Do fim ao começo escrita por Belle17


Capítulo 3
Desabafos e discussões




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Silvia já estava quase tendo um ataque de raiva, quando ouvi meu celular apitar, indicando que uma mensagem havia chegado.

Fiquei hipnotizada por alguns segundos, enquanto minha amiga olhava séria para mim.

– Ai, amiga! - exclamei, animada, jogando meus compridos cabelos castanhos para cima - deve ser ele! Deve ser o Jed! Vai ver a loira-oxigenada-de-olhos-azuis-e-de-gloss-de-marca-falsificada deu um fora nele!!!

Silvia não demonstrou qualquer emoção. Continuou sentada na minha frente, mais séria que um segurança de gente famosa.

Lancei um olhar esperançoso para a garota, quando a mesma finalmente gritou:

– AH, QUAL É, HELENA! OLHA LOGO A DROGA DO SEU CELULAR, MULHER!!!

– Aiii, é mesmo, amigaaaaa!!! - cocei meu cabelo, que ainda estava mais bagunçado que ninho de passarinho, abrindo a mensagem no celulae - será que é o Jed e...

De repente meu sorriso murchou. De novo.

– E aí? Quem era? - perguntou Silvia.

– Aff... era a minha mãe, pra me lembrar que preciso tomar um remédio - falei, me levantando da cama e indo em direção ao guarda roupa, ouvindo a gargalhada da minha amiga.

– HAHAHAHAHAHA! Até sua mãe viu que você está piradona e já mandou um médico te receitar medicação, foi? Eu disse que o negócio está feio, colega!

– Ora, vai te catar... é remédio para dor de cabeça, sua pilantra.

Retirei um comprimido da embalagem e engoli rapidamente, sem nem precisar de água.

Cambaleei até minha cama novamente, deitando em seguida.

– O que eu faaaaaço?

– Helena... já são três e vinte da tarde e você continua nessa noia. Vem cá, sua mãe e seu pai estão sabendo disso?

– Meu pai, não. Mas com certeza a mamãe deve ter dito a ele. Só falei com ela, depois que tudo aconteceu... - suspirei.

– Ah... ei, mas me conta direito... não consegui entender muita coisa do que você me disse no telefone porque nem conseguia falar, de tanto chorar. Como foi mesmo tudo isso, hein?

Passei o dedo por meus olhos, afim de limpar uma lágrima, quando percebi que ele voltou preto. A maquiagem borrada ainda estava no meu rosto.

– Ai ai... hoje, às nove da manhã, mais ou menos, fui lá na padaria do seu Mércio. Sabe qual é, né?

– Óbvio que sei, sua maluca. Sou sua vizinha, e a padaria é logo ali na esquina - disse ela, arrumando seus grandes óculos no rosto.

– Então... quando voltei com o pão e com uma caixinha de leite condensado... porque eu queria fazer um bolo, e tinha que ter leite condens...

– Pera lá, Helena! Desde quando bolo leva leite condensado, mulher?!

– Era bolo de leite condensado, sua besta. Nunca provou? É uma delícia.

– Nem sabia que isso existia, mais tudo bem...

– Eu tenho uma fatia ali na geladeira, você quer? - ofereci, com a voz trêmula, de tristeza.

– Não, não. Tenho tendência a ter diabetes. Vai, continua a história.

– Ah... então, onde é que eu estava mesmo? Ah, lembrei... quando eu voltei com as compras, acabei errando o caminho de volta pra casa, e...

– HAHAHAHA! COMO ASSIM ERROU, FIA? A PADARIA É LOGO ALI, PÔ!

– PARAAAAAA!!! - Berrei, caindo em prantos - DEIXA EU F-FALAAAARR!!!

– HAHAHAHAHA! Como você é sensível, Helena!

– Se eu me perdi, o problema é meu, tá, sua chata?

– Ui! Sou chata! Magoei agora, só que não!

– Xiiu!! Como eu estava dizendo... eu errei a droga do caminho e vi o Jed com a loira-oxigenada-de...

– Tá, tá, tá! Eu já sei! A loira blá blá blá de gloss blá blá blá falsificado!

– Não me irrita!!! - gemi, com voz fina, arrancando mais uma risada de Silvia - Eles estavam conversando perto daquele pé de castanha do parque, sabe?

– Aham...

– Então, como eu sou muito macho, apesar de ser mulher, fui tirar satisfações com os caras de pau.

– Ah, fala sério, mano! Você foi tirar satisfação porque eles estavam conversando?

– É, ué! Mas deixa eu continuar... como eu estava dizendo, fiz uma cara de brava e de machona, caminhando bem rápido até lá.

– Correndo, você quer dizer?

– Como você sabe?

– Porque foi justamente nessa hora que eu, por coincidência, passei por lá, lembra? Eu até disse naquela hora que contei os três segundos que eles se abraçaram...

– FORAM CINCO! EU JÁ DISSE QUE FORAM CINCO!!! - Gritei, chorando e soluçando.

– Tá, tá, tá bom... eu hein... - disse minha amiga, se protegendo com um dos meus travesseiros.

– Então... eu fui até lá, né... e perguntei ao Jed o que eles estavam fazendo.

– Peraí, peraí, pera lá... olha, Helena, está certo que eu fiquei literalmente longe de vocês para não armar mais confusão. Mas o grito que você deu foi tão alto que até eu consegui ouvir, e olha que eu estava quase do outro lado do parque, hein? Você berrou: "O QUE DIABOS VOCÊS ESTÃO FAZENDO AQUI, SEUS FILHOS DA MÃE?!". Nem minta com essa historinha de mimimi, pergunteeei o queee estaaavam fazeeeendoo. Algumas mães até saíram de lá com os filhos pequenos...

– CALA A BOCA E DEIXA EU CONTAR A HISTÓRIA DO JEITO QUE EU QUISER, CARAMBA!!! - Berrei.

– Uau. Que madura você é, Helena. E, aliás, você foi mesmo muito macho no parque, hein?

– Vou fingir que não ouvi isso, Silvia. Continuando... - falei, com uma voz falsificadamente doce - o Jed disse que a Isabela e ele eram só amigos, e que estavam conversando sobre um piquenique que ia acontecer na escola.

– Puxa vida! Nem estava mais lembrada, Helena - exclamou minha amiga, de repente, com os olhos arregalados - é depois de amanhã, né? Aff, fui ao mercado hoje e esqueci de comprar a droga das carambolas...

– Que se danem as carambolas, seja lá o que isso for!!! Minha história é mais importante que essa droga de piquenique!!!

– Nossa...

– CAHAM - dei um falso pigarro, e continuei - quando ouvi aquela audácia história do piquenique, larguei minha sacola na grama e gritei: "AH É, É?? POIS SAIBA QUE EU NÃO VOU MAIS LANCHAR COM VOCÊ, JED!!!!".

Silvia me olhou séria. Eu também lancei um olhar sério. E assim ficamos por alguns segundos.

– Essa foi sua atitude de resolver a situação? - indagou ela, incrédula.

– Foi, ué... o que mais eu poderia fazer?

– Ser mais madura é uma opção, gata. Ah, e eu lembro direitinho de como essa história terminou. Eu vi que você estava nervosa, então fui até vocês três para dar um jeito naquilo, quando de repente o Jed deu um abraço de TRÊÊÊS SEGUNDOOOOOS na Isabela, e você abriu o maior berreiro, dizendo que estava tudo acabado.

– FORAM CINCOOOOO, CINCOOOOOOOO! UMA ETERNIDADEE! AAAAAAIII, SILVIA, COMO FOI HORRÍVEL!! E-ele d-disse assim o-ó: "tchaaaaau, Isabela, nos vemos aamanhãã na escooola"! E se agarraaaaraaam!!! NA MINHA FRENTEEE!!!

– MAS QUE DROGA, HELENA! VÊ SE CRESCE, MULHER! Você também fala com seus amigos homens! Por que é que o Jed tem que ser mudo???

– PORQUE... PORQUE... hã...

– Olha, da minha parte, EU ACHO que essa relação já tinha que terminar, mesmo. Você não confiava nele e sempre ficava estressada e nervosa quando ele ia a alguma festa ou algo do tipo.

Olhei para Silvia incrédula durante alguns segundos.

– Então quer dizer... que você está contra mim?

– O QUÊ? NÃO, HELENA! ÓBVIO QUE NÃO, GAROTA!

– AH É? ENTÃO, SE ESTÁ DIZENDO QUE O JED ERA MUITO CAMINHÃOZINHO PARA MINHA AREIONA... quer dizer... SE ESTÁ DIZENDO QUE EU ERA MUITO CAMINHÃOZÃO PARA A AREINHA DO JED... AAARGH! VOCÊ ENTENDEU!!! SE ESTÁ DIZENDO ISSO, SAIA AGORA DO MEU APARTAMENTO - Gritei com todas as minhas forças, apontando para a porta. Mais litros e litros de lágrimas jorravam igual a cachoeira em meu rosto.

– Helena, pelo amor, né? Deixa de ser imatura! Você tem dezesseis anos e está agindo como criança!!!

– E AINDA POR CIMA DIZ ISSO? POIS SE NÃO QUER SAIR POR BEM, VAI SAIR POR MAL!!! - Berrei, puxando Silvia pelo braço.

– EI! E! PARA, HELENA! ME LARGA, SUA LOUCA! ME LARGAA!!!

Abri a porta do apartamento e chamei o elevador, que chegou imediatamente. Empurrei a garota para dentro, enquanto várias pessoas olhavam a cena.

– ADEUS!! - Berrei, chamando a atenção de mais pessoas. Não sei o que fazia os hóspedes prestarem tanta atenção em mim: a briga com a Silvia ou o fato de eu estar usando uma camisola rosa suja de maquiagem, com o rosto todo preto e o cabelo embaraçado, que nem aquela menina fantasma do elevador que aparecia nas pegadinhas da TV. Porém, não dei importância, entrando em casa em seguida, batendo a porta com força.


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Notas finais do capítulo

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