“Ele a amava de um jeito totalmente bruto, mas o sentimento era verdadeiro.”
Romero sentia o sangue fervilhar, quem aquela desgraçada achava que era?
“Desde quando você sai com ele?” O homem vociferou com ódio, apertando o braço da loira.
“Me solta! Eu te disse um milhão de vezes que é só um trabalho da facção! “ Atena rugiu de dor, ele estava realmente machucando-a!
Quem Romero achava que era afinal?
Ele se fingia de bonzinho e até transava com a sem sal, mas ela não podia se divertir com outros homens! Achava aquilo muito injusto...mas quem era Atena/Francineide para saber algo sobre justiça?
“Responde, vadia!” Jogou-a no sofá com força, fazendo-a sentir as lágrimas que tanto segurara invadirem seu rosto.
“Eu já disse pra me soltar! Tu tá me machucando, Romero! Já disse que minha vida não é da sua conta!” Limpou a umidade rapidamente, sentido novas lágrimas brotarem enquanto se levantava do sofá e o encarava ,seu olhar carregado de mágoa, desprezo, medo e...no fundo, todo o amor que sentia por aquele homem arisco e que jurou esconder para si. O ativista tentava encontrar palavras, nunca a vira tão frágil em toda sua vida! Sentia-se o ser mais imundo do universo ao saber que a culpa era toda dele, sempre foi dele, levantou a mão até o rosto molhado dela, limpando as lágrimas que invadiam, vendo-a cerrar os olhos de medo.
Romero arregalou os seus, abaixando a mão imediatamente enquanto sentia um bolo se formar na garganta.
Ela achava que seria agredida ...
Era um monstro, sua mãe havia dito, Paty havia dito, admitia que era, até se divertia com isso.
Mas ver aquela cena o fez querer se dar um tiro…
Ele a usou, maltratou tanto a única mulher que o amava de verdade que agora ela tinha medo do quão violento ele era.
Ela tinha medo de seu olhar.
Tinha medo de suas mudanças de humor.
Ela.
Tinha.
Medo.
Ela tinha medo…
Dele.
E aquilo foi pior do que ter levado um tiro.
Atena não merecia isso, era bandida sim, mas apesar de tudo, amava-o e sempre o socorria quando precisava de ajuda.
O choro baixo da mulher a sua frente o fez sair de seus pensamentos.
“Acaba logo com isso, me xinga, me bate, faz o que você quiser, mas vai rápido!” Sua voz não passava de um sussurro rouco do fundo de sua garganta dolorida, ele passou os olhos pelo estrago que havia provocado, seu cabelo loiro sempre impecável estava uma bagunça, seus olhos castanhos curiosos, agora tristes e inchados, frios, sem vida nenhuma, via as olheiras em baixo deles ainda que cobertas pela maquiagem estragada, ela usava um vestido preto que não cobria muita coisa, passou os olhos pelo corpo agora esquelético e pálido, marcado por hematomas cobertos, viu a marca que havia causado em seu braço e sentiu lágrimas fluírem de seus olhos.
Passou tanto tempo vidrado em seu golpe que tinha esquecido a razão de executá-lo.
Fazia aquilo tudo por ela, para ficar ao lado da loira pelo resto da vida e terem um futuro financeiramente estável sem precisar trabalhar para a facção.
Tinha boas intenções, mas nada compensava o fato de ter destruído a vida da mulher que amava.
Levantou a mão, vendo-a se encolher e abafar um soluço, a abaixou mais uma vez temeroso.
Depois de todas as surras que deu nela, tinha medo de tocá-la.
Suspirou e sorriu tristemente, encontrando o olhar ferido dela.
“Eu não vou te machucar” Avisou “Me deixa só… me deixa tocar você, Atena! Prometo não te machucar!”
A loira suspirou, desviando o olhar e assentindo vagarosamente, o ongueiro levantou suas mãos trêmulas em direção aos braços ossudos e marcados dela, que saltou de susto, mas permaneceu calada.
Beijou cada hematoma do corpo dela carinhosamente, subiu os beijos para a testa, os olhos, as bochechas, o queixo e, por fim, a beijou nos lábios transmitindo todo o arrependimento que sentia, sentiu-a vacilar e apoiou as mãos fortes em sua cintura, as mãos dela subiram trêmulas para seu cabelo, fazendo carinhos ali e arranhando seu couro cabeludo devagar.
Ele a levou até a cama, deitando-a amoroso, algo invade sua mente com um estalo.
Ele estava fazendo o que sempre fazia, aproveitando-se da fragilidade da golpista
Prestou atenção as lágrimas que ainda deviam no rosto dela.
Medo de ser espancada. De ser usada. De fazer algo que o irrite e isso resulte no primeiro tópico.
Suspirou, saindo de cima dela e ajudando-a a se levantar.
“Me desculpa… Por tudo!” Abraçou-a, suavemente, tremendo de emoção e medo de feri-la mais uma vez , chorou copiosamente em seu ombro como uma criança, algo que não fazia desde a morte de Djanira.
Sentiu os braços finos e sem força dela o envolverem lentamente o que o fez sentir vontade de chorar mais.
Depois de tudo o que tinha feito...ela seria capaz de perdoá-lo?
Romero não acreditava, aquela mulher o queria de volta?
Sentiu algo molhado em suas costas, Atena chorava junto com ele.
“Ali, no meio daquele espaço onde por tanto tempo trocaram declarações e farpas, seria onde recomeçariam sua vida.”