Zugzwang escrita por MB


Capítulo 36
Capitulo 36


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/662472/chapter/36

Não era dúvida para ninguém que estava na casa de Rossi naquele dia, que Spencer e Charlie iriam ficar juntos por um bom tempo. Eles pareciam dizer "eu te amo" em cada olhar, que normalmente durava mais do que alguns segundos e eram seguidos de pequenos sorrisos.

Exatamente três anos haviam se passado desde que Derek havia dito que Charlie era da família deles. 

Spencer estava sentado no sofá, enquanto Charlie estava deitada com a cabeça em suas pernas, passando alguns canais da TV. Mesmo depois de tanto tempo, ele ainda lembrava de quando a beijou pela primeira vez - quando estava sóbrio. Ficou sabendo sobre a festa de Halloween naquele almoço com Rossi e nunca riu tanto por estar nervoso. Como não se lembrava de seu primeiro beijo com a mulher de sua vida? 

Mas se lembrava do que realmente importava. Quando os dois queriam e precisavam daquilo. Lembrava-se perfeitamente dos olhos de Charlie, encharcados em desespero, enquanto estava parada de pernas cruzadas à frente dele. Mesmo no escuro daquele apartamento, Spencer podia jurar que os olhos dela brilhavam. Suas sobrancelhas relaxaram, deixando de estarem franzidas, quando sentiu o toque de Spencer. O beijo durou três segundos, a princípio, não se mexeram, só sentiram um ao outro. Ele queria saber se ela estava bem com aquilo, não queria forçar nada. Quando se afastou, ainda com as mãos no rosto de Charlie, percebeu que ela balançou a cabeça positivamente, de maneira quase imperceptível e ela juntou seus lábios novamente. Talvez nem Charlie tenha percebido que fizera aquilo. 

Lembrava-se como ela chorou quando percebeu que não poderiam ficar juntos. E depois como ele chorou quando a viu no hospital, desacordada, porque, sim, ficaram juntos. 

Não era por conta da memória fotográfica que se lembrava de todas as sensações que sentia quando falava, ouvia ou apenas olhava para Charlie.

Seus pensamos foram interrompidos quando ela bateu na capa do livro que ele segurava e se levantou.

— Aonde vai? - Spencer perguntou quando a viu calçando as botas.

— Pra casa. - respondeu como se fosse óbvio.

— Por que?

— Porque se não vou ter que usar só o que tem na minha bolsa minúscula. - Charlie se levantou.

— E se não precisasse? - Spencer fechou o livro, olhando para ela.

— Aí eu teria que fazer uma mala de viagem toda vez que viesse pra cá.

— Não, Charlie. - ele se perguntou se ela estava com tanto sono assim. - Se suas coisas estivessem aqui? 

— Como as...? - Charlie se interrompeu e olhou para ele, com a boca semiaberta. - Spence, você está falando sério?

— Por que não? - ele sorriu. 

Algumas poucas semanas depois, as coisas dela já estavam arrumadas no apartamento que agora dividiam.

Ele sabia como Charlie era sensível e como algumas coisas que a fazia chorar, por mais estranho que soe, se tornavam as coisas favoritas dela: Titanic, Romeu e Julieta, O Menino do Pijama Listrado, Marley & Eu... Dizia que gostava quando algo consegue entrar na alma de quem está lendo, assistindo ou vendo, ao ponto de fazer a pessoa realmente sentir. Dizia que esse era o ponto de toda arte: sentir.

O dia em que Spencer a pediu em casamento a fez chorar.

Os dois tinham um final de semana inteiro livre. Era mais fácil para ela do que para Spencer ter um, mas Charlie estranhou por ele não ficar tenso, como sempre ficava, achando que seu telefone iria tocar e uma mensagem de Garcia iria aparecer, dizendo que havia um caso.

Era um sábado à noite e a sexta-feira anterior tinha sido horrível no hospital. As sextas-feiras deles, que normalmente consistiam em pizza com algum filme, naquela semana, se transformou em pizza e Spencer a abraçando. Foi a primeira vez que Charlie não falou o que acontecera no trabalho, o que só o preocupou. Decidiu, então, que no dia seguinte faria tudo para distraí-la.

Fez isso. Levou-a em livrarias, cafés, museus, parques e até andaram um pouco em um shopping. Ela não teve tempo em pensar naquele casal que fora separado na sexta-feira de manhã, ou naquela família que perdera uma filha.

Eles tinham acabado de chegar em casa e Charlie nunca se sentiu tão aliviada ao ver todas aquelas estantes, sabendo que poderia simplesmente entrar em qualquer mundo a qualquer segundo. Andou até o quarto e deixou sua bolsa em cima da cama. Quando voltou para a sala, encontrou Spencer parado do mesmo modo que estava quando ela saiu daquele cômodo.

— Tudo bem? - Charlie riu. Ele fez que sim e limpou a garganta antes de começar a falar.

— Quando nos conhecemos, não foi em uma situação boa. - ela concordou com a cabeça. - Mas mesmo assim você conseguiu fazer o momento quando te vi abrindo a porta, um dos que vão ficar na minha mente para sempre, não só por conta da minha memória fotográfica. - Spencer acrescentou rapidamente quando percebeu que ela falaria que esse era o motivo. - "Apenas em torno de uma mulher que ama se pode formar uma família."

— Friedrich Schlegel. - Charlie disse, sorrindo sem entender.

— Eu te amo mais do que tudo e eu sei que esse sentimento é recíproco. Nunca pensei que alguém fosse se sentir assim por mim. Eu quero ter uma família nossa, poder saber que estaremos para sempre um do lado do outro. Você traz luz para qualquer lugar em que está e é como se eu me apaixonasse de novo, toda vez que te vejo rindo, sorrindo, ou distraída lendo um livro. - ele pegou uma caixinha em seu bolso e se ajoelhou. Charlie colocou as mãos cobrindo sua boca, seus olhos já marejados ao ver o anel de diamante. - Charlotte Beaumont West, me faria o homem mais feliz do mundo, sabendo que todo dia eu iria dormir e acordar, se não olhando para você, tendo você como minha esposa? 

Ela não conseguiu falar, só mexeu a cabeça positivamente e o abraçou antes mesmo que ele pusesse o anel em seu dedo.

Garcia gritou dizendo que seria a madrinha quando Charlie e Spencer contaram para a equipe. Reid nunca poderia imaginar que, por conta de um caso, estaria agora praticamente casado. Charlie disse que "o destino daria um jeito". Ainda estaria com Spencer se o FBI não tivesse batido em sua porta, e Reid adorava como romântica e boa ela era, ainda que tivesse passado por tudo que passou.

Havia momentos em que Spencer agradecia sua memória fotográfica e o dia da pequena cerimônia deles foi um daqueles momentos. Nunca havia visto Charlie tão linda quanto naquele vestido branco, e como ela sorriu quando viu o Converse preto dele, o fazia sorrir também. 

Hotch, que já havia terminando com Beth, conheceu a nova madrasta de Jack naquela noite, e sempre agradecia Charlie por trabalhar no mesmo lugar que sua esposa.

Foi quase um ano depois da lua de mel em Roma, que Charlie descobriu que estava grávida. 

Ela contou para Spencer quando ele chegou de um caso, sem querer falar nada sobre o que havia acontecido. Charlie estava de pijamas no sofá, com as pernas esticadas no puf à sua frente, o computador apoiado em suas pernas, onde ela escrevia o relatório de um de seus pacientes mais complicados. Enquanto Spencer estava fora de casa em um dos casos, comprara para Charlie um gato de pelúcia, pensando no quanto ela gostava deles, mas não podia ter um porque tinha alergia. O gatinho preto e branco estava ao seu lado, e ela conseguia sentir as patinhas em sua perna, o que a fez sorrir. Ouviu a porta se abrindo e o jeito como Spencer entrou no apartamento já demonstrava que nada estava bem.

— Não quer falar, não é? - ela fechou a tela no notebook e colocou acima do puf. Ele fez que não, silenciosamente, e se sentou ao lado dela. Já tinham aderido à uma rotina: quando algo ruim acontecia no trabalho de qualquer um dos dois, eles ficavam lado a lado em silêncio, confortando um ao outro. Charlie sempre fora a primeira a precisar falar. Normalmente envolvia uma criança que ela não conseguiu salvar, ou uma família para qual ela teve que contar uma notícia horrível. Spencer quase nunca falava, já estava acostumado a lidar com os problemas de seu trabalho sozinho, mesmo que não estivesse há um bom tempo. Charlie sabia que não fazia bem a ele guardar tudo, mas não o obrigava a falar. 

Essa vez não foi diferente. Os dois encararam a tela escura da TV a frente deles, enquanto Charlie passava os dedos pelos cabelos dele. Spencer tinha a mão no joelho dela. Usava o pijama que ele havia lhe dado de Natal.

— Spence, já que você não vai falar nada, eu preciso. - disse com um sorriso receoso e ele se afastou, com as sobrancelhas franzidas em curiosidade. - Eu te amo muito, você sabe, não sabe?

Ele sabia, falavam isso para o outro toda manhã, ou quando um deles acordava no meio da madrugada, tendo que correr para o trabalho.

— Eu também te amo, Charlie. - ele sorriu. - O que...?

— Quando o amor de duas pessoas é muito grande, outra nasce pra dividir esse sentimento e...

— Charlie, o que...? - um sorriso de verdade se formou quando ela colocou as mãos no abdômen e fez que sim com a cabeça. 

A equipe ficou sabendo três semanas depois, em um jantar na casa de JJ. Eles não chegaram a anunciar, mas eram profilers. Observaram como Spencer e Charlie sorriam para a imagem de Jack e Henry conversando, como Spencer sempre olhava para ela como se perguntasse se estava tudo bem e em seguida olhava para seu abdômen, e como ela recusou vinho e whisky, o que Charlie nunca fazia.

— Charlie, eu te dei uma garrafa de whisky no seu aniversário. - Rossi disse. - Está recusando?

— Eu tenho que parar. - ela respondeu segurando um sorriso. - Por nove meses.

Todos se levantaram ao mesmo tempo de seus lugares para abraçá-los e cumprimentá-los. Garcia já estava com lágrimas nos olhos quando disse, sorrindo:

— Já era hora!

Morgan bagunçou o cabelo de Spencer e lhe deu diversos tapas carinhosos nas costas. JJ, assim como Garcia, também segurava as lágrimas ao imaginar seu melhor amigo como pai, e ficou mais tempo abraçando Charlie do que qualquer um, pensando que ela poderia ter chegado mais cedo na vida de Spence. Era extremamente notável a diferença dele.

— Ideias para nomes? - Hotch perguntou depois de abraçar Spencer. 

— Se for menina - Charlie começou e olhou para Spencer. -, estava pensando em Diana.

Ele sorriu abertamente e a beijou. Corou fortemente depois de perceber que todos haviam presenciado aquilo. Nunca haviam realmente se beijado na frente deles.

— E se for menino? - Morgan perguntou depois de rir.

— Blake... - Spencer olhou para ela. - Se importaria se for Ethan? É um ótimo nome.

O resto do time não entendeu quando ela contraiu os lábios para segurar as lágrimas e fez que sim com a cabeça.

— Spence vai querer que ele escute Mozart. - JJ riu. - Com toda certeza.

— Já falou sobre Beethoven, também. - Charlie contou.

Ethan West Reid nasceu em uma quinta-feira, às sete e quarenta e cinco da noite, com 3,200 kg. Era a coisa mais linda que os olhos de Spencer e Charlie tinham visto.

— É uma junção perfeita de células... - Reid sussurrou quando seu filho segurou seu dedo indicador, parando aos poucos de chorar. 

O primeiro presente que Ethan ganhou foi um Converse vermelho, exatamente igual ao que Reid usava. Ganhou de Penelope, que foi a primeira a entrar no quarto. Não conseguiram escolher uma madrinha ou um padrinho para ele, mas Ethan abriu os olhinhos quando ouviu a voz de Garcia e Derek, falando ao mesmo tempo como o cabelo dele era da cor do de Charlie, mas os cachos eram de Reid.

Mais tarde naquela noite, naquele quarto de hospital, Spencer estava com as duas pessoas que mais amava no mundo, sentindo uma paz que nunca achou que sentiria e um amor que não sabia que era possível existir.

A consciência de amar e ser amado traz um conforto e riqueza à vida que nada mais consegue trazer.
                     — Oscar Wilde


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então é isso. Realmente espero que tenham gostado desses 36 capítulos.
Não tenho palavras pra agradecer todos os comentários e recomendações, significa tanto!
Obrigada para todos que acompanharam e gostaram do que escrevi!
Estou de verdade segurando o choro..
Obrigada novamente por td ❤️



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Zugzwang" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.