Anjo Mau escrita por annakarenina


Capítulo 14
Frio


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é narrado por Emily Foster



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Sensual. Sedutor. Perigoso. Misterioso. Quando Philip me olhou, eu queimei por dentro. O nervosismo engoliu minha alma, e eu me senti corar abruptamente. Seus olhos eram cinzas, profundos, angustiantes e assustadoramente maravilhosos. Ele ainda me fitava, inexpressivo, e eu queria ver sua alma, porém não conseguia. Era como uma muralha fria e rochosa. Era como se ele escondesse um segredo sombrio e cruel. Era angustiante.
Tentei falar, mas ao perceber a minha tentativa falha, ele disse:
— Qual o seu nome completo?
Abri a boca, mas apenas um vento frio e congelante entrou por ela.
Depois de alguns segundos, eu mantive a concentração em sua pergunta. E finalmente consegui responder:
— Emily Jodie Foster.
Eu estava patética. Provavelmente a minha expressão era de uma criança que acabara de ver um doce gigantesco. Ou de um atleta que já visualizava a chegada. Philip sorriu levemente, mas seu olhar sarcástico não me enganava: eu sabia com quem ele andava, e sabia que eu deveria ser apenas mais um de seus planos.
— Meu nome é Philip Evan Cambridge.
Não demonstrei nenhum tipo de surpresa.
— Por que sentou do meu lado?
Ele me olhou em duvida, notando minha desconfiança.
— Desculpa?
— Eu sei quem você é.
De repente seu peito estufou, sua respiração tornou-se um pouco mais rápida que antes, e ele fechou suas mãos em punho, com um papel dentro delas. O mundo inteiro ao meu redor pareceu pequeno e insignificante, como uma escuridão engolindo-me. Por um momento me assustei, mas o menino tomou sua forma de antes assim que notou minha surpresa.
— Do que está falando?
— Você é mais um deles — eu disse, e me senti idiota.
— Eles...?
— Henry e seus amiguinhos. Eles já te encontraram, não?
Por algum motivo, Philip sorriu em ironia. Ou seria... Alívio?
— São meus únicos amigos, Emily.
Eu queria me sentir bem em confronta-lo. Mas algo me dizia que isso não era bom, e eu não iria chegar a lugar algum nisso. Apenas ao índice máximo de idiotice.
Eu baixei a cabeça para a folha em branco. Nela, eu deveria anotar as partes mais importantes, como a data dos afazeres, o material, sites de pesquisa e etc, porém, eu não fazia a mínima ideia de como começar. O menino ao meu lado retirava completamente a minha atenção.
— Posso?
Pediu ele. Eu entreguei-lhe a folha.
Em seguida, ele começou a escrever várias informações nelas, e um minuto depois, quando aproximei-me para ver, havia um esboço quase perfeito e bem organizado de todos os climas e continentes do mapa.
Eu o fitei, abismada.
— Como fez isso?
Ele sorriu.
— Gosto de desenhos. E geografia mais ainda.
Eu sorri espontânea.
— Ficou muito bom.
Eu estendi minha mão para pegar a folha, porém foi tudo rápido demais quando nossas mãos se tocaram, mesmo que levemente. Eu me assustei. Era quente ou frio? Era indecifrável. Sua temperatura pareceu oscilar, mesmo nesses milésimos de segundos. E era justamente isso que me assustava: eu jamais tocara na mão de alguém com tamanhas oscilações, desde quando... Desde quando eu tinha sete anos.
Era uma noite fria. Eu estava com muito frio. Meus pais haviam saído e me deixado com a babá, que dormira no sofá da sala. Eu estava nervosa naquele dia, porque me sentia mal, mas não queria acorda-la. Não queria incomodar seu sono.
Eu fui para a janela. A noite era sem lua, e comecei a rezar constantemente. Rezar para o frio terminar e rezar para eu dormir também.
Parecia tudo calmo por fora, mas por dentro eu queimava. Fora a minha primeira transformação. A primeira vez que eu senti espasmos contínuos e intermináveis. A primeira vez que eu senti na pele o que era possuir dons que todos duvidam.
E então deitei-me, gritando. Ninguém me ouvia. E depois de longos minutos, eu senti algo me afagar. Não era uma mão, não era um corpo... Era como um cobertor invisível, tocando em mim com diversas temperaturas, que me suportava conforme a dor se espalhava em diferentes graus dentro de mim.
Naquela noite, eu não vi e não ouvi. Eu senti.
A partir dali, nunca mais aconteceu isso.
Até agora.
— Está tudo bem?
Ele perguntou quando retirei a minha mão imediatamente. Eu percebi que meus olhos estavam esbugalhados e minha boca semi aberta. Não era possível — afirmei à mim mesma. Eu estava enlouquecendo.
— Emily?
Chamou-me de novo, enquanto eu tentava controlar a queimação produzida em meu estômago.
Mas eu não conseguia estar ali. Era demais para mim. Aquele toque, tão parecido, idêntico me deixou horrorizada. Minha única reação foi levantar-me e deixar a seguinte frase:
— Vemos isso depois.
Peguei minhas coisas e saí da sala.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Espero que gostem! Beijinhos :*



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