O garoto do capacete vermelho escrita por Puella


Capítulo 15
O passado do menino de Viena


Notas iniciais do capítulo

Hum... outro capítulo assim tão rápido... nas notas finais eu explico....



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“Não sei como se deu isso, a única coisa que tenho certeza é que, depois daquele dia, eu nunca mais fui o mesmo.”

Graz, Áustria, janeiro 1959.

Foi pouco antes de eu completar 10 anos. Havia viajando com minha família para os Alpes em Graz. Apesar dos alertas e avisos sobre anômalos, as pessoas ainda sim levavam a vida com uma aparente normalidade, como se anômalos fossem um dilema tão comum como a criminalidade ou outro tipo de problema social. Naquela época, eu era apenas uma criança comum, um típico menino magrelo e pálido com roupas largas e aqueles chapéus em estilo alemão. Mas, naquela manhã quando saí com meu irmão Florian para esquiar em nosso trenó novo, algo bizarro aconteceu. Estávamos os dois – ou melhor, eu - procurando o melhor lugar para escorregar quando fui subitamente engolido por um buraco.

Ao abrir os olhos percebi que não podia enxergar nada, estava um breu, a única coisa que tinha certeza era que eu estava em uma superfície de neve fofa.  Para qualquer criança, o escuro nunca foi o melhor amigo, pelo contrário, nenhum ser miúdo, por mais corajoso que seja – como era o meu caso -, não gosta de escuro. Não demorou muito para que eu sentisse um incômodo terrível de impotência, afinal nunca gostei de ficar sem fazer nada diante de uma situação. Chorei de raiva. Mas vi que ficar chorando encolhido na neve não me adiantaria de nada, tinha que procurar um jeito de sair. Mas era difícil andar em um lugar onde não se vê o que está a um palmo à frente.

Até que, após alguns longos e eternos minutos, percebi que um feixe de luz surgiu, fracamente iluminando o lugar que parecia se assemelhar a uma caverna. Impulsionei-me a seguir aquele rastro fraco de luz, que à medida que eu caminhava se tornava mais forte. Tive fé de aquela luz que me lembrava duma aurora boreal me levaria à saída.

E então, eu o vi. Era uma criatura sinistra, branca e cheia de nervuras que lembravam fios elétricos que eram justamente os responsáveis por irradiar aquelas luzes bruxuleantes. Eu nem precisei juntar dois e dois para perceber que aquela coisa era um anômalo. Tentei dar meia volta, mas, fui traído pela minha própria falta de modos, o que fez com que a criatura voltasse os seus olhos para mim. Olhos grandes, azuis e brilhantes como uma lâmpada acesa. Tinha um corpo meio humanoide, com braços longos e mãos grandes, a cabeça era pequena para o seu corpo, ele deveria ter mais de dois metros de altura. Minhas pernas tremeram e minha garganta trancou. Eu era incapaz de gritar. O anômalo branco rangeu seus dentes, as nervuras de seu corpo brilharam fortemente e então ele emitiu uma forte descarga de energia que me atingiu ricocheteando o meu corpo contra a parede da caverna.

No momento em que senti o impacto, o meu corpo ficou em um estado terrível de letargia. Perdi a consciência por alguns instantes, e uma forte luz clara preencheu o lugar. E de repente vi uma figura humana, que mais tarde reconheci como sendo um piloto da Divisão. Ele usava um macacão branco e um capacete preto que cobria parcialmente sua cabeça. Ele segurava um armamento em seu braço. O sujeito em questão efetuou um disparo acertando o anômalo, que ficou atordoado. Ao mesmo tempo, percebi que o clarão era provocado por um buraco que havia se aberto no teto da caverna. Eu não conseguia me levantar, estava dolorido e com muita neve por cima de mim. Meus olhos voltaram-se para a figura que enfrentava aquele monstro. O anômalo se inclinou para atacá-lo, mas o piloto de forma arrojada no mesmo instante disparou outro tiro de sua arma – que depois fui saber que tratava de um tipo de bazuca – que acertou o monstro em seu núcleo. O anômalo em questão de poucos segundos foi ficando preto e se desintegrou em poucos instantes virando um estranho pó cinzento e fedorento.

Emiti um gemido dolorido chamando a atenção do piloto, que quando me notou ficou bastante surpreso. Afinal, o que um garoto pequeno estaria fazendo num lugar como aquele?

— Você está bem? Está machucado, garoto?

— Estou bem – foi a minha resposta.

Ele me tirou daquela neve e me carregou e logo eu estava fora dali. Pela cor do céu, indicava que logo estaria escuro. E então fitei o seu rosto. Ele tinha um semblante tímido, simples e olhos castanhos que passavam muita confiança.

— Vai ficar tudo bem agora. Qual é o seu nome?

— Niki.

 - Jim! Você está bem? – outros dois pilotos surgiram atrás de nós – ouvimos a explosão.

— Sim, eu consegui destruir o anômalo que restava, e de quebra achei esse menino.

Os três pilotos me levaram de volta para o hotel, que naquele momento se encontrava cheio de pessoas e policiais. Logo vi meus pais, minha mãe me cobriu de beijos e Floriam me abraçou, meu pai apenas acariciou a minha cabeça. Mas eu não tirava os olhos do piloto que havia me salvado. Afastei-me da minha mãe e corri em direção a ele. Puxei timidamente o tecido de seu macacão, ele estava conversando com os policiais quando então olhou para baixo e sorriu para mim com aquele seu sorriso simples.

— Moço, como você fez aquilo?

— É o que um piloto da Divisão F1 faz, nós combatemos anômalos!

— Aquilo foi incrível – eu falei empolgado – quando eu crescer eu quero ser como o senhor!

O jovem piloto se abaixou ficando na minha altura.

— Para ser um piloto é preciso primeiramente ter muita coragem.

— Eu tenho muita coragem – disse resoluto.

Ele fez um cafuné na minha cabeça e então tirou um broche que usava em seu macacão branco e o colocou em minha mão.

— Então, espero um dia vê-lo na Divisão, Niki.

O piloto em questão se chamava Jim Clark, e naquela época os pilotos ainda não usavam exoesqueletos, isso só veio em 1965. Naquele dia eu havia decidido que entraria na Divisão onde reencontraria Jim para mostrar que eu cumpriria a minha promessa - fato que nunca se concretizaria.

Depois do incidente, meus pais acharam melhor retornar para Viena. A mansão Lauda era grande e segura e contava com um abrigo subterrâneo próprio para se proteger de alguma eventualidade. Nossa família nunca passou por apertos. Meu avó Hans havia formado uma grande fortuna, mesmo apesar da guerra anos antes, eu tinha uma situação muito mais confortável do que muitas crianças que moravam em Viena.

Ao chegarmos em casa eu caí doente. Era algo horrível, uma febre alta somada a estranhas erupções que surgiram por toda a minha pele. Meus olhos ficaram secos e vermelhos, e a pele em volta dos olhos ficou terrivelmente arroxeada. Os médicos não sabiam dizer o que era, e eu piorava a cada dia. Meus pais imaginaram o pior, e então chamaram o padre.

Nunca fui com a cara de padres. Algo neles sempre me irritou, e quando eu parecia estar nas últimas, o padre me olhou com um misto de horror e pena. Acho que talvez tenha sido esse o motivo para me deixar com raiva. Eu não sou do tipo que gosta que as pessoas fiquem com pena de mim.

— Pobre criança! Que Deus tenha misericórdia de sua alma! – ele fez o sinal da cruz e foi embora.

Nos outros dias o meu quadro ficou na mesma, e eu ficava oscilando entre momentos de lucidez e delírio, até que, estranhamente levantei numa manhã e caminhei do meu quarto até a cozinha. Estava sentindo uma fome fora do normal. Fui comendo tudo o que via pela frente. Os empregados da cozinha me olharam com visível espanto. Minha família também teve a mesma reação. Eu não entendia aquilo, para mim era algo muito simples, eu estava morrendo de fome, apenas isso. No entanto, só fui compreender a reação deles quando eu mesmo me vi no espelho e percebi que toda aquela pereba estranha que estava na minha pele havia sumido.

Naquela época eu não sabia dizer o que era aquilo, mas hoje, posso dizer que o que tive foi uma reação do meu corpo ao efeito da radiação anômala. Hoje sei que a radiação anômala é responsável pelas mortes provocadas indiretamente por anômalos. Teoricamente, eu deveria estar morto, mas então, o que será que aconteceu?

Um dia, estava eu brincando na garagem da fazendo do meu avô em St. Moritz estava tendo pegar um objeto no alto da prateleira. Escalei até a parte mais alta e quando estava prestes a pegar a peça eu acabei por escorregar. Alguns objetos caíram junto, mas eu não me arrebentei no chão, como normalmente teria acontecido. Na hora que cai fechei os olhos, mas não senti o impacto. Abri meus olhos e notei que estava a alguns centímetros do chão, levitando. Não só eu assim como a peça de carro que havia caído junto comigo. Vi uma luz bruxuleante saindo de minhas mãos. O efeito durou alguns segundos e então eu caí no chão sentado. Fora a primeira vez que minha habilidade havia se manifestado. Depois disso, passei a fazer pequenos experimentos em segredo – que de inicio, eram um completo desastre -, para tentar descobrir o que era aquilo. Em uma dessas experiências, fui flagrado por meu irmão mais novo. Porém Floriam guardou segredo. Durante algum tempo fui treinando, queria saber até onde essas habilidades poderiam chegar.

Hoje sei que minha habilidade consiste basicamente em manipular energia. Um tipo de manipulação que me possibilita várias coisas como mover ou imobilizar objetos, controlar automóveis e criar barreiras de proteção.

Alguns anos depois eu tentei dar uma de “piloto”. Foi durante uma situação de evacuação em Viena. Foi à primeira vez em que eu utilizei meu poder contra um anômalo. Eu me senti o máximo e imaginei o quão útil isso seria para mim, se eu entrasse na Divisão. Mas, coisa não era tão maravilhosa assim. Eu não havia percebido que uma pessoa havia visto tudo, um jornalista para ser mais exato. Esperto, o desgraçado mostrou as fotos para o meu pai que obviamente, resolveu pagá-lo em troca de silencio. E foi assim que ele descobriu que o seu filho era, além de um desastre na escola, também uma aberração.

Reputação sempre foi uma coisa importante para a minha família. E isso era uma coisa que, segundo eles, eu não tinha mais. E então após uma briga e tanto, eu saí de casa, resoluto a me tornar um piloto da Divisão.

 

                                                                       *

— Enfim, era isso – o garoto deu os ombros.

James ainda estava processando, enquanto Lilly fitava o garoto. Se antes ela se afeiçoara a Niki por ele ter se afastado da família, agora o via com mais preocupação ainda.

— Então foi por isso que sua família lhe expulsou de casa?

— Não me olhe assim – ele falou – apesar de tudo, eu estou ótimo.

— Não acredito – ela negou com a cabeça – ninguém consegue ficar firme com algo assim. Eu não aguentaria.

Niki ficou cabisbaixo por um momento.

— Sempre tive uma facilidade natural para ignorar minhas emoções, acho que talvez isso tenha me ajudado com tudo o que passei. Mas acredite, eu estou muito bem.

— Sem dúvida – James finalmente se manifestou – mesmo que eu estivesse chapado ou algo do tipo, eu acho que jamais imaginaria algo assim, é meio de difícil de acreditar. Mas então ratinho? Como vai ser? E quando descobrirem?

— Eu não sei – Niki disse sincero – eu realmente não sei.

O rapaz fitou a própria mão que brilhou levemente.

— Essa coisa faz parte de mim, do sou agora. E uma hora, cedo ou tarde vou ter que revelar isso. Mas, penso que só farei isso quando chegar o momento certo. Mas até eu vou precisa que vocês não contem nada disso a ninguém.

James e Lilly prometeram guardar segredo, e para Niki foi um estranho alívio tirar aquele segredo dos ombros. Então naquele o momento as vidas daqueles três jovens se ligaram definitivamente. 


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Notas finais do capítulo

Bem chegamos até aqui... agora entendemos como o Niki desenvolveu aquelas habilidades e tal.... fazia tempos que eu queria chegar nessa parte, por isso acho que o capítulo deu tão certo, escrevi porque eu estava curiosa para ver o que daria...
Bem voltando a história, bem o fato de eu ter postado mais rápido se vem da minha recente decisão de abandonar alguns projetos que eu tinha e que não pretendo mais terminar. Bem, já falei algumas vezes aqui da minha situação de desânimo com o pouco número de leitores nas minhas fics... então tomei a seguinte decisão:
não pretendo mais postar fanfics novas. O que significa que estou cancelando a segunda temporada desta aqui (o que é uma pena, para mim)... é infelizmente não teremos mais o arco do Senna, porque com toda sinceridade, eu não vejo porque continuar tendo tão pouco ou quase nenhum retorno. Então eu vou ao menos terminar essa aqui (se eu conseguir). Para fraseando Niki Lauda: Isso só me implicaria perda de tempo, não estou sendo paga para escrever e nem ao menos recebo incentivo suficiente, por que eu deveria escrever mais?



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