Underground escrita por Isa


Capítulo 1
1 de abril de 2011


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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1 de abril de 2011 - 18:30           

 

           Me chamo Kate Bridges, tenho 25 anos, e estou presa num metrô subterrâneo com outras seis pessoas.

 

           Engraçado tudo isso de estranho começar a acontecer hoje, em pleno Dia da Mentira. Mas pode ter certeza, quem quer que um dia esteja lendo este diário, que tudo o que ocorreu é totalmente verdadeiro. Deixe-me explicar:

 

            Era um dia completamente normal, eu acordei às seis horas e lanchei, tomei banho e me arrumei para o trabalho no jornal. Meu cabelo preto estava preso como de costume – embora depois do que aconteceu agora esteja solto – e eu vestia uma roupa social. Deixei ração no prato de meu gato, Pitt, e saí para ir ao meu trabalho no jornal da cidade. Até aí tudo corria em perfeita calma, até o metrô.

 

            O metrô era o modo mais rápido de chegar ao prédio, embora às vezes eu preferisse fazer uma caminhada entre um ônibus e outro. De qualquer forma hoje resolvi pegar o metrô, e realmente não sei se eu estaria melhor se não o tivesse pegado. Era cedo e ele não estava muito cheio, logo pude encontrar um lugar para me sentar e ficar observando as pessoas dentro do transporte ou o lado de fora do trem. Enquanto ouvia meu iPod, claro. O som do Metallica preenchia o ambiente.

 

            Ao meu lado sentava-se um homem que devia ter minha idade ou talvez um pouco mais. Mais tarde soube seu nome, David. Ele tem olhos muito azuis, cabelo castanho, quase louro escuro, bem curto. Talvez se não fosse por ele eu já estivesse morta e ninguém saberia pelo que estamos passando.

 

            Tudo ia nessa normalidade; um casal logo à minha frente parecia fazer planos para comprar uma casa, um homem de uns cinqüenta anos lia o jornal, um sujeito de terno bonitão e com cara de metido... Obviamente havia mais pessoas no metrô, mas estes eram os mais próximos de mim, logo me chamaram mais a atenção. Foi então que o metrô ficou de vez debaixo da terra, sem nenhuma luz além da do próprio trem. Depois de alguns minutos estávamos a uns cinco quilômetros de qualquer parada de estação, aquele era o único metrô dos EUA a ter um intervalo assim entre estações.

 

            Foi quando o mundo girou rápido demais, quase literalmente. O trem saiu dos trilhos e só não virou porque bateu na parede e saiu arrastando-se por ela, cada hora caindo para um lado, mas nunca virando.Ouviam-se gritos e batidas. Fui jogada para não sei quantos lados, só sei que no fim vi as luzes piscando, sangue e então desmaiei. A última coisa em que pensei foi que a música parara e que meu iPod devia ter quebrado feio.

  

            Quando acordei a primeira coisa que vi foram duas pequenas esferas azuis. Então minha visão foi se desanuviando e percebi que tratavam-se de olhos, os olhos do homem que estava sentado ao meu lado no metrô.

 

            - Consegui salvar mais alguém! – ele gritou, olhando para alguém fora do meu campo de visão.

 

            - Está em condições de andar? – uma voz feminina respondeu.

 

            - Vou conferir. – o homem de olhos azuis virou-se novamente para mim. – Está sentindo suas pernas?- tentei mexê-las e, para meu alívio, consegui. Acenei então com a cabeça. Tentei falar mas minha boca estava incrivelmente seca, exceto por um líquido mais grosso que água que deduzi ser sangue.

 

          - Calma, calma. Não precisa falar nada agora, depois que a Blake te der um pouco d’água você faz suas perguntas. – acenei com a cabeça novamente. Então o homem pôs um de meus braços em volta de seu pescoço, dando-me apoio para me levantar. Eu tinha certeza de que encontraria um corte feio na perna quando a olhasse, pois sentia ela ardendo muito. O trem estava acabado. Havia uns poucos corpos no chão e grande parte dele estava amassada ou quebrada.

  

            - Sente-se aqui. – falou a loira que estivera conversando com seu noivo ou namorado, presumi que ela era a tal Blake. Ela apontou para um lugar nos assentos, ao lado de seu namorado, que tinha um saco plástico com gelo dentro encostado numa enorme mancha vermelha dolorida na testa. Me sentei e percebi que eu e ele éramos os em melhores condições – excluindo Blake e o homem de olhos azuis. Outros tinhas partes do corpo quebradas ou feios machucados na cabeça. Esse estavam deitados no chão – inclusive o bonitão com cara de metido e o homem de cinqüenta anos que eu percebera antes. O homem parecia estar quase acordando.

 

            - Ainda tem água, Blake? – perguntou o meu suposto salvador.

 

            - Acho que sim, David. Só não sei se posso gastar muito, embora eu ache que no caso dela umas gotas bastariam. - Uma gota, eu queria um balde d’água.

 

            - Vocês por acaso nos apresentaram para a moça, querida? – perguntou o namorado. – Numa situação como essa é o mínimo que pode ser feito.

 

            - Não tenho tempo, pensei que David o tivesse feito.

 

            - Fiquei mais preocupado em trazê-la para cá para ser salva, Johnny. – disse David.

 

            - Ok, ok. Vá procurar mais feridos que eu explico tudo para ela, já que estou ferrado e não posso fazer mais nada. – falou Johnny. Então Blake e David voltaram para seus afazeres; ela cuidando dos feridos, ele procurando sobreviventes. Johnny virou-se para mim.

 

            - Olha, aposto como a Blake vai esquecer da sua água. Quer umas gotas de gelo, só para poder voltar a falar? – fiz que não. Tudo bem que estivesse com muita sede, mas tomar água do gelo que passara pelos ferimentos dele?!

 

            - Não se preocupe, eu abro o saco e você usa o gelo que está intocado dentro, ok?- eu não queria ser mau educada e estava doida para perguntar, então aceitei. Ele ajeitou o saco plástico de forma que o gelo ficasse exposto sem que precisasse tocá-lo e eu pudesse tirar um pouco d’água dali.

 

            - Obrigada. – falei, quando consegui umedecer meus lábios. Parecia que agora podia ver com mais clareza. Olhei para um lado e vi David voltando do outro vagão com um menino no colo, olhei para o outro lado e vi Blake, o cabelo loiro preso num rabo de cavalo, olhos azuis claros atentos nos feridos. À minha frente estava Johnny, olhos castanhos claros e cabelo também castanho, mas escuro. Era tão bonito quanto David.

 

            - Está melhor agora? – perguntou.

                                  

            - A-acho que sim. Mas o que aconteceu aqui?

 

            - Já começou com a pergunta para a qual não tenho resposta. O trem simplesmente saiu do rumo, e nem eu, nem ninguém aqui sabe por quê.

 

            - Entendo. – não verdade eu não entendia nada. Como um trem simplesmente ‘surtava’ daquele jeito?

 

            - Qual seu nome? – perguntou ele.

 

            - Kate... Bridges.

 

            - Johnny Marshall, prazer em conhecê-la. Embora eu ainda preferisse que nos conhecêssemos em outra situação. – ele apontou primeiro para Blake e depois para David. – Blake Scott, minha noiva, e David Locke, seu salvador metido à besta.

 

            - Nossa, por que metido à besta? – embora não quisesse me intrometer naquele tipo de intriga, eu era uma repórter, meu instinto era perguntar, querer saber das coisas.

 

            - Só não fui com a cara dele. Sempre se achando o certo. – Johnny estreitou os olhos – Mas se ele tentar alguma coisa...

 

            - Caham, – eu realmente queria mudar de assunto – o que aconteceu com vocês quando acordaram?

 

            - Eu e David fomos os primeiros a acordar. Ele tinha uma garrafa térmica com água gelada e a usamos para acordar os que pareciam mais inteiros, como Blake e aquele cara ali. – ele indicou o homem com cabelos grisalhos que eu vira lendo jornal e agora estava deitado, quase despertando, no chão.

 

            - E o que aconteceu pra ele voltar a ficar daquele jeito?

 

            - Acho que tem algum problema de coração. Não sei como sobreviveu. – ele deu de ombros. Olhei para os outros no chão.

 

            - O loiro tem o quê?

 

            - Bateu com a cabeça, deve acordar em algumas horas, segundo Blake. Ela estuda medicina.

 

            Então David depositou o menino no chão para Blake examiná-lo. Depois de um ou dois minutos ela abaixou a cabeça tristemente, e acenou negativamente. Que droga, pensei, aquele menino devia ter seus nove anos.

 

            - Achou mais alguém? – perguntei.

 

            - Mortos uns cinco, contando com o garoto. Vivo só um outro garoto de uns quinze anos, acho que torceu o tornozelo. – respondeu David. Johnny comentou:

 

            - Ótimo, um adolescente para surtar aqui.

 

            - Johnny! Traga-o aqui, verei o que posso fazer. – disse Blake. David virou-se, indo em direção ao outro vagão.

 

            - David! – chamei, antes que ele saísse – Você só foi até esse vagão próximo ao nosso?

 

            - O outro soltou-se, saiu dos trilhos. Demos sorte de este aqui não ter ido também e do metrô não estar tão cheio assim. 

 

            Mal ele abriu a porta para voltar ao outro vagão, uma explosão vinda de cima fez tudo tremer. Por um instante pensei que o teto fosse desabar e morreríamos ali mesmo, mas não. Depois da explosão e do tremor tudo voltou ao normal – ou quão normal fosse possível naquela situação.

 

            - Mas que merda foi isso? – me surpreendi ao notarque foi Blake quem falou.

 

            - Foi uma pergunta retórica, certo? Porque eu tenho certeza que ninguém aqui sabe. – disse David.

 

            - Ataque terrorista? – sugeriu Johnny.

 

            - Acho que não. – falei – Se fosse um tão grave a ponto de parar o metrô, o chão estaria tremendo até agora. Lembram do World Trade? Eu estava lá por perto e posso dizer que foi bem pior. 

 

            - Então o que sugere, ó gênia?- brincou Johnny, não pude deixar de dar um sorrisinho.

 

            - Não sei o que foi o estrondo, mas acho que nos pararam aqui de propósito. Abruptamente, sim, mas de propósito.

 

            - Ah, então estavam tentando nos matar?

 

            - Ou nos proteger. – replicou Blake – Nos proteger do que quer que esteja lá fora agora.

 

            Como num filme de terror, olhamos para o teto, temerosos. Foi então que consegui ouvir os grito distantes, vindos da superfície.

 

 

            Não havia realmente mais ninguém além do menino. David o trouxe e o apresentou aos outros; seu nome era Josh Sanderson e estava a caminho do colégio quando tudo aconteceu. Blake o ajudou a imobilizar seu tornozelo com um torniquete improvisado com as mangas das camisas de David e Johnny. Não pude deixar de apreciar o resultado – em Johnny e David, não no tornozelo do garoto.

 

            O loiro de terno e o homem de cinqüenta anos acordaram. O loiro era Ethan Baker e o mais velho era Aaron Reynolds. A essa altura eu estava fazendo o possível para ajudar Blake e Johnny ajudava David, mas não havia muito o que fazer.

 

            Quando foi decretado que nós sete – eu, Johnny, Blake, David, Aaron, Josh e Ethan – éramos os únicos restantes, nos sentamos e, enquanto os outros discutiam avidamente o que fazer, eu peguei este diário – comprado muito recentemente, na verdade comprado ontem mesmo – e resolvi deixar tudo registrado aqui.

 

            Não sei o que está acontecendo lá fora, nem ninguém mais aqui dentro sabe. Sorte minha eu por acaso ter acabado de comprar um diário, assim, caso algo aconteça conosco, saberei que um dia alguém terá conhecimento do que passamos. Não sabemos se é melhor sair ou ficar aqui. É que embora não saibamos o que há lá fora, sabemos pelos estrondos e gritos que não é nada bom.


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Notas finais do capítulo

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