Você é minha Droga escrita por Krueger


Capítulo 2
Lar Doce Lar




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Pov Joe:

O mundo ao redor estava descontrolado, eu não conseguia distinguir os prédios do chão em que pisava. Tudo era uma mistura de luzes e borrados, apoiei-me na porta a minha frente para não cair. Eu não podia morrer ainda. Bati tantas vezes quanto pude no metal, machucando meus dedos também ensanguentados.

Quando a porta se abriu, senti meu corpo tombar para frente e só não dei de cara com o cimento porque seus braços se fecharam ao meu redor.

— Meu menino! – ela exclamou incrédula. Acariciou minhas bochechas avaliando meu rosto por alguns instantes, em outros tempos abriria um sorriso com nosso reencontro.

— Eu voltei... – foi a única coisa que pronunciei. Minha garganta se contraia, quase me sufocando, cada vez que movimentava o maxilar.

Então fechei os olhos e me permiti apagar ali mesmo.

[...]

Axl foi a figura mais próxima de um pai que tive. Eu fui um covarde ao fugir quando meu irmão morreu. Prometi nunca pisar naquela cidade novamente, a não ser por vingança, mas a promessa fora quebrada. Eu estava lá contra a minha vontade, não havia outro lugar para me esconder naquelas condições.

— Cuidei de seus ferimentos e costurei o corte em sua costela. A faca não atingiu nenhum órgão interno, por sorte. Anunciou Isabelle antes de mover uma mecha de seu cabelo loiro para trás da orelha. Atravessou a sala com uma das mãos na cintura, fazendo-me notar o sangue sujo em sua pele. — O curativo improvisado, impediu que perdesse sangue.

— Obrigado mãe... — murmurei com medo daquela expressão, a decepção evidente no tom azul de seus olhos.

— Faz anos que não o vejo, — parou para abrir as cortinas da sala e por alguns instantes observou a rua deserta. — tantos que parei de contá-los.

— Eu mandei cartas... — justifiquei tentando ajeitar minha postura no duro sofá de madeira em que jazia. Os móveis permaneciam os mesmos apesar do tempo. — Ah qual é mãe...

— Estava prestes a morrer, e quem procurou?

— A única mulher que me ama... — revelei.

— Cartas? — moveu-se para o armário de canto e abriu uma das gavetas, jogando em seguida os envelopes em cima de mim. Todos lacrados, ela não abriu um sequer. — Palavras num papel não representam meu filho.

— Eu não pude voltar...

— Por um juramento estúpido que só retornaria aqui para se vingar? De quem? Um homem que já está morto? Vai recussitá-lo e então cortar sua garganta para vingar a morte de Joe e Axl? Seu pai e irmão estão mortos! — suas palavras cortavam como uma faca afiada, a mesma que senti atravessando minha pele. — Pensa que não sofro?

Eu não estava preparado para que o passado me atropelasse daquele jeito. Ainda me recuperava do que perdi em Las Vegas.

— Não estou aqui pela vingança. Fui jurado de morte. — confessei.

— Meu Deus.

— Me desculpe... — Falar exigia muito de mim, entretanto ela tinha que me ajudar. Uma mãe sempre apoia seus filhos, não é? — Eu não tenho para onde ir.

— Pense duas vezes antes de fazer merda. — Cuspiu e voltou a se sentar do meu lado. Abaixei o olhar para o curativo de algodão em meu abdômen esquerdo antes de fitar minha mãe. — Se for ficar aqui, não quero que se envolva com os Touros.

— Não vou ficar por muito tempo.

— Eu tinha tantas esperanças que não se tornasse um idiota como seu irmão.

— Eu ainda estou vivo.

— Mas vai acabar morto se continuar nesse caminho... — seu tom de voz mudou. — Você precisa de repouso, esta é sua casa. Eu não posso negar que volte, nem ajuda. Eu sou sua mãe porra. Eu não vou deixar meu único filho sair por aquela porta de novo.

— Eu saio pela janela então.

Ela começou a rir, e sinceramente, foi o melhor som que ouvi. Seus braços me rodearam com cuidado, e minha mãe concentrou toda a saudade que sentia naquele abraço. Eu me senti seguro.

— Fique.

— Eu só preciso me recuperar. — encarar seus olhos por muito tempo, me fazia sentir o peso da culpa. Eu a abandonei quando mais precisou. — Eu não consigo ficar nesse bairro, doeu tanto, quando eu estava vindo, ver cada esquina... Cada casa. E principalmente onde ele...

— Dói. — depositou um beijo em minha testa. Seus olhos começaram a lacrimejar e os meus também. — Mas é uma dor que ao passar dos anos, se torna suportável. Eu nunca sofri tanto, ao perder alguém. Axl era meu menino de cabelos dourados. — segurei sua mão com força. Ela desatou a chorar. — Quando eu lhe vi na minha porta, todo machucado e com sangue... Eu quase tive um ataque. Eu não vou aguentar enterrar mais um filho, eu não vou...

— Eu é que vou enterrá-la e herdar todos os seus bens. — tentei aliviar aquele clima melancólico. — Já me vejo tomando vinho numa taça, naquela banheira no seu quarto e redecorando todo o ambiente com meu futuro marido.

— Você não é gay. — minha mãe me conhecia tão bem. — Infelizmente.

— Infelizmente? — fiquei perplexo e ela voltou a rir. Vê-la rir, me fazia bem. Era como se pagasse algumas das parcelas de decepção que lhe proporcionei. — Você não quer netos?

— Se o pai deles, souber cuidar.

— Calúnia.

Naquele breve silêncio, fiquei a observando. Isabelle não havia envelhecido nenhum pouco, e seu sorriso de orelha a orelha me fez sentir em casa.

"Vá para casa" foram as ultimas palavras de Hasegaya, antes de me enfiar dentro do carro. E eu, nos braços de minha mãe, agradecia por aquele homem ter me salvado. Eu faria, essa segunda chance valer a pena.

Eu me sentia um velho, após duas semanas preso dentro daquela casa. Talvez, estar em casa não fosse a melhor das opções. Eu queria viver, queria respirar o ar puro das florestas, queria transar até meu pau não subir mais. Mas não pude recusar o pedido de Isabelle, que gentilmente me trancava dentro de casa antes de ir trabalhar, todos os dias.

Entretanto, aquele dia ela deixou a porta aberta, para que eu fizesse compras. Eu sei que ela só queria me testar, para ver se eu fugiria quando me recuperasse.

Dentro do maior super-mercado do bairro, eu lia com dificuldade sua letra de médico enquanto arrastava meu carrinho de um lado para o outro. Num dos corredores, achei um fardo de cerveja em promoção e era o destino me avisando que deveria colocá-lo no carrinho.

— Slater? — o nome me fez paralisar. — Ah meu deus! Eu achei que tivesse visto um fantasma! — a voz masculina foi se tornando mais alta e quando percebi já estava ao meu lado. Um mão cheia de calos entre os dedos e uma tatuagem de rosa afundou em meu ombro, observei-a ainda calado e levantei o olhar para o dono da voz. — Sou eu, Ted!

Quem?

— Ted! É um prazer revê-lo! — respondi com um sorriso de orelha a orelha. Suas feições me lembravam muito algum garoto que brinquei na infância. — Eu estou na cidade, visitando minha mãe. Não é nada demais.

— Que bomos Touros te aguardam ele abaixou sua mão e a evidente arma debaixo de sua regata, não me deixou parar de sorrir. — Principalmente Capeline.

— Sempre tão receptivo... — eu estava desarmado e ferido.

 


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