comédia favorito, ou quando estamos com nossos amigos favoritos e falamos qualquer coisa que nos vem à cabeça, pois sabemos que não seremos julgados... Aquela risada que precede um soluço, que precede o choro.

― Vem cá! ― Nico a puxa para perto de si, deixando-a se encaixar em seu abraço.

Os dois estavam sentados no velho sofá da sala de estar dela, onde tantas vezes ela e Luke viam filmes juntos ― até que ele dormia antes de o casal ficar junto ―, onde os filhos se sentavam para ver desenho. Onde ela descobriu que Luke e Drew, a amante, já haviam estado.

― Eu odeio esse sofá! ― ela diz com dificuldade.

― Verde nunca foi sua cor, querida! ― era uma provocação entre eles se chamarem de apelidinhos, já que ambos detestavam.

― Chamar de querida... Você também tem outra em sua vida?

― Tenho muitas, mas nenhuma se compara a você! ― ele deixa escapar, recebendo um olhar cheio de lágrimas ― Você quer que eu fique aqui com você? Tenho certeza de que Bian...

― Eu sei que eu to um caos com esses hormônios desregulados e tudo mais, mas é aniversário dela: você tem que estar lá! ― ela lhe diz confiante.

Claro que queria os amigos ao seu lado nesse momento, mas não poderia mantê-los ali: não quando estava tão envenenada pela tristeza, que seria capaz de partir corações só de olhar.

― Eu não posso ficar lá, tranqüilo, sabendo que você está aqui, sofrendo! Já disse que sou o emo de nossa relação! ― ele lhe dá um sorriso vacilante.

Emo era exatamente o que Nico não era: sofrera muito com a morte da mãe, quando era ainda muito jovem, e quando Bianca resolveu ingressar em um convento, o rapaz apenas piorou. Ele nunca seria cem por cento a pessoa mais feliz da face da terra, mas talvez fosse isso que encantasse todas as pessoas: apesar dos pesares, Nico seguia sua vida, levantando a cada tropeço... Nem que fosse simplesmente para se arrastar, mas ele não desistia.

― Está tudo bem, Nico: Annabeth está de volta! Ela não vai largar do meu pé de jeito nenhum! ― ela lhe tranqüiliza ― Vá e traga roupinhas de grife italianas para meu bebê!

Nico ainda não estava tão traquilo quanto deixá-la a sós, mas sabia que insistir seria pior ainda; apenas passou o restante daquela tarde com a amiga e as crianças, vendo TV e tratando de encomendar um sofá novo antes de voltar a sua terra natal.

Nem mesmo lá conseguia desgrudar seus pensamentos da morena de olhos azuis e, é claro, isso estava mais claro do que as águas que corriam por Veneza.

― Isso nunca vai passar, não é? ― Bianca o questiona, decorando um grande bolo. Era seu aniversário, mas isso não queria dizer que ela deixaria outra pessoa fazer seu bolo: confeitaria era seu jeito de mostrar ao mundo que ela era merecedora.

― Queria que passasse. Queria vê-la só como amiga, mas acho que o destino não quer me ajudar com isso! ― Nico suspira constrangido.

Conhecia Thalia desde sempre ― tecnicamente ―, e desde o ensino médio se sentia atraído por ela, porém faltou coragem para se declarar e, quando deu por si, estava abrigado na famosa “friendzone”, servindo de confidente e escudeiro de Thalia Grace.

― Gente apaixonada é tão trouxa: ajuda o alvo, faz tudo por ele, só se esquece de contar que o ama! ― Bianca revira os olhos, fazendo Nico rir. ― Sério, Nico, você ganha um monte de National Magazine Awards, mas não tem coragem de contar pra Grace algo que todos sabem! Até Zeus zoa de você no twitter.

― Zeus tem twitter? Como a sessão de fofocas não me passou essa? ― e o lado jornalista de Nico entra em ação. ― Enfim, não importa, continue: realmente preciso levar um sacode da vida!

― Você precisa é levar um chute daqui a Nova York, chegar na porta da Thalia e contar tudo o que está escondido nesse seu coração sofredor cosplay de Adele!

― Cosplay de Adele? ― Nico sussurra para si próprio, não entendendo as referências a irmã.

― Mas esqueça sua cegueira, e me conte como ela está com tudo isso! ― Bianca interrompe, antes que perdesse a cabeça e realmente o chutasse de volta para Nova York.

Respirando fundo, Nico contou tudo o que acontecera em Nova York nas últimas semanas e, conforme o tempo foi passando e ele permanecia em Veneza com a família, a saudade em seu peito aumentava e a falta de notícias o desesperava. Até que um dia, não agüentando mais, simplesmente acordou cedo, conseguiu a primeira passagem disponível para Nova York, voando de volta para a metrópole sem sequer se despedir.

Foram longas horas de vôo e assim que pousou, tratou de ligar para Thalia. Mesmo que não falasse tudo o que sentia, mesmo que se declarasse e ela continuasse querendo ser apenas amiga, ele ficaria feliz em saber que ela estava apenas bem. Porém, Nico estava certo: o destino em nada o ajudava e Thalia Grace não estava bem. Estava duplamente mal: perdera seu bebê e o marido praticamente no mesmo dia.

Aproximadamente uma semana depois de Nico ter viajado, Thalia começou a sentir fortes dores no abdômen; Annabeth estava com a amiga e logo a levou ao hospital, deixando os gêmeos com Percy, que não se incomodou nem um pouco em passar um dia inteiro na praia com as crianças. As dores de Thalia apenas pioravam à medida que se encaminhavam para o hospital e, quando chegou, já era tarde demais: o sangue que escorria por suas pernas era prova de que abortara espontaneamente.

Talvez tenha sido o estresse, mas mulher alguma fica feliz ao saber que não conseguira gerar uma criança, e isso apenas abalou mais ainda Thalia que, por mais que não quisesse nem ver a cara de Luke, achou justo avisá-lo do ocorrido. Ela só não esperava pegá-lo em um momento de diversão com a amante, regado a champanhe: álcool e notícias como a perda de um filho sequer nascido nunca foram boa combinação, e o resultado não poderia ter sido outro. Acidente de carro, Luke Castellan envolvido, nenhum sobrevivente.

Um mês. Curto para alguns, longo para outros, devastador para aquele grupo de amigos. Todos estavam cabisbaixos e sem brilho nos olhos ― as crianças, pobres coitadas, viviam tendo pesadelos, e a mãe mal sabia o que fazer para ajudá-las. Só sabia que sentia falta do amigo e de tudo o que ele podia representar.

― Eu sinto muito! ― era a voz de Nico que Thalia escutava. Estava ela deitada em seu quarto, vendo fotos do período de faculdade, quando ergueu os olhos e viu os castanhos de Nico a olharem pesarosos ― Eu não devia ter ido, eu deveria...

― Não é sua culpa, di Angelo! ― ela deu um sorriso tristonho, do tipo que não fulgurava em seus olhos. ― Não foi você quem me traiu...

― Mesmo assim; sou seu melhor amigo: eu deveria estar aqui nas horas mais difíceis! ― ele se senta ao lado dela. ― Mal ou ruim, ele era um amigo também!

― Ele te odiava! Lá no fundo todos nós sabíamos isso!

― Mas eu não o odiava! Eu não nasci para partilhar de ódios...

Mas somente de amor! ― ela termina a citação de Antígona, tragédia que ambos encenaram no ensino médio ― Ainda se lembra disso?

― Não é todo dia que se vê sua amiga se enforcando... Mesmo que seja algo fictício, eu fiquei muito chocado... Principalmente porque me escolheram para ser Hémon. ― e como há anos, ele estava vermelho de constrangimento de novo, ajeitando descontroladamente os óculos de leitura sobre a ponte do nariz. ― E eu estava lendo isso no avião!

― Típico! ― ela ri, tirando os óculos do rosto de Nico ― Se estivesse lendo Medéia, eu te bateria!

― Medéia era louca... Sei que era tudo uma questão de honra e tudo mais, mas imagine se... Na verdade, deixa pra lá! ― ele suspira, olhando a nos olhos. Na opinião de Nico, Medéia era uma história sobre traição, e aquele assunto precisava ser esquecido. ― Eu devia estar aqui! Me desculpe, Lia!

― Não se desculpe! Nenhum de nós tem culpa nisso! ― ela o abraça, deixando as lágrimas escorrerem por seu rosto. ― Acho que o verdadeiro culpado é o destino: ele pode consertar as coisas, ou fudê-las lindamente.

― Sentia falta dessa Thalia que xinga palavrão: ela andava desaparecida! Onde esteve? ― Nico pergunta, afastando-a para limpar suas lágrimas.

― Presa em algum tipo de amor que machuca! Mesmo sabendo que há aqueles que não lhe faziam mal... Acho que ela era estúpida demais para notar isso, perdoe-a! ― ela confessa não constrangida, mas confusa.

Ela deveria sentir falta do marido, com quem fora casada por cinco anos, mas não era dos abraços de Luke que ela, inconscientemente, sentia falta. Se fosse ele a abraçá-la agora, a tempestade em seu coração não teria se acalmado. A dor não teria passado.

Thalia sentia falta de algo mais puro, algo que abalava suas estruturas sem muito mais do que um sorriso ou um abraço quase que fraterno. Se ela tivesse sido mais rápida e menos cega, teria visto que havia muito mais nas entrelinhas.

― Dizem por aí que o tempo muda tudo, embora a Adele não concorde e não esteja curada... ― ele desconversa, tentando tornar tudo mais leve.

― O que tem a Adele a ver com isso? ― e a confusão em Thalia apenas aumenta, agora com um pingo de humor misturado.

― Nada! Apenas passei muito tempo com Bianca: acho que me deixei levar! ― ele ri.

Ficam se encarando por um longo tempo, sem saber ao certo o que fazer em seguida, mesmo que lá no fundo soubessem que precisariam tentar. Estavam se ferindo ao continuar daquele jeito, precisavam lembrar que sentimentos machucavam não apenas o coração, mas o corpo também.

E, as feridas eram tantas, que correr mais um risco não parecia ter perigo algum... Apenas uma aventura, algo bem comum entre Thalia e Nico, desde que se conheceram. Mas o que seria deles, dois jornalistas essencialmente investigativos, se não fossem as aventuras?!

Valeria à pena! Eles fariam valer!


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Notas finais do capítulo

Sinceramente, eu amei escrever esse capítulo!! Agora ao relê-lo, com medo de ter alguma falha, acho que ficou bom exatamente assim: leve, sem tocar muito no ponto trágico (afinal, esse nunca foi o ponto dessa fic).
Espero que tenham gostado, e que me contem nos reviews, por favor!
E o link da one sobre o Luke (o dos livros, gente): https://fanfiction.com.br/historia/665263/DemasiadoTarde/
Beijoos