Ele continuou me olhando — de uma forma diferente, ele me olhava surpreso, como se nunca tivesse me imaginado daquele jeito. — Eu já tinha notado que ele estava sem camisa e pude perceber como seu corpo era bonito. Seus músculos que as vezes ficavam marcados em suas roupas, agora eu estava vendo eles sem nada que pudesse impedir

— O-o que? – eu chamei sua atenção – o que está olhando?

— Estou olhando você, Charlie! – respondeu ainda com seus olhos fixos em mim.

— E porque? – minha voz saiu baixa, e falha.

— Porque... – ele fez uma pausa – você está olhando para mim também! – e eu realmente estava, só um pouco – e quase babando...

— Eu? babando por você? – ri debochadamente.  

— Sim, você mesmo – respondeu com a mesma expressão de convencimento.

— Olha Tommy... – eu o analisei de cima a baixo com deboche – eu estou te olhando e não entendo! –  dei um suspiro.

— Não entende o porque eu sou tão gostoso? – ele riu malicioso.

— Não! – eu levantei o dedo indicador e fiz que não – Não entendo o porque as garotas te acham grande coisa... – eu comecei a rir, enquanto ele fazia uma cara feia – sinceramente, você não é tudo isso.

— Então porque você estava quase babando? – ele perguntou dando um passo a frente, ficando mais próximo de mim. E eu me lembrei de hoje mais cedo e tive a mesma sensação de que ele iria me beijar – eu até poderia te mostrar que eu sou tudo isso – ele se aproximou mais e eu não recuei – você até que fica bem sexy nessa camisola, Charlie – ele fez uma pausa e me olhou, e mordeu o lábio inferior – mas não vale a pena, sabe porque? – eu fiz que não com a cabeça – porque você continua sendo a garota irritante e infantil, que ninguém quer se aproximar porque sabe que você é grosseira e hostil. – eu não sabia o que dizer – a garota que parece mais um menino, que não tem sentimentos! – meus olhos marejaram e minha garganta de repente ficou seca. Porque eu estava me importando com o que ele achava de mim?

Eu sempre fui durona e nunca liguei para o que as pessoas falavam de mim, mas aquelas coisas estavam me machucando, e  eu nem sabia o porque.

— E O QUE VOCÊ SABE SOBRE SENTIMENTOS? – gritei irritada – o garoto rebelde que tem uma má relação com o pai. O pegador que fica com várias garotas e tem prazer em destruir os sentimentos de todas elas. – eu o olhei com ódio – quem é você pra falar de mim? – eu cuspir as palavras – você é vazio por dentro, é podre! – senti meu rosto molhado, eu estava chorando e nem percebi quando aconteceu.

— EU TENHO MOTIVOS PARA SER ASSIM, CHARLIE! – ele gritou e se afastou de mim – e tenha certeza de uma coisa... – ele me olhou com pena – eu não sou o único vazio aqui. – ele pegou sua camisa que estava no sofá e foi em direção a porta – eu odeio você Charlie!

— Eu odeio você Tommy! – falei em meio ao choro. – e espero que você seja muito infeliz, seu imbecil! – ele abriu a porta e saiu, batendo-a com muita força.

Eu não sabia o que fazer. — Tudo o que ele me disse... eu realmente era assim? Eu também era vazia? Eu não sabia o que estava sentindo.

Como não vi Cody em casa, deduzir que ele tinha saído, resolvi ir para o meu quarto e ficar lá, não queria que Cody me visse chorar, eu não queria que ninguém me visse chorar.

— Charlie? – escutei meu irmão me chamando e batendo na porta, deveria ter passado uns trinta minutos desde a discussão.

— Oi, eu já abro. – me olhei no espelho para ver se meu rosto estava ainda vermelho e inchado. Estava um pouco, se ele me visse dessa forma ia fazer perguntas que eu não estava com vontade de responder. Mesmo assim resolvi abrir a porta.

— Eu tinha ido no mercado comprar umas coisa para o almoço... – ele me explicou – espera, você estava chorando?

— Claro que não – menti – eu só estou com muita dor de cabeça e meus olhos começaram a lacrimejar.

— Hum... já tomou remédio? – perguntou ainda não muito convencido.

— Sim. – menti de novo.

— Tudo bem então. – ele me olhou como se não acreditasse muito – vamos almoçar?

— Estou sem fome. – e depois de tudo aquilo, eu realmente tinha perdido a fome.

— Isso é um milagre – falou me fazendo rir – então já que você não quer comer, eu vou. – ele estava saindo do meu quarto quando parou na porta e perguntou – você não viu o Tommy por aqui Charlie?

— Não – minha voz saiu falha – não vi aquele encosto que você chama de amigo.

— Eu só quero saber quando vocês dois vão parar com esse ódio – ele disse rindo – é assim desde quando éramos crianças, Charlie!

— Nunca. – eu respondi rispidamente – seu amigo é um idiota e eu odeio ele como nunca odiei ninguém! – Cody apenas riu e saiu do meu quarto.

Eu acabei pegando no sono de novo e quando acordei estava com uma dor de cabeça terrível por ter chorado mais cedo. Olhei no visor do meu celular e eram 22h. Fui tomar um banho e peguei um livro para ler, mas eu estava inquieta demais, então resolvi ligar para Jas.

— Alô – atendeu no segundo toque – quem é?

— Quem poderia ser? – eu perguntei como se fosse óbvio. – se está meu nome no contato.

— Nossa, sua grossa! – Jas respondeu se fazendo de ofendida.

— Todo mundo tirou o dia hoje para falar dos meus defeitos? – eu perguntei sendo ríspida – olha eu vou desligar, tchau! – não deixei Jas responder e desliguei na cara dela, que me ligou mais algumas vezes e eu não atendi.

Então não sei porque, peguei meu celular e liguei restrito para o Tommy.

— Alo – disse com uma voz de sono, rouca – quem é? – perguntou .

Silêncio.

— Quem é? – ele insistiu.

Silêncio.

— Você não tem o que fazer não, caralho? – falou grosseiro.

Respiração ofegante.

— QUEM É? – ele estava irritado e eu me segurava do outro lado da linha para não chorar. Lembrando de cada palavra que aquela voz tinha me dito. Ele realmente achava aquilo de mim? – já que você não vai responder, eu vou desligar! – antes que ele desligasse eu desliguei.

O que eu estava fazendo?

Acabei pegando no sono depois de um tempo e acordei com o barulho do irritante despertador.