Sabe quando você bate o olho em alguém e o seu principal sentido simplesmente não consegue sair daquela mesma pessoa?
Isso acontecia com todos neste momento.
Eu poderia dizer com todas as letras e reafirmar dez mil vezes que aquele menino não era daqui. Havia algo diferente nele. Ao julgar pela sua aparência você poderia dizer que era alguém que não nasceu para viver nesse mundo de selvagens. Mas eu não costumava julgar pela sua aparência, e sim pelas suas ações. Ele não era daqui. Ele sentava ereto e preciso demais para alguém da idade dele, ele olhava sempre para todos os cantos o tempo todo, tentando evitar a todo custo que alguém percebesse isso - mas eu percebia, porque estava bem na sua diagonal a três fileiras de distância, e ele não parecia me notar.
Ao mesmo tempo em que seu cabelo loiro quase platinado balançava com o vento do ventilador e seus olhos aparentemente cinzas percorriam a sala inteira a cada três segundos, eu me encolhia na cadeira, afundando-me nos meus próprios pensamentos confusos, que de alguma forma faziam sentido.
Meus pensamentos sempre faziam sentido, por mais insanos que fossem.
– Em? - Alguém me chamou, eu sobressaltei.
Não era um ser sobrenatural como o qual eu estava fitando o tempo todo.
– Sim?
Eu não virei pra ver quem era.
– Você é a próxima a se apresentar.
Eu engoli em seco, apresentações no primeiro dia de aula são irritantes. São melancólicas, são chatas... São...
– Próxima! - O professor Harrison que já deu aula três anos seguidos para mim, me chamou.
Eu levantei sem jeito da cadeira. Eu parecia zonza e idiota aos olhos dos alunos. Era óbvio que estavam zombando de mim, mas de qualquer modo, eu não me importava.
O menino dos olhos cinzas me olhava. Eu não o via, mas sabia que seus olhos me queimavam de longe, e de certo modo isso me incomodava. Eu sentia que havia algo errado ali, e essa sensação foi o motivo de eu ter tropeçado acidentalmente em uma das mochilas no caminho.
Eu bufei quando riram.
– A senhorita está bem?
Eu olhei feio pra ele.
– Meu nome é Emily Stanford - eu disse em voz alta, e por algum motivo, o menino dos olhos cinzas enrijeceu.