A Darkland Tale escrita por DarrenShanLover


Capítulo 2
DÚVIDAS




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DÚVIDAS

 

            No último minuto eu consegui correr e pegar a mão de Charlotte. Eu estava deitada no chão, na beira do buraco, segurando a mão dela. Pelo jeito aquele buraco era muito mais inclinado para a vertical do que parecia.

            Charlotte estava toda arranhada e tinha um pequeno corte no rosto. Se não fosse por mim ela teria caído até o fundo daquele buraco.  Partir de sua cintura eu não conseguia ver nada, era muito escuro, o que me fez me perguntar qual era a profundidade daquilo. Minha irmã segurava fortemente na minha mão, morrendo de medo de cair. Ela tinha lágrimas se formando nos olhos.

            - NÃO ME SOLTE!

            - Não vou soltar... – eu consegui murmurar.

            Ela era pesada que nem um armário, mas era mais magra do que eu! Como? Eu sempre morria de vontade de que ela engordasse um pouco, só para parar de falar que eu era mais pesada do que ela, era a primeira vez que eu queria que ela fosse magra! Como os momentos de desespero fazem a gente pensar coisas insanas, não?

            - Você... Você tem... Onde apoiar o pé? – perguntei.

            - NÃO!!! NÃO SEI!!! ME AJUDA...

            - Calma!!! Para com esse histerismo, ok? Se não vamos cair as duas!

            Aquele pensamento a assustou. Ela engoliu algumas lágrimas e balançou a cabeça.

            - Ótimo. Procure um lugar para apoiar o pé, com cuidado, não se balance muito.

            Ela balançou a cabeça em resposta e começou a procurar um lugar para se apoiar na parede do buraco. De repente ela parou e olhou para mim esperançosamente.

            - Acho... Acho que encontrei... Deve ser uma raiz!

            - Ok, tente se apoiar nessa raiz enquanto eu tento me levantar, segure firme a minha mão.

            - Ta...

            Eu senti que ela ficou mais leve. Ela devia ter se apoiado. Com cuidado eu me pus sobre os joelhos e consegui ficar de cócoras, se esticasse os joelhos eu ficaria em pé. 

             Respirei fundo. Agora vinha a parte difícil, eu teria que puxar Charlotte usando só a minha força, mas acho que se ela conseguisse se empurrar para cima usando a raiz eu já teria uma grande ajuda.

            - Pronto, eu vou contar até três e aí você se empurra para cima usando a raiz, ok?

            Ela soluçou e disse:

            - Ok...

            - Pronta?

            Ela balançou a cabeça.

            - Um... Dois... TRÊS!

            No “três” ela se empurrou e eu estiquei os joelhos, me empurrando para longe do buraco, levando Charlotte junto. Nós caímos de costas na grama, Charlotte com os braços arranhados e eu, felizmente, sem nenhum ferimento aparente.

            Ficamos ali por um tempo, apenas respirando. Depois eu me virei para minha irmã, que havia se virado para mim. Seu cabelo com mechas vermelhas estava cheio de folhinhas.

            - Você está horrível.

            - Você também... Obrigada.

            - É... Eu sei que sou demais e tudo...

            Ela me deu um soquinho no ombro, me olhando feio. Eu encarei seu olhar por um segundo. Depois, quando não estávamos mais conseguindo reprimir a risada, explodimos em uma gargalhada que podia ter acordado meio mundo. Isso se meio mundo estivesse dormindo.

            Charlotte se levantou e deu um jeito nas roupas e no cabelo. Em seguida eu me levantei e fiz o mesmo. Estávamos nos preparamos para ir embora quando eu me lembrei do relógio. Apalpei meu bolso, não estava lá!

            Olhei em direção ao buraco. Ahh. Lá estava. Bem na beirada do buraco em que Charlotte quase caiu. Acho que eu conseguiria pegar caso fosse cautelosa.

            - Peraí, Charlotte. Vou pegar o relógio e já venho.

            - Você é louca por acaso? Eu quase caí naquele negócio! E outra, o relógio está quebrado, você mesma disse “ele gira no sentido anti-horário”.

            - Calma.

            Eu caminhei calmamente até o relógio, mas, quando eu comecei a chegar perto do relógio eu fiquei mais cuidadosa, você acha que eu queria cair? Eu olhava constantemente para os meus pés, Charlotte caiu por que escorregou em alguma coisa. Eu cheguei até o relógio sem maiores acidentes e agachei para pegá-lo.

Quando agachei eu pude dar uma boa olhada no buraco, claro, com cuidado para não cair dentro dele. Era meio muito sinistro, depois de certa distância não se enxergava absolutamente nada, era como se a partir dali houvesse apenas... Nada.

Ficar olhando me deu arrepios.

Do nada eu senti uma brisa estranha vir do buraco. Estranho era exatamente a palavra para isso. Se havia brisa, havia passagem de ar, se havia passagem de ar... Aquele buraco devia dar em algum lugar...

- Vamos!!! – Charlotte me chamou.

Eu me levantei por completo e me virei para encarar Charlotte. Ergui o relógio, mostrando que eu o havia achado e sorri. 

Eu me preparei para dar o primeiro passo, mas... NÃO HAVIA CHÃO! O chão debaixo de mim cedeu, abrindo ainda mais a entrada do buraco. Eu ia cair dentro dele, sabia! Tentei me segurar nas bordas, mas a terra estava toda vindo a baixo.

Não tinha como voltar, eu caí.

- Alice!!! – minha irmã gritou, mas, como estava muito longe, não chegou a tempo de me segurar ou me ajudar.

Eu estava caindo, claro, isso era óbvio, mas... O estranho era que eu senti as paredes do buraco nos primeiros segundos da queda apenas. Depois, parecia que eu estava caindo em um abismo imenso, totalmente na vertical. Não havia nada ao meu redor, pelo menos essa era a sensação. Mas não estava totalmente escuro também, parecia que no final do buraco havia uma luz fraca, como a de uma vela, iluminando minha queda.

Apesar disso, as paredes do buraco estavam envoltas na escuridão. Eu não podia vê-las. Isso tudo era muito estanho! O buraco com certeza não podia ser isso, não tinha como, se não, toda a área em volta do buraco, lá em cima, na superfície, teria caído também. Cedido.

           Fiquei caindo durante alguns minutos, eu estava caindo, mas parecia que era tudo em câmera lenta. De repente, eu vi algo subindo de encontro a mim, não estava subindo rápido, era mais como se estivesse flutuando. Não era apenas uma coisa... Eram várias... Vindo ao meu encontro.

           Primeiro, meus instintos me mandaram me proteger, pois aquilo poderia ter sido qualquer coisa. Mas, à medida que os objetos iam se aproximando, meu instinto se acalmou. Eram... Eram brinquedos!

            Eram brinquedos de todas as épocas, bonecas, carrinhos, caixinhas de música, tabuleiros de xadrez, peças de diversos jogos... Como aquilo fora para ali? Estaria eu sonhando? Eu posso ter batido a cabeça quando ai no buraco e agora eu podia estar alucinando.

            Um gatinho de pelúcia estava subindo ao meu encontro, eu o agarrei com as mãos. Ele estava sujo e seu pelo sintético, desgrenhado. Seu olho direito era apenas um botão e o esquerdo estava faltando. Eu o apertei com as mãos. Parecia bastante real para mim...

            Então, se eu não estava dormindo nem alucinando, o que estava acontecendo? Acho que eu iria descobrir mais tarde...

            Eu fiquei mais uns dez minutos “caindo”. E então, do nada, eu comecei a ver o chão se aproximando. Eu flutuei graciosamente até a ponta do meu pé direito se encontrar com o chão, depois disso, toda a gravidade voltou ao normal, e eu caí de joelhos no chão.

            Eu respirei pesadamente e fundo, curtindo finalmente colocar os pés no chão de novo. Eu olhei para os meus braços e mãos procurando ferimentos. Charlotte havia se cortado toda quando escorregou aqueles poucos centímetros, eu devia ter me machucado feio.

            Porém, meus braços estavam intactos, assim como minhas mãos, eu nem sequer estava suja de terra. Passei a mão pelos meus cabelos. Eles estavam perfeitamente arrumados. Como se eu estivesse acabado de sair do cabeleireiro.

            Me levantei e espanei minhas roupas. Congelei. Aquelas definitivamente não eram minhas roupas. Olhei para baixo. Estava usando um vestido trabalhado preto que vinha até meus joelhos e sobretudo antigos que nem aqueles que se usava em Londres no século dezoito. O sobretudo era azul claro, estava fechado por botões trabalhados, ele se abria quando chegava à minha cintura, e as mangas cobriam minhas mãos. Eu estava usando luvas!!! Luvas brancas!!! Eu também estava usando uma gargantilha vermelha com um pequeno guiso pendurado.

            E... onde estava o relógio?

            Apalpei a saia e não achei nada. Eu estava sentindo um peso estranho do lado esquerdo do meu casaco. Apalpei o lugar e senti uma forma redonda com algumas reentrâncias gravadas.

            Enfiei a mão dentro do casaco pela gola e encontrei uma corrente. Eu puxei essa corrente e lá estava o relógio. Suspirei, aliviada. Eu não iria ter passado por tudo aquilo e perdido o relógio.

            Eu parecia bem. Agora era a hora de descobrir onde eu estava.

            Olhei em volta e me encontrei em uma sala redonda enorme. As paredes e o chão eram feitos de azulejos brancos e pretos que se alternavam, por causa dessa mistura de cores, não era possível olhar diretamente para nenhumas das paredes ou para o chão, a menos que você quisesse ficar com tontura.

            O teto era fechado e não dava para ver de onde eu tinha caído. 

            Se eu quisesse voltar para casa só havia uma saída..

            Do meu lado esquerdo estava uma porta de madeira rústica, com uma maçaneta dourada com desenhos estranhos. Eu corri até ela e girei a maçaneta também. Droga, trancada. Mas, me diga, de que vale uma porta se está trancada?

            Eu encostei as costas na parede, frustrada e suspirei. A única saída que havia naquele lugar sinistro estava trancada. Assim, eu sentei. Tinha que pensar no que eu iria fazer agora.

            Eu peguei o relógio e o abri. Imediatamente aquela música misteriosa e contagiante invadiu o ar. Eu pensava muito melhor com música. Então... Recapitulando, eu caí em um buraco em que um coelho havia entrado porque eu queria pegar um relógio que não funciona. No buraco eu caí em câmera lenta e encontrei brinquedos antigos. Então, do nada, eu caí aqui, em uma sala com uma porta trancada e usando essas roupas ridículas.

            Como aquilo era possível???

            Simples, não era. Ótimo, eu não tinha conseguido nada com esse momento de reflexão.

            Bem, a porta estava trancada, certo, mas então a chave estava em algum lugar... Eu me levantei decidi cruzar a sala, procurando por qualquer coisa que se parecesse com uma chave.

            Eu andei alguns passos para frente e não consegui chegar nem perto da parede. Parecia que eu não tinha saído do lugar. Olhei para trás, sem duvida eu havia saído do lugar, as portas estavam mais longes de mim... Então como eu não havia conseguido chegar mais perto da parede?

            “Huhuhuhu... Alice, Alice...” disse uma voz brincalhona na minha cabeça, como se estivesse se deliciando com minha confusão.

            Era uma voz masculina, mas não era a voz de um adulto... Era mais de um cara um pouco mais velho do que eu, a propósito, eu tenho treze anos. Não vinha de nenhum lugar... Vinha da minha cabeça... Mas... Como aquilo era possível. Ah... Não era...

            - Quem está ai? – gritei para o vazio. 

            “Ora, ora...” respondeu. “Não seja assim tão agressiva logo de cara... Sejamos civilizados ok?”

            - Quem é você? – eu disse mais calmamente dessa vez.

            “Bem... isso não interessa... por hora...”

            - Achei que era para sermos civilizados, você sabe o meu nome, eu não sei o seu...

            “Esperta, esperta... Huhuhu... Isso vai ser muito divertido!”

            - Como assim “divertido”? – perguntei, desconfiada.

            “Ora, você verá... com seus próprios olhos, infelizmente... Ah, aliás, quando você estiver em apuros, eu sugiro que não esteja atrasada e nem adiantada, é sempre bom estarmos nos orientando com o horário certo, não concorda?”

            - Hã? – perguntei, surpresa com o rumo que a conversa levou. – E o que isso tem a ver com a nossa conversa de antes? Não faz o menor sentido!

            Aliás, nada fazia o menor sentido, eu estava discutindo com uma voz na minha cabeça!

            “Talvez sim... Talvez não... Pena que...” de repente a voz tomou uma voz sinistra “outra pessoa está mexendo os pauzinhos...”

            Um arrepio correu minha espinha e levantou os cabelos da mina nuca. Aquela atmosfera... Estava sendo provocada pela voz na minha cabeça??? E como assim “outra pessoa está movendo os pauzinhos”? Quando tornou a falar sua voz já havia adquirido o senso brincalhão e deliciado, não deixando nem rastros do que havia falado antes...

            “Oh! O show está prestes a começar, devo me retirar para assistir... mais confortavelmente. Boa sorte, Alice, quebre a perna!”

            Não ouvi mais nada na minha mente. A voz havia se calado por completo, me deixando sozinha naquela sala novamente.

            Ouvi uma risadinha atrás de mim.

            Não me mexi, aquela risada era bem real, não estava na minha cabeça. Era uma risada infantil e boba, como uma criança que vai fazer alguma coisa má.

            “Quebre a perna”? Se não me engano este era o cumprimento de boa sorte usado por atores de teatro. Aquela voz na minha cabeça queria dizer que...

            Eu faria o espetáculo?!


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Notas finais do capítulo

Se gostaram deixem uma review, é mto importante pra mim saber a opinião dos outros!!! Próximo capítulo em breve...