Ouvi o barulho dos saltos batendo no mármore da escada e me virei. Ela estava deslumbrante, o vestido preto justo, colado ao corpo, realçava suas curvas esculturais e os cabelos pretos, que agora estavam curtos a embelezavam. Minhas fãs podem não gostar dela, mas eu tenho a sorte de ter uma mulher como ela.

– Vai sair, Jess?

Perguntei, pausando o jogo no video game.

– Que foi, Bruno? Vai ficar controlando minhas saídas agora?

– Não, Jess… eu… Desculpe, só perguntei por perguntar.

Ela revirou os olhos.

– Vou sair com umas amigas.

– Amigas? Mas você não tem amigas em L.A., Jess… Bem, a não ser minhas irmãs… Vai sair com elas?

– Ah que inferno! Vai ficar controlando com quem eu saio também? São umas amigas da época do Model Latina. Sinto falta das minhas antigas amigas, sabia?Tá satisfeito?

–Desculpe Jess, não quis chatear você, eu só… eu… me preocupo com você, Jess.

Ela revirou os olhos mais uma vez. Aquilo tinha virado um hábito na Jessica ultimamente. Ela mudara tanto.

– Tá, tá. - Me deu um selinho frio - Eu devo voltar tarde. Não me espere pra dormir. Boa noite, Bruno.

Colocou uma jaqueta nos ombros, pegou a bolsa, a chave do carro que eu tinha lhe dado de presente e saiu.

Fiquei alguns instantes olhando pra porta fechada. Aquele também era um novo hábito. Sair á noite, sozinha, e voltar tarde. Cada vez mais eu acabava dormindo sozinho e ela só chegava madrugada a dentro. Rechacei a ideia que minha cabeça formulou. Claro que a Jess não tava me traindo. Ela me ama. Ela só… Tem sido tempos difíceis; pra nós dois, e principalmente pra ela. Quero dizer, todos os problemas com minhas fãs e tudo mais. Talvez ela só esteja cansada, esgotada com tudo isso. Eu entendo.

Eu realmente tentei me convencer disso, mas uma parte de mim gritava que eu deveria ir atrás dela.

Eu vou, mas só pra mostrar pra essa parte teimosa de mim que a Jess me ama. Só pra isso.

Vesti um jeans qualquer e uma camisa, coloquei um chapéu. Não tinha tempo, nem paciência pra arrumar o topete agora. Por sinal, eu só voltei com ele pelas fãs, afinal, no tempo do afro era tão mais fácil. Peguei a chave do Mustang e saí. Consegui alcançar a Jess na auto estrada, ela tinha ficado presa no trânsito caótico de quinta á noite - pré final de semana - de Los Angeles.

* * *

Ela estacionou na frente de um restaurante italiano de luxo numa das ruas mais badaladas da cidade. Ainda de dentro do carro a observei conversar com a maitre e se dirigir pra uma mesa na lateral. Pude ver ela chegar, conversar com um cara moreno, alto e forte. Meus olhos embaçaram quando vi ela beijá-lo e dar pra ele um daqueles sorrisos apaixonados que fazia já algum tempo que ela não tinha pra mim.