Dave segurou firme a arma, focou no alvo e inspirou fundo a brisa fresca de outono. Ficou um tempo olhando para o nada, apenas apreciando o momento de paz. O tiro certeiro perfura o alvo exatamente no centro.

— Tente vencer essa. – Desafia.

Matteo ergue a espingarda e mira, mas erra o tiro.

— O que está acontecendo com você? Parece tão irrequieto – questiona Dave.

— Eu estou bem, só não sou muito bom com tiros a alvos, prefiro atirar em coisas que se movam. – Responde o príncipe Italiano.

— Sinto muito, mas meu pai proibiu jogos com qualquer tipo de animais.

— Ele é um bom homem, seu pai. E um excelente rei. Mesmo lá na Itália nos admiramos muito ele.

— Ele é. Se um dia eu for metade do governante que ele é eu já ficarei feliz.

Matteo larga a arma no chão e despede-se do amigo.

— Eu tenho que ir ou meus pais são capazes de ir embora sem mim. Além disso eu prometi para uma pessoa que iria embora logo.

— Namoradinha italiana?

— Não exatamente.

Após a partida do Italiano Dave pratica mais alguns tiros antes de voltar aos jardins do palácio, onde encontra Lara cavalgando em seu pônei.

— Mamãe não te proibiu de cavalgar aqui? – Pergunta Dave.

— Quem se importa. Ela ficou bem mais legal depois que o papai melhorou, aposto que nem vai ligar. – Responde a princesa. – Quer apostar uma corrida?

— Cadê a Lizzie?

Lara faz uma careta e desmonta do pônei.

— Ela tá brincando com as Selecionadas.

— E por que você não brinca com elas?

— Você sabia que o papai vai me dar um cavalo de aniversário? Eu vou poder montar um cavalo grande e fazer aqueles negócios de pular as coisas. – Ela desvia do assunto.

— Lara, qual o problema com as Selecionadas?

— Eu não gosto delas porque elas querem te afastar da gente. Assim como aconteceu com o Jack.

Dave aproxima-se de Lara.

— O caso do Jackson é diferente. Eu não vou embora e não vou me afastar de você, não importa o que aconteça.

O príncipe puxa a irmã para um abraço.

— Eu vou estar sempre aqui para brincar com você.

— Então vamos brincar!

O príncipe dá risada.

— Do que você quer brincar?

— Futebol!

Dave foi pegar uma bola e arrumou as pequenas traves no gramado. Um tempo depois Dominique aproximou-se.

— Espero não estar atrapalhando, estava passeando no jardim quando os avistei. Estava pensando se... se eu poderia jogar com vocês?

— Não, não pode – respondeu Lara rapidamente e recebe um olhar de repreensão do irmão. – Tá, você sabe jogar?

— Sei, eu jogava muito com os meus irmãos e sempre ganhava deles. – Responde Domi.

— Então você vem para o meu time – requere Lara.

O jogo começa e pouco tempo depois Ana, Alyssa, Rosie, Elise e Olívia. Saltos foram jogados longe, vestidos se sujaram, mas com certeza todos se divertem.

— Eu tenho que ir trabalhar, mas foi muito bom jogar com vocês – diz Dave.

O jogo continua por mais alguns minutos até que a rainha se aproxima.

— Domi passa para cá! – Grita Lara.

A selecionada chuta bola, mas um súbito vento faz com que a bola mude de direção. A bola meio suja de terra e lama mancha o vestido vermelho da rainha.

— Essa não.

— Não fui eu – acrescenta a princesa esperando por uma grande bronca.

A rainha olha para a mancha marrom em sua roupa, depois para a bola e por fim para as meninas. Seus olhos azuis brilham. 

— Divertindo-se meninas? Aproveitem bem essa oportunidade, tanto a vencedora quanto as eliminadas provavelmente não terão a chance de jogar futebol todas juntas no palácio. – Diz a Rainha – Eu nunca fiz esse tipo de coisa quando tinha a idade de vocês.

Eleonor chuta a bola de volta para as Selecionadas.

— Mas por favor diminuam o barulho, tem gente precisando trabalhar.

***

— Você parece nervosa. Não precisamos de formalidades aqui – disse Dave.

— Desculpe alteza, é força do hábito – desculpou-se Queen.

— Pode me chamar de Dave

— Sim, claro alt... Dave

O príncipe parou de andar e sentou-se em um dos bancos, conduzindo Queen a fazer o mesmo.

— Por que você parece ter receio de se soltar? De ser você mesma?

— Acho que pelo mesmo motivo que vossa alteza, digo, você, estava com receio no início da Seleção. Eu fui criada para agir assim, sempre tão polida. É uma situação nova, confesso que estou nervosa... Às vezes eu me pergunto se existe uma verdadeira eu por trás disso tudo ou se eu acabei me tornando essa pessoa.

— É claro que existe a verdadeira você e se não está feliz com suas atitudes, mude-as.

— Eu só tenho tanto medo de decepcionar minha mãe. É como se eu pudesse ouvi-la todo o tempo me dizendo o que fazer.

— Sei bem como é ter uma mãe exigente, eu só decidi ignorar essa voz a um tempo atrás. Mas diga-me, por que sua mãe bota tanta pressão em cima de você?

Queen ficou um tempo em silêncio pensando na resposta.

— Eu não sei direito, a maioria das pessoas na casta dois nasce com pressão para tornar-se famosa, mas minha mãe tem essa mania de grandeza, sempre disse que eu nasci para ser uma rainha, eu não sei bem o motivo, talvez ela já pensasse na Seleção desde aquela época, mas eu também acho que tem alguma coisa a ver com o meu. – Queen para respirar. As palavras simplesmente saem de sua boca, colocando em voz alta pensamentos que ela nunca tinha admitido – Ele a abandonou ainda gravida, não sei nada além disso. Talvez ela queira provar alguma coisa. A questão é que ela me criou para ser uma rainha.

— Eu sinto muito por nunca ter conhecido meu pai. Nem imagino como teria sido minha vida sem o apoio do meu pai.

— Bem, isso me incomodou a maior parte da minha vida, eu queria muito saber quem ele era, por que tinha me abandonado, mas agora acho que já superei, pelo menos na maior parte do tempo.

— De qualquer jeito sinto muito.

Lágrimas escorriam pelos olhos de Queen. O príncipe tenta mudar de assunto.

— Pensei que seus olhos fossem azuis.

— O quê? – Pergunta Queen meio perdida.

— Seus olhos, estão cinzentos, mas eu pensei que fossem bem azuis.

— Ah, eles variam de cor, minha mãe diz que tenho olhos temperamentais, variam de acordo com meu humor.

— O que o cinza quer dizer.

— Se estiver meio apagado, como eu presumo que está agora, é porque estou triste, provavelmente chorando. Mas se estiver bem vibrante, saia de perto porque significa que eu estou irritada – ela dá uma risada fraca e Dave acompanha.

— E o azul?

— Geralmente por que eu estou feliz. Se estiver verde é porque eu estou mentido.

— Bom saber. Viu? Você está sendo você mesma agora. Não importa o que as pessoas pensem, é sempre melhor ser você mesma.

Queen abriu um sorriso sincero. O príncipe limpou as lágrimas dos olhos dela, agora de um azul vibrante e a selecionada aconchegou-se nos braços do príncipe observando as estrelas. Embora tão próxima do príncipe, seu coração estava a quilômetros de distância.

***

Durante o jantar a maioria das Selecionadas comentava sobre o jogo enquanto algumas lamentavam por não ter participado. A agitação era tanta que a maioria não percebeu a falta do Rei.

— Cadê o papai? – Perguntou Lizzie.

— Provavelmente ainda está resolvendo o tratado de comércio com os Italianos, ouvi dizer que a negociação foi difícil. – Opinou a Rainha.

— Na verdade já está tudo certo, todos eles já partiram inclusive – contou Dave.

A Rainha dá um sorriso satisfeito por Dave estar enterrado nos negócios, mas logo seu rosto assume um ar de preocupação.

— Então onde está o Philip? – Todos permaneceram em silêncio – Estou sem fome e já vou me retirar, com licença.