5 coisas que odeio em Cidades Maravilhosas:

1- O calor escaldante. Sinto como se tivesse corrido uma maratona sem nem sair do lugar, meu corpo está completamente banhado de suor. Agora entendo o motivo a qual os cariocas não usarem calças e tênis o tempo todo.

2- Essas pessoas usam muitas gírias. Nunca conheci tantas palavras novas como hoje, meu primeiro dia oficial, que foram pronunciadas por um motoqueiro muito mal educado.

3- O trânsito dessa cidade é terrível e enlouquecedor. Tantas buzinas. Tantos faróis. E para completar, assim cheguei aqui, quase fui atropelada pelo tal motoqueiro rabugento.

4- Ainda estou tentando me conformar que não poderei mais usar minhas calças jeans e minhas jaquetas todos os dias, porque corro o pequeno risco de desmaiar no meio da rua.

5- Minha vida começaria do zero. Novo lugar. Novas pessoas. Nova casa. E é claro, como era de se esperar, um novo amor platônico. ___________________________________

Um fato: minha vida não é nada interessante. Nem a acadêmica e, muito menos, a pessoal. A amorosa, então, praticamente não existe. Durante toda a minha existência, beijei apenas dois garotos e ambas situações foram detestáveis. Nunca pensei que depois de dar meu primeiro beijo - iniciativa minha, claro - o menino, que até então era meu crush, correria de mim como o diabo foge da cruz. Ah, qual é? Eu não sabia que meu aparelho dental iria acabar fazendo um corte razoavelmente pequeno nele e, como consequência, fazê-lo levar dois pontos na boca. Ora, acidentes acontecem. Aliás, devo admitir que a minha segunda tentativa também foi um desastre.

Aonde é que eu estava com a cabeça quando aceitei brincar de salada mista?, penso.

Passei uma semana inteira com um resfriado terrível, culpa do garoto em que fui forçada a beijar - que tinha como apelido Atchin, pelo motivo de estar sempre gripado. E a lição que recebi e que cumpro até hoje, é: nunca mais pense/jogue qualquer brincadeira em que envolva contato físico com outras pessoas.

Lembro-me que na época, mamãe havia me deixado de castigo. Sem celular. Sem computador. Sem internet. Enfim, sem vida social. Acho que ela pensou, que estar com o nariz parecendo as cataratas do Foz de Iguaçú, não era um castigo bom o suficiente.

Dona Cecília nunca foi uma mãe muito durona, na verdade, acho que ela só queria que eu tomasse vergonha na cara e parasse de tentar cometer homicídios e, no meu caso, suicídio. Só que ela não pensou em mim quando resolveu - de uma hora para outra, literalmente - se mudar para uma cidade estranha e barulhenta, que é o Rio de Janeiro. Não que eu odiasse tanto assim esse lugar, imagina. Essa é a tal Cidade Maravilhosa que todos amam, todos menos eu. E para mim, é só mais um estado que contém muito barulho, muito trânsito e muitas pessoas que falam rápido demais com a voz carregada de um sotaque meio estranho.

E então, ela veio. Achando que aqui era um bom lugar onde poderíamos viver e, principalmente, conhecer novas pessoas. Minha mãe havia botado essa ideia na cabeça logo após ter terminado com sua quinta tentativa de arrumar um marido que preste e, segundo a própria Dona Ceci, no Rio ela teria mais chances de encontrar o seu príncipe encantado.

– Espero que tudo isso valha a pena mesmo, Ceci. - resmungo à ela, assim que chegamos em nossa nova casa, enquanto arrasto aquela mala que era maior que eu.

E estou tentando manter esse pensamento até o começo do ano letivo, onde começará, realmente, a minha nova vida. E pensar nisso está me deixando enjoada e com uma enorme vontade de despejar a pizza - bastante suspeita, em minha opinião - que comi em uma lanchonete de esquina, na primeira lixeira que encontrar. Mais que droga.

Aí, minha Santa Coca-Cola... Onde é que fui me meter?