Muhammad seguia na frente, falando sem parar, com aquele sotaque engraçado dele, entregando cada um de nós ao seu quarto. Mas que inferno, o meu quarto nunca chegava!!!! Todos os caras já estavam devidamente instalados e eu nada, andando com ele, e ele ainda queria conversar…. Será que ele não percebia que eu só queria dormir um pouco? O Ryan disse que eu não ia me arrepender de ter vindo, mas eu mal cheguei e já tô me arrependendo.

— Bem, meu rapaz, como você pode ver o seu quarto é aquele que fica mais perto dos aposentos da minha família. Isso é pra que você perceba em quão grande estima você está sendo recebido em minha casa.

A única coisa que eu to percebendo aqui é que eu tive que andar mais que todo mundo, pensei, enquanto sorria forçado. Ele parou em frente a uma porta e eu agradeci mentalmente. 

— Chegamos. O quarto ao lado do seu é da serva mais próxima e confiável da minha família e ela recebeu ordens de servi-lo em qualquer coisa que você precisar - Ele disse, frisando o qualquer coisa com uma risadinha cínica. Me senti desconfortável. 

— Hm, obrigado, Muhammad, mas…

Antes que eu conseguisse terminar a frase e dizer que no momento, a unica coisa que eu queria era dormir, ouvimos o barulho de garotas rindo e da porta ao lado se abrindo. Um pezinho pequeno e uma nuvem de tecidos rosa apareceu pela porta, seguido de uma voz suave.

— Papai!!!!! Olha só o que a Tâmara fez pra mim de presente de aniversário!!!!

— Só um segundo, minha flor do deserto, só um minuto, não saia ainda, que o papai já vai falar com você. - Muhammad parecia incomodado.

A garota interrompeu a passada e voltou para dentro fechando a porta, antes que eu pudesse ver o rosto dela. Fiquei curioso, mas não tive tempo de pensar sobre isso, já que o meu anfitrião praticamente me empurrou para dentro do quarto e fechou a porta em minha cara. 

Fiquei olhando para a porta estupefato, e ouvi o som da porta ao lado se abrindo novamente. Uns segundos depois, passadas na frente da minha porta, e a voz suave de volta. 

— Olha papai, não é lindo?

— Sim, minha princesa, tem a cor dos seus olhos.

Ouvi uma risada e não pude me conter. Eu queria ver. Desculpem-me, mas sou curioso sim. Abri a porta do quarto e olhei, mas não vi nada além de  longos cabelos castanhos saltitando ao lado do Muhammad. O que ficou foi o cheiro. Era um cheiro amadeirado, mas ao mesmo tempo doce e suave. Inspirei e voltei pro quarto. Se era a aniversariante, eu iria conhecê-la amanhã, de qualquer forma. Entrei pro banho.

*  *  *

Ah….. Nada melhor que uma ducha gelada né? Saí do banho me sentindo bem melhor, e me permiti analisar o quarto enquanto secava o cabelo. Era bem confortável, com um móvel grande, estilo guarda roupa, uma porta de vidro que dava pra uma espécie de varanda, um banheiro anexo com banheira e uma cama enorme no centro, todo em tons de bege? amarelo? sei lá. Pra mim isso é cor de areia, mas a Jéssica tinha comprado umas cortinas pro nossa quarto daquela cor e… MERDA! DE NOVO ESSA GAROTA NA MINHA CABEÇA, PUTA QUE PARIU. Respirei fundo. e esfreguei o cabelo com força. Alguém bateu na porta. Abri.Uma garota de pele morena e cabelos cacheados estava na porta.

— Senhor, eu sou a Tâmara e fui designada para serví-lo em…..Oh! - Ela calou-se e me olhou assustada. Me dei conta de que estava só de toalha amarrada na cintura. 

— Ah, me desculpe. Sério, me desculpa mesmo. Hm… Eu não preciso de nada, agora. Você tá no quarto ao lado, ne? Pode deixar que qualquer coisa eu te grito lá. 

Ela assentiu e saiu, corando embaixo da pele morena. Eu sorri. Ela era uma gracinha mesmo. Talvez……. NÃO. Eu não vou fazer uma menina de serva sexual. Ela era só uma menina, devia ter o que, 18 anos? Inaceitável. 

Vesti um short e uma camiseta, fechei a porta que dava para a sacada e me joguei na cama.

*    *     *

Acordei e olhei o celular que estava na tomada.

00:47.

Quase uma da manhã e eu acordo. Tá foda. Pior que não consigo dormir mesmo. Esse negócio de fuso horário fode comigo, toda vez. Respirei fundo e levantei. Tinha uma bandeja na mesinha o lado da porta, com pão e umas frutas. Peguei uma maça e abri a porta que dava pra sacada. A lua tava linda. Encostei na sacada e dei uma mordida, enquanto olhava pro céu. 

Inspirei fundo e o cheiro me invadiu. Era o mesmo cheiro de hoje pela manhã. Doce e amadeirado. Virei instintivamente na direção de onde ele vinha.

Uma profusão de tecidos azuis e cabelos castanhos. O vento que levantava partes do tecido e trazia o perfume pra mim. 

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(ignorem os saltos, não consegui achar a outra imagem, tive que me contentar  com essa)

Eu estava hipnotizado. Me vi caminhando na direção dela e tocando os cabelos. Coloquei meu rosto dentro deles e inspirei profundamente o cheiro que emanava dela. Senti a garota à minha frente enrijecer e virar-se. Levantei o olhar e me perdi nos olhos dela. Mesmo escurecidos pela noite, eu sabia que eram os mesmos olhos que eu tinha visto no sonho durante o desmaio no hospital. Era ela. 

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Ela era linda. Levantei os dedos em direção ao seu rosto e ela deu um passo para trás. Só então percebi o olhar de desespero em seu rosto. Parei. Ela se afastou mais um passo e com o outro tecido que segurava nas mãos cobriu o cabelo e o rosto, deixando apenas os olhos de fora. Abaixou a cabeça e se afastou novamente. Segurei-lhe a mão.

—Não vá. Só me diga o seu nome, nada além disso - Eu pedi desesperado.

Ela tremia e olhava para a minha mão na dela com o olhar assustado. Soltei-a e ela correu para a outra porta, um pouco mais adiante, que provavelmente dava para o quarto ao lado do meu. Abriu a porta e antes de entrar, olhou em minha direção mais uma vez, e sumiu. 

Soltei o ar e percebi que estava sem respirar. 

Voltei pra cama, sem conseguir processar o que tinha acontecido e adormeci.