Continuou porém seu foco foi totalmente embora, não conseguia se concentrar, pensou no Cebola que tinha ido embora e nem ficou para a assistir, pensou no que seu pai falaria agora que tinha destruído sua chance, no esforço do seu professor para ela jogar tudo pro alto por causa de um segundo que se distraiu.

A musica acabou, assim como sua coragem de estar ali, mesmo com seu erro, ela sabia que sua coreografia tinha sido impecável, ouviu milhares de aplausos, abaixou em agradecimento e assim que levantou a cabeça olhou as amigas com seus respectivos pares e um lugar vazio ao lado.

Voltou a atenção para os jurados, era hora da sua resposta.

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A cada segundo que passava de silencio, mais ansiosa ela ficava e seu estomago enjoava, parecia que eles gostavam de torturar os candidatos, conversaram entre si mais um pouco e por fim o mais alto começou a discursar.

– Boa tarde Senhorita Monica, serei breve, no geral gostamos da sua apresentação, seus passos são... Digamos que impecáveis, sua técnica, é boa, porém teve uma breve falha, e você com movimentos bons assim deve saber que isso é inadmissível em uma audiência como a nossa. Conversamos entre nós, e achamos que seus passos não são inovadores, não sentimos que você estava realmente aqui, entregue, queremos ver vontade de estar com a gente, nossa equipe trás os passos padrões do balé clássico mesclados com os contemporâneos. Queremos algo mais atual Monica, uma coreografia que desafie o que conhecemos, que vá além dos passos que está acostumada. Infelizmente não vimos isso hoje, então você não foi aprovada. – Ele concluiu com o mesmo ar de seriedade em que começou.

Monica sentiu o chão do palco abrir, teve que se manter firme pra sua perna não bambear, achou que não aguentaria, o choro veio a todo vapor inundar sua garganta, ela lutou para permanecer imóvel na posição até autorizarem ela se retirar de acordo com o que foi instruída.

Ouviu o sinal para sair do palco, agradeceu se abaixando novamente, e virou para sair por trás das cortinas, desceu a escada rumo o camarim o mais rápido que conseguiu, sem enxergar o que estivesse a sua frente, entrou e fechou a porta depois de passar, sentou no canto ao lado do espelho, abraçou os joelhos e abaixou a cabeça.

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Magali olhou para Denise sem acreditar no que aconteceu, Cascão ficou quieto apenas observando o outro candidato que se apresentava.

– Não acredito que ela não passou gente – Denise falou colocando a mão sobre a boca assustada.

– Eu também não, ela dançou super bem – Magali completou com o olho marejado.

– Ai tadinha, ela deve estar arrasada – Denise comentou preocupada.

– Nem sei o que dizer – Magali concluiu chateada.

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Monica começou a trocar sua roupa calmamente, as lágrimas corriam na mesma frequência pelo seu rosto borrando totalmente sua maquiagem, pensava em tudo, no que seu professor falaria, no que seus pais falariam, nos seus sonhos, nas suas metas, começou a tirar sua maquiagem encarando seu rosto no espelho, parou por alguns momentos sem acreditar que tinha sido reprovada, por fim quando estava trocada, pegou sua bolsa e saiu do camarim rumo a saída.

Desceu as escadas correndo, e foi caminhando rapidamente pra qualquer lugar, nem lembrava o caminho para casa, mas isso não importava, o que ela queria era sair dali.

Pegou um taxi que passava e desceu na pracinha do bairro Limoeiro, resolveu sentar para espairecer, não estava com cabeça para conversar nem atender o celular, sentou na beira do lago, tirou seu sapatinho e colocou os pés doloridos dentro do laguinho, permaneceu assim, olhando o movimento da água deixando as lágrimas escorrerem livremente.

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Cebola estava em casa assistindo TV, sua raiva já tinha passado, percebeu que ficar com a Monica seria bem mais difícil do que imaginava, mas com ela passando na prova e se mudando pra São Paulo suas chances de vencer a aposta aumentavam muito mais.

Olhou no relógio, pegou o celular e digitou uma mensagem para o Cascão.

– E ai como ta ai? – Cebola perguntou fingindo desinteresse.

– Deu ruim aqui véi – Cascão respondeu rapidamente.

– Como assim man? – Cebola perguntou ajeitando sua postura na cama.

– Ela foi reprovada careca :S – Cascão contou chateado.

– Reprovada? Como velho? Ela manda muito no balé – Cebola digitou rápido se levantando e colocando seu boné virado para trás.

– Não entendi direito, não entendo dessas paradas careca, pra mim a apresentação foi toda certinha mas eles não passaram ela – Cascão concluiu – As meninas foram procura lá mas avisaram a gente que não tem mais nenhum candidato lá dentro.

– Demoro encontro vocês depois.

Cebola guardou o celular, ajustou o boné na cabeça e saiu.

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Monica continuava a observar o cair da noite, não sentiu nenhuma vontade de atender as ligações ou responder as mensagem que recebeu no celular, viu seu sonho ir pro ralo por apenas um descuido.

De tempo em tempo enxugava as lágrimas que insistiam em cair, soltou o coque de seu cabelo tirando alguns grampos que estavam a machucando, e continuou olhando o nada pensando no que faria daqui pra frente sabendo que estava um passo mais longe do seu sonho, não era muito boa em lidar com respostas negativas.

Foi com um susto que percebeu alguém sentando ao seu lado, olhou desesperada mas logo viu que era alguém que conhecia.

– Como me achou aqui? – Monica perguntou tentando esconder as lágrimas voltando a olhar a paisagem.

– Não sei, mas sempre que quero espairecer venho para cá – Cebola respondeu reparando em seu semblante triste.

– Hum...

– Escuta... – Cebola começou a falar

– Não, escuta você, me desculpa pelo que falei mais cedo, eu estava muito nervosa, foi um mês super tenso, descontei tudo em você – Monica o cortou.

– É realmente você foi grossa, mas tudo bem – Cebola a provocou dando um empurrãozinho de leve nela.

– Obrigada pelo pingente, eu realmente gostei muito, ele é muito lindo – Monica agradeceu olhando pra sua pulseira deixando as lágrimas caírem novamente.

– Ei, não foi nada, não fica assim – Cebola pediu a olhando.

– Eu perdi meu sonho Cebola, hoje eu acabei com minha chance – Monica choramingou com as mãos no rosto.

– Calma, não pode ser tão ruim assim, você dança muito bem, vai conseguir em outras academias, existem ótimas por ai não? – Cebola tentou consola la.

– Cebola, essa é a melhor Academia do Brasil, e é meu sonho desde criança, agora joguei tudo pelos ares – Monica concluiu cabisbaixa.

Cebola ficou a olhando chateado, pensando cuidadosamente nas palavras que iria falar para não machuca la mais ainda, foi quando uma ideia preencheu sua mente.

– Monica, por que não participa da festa beneficente da ONG? – Cebola a convidou animado.

– Que?

– A ONG em que dou aula vai dar uma festa beneficente de fim de ano, nós fazemos doações, brincadeiras, e tem as apresentações de dança, vamos, você pode participar do meu número – Cebola comentou sorrindo.

– Não, obrigada, mas não Cebola, nem estou no clima e agora meu pai não vai deixar eu voltar pra São Paulo tão cedo – Monica respondeu secando os pés com uma toalhinha que trouxe na mochila.

– Mas como não Monica? Isso é incrível, as crianças ficam muito felizes, você vai gostar, e você tem quantos anos? Não pode passar uns dias por aqui na casa das meninas sei lá, tenho certeza que não vai se arrepender – Cebola concluiu a olhando.

– Não é tão fácil assim – Monica falou colocando seu sapatinho novamente.

– Por que?

– Ah... Como não passei meu pai provavelmente vai me fazer comparecer a mais um milhão de eventos da empresa, eu fugia ensaiando para a apresentação – Monica concluiu se levantando.

– E você não consegue dizer não? – Cebola perguntou levantando também.

– É complicado – Monica falou começando a caminhar de volta pra rua.

– Vai Monica, vamos, fazer o bem ao próximo nos faz muito bem também – Cebola pediu andando ao seu lado.

– Eu nem sei como vai ser agora que não passei Cebola – Monica se justificou olhando para os próprios pés.

– Você não precisa ficar sozinha em um quarto lembrando e sofrendo, você ama dançar não é? Então anima as crianças fazendo algo que ama – Cebola concluiu anunciando seu xeque mate.

– Por que está me ajudando assim? Nem me conhece direito – Monica o olhou desconfiada.

– Eu... Eu gosto de distribuir o bem – Cebola respondeu sorrindo.

– Ta, tá bom, eu aceito participar – Monica concluiu abrindo um sorriso.

Xeque Mate Cebola comemorou em silencio.