Não, não é só medo do escuro escrita por Hell-Sama


Capítulo 3
Histórias de Cozinha




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/661967/chapter/3

Já era final do dia quando estava chegando ao fim, Aioria se certificara mais cedo que nenhum outro ser pudesse atacar a moça e voltara para Leão. Sarah estava jogando água no quarto todo, junto com uma garrafa inteira de desinfetante e puxando pela cozinha para escoar. Quem sabe daquele modo conseguiria dormir naquele quarto sem ficar ela mesma com cheiro de lixo de podre. Puxava de dentro do quarto a última leva d’água quando ouviu algo cair atrás de si, saiu do quarto em passos lentos só para descobrir dois homens na cozinha.

O que se encontrava no chão, além de encharcado, precisava de um banho de verdade e roupas limpas, tinha o rosto bem delineado e forte, cabelos azuis escuros, quase roxos e a encarava com um ódio que a fez recuar um passo de volta ao quartinho. O outro, de pé na entrada da cozinha, abria um sorriso de canto para cena, era imponente com sua armadura dourada, os cabelos castanhos claros grudados pelo suor estavam seguros por uma faixa vermelha em sua testa, mas aqueles olhos verdes não lhe eram estranhos.

– Olá...- ela cumprimentou, mais dentro do seu quartinho do que fora.

– Olá o cara$%@! O que pensa que está fazendo, menina estúpida? – o homem no chão a respondeu, levantando-se desajeitadamente e indo para cima dela.

– É melhor parar, Máscara. – a voz suave do outro homem era carregada de um aviso implícito que ficou claro quando os dois viram a flecha encaixada no arco- Essa deve ser sua nova serva – e, dirigindo-se à moça que mal se via dali – Prazer, sou Aioros, cavaleiro de Sagitário e babá de seu senhor Cavaleiro de Câncer, Máscara da Morte – ele disse, apontando com a cabeça para o homem na frente da moça – Agora se nos der licença, tenho que jogá-lo no banho, termine seus afazeres sem preocupações.

Aioros deu um sorriso educado e puxou Máscara dali para os aposentos da casa, deixando uma jovem um tanto quanto chocada para trás. Ela, por sua vez, respirou fundo e terminou de puxar a água de seu quartinho e da cozinha, passou um pano e arrumou suas coisas como pôde no pequeno cômodo. No quarto de Câncer, Aioros soltou o companheiro de armas com uma careta de desagrado.

– Mas que coisa, Máscara! Desse jeito eu vou ter que colocar uma focinheira em você!

– Ah, me deixa em paz, Aioros! – o outro resmungou tirando a camiseta fedida e as calças manchadas de...comida? Talvez... – Eu não quero uma serva para ficar se metendo nos meus assuntos!

– Assuntos? Os únicos assuntos que deveria ter é seu dever como Cavaleiro! Você é uma vergonha para Athena!

– Lá vem o santo Aioros e sua moral inabalável. Vem cá, você por acaso não quer ir morrer por alguém, não?

– Ora seu! – a flecha que tanto fora apontada para o companheiro, finalmente foi atirada, não fossem os reflexos inumanos do outro cavaleiro, Máscara da Morte estaria morto, de novo. Mas a flecha apenas se fincou na parede acima da cama de Câncer, vibrando.

– Está doido!? Tá querendo me matar?

– Se amanhã cedo não estiver pronto, eu não vou errar, prometo – Aioros se virou para sair, mas se lembrou de algo – Ah, e é bom quando eu voltar a sua serva estar sem qualquer arranhão, fui claro?

– Cristalino – o outro resmungou, sentando na cama de casal.

– Ótimo – e dessa vez sim ele saiu e deixou o companheiro sozinho para xingá-lo.

Dia Seguinte, durante a tarde, Casa de Câncer.

– Hey! Sarah? Está viva? – Aioria, preocupado com a moça, esgueirava-se pela casa.

– Estou na cozinha! – a resposta aliviou o rapaz que foi direto ao cômodo.

A mudança no lugar era visível, os armários, a pia e a mesa não estavam mais empoeirados, o fogão e a geladeira foram esfregados até brilharem e o chão estava recém lavado. A moça, usando vestido, concentrava-se em desenformar um bolo na mesa.

– Isso está com um cheiro bom...- o rapaz comentou já puxando uma cadeira – Do que é?

– Laranja, mas pode tirar o olho que esse é para o meu senhor. – ela deu um pulinho de alegria quando o bolo saiu inteiro da forma.

– Mas eu não mereço nem um pedaço por ter te salvado ontem? – ele perguntou com o olhar de cachorro que caíra do caminhão de mudanças.

– Não – a decepção do rapaz foi clara e a moça riu, indo até a janela de onde pegou um outro bolo que deixara para descansar e colocando na frente dele junto com uma faca– Mas merece um bolo inteiro, toma, esse aqui é seu – ela disse voltando para pia e se pondo a lavar a louça suja.

– Você é uma santa – ele disse cortando um pedaço do bolo morninho e enfiando na boca – Hum, delícia! Mas de onde você tirou os ingredientes? Qualquer comida que existisse aqui devia ter vida própria.

– Descobri isso de manhã – ela respondeu sem se virar – Fui na vila e comprei tudo o que precisava, de comida a produtos de limpeza, de sabonete a panos de chão.

– Nossa, o Máscara devia estar de bom humor para te dar todo esse dinheiro.

– Bom humo? Ele tem disso isso? – ela perguntou rindo – Não, nada do tipo, o Cavaleiro de Sagitário passou aqui e o levou, comprei as coisas por conta própria.

– Por conta própria? Mas deve ter sido caro! Diga-me quanto foi, pelo menos para eu te pagar dessa vez.

– Não, não precisa. Eu tenho um pouco guardado, não me fará mal gastar com a minha nova casa – ela comentou, esfregando a forma farinhenta – Mas, Aioria, você e o senhor Aioros são parentes?

– Somos irmãos, porque? – ele respondeu, a voz um pouco abafada pelo terceiro pedaço de bolo que enfiara na boca.

– Não, por nada, vocês dois são parecidos, é só isso – ela deu de ombros, terminando a louça e indo se sentar ao lado do cavaleiro – Hey! Nesse ritmo você vai acabar com o bolo todo hoje!

– Mas é que está tão bom! – ele disse com um suspiro – ó, experimenta – o cavaleiro cortou um pedaço e ofereceu à garota que deu uma mordida generosa – alguém está com fome!

– Desculpe – ela terminou de mastigar o bolo e se levantou, voltando a por a cozinha em ordem – É que como não tinha comida nessa casa eu só comi uma maçã na vila.

– Já é final da tarde, mulher! Coma algo antes que desmaie! – Ele também se levantou e fuçou pelo lugar até achar um bom e fresco pão, invadiu a geladeira, pegou queijo e presunto, fez um sanduiche e colocou num pratinho na mesa, pegou a garota pelos ombros e afez se sentar, sentando-se também em seguida – Pode tratar de comer! A vida nessa casa não será agradável e o Máscara não será um senhor gentil, portanto trate de se cuidar, pelo menos quando eu não estiver por perto.

– Tá bom – ela resmungou, constrangida pelos cuidados do rapaz e atacou o sanduiche com toda a fome que estava sentindo, acabando com um suspiro aliviado – Comer é tão bom...

– Você é das minhas! – ele comemorou rindo e voltando ao seu precioso bolo.

Os dois ficaram ali na cozinha até a noitinha, ela limpando e arrumando, ele comendo e conversando, ajudava com o que ela não alcançava e contava sobre o santuário já que ela não parecia saber muito sobre lá. O cavaleiro foi embora levando o que sobrara de seu bolo pouco antes do dono da casa aparecer e ir direto ao quarto sem nem cumprimenta-la, o cavaleiro de Sagitário apareceu pouco depois, indo para a cozinha se servir de um copo d’água.

– Boa noite, senhorita...perdão, mas qual é o seu nome? Ontem deixei de perguntar.

– Sou Sarah – ela respondeu com um sorriso enquanto tirava do forno uma carne assada suculenta – Será que o meu senhor está com fome? Não sabia se ele queria comer algo...

– Vou ver com ele, deixe a mesa posta, por favor.

– O senhor também deseja comer?

– Não, eu... – ele já ia terminar de recusar quando o aroma da carne o invadiu e seu estômago já vazio do almoço reclamou – Sim, eu adoraria.

Ela sorriu e colocou a mesa para os dois, a carne já cortada em fatias generosas, uma cesta de pães, azeite e suco fresco de maçã. Câncer foi arrastado a contra gosto para a cozinha e sentado para comer junto de Aioros que, assim, como o irmão, não se fez de rogado e logo tratou de atacar a comida. Máscara não parecia tão faminto, mas comeu bem o que já não fazia a tempos considerando que apenas almoçava e só o fazia no refeitório comunitário dos cavaleiros que não servia a melhor comida possível. Terminou com um arroto satisfeito, tomou um pouco mais de suco e se levantou, indo para o seu quarto sem ter dito qualquer palavra toda a refeição.

– A culpa não é sua – Aioros disse depois de ver a moça suspirar quando Máscara deixou a cozinha – Ele é assim com todo mundo.

– Eu sei, Aioria me contou – ela respondeu, tirando o prato de Câncer.

– Meu irmão? Espero que ele não esteja te atrapalhando...

– Não! Pelo contrário, Aioria é um alívio depois de tanto trabalho.

– Que bom – ele ficava feliz de saber que o irmão não era um incomodo. Terminou de comer e fez questão de tirar seu prato e colocar na pia mesmo sob os protestos de Sarah, ele pegou suas mãos e deu um beijo em cada, deixando a moça corada e muda na hora – Agradeço pela comida, estava uma delícia, espero que tenha uma boa noite, senhorita.

– O-o senhor também – ela gaguejou sorrindo feito idiota enquanto ele se retirava e ia para sua própria casa – Mas o que raios foi tudo isso?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Não, não é só medo do escuro" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.