O garoto do capacete vermelho escrita por Puella


Capítulo 6
O prelúdio da primeira peneira – parte 1


Notas iniciais do capítulo

Oi seus lindos.... tive um pequeno bloqueio, por isso tive que quebrar o capítulo em duas partes....



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Já fazem praticamente dois meses que comecei no treinamento de recrutas para a divisão. Honestamente, não foi bem aquilo que eu esperava em particular. Ao mesmo tempo que lembra um treinamento militar, há momentos em que se parece uma escola ou faculdade. Basicamente seguimos horários fixos pré-estabelecidos.

 

SEGUNDA: Condicionamento físico, treino livre (?)

TERÇA: Teoria da robótica, Introdução a Engenharia, Teoria da pilotagem I

QUARTA: Pilotagem Prática I

QUINTA: Teoria da robótica, Princípios da Divisão, Teoria da pilotagem I

SEXTA: Condicionamento Físico, Treinamento de tiro

SÁBADO: Pilotagem Prática I

DOMINGO: Folga

 

Estou me adaptando bem ao cronograma, diferente da escola, aqui eu sinto um prazer enorme em estudar e pesquisar. Sinto que tenho muita afinidade com engenharias de carros, naves e aviões e outras tralhas tecnológicas. Ainda apanho um pouco no condicionamento físico, mas já melhorei de forma considerável. Isso graças à Lilly, ela tem um conhecimento valioso sobre manter um corpo ativo e saudável. Estamos meio que fazendo uma troca, ela me ajuda na parte de preparação física, e eu a ajudo na parte teórica – que seria o ponto fraco dela.

Daqui uma semana teremos a primeira peneira. Os resultados dos primeiros testes serão divulgados e, pelo que tio Stirling falou, dos 100, apenas 75 vão ficar. A turma onde estou é a 25-C, ao meu ver, temos o melhor grupo. Há jovens talentosos aqui, embora não muito inteligentes. Até mesmo aquele bastardo do Hunt obteve bons resultados, o que não entendo. Na aula de Pilotagem ele tirou quase a mesma pontuação que a minha. Tenho que admitir, ele é agressivo e rápido. Mas, como se diz, é importante analisar a pintura inteira. Ele é bom na prática, quanto a mim, domino as duas coisas – teoria e prática. Então, logo estou na frente dele. 

 

Era quatro da manhã quando Lilly levantou, ela desceu com cuidado do beliche e fitou seu amigo e professor, que dormia. Ele estava com a boca entreaberta, dando uma vista dos dentes. Niki sempre acordava meia hora depois dela. Era engraçado, ele levantava com o cabelo bagunçado e andava até o banheiro. Era uma estratégia que os dois adotaram para se livrar das filas dos banheiros, que eram coletivos.

Na convivência com o austríaco, ela percebeu que Niki era muito centrado, disciplinado e apaixonado pelo que estava fazendo. Seu jeito sério e antissocial disfarçava a timidez que ele tinha. Ele estava sempre atento com seus olhos azuis vivos. Esperta como era, a garota percebeu que se adotasse um pouco do estilo “Lauda”, ela teria grandes chances de entrar para a Divisão F2 no ano seguinte. Mas, ao mesmo tempo, Niki tinha as suas imperfeições, o que Lilly chamava carinhosamente de “Síndrome do austríaco mimado”.

Niki era muito, muito chato. Mas, não era algo que aborrecesse tanto a moça, que sabia que seu tio Willy era bem pior em termos de rabugentice. Além de ser chato, Niki tinha uma lista enorme de defeitos: era muito competitivo, arrogante, não relaxava quase nunca, e dava broncas em Lilly quando ela o chamava para sair e conhecer a cidade. Dizia que ela tinha levar em conta as suas verdadeiras prioridades. Tinha um perfeccionismo irritante, era viciado em iogurte de morango, e às vezes era frio demais com as pessoas. Mas a mais irritante de todas as características que ele tinha, era a sua mania compulsiva de calcular a porcentagem em cima de qualquer coisa ou risco.

Além disso, ele tinha uma rixa intensa com Hunt. James o irritava até quando não o estava fazendo. O inglês era o oposto em tudo que Nki era, mas ao mesmo tempo se saia muito bem em qualquer coisa que fazia. E isso deixaria o austríaco louco da vida. Teve até um dia em que ele ficou furioso quando seus cálculos mostraram que James poderia estar entre os 25 aprovados na última fase da peneira. Lilly teve que se conter para não rir.

— Esquece o James – ela comentou certa vez.

— Não sei do que está falando – ele retrucou – só não acho certo alguém como ele estar aqui. Ele não tem disciplina! É um asshole!

Asshole, o apelido “carinhoso” que ele dava a James. Quanto a Hunt, ao contrário do que poderia parecer, o inglês também tinha um interesse em ganhar de Lauda em qualquer coisa. Ele tinha que admitir, havia subestimado aquele chucrute. Ele tinha Niki como um parâmetro, se o rato conseguia, ele também poderia passar para a outra etapa. James achava bizarro e terrível ver alguém tão jovem – era descobrira que Niki era quase dois anos mais novo -  que não se divertia com nada. Pior ainda, como aquele cara feio conseguira trazer a garota para perto dele. James uma vez fez uma brincadeira pelos corredores dizendo que Lilly tinha Niki como um cãozinho de guarda, para protege-la dos outros marmanjos.

Lilly é claro não gostou muito da brincadeira, e certo francês também não. François Cervert logo de início conquistou uma popularidade entre os calouros. Ele era tranquilo e divertido, era outro que tinha bons desempenhos. Logo se soube que sua irmã, Jacqueline era casada com um dos pilotos da elite da divisão. Quase todos os colegas falavam com ele, exceto Niki, que embora o respeitasse não trocava muitas palavras com o francês.   

Outro sujeito que fazia sucesso entre os calouros era Ronnie, o “veterano” do grupo, ele estava sempre nas aulas de Teoria da robótica, Introdução a Engenharia e Teoria da pilotagem I. O sueco era tão carismático que se dava bem tanto com James quanto Niki, e este último pegava algumas dicas da matéria.

Cidade dos Construtores, 15 de maio de 1968

 

Querido tio Willy,

 

Tem quase dois meses que saí de Viena. Sinto um pouco a falta daí, especialmente o verde que aqui aparentemente não tem. É tanto concreto que se o senhor visse ficaria espantado. Não é uma cidade comum, é grande e cercada por grandes muros. O senhor sabia que aqui eles tem radares para detectar alguma atividade de anômalos. Ela funciona 24 horas por dia. As coisas são incríveis aqui, estou extasiada, acho que nunca imaginei que teria uma experiência tão inusitada. Aposto que papai e mamãe devem estar preocupados...

Semana que vem teremos a primeira peneira. Para ser honesta, acho que existem chances de eu seguir adiante. Estou indo bem nas matérias práticas de pilotagem. Quanto ao condicionamento físico, acho que senhor ficaria muito orgulhoso. A propósito, fiz vários amigos por aqui. Engraçado é que eu não sinto mal por ser a única garota do grupo, eles são muito divertidos. Mas eu queria mesmo era que o senhor conhecesse o Niki, meu colega de beliche. Ele também é de Viena, e sabe, acho que vocês dois se dariam muito bem. Ele tem me ajudado com as partes que eu tenho dificuldade, da mesma forma que o tenho ajudado com a parte física.

Tenho saudades, diga para os meus pais que tenho saudades deles. E diga para Ludwig que o manual foi muito útil.

 

Da sua sobrinha preferida

 

Lilly

 

P.S: Estou tomando aquele suco misto que você ensinou todo dia, até mesmo o Niki está tomando, ele faz caretas hilárias por causa do gosto azedo, mas sabe tio, ele bem teimoso, me lembra muito você.

 

— Bom dia – Niki adentrou na cozinha coletiva.

— Bom dia! – dobrou o papel colocando em um envelope.

— O que estava fazendo? – perguntou Niki pegando o copo do suco verde que Lilly fizera para ele.

— É uma carta para o meu tio.

O garoto tomou a bebida de uma vez só logo fazendo uma careta em seguida.

— Só tomo essa merda porque é saudável!

— Não é merda, é suco verde.

— Que seja, ao menos já posso sentir alguma diferença.

— Que bom!

— E que bom que é, senão eu não estaria tomando. Vou fazer uma revisão hoje à noite, como sabe, o exame da peneira é semana que vem. Dizem que o que derruba os candidatos não são as práticas, e sim as teóricas. Então pensei em começarmos lá pelas sete e quinze. O que acha? O Ronnie também vem.

— Ótimo! – Lilly deu um meio sorriso – vou fazer uns brownnies depois que voltarmos do treino.

Lilly adora fazer comidas, ainda mais se tratando de bolos, sanduiches e strudels.  Para ela, isso deixaria os estudos mais divertidos e menos enfadonhos, e para Niki era melhor do que comer o jantar do refeitório.

— Vai ter mais alguém além do Ronnie?

— Não que eu saiba.

— Hum, certo, agora me passe aquela fatia de bolo ali.

Lilly lhe entregou a fatia e Niki logo que a pegou tratou de dar uma generosa mordida.

— Se esse lance de piloto não der certo para você – ele falou após engolir o pedaço – poderia tentar ser uma confeiteira, ganharia dinheiro.

Lilly riu.

— Aprecio a ideia, mas acho que vou dar certo como Piloto, ainda mais levando se em conta que tenho um bom professor – ela falou olhando para ele.

— Isso não é verdade, você também é bem esforçada.

— Está me elogiando?

— Não, só estou dizendo a verdade. Você é boa.

— Niki, Niki, você é uma gracinha! – Lilly fez um carinho na bochecha do austríaco, que ficou levemente corado.

— Acho que é melhor eu ir indo – ele disse meio embaraçado deixando a jovem austríaca rindo para trás.


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Notas finais do capítulo

Descupem qualquer errinho, to meio sonolenta.... o próximo capítulo vai ser engraçado....

Bjs!!!



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