Fracos escrita por Safira Lins


Capítulo 6
Capítulo 6: Oxigênio e confiança


Notas iniciais do capítulo

FELIZ 2016!!!
Foi um fim de ano e começo agitado, então demorei a postar, mas cá estou com nosso sexto capítulo e muito feliz com a minha primeira recomendação!!! Muito obrigado Marcia e por todos que estão comentando, é importante pra mim



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Visão de Hermione Granger

As pessoas passam a vida inteira fugindo da certeza da morte. Todos sabem que irão morrer um dia, mas o mistério do que acontece conosco quando nosso coração para de bater é assustador.

Eu já pensei em como eu iria morrer, durante a guerra minha mente estava cheia de coisas como essa, eu sentia estar muito perto da morte e fantasiava que se eu fosse morrer, seria de uma maneira gloriosa, como morrer no lugar de Harry ou minha morte ser um acontecimento importante que levaria o nosso lado da guerra para a vitória, estas pareciam mortes ideais para mim.

Superando todas as minhas expectativas, eu escapei de morrer na guerra para morrer aqui, em um espaço minúsculo no fundo do castelo de Pégaso com Draco Malfoy, e minha morte não significará nada, pessoas continuarão morrendo e Harry nunca vai saber da verdade. Eu gostaria muito de ser mais positiva e pensar que Draco e eu vamos sair vivos dessa, mas eu realmente não faço ideia de como irão nos tirar daqui, e como se não bastasse o loiro esta com um ferimento grave, perdendo muito sangue.

–Tem uma faca na bolsa, deve ser do Blásio, para colher evidencias – eu digo a retirando de um dos bolsos da bolsa de Gina e examinando a lamina que parecia bem afiada.

–Você não pode estar falando sério. Eu não vou deixar você me cortar com isso, – Draco parece decidido e assustado ao mesmo tempo – você não é médica.

Ignoro o loiro. Agito minha varinha e transfiguro um caderno de Blásio para se tornar um relógio, o ajusto no horário certo para sabermos quanto tempo temos aqui.

–Você esta perdendo muito sangue...

–Eu sei... – o loiro respirou fundo e se esforçou para sentar-se em uma posição melhor, o espaço pequeno o impedia de esticar a perna direito – Esta doendo muito. Onde esta Gina com o Blásio?

–Faz só quinze minutos que ela foi atrás dele... Temos que ter paciência – a frase transmite esperança, mas estou claramente nervosa.

–Você esta bem?

–Estou nervosa – eu admito

–Não fique, eu sou o cara sangrando, você tem que ser a menina que segura a barra.

–O que você tem nos bolsos?

–A chave do meu quarto – ele respondeu – e você?

–Nada, mas na bolsa temos duas facas, uma lamina, um mini microscópio, um caderno, três livros, duas penas, sacos coletores de provas e uma luva, tudo do Blásio, no outro bolso eu achei as coisas da Gina, um kit de higiene e maquiagem, uma garrafa de água com menos de um gole e além da câmera fotográfica trouxa que eu dei pra ela no verão passado.

–Para que uma câmera trouxa?

–Gina gosta da estética e profundidade da fotografia trouxa, não se mexe, mas com certeza fala por si só.

Draco fecha os olhos e encosta sua cabeça na parede, ele esta sentindo muito dor, mas eu não posso aliviá-la se ele não me deixar fazer a cirurgia.

–É por causa do assassino que estamos aqui

–Talvez ele nem saiba que estamos aqui, - eu digo encostando minhas costas à parede – e se sua teoria estiver certa, ele é o único que conhece os caminhos...

–Ela esta certa. Você mesma disse que no corredor da direita alguém tinha passado recentemente

–Eu não entendo o que ele quer comigo... – eu suspiro – O que ele esta ganhando isso?

–Não sei, talvez ele só goste de matar pessoas.

–Não parece ser isso... Ele mata a vitima rapidamente e retira os olhos... O assassino está coletando almas pra alguma coisa, e nos envolveu nisso por um motivo lógico.

–Não é dinheiro... Vai me falar por que escondeu que você e o Blásio são irmãos? – Draco deu um sorriso presunçoso

–Foi preciso.

–Só isso que vai dizer?

–Espera que eu conte a história da minha vida?

–Eu mereço. Você não acha? Eu contei sobre minha mãe, pague sua dívida.

–Eu não pensei que isso fosse um jogo parar existir uma dívida

–Para de enrolar Hermione. Você vai ter que me dizer, sabe disso.

Eu olhei o loiro profundamente nos olhos cinzentos e respirei fundo. O Malfoy arrogante parecia tão indefeso enquanto sua perna sangrava... Só parece, é claro.

–Não posso ti dizer tudo ainda... Mas eu tinha uma missão importante, e esconder minha origem era necessário.

–Deixou que todos pensassem que era sangue ruim tanto tempo. Por quê?

–Eu já disse, era importante pra missão. E eu também não sou sangue puro, sou mestiça. Blásio e eu fomos criados como irmãos, mas não compartilhamos o mesmo sangue, você pode até ver pela cor da pele, mamãe e Blásio são negros e eu sou clara, de qualquer maneira, Isabel Zabini foi à única mãe que eu conheci, e eu amo minha família.

–Por que será que eu sinto que tem mais coisa que você não esta me falando?

–É tudo que você precisa saber.

–Você tem muitos segredos, Hermione.

–Você não é bom o bastante para me julgar...

–Não, isso é bom, – ele me interrompeu – assim você não me deixa entediado...

Draco interrompeu a si próprio com um gemido, rapidamente tive uma ideia, tirei meu casaco, amarrei dois dedos à cima do ferimento do rapaz e apertei com força.

–Isso vai estancar seu sangue, vai dar para esperar pela ajuda.

–Você é boa nisso – o loiro comentou com uma cara de dor arrumando sua perna em uma posição mais confortável

–Obrigado, eu li muitos livros de medicina nas férias. – eu sorri

–Não nisso, de fingir que se importa comigo – ele disse diretamente com a cara séria, mas não estava olhando pra mim.

Eu me calei não sabia como responder a isso. Eu não me importo com o nojento do Malfoy... Importo-me? Talvez. Sei que o acho um tremendo idiota preconceituoso.

–Uau... Nem vai responder? Pensei que essa seria a hora que o grifnório faria um grande discurso de ajuda ao próximo.

–Você é um babaca. Qual é seu problema conosco?

–Vocês vivem em um mundo de fantasia, esse é meu problema com vocês – ele me olhou.

–Fantasia? Por quê? Por que somos leais e honrados? – eu rebati

–Por que você e o Potter me salvaram de morrer duas vezes, e por quê? Eu não me importaria de salvar você se fosse o contrário

–Para um sonserino você é bem corajoso, ou muito burro para dizer isso pra garota que você depende para viver, sabia que eu poderia matar você agora e me dar mais 12 horas de oxigênio?

–Corajoso eu não sei, mas burro não, ti conheço o bastante pra saber que não tiraria a minha vida para viver.

–Eu mudei de ideia, você é sim muito mau.

–Perfeito, bem melhor assim.

O que?

Que cara mais estranho, por mais que eu tente dialogar com ele no talvez nosso último momento de vida, parece que ele se esforça para continuar sendo um grande idiota. Por Merlin, como eu odeio Draco Malfoy!

Quando toda essa confusão acabar não quero nunca mais olhar pra cara dessa doninha loira.

–Hermione! Malfoy!

–Gina! – eu gritei de volta ao ouvir a voz da minha amiga – Onde esta o Blás?

–Ele não consegue entrar, a claustrofobia.

–Mais que desgraçado! – Draco grunhiu se remexendo agoniando com a situação e a dor na perna ferida.

–Eu trouxe ajuda...

–Srta. Granger, Sr. Malfoy. Vocês estão bem? – ouço a voz da diretora McGonagall, a uma serie de outras vozes atrás delas que ruem preocupados, reconheço alguns professores.

–Malfoy esta sangrando muito, ele precisa de cuidados médicos. – eu gritei de volta – e nós já estamos há meia hora aqui em baixo, temos só onze horas e meio antes do oxigênio acabar e matar nós dois sufocados.

–Vamos começar a trabalhar agora em uma solução. Fiquem calmos

–Tudo bem

–Nada de bem, - Draco diz gemendo – a dor esta ficando pior.

–E só vai piorar... Preciso que me deixe fazer a cirurgia.

–Tudo bem... – o loiro respirou profundamente – Acha que pode fazer isso sem me matar?

–Acho que sim.

–Aqui não da pra “achar” Hermione, é sim ou não.

–Não sei se percebeu Draco, mas sou a única coisa que você tem, e vai ter que confiar em mim.

–Isso esta me deixando louco. Faça alguma coisa.

–Esta me dando permissão?

–Sim.

Visão de Gina Weasley

Pessoas entram e saem pela passagem secreta, pelos corredores posso ouvir os passos apressados de uma equipe de adultos que debatem o melhor a se fazer na situação, eles parecem estar longe de chegar a uma solução.

Meu coração bate tão rápido e tão alto que temo que alguém possa ouvi-lo, eu estou soando, desesperada, sufocada dentro daquelas paredes, meu cabelo ruivo gruda na testa com o suor e eu precisei jogar todo para trás e amarrá-lo em um coque mal feito, rendida pelo calor e a agonia de estar lá e não pode fazer nada, eu subo as escadas e saio pela passagem secreta.

Sou uma mulher de ação! É insuportável estar aqui olhando sem saber o que fazer!

Ao redor da passagem, varias pessoas do castelo estão ao redor olhando, já passou da hora de recolher, mas aqueles curiosos estão loucos por notícias.

Blásio Zabini esta sério, com os braços cruzados e os olhos vidrados na passagem secreta, mas não parece que irá fazer qualquer coisa pra salvar a irmã.

–Eu não acredito que você se recusa a ajudar, ela é sua irmã.

–Eu não me recusei – o rapaz negro revirou os olhos

–E como você chama isso? – eu perguntei desabotoando minha camisa de mangas compridas, estava um calor insuportável lá em baixo e minha camisa ensopada de suor

–Paralisação por fobia. Se eu entrar ali é capaz de termos três pessoas para resgatar

–Eu faço então – eu digo enquanto tira a camisa e ficando apenas com uma fina blusa que eu usava por debaixo.

–O que? Eu não sei por onde começar, não vi nada.

–Então começa a pensar! – eu berrei

–Diminuiu o tom, Ginerva – ele diz disfarçadamente baixo apontando discretamente para uma direção – ou seus amiguinhos irão ouvir e descobrirão que nosso namorinho é uma farsa.

Pelo canto dos olhos posso ver Harry e Rony no meio dos outros alunos procurando saber o que estava acontecendo.

Sem pensar duas vezes me atiro em Blásio, entrelaço meus braços ao redor do seu pescoço e grudo nossos corpos em um abraço intimo, o moreno não tem nenhuma reação, fica parado como uma estatua.

–Me abraça, agora – eu ordenei baixinho no ouvido do rapaz que me obedeceu mesmo que relutante pondo as mãos na minha costa – eles estão nos vendo, por favor finja que esta me consolando.

Blásio não esta nenhum pouco confortável com uma pessoa tão perto dele, o conheço pouco, porém sei o quanto é antissocial e nada chegado a outras pessoas, nunca vi nem mesmo Hermione o abraçando. Minha blusa é um pouco decotada, e um pouco dos meus seios estão à mostra, pressionados ao peito dele, eles devem parecer ainda maiores nesta posição, suponho que por esse motivo ele não ouse olhar para baixo.

A noite do baile foi difícil, ele mal tocava em mim, e eu era a encarregada de nos fazer parecer um casal com coisas bobinhas tipo segurar sua mão em alguns segundos ou o tocar no braço e as costas, sem falar que Blásio é um péssimo dançarino, completamente travado e desconfortável com outros casais dançando tão perto de nós.

–Isto com certeza não é necessário – ele diz perto do meu ouvido, ainda no nosso esquisito abraço forçado – não sei por que você insiste em ficar tão perto de mim

–Blásio... – eu respondi em um sussurro cansado, me esforço em ser mais carinhosa e amável possível, com a cabeça enterrada em seu pescoço eu começo meu discurso – Me ouça, por favor. Nós precisamos um do outro, você tem seus motivos e eu tenho os meus, eu sei que você não gosta... De seres humanos, ou qual for o seu problema, mas nós precisamos fazer isso dar certo por um tempo, principalmente agora, nossa parceria tem que funcionar. Eu mal conheço o Malfoy, até onde eu sei ele é um idiota, mas a Hermione... Eu a amo, não sei se você é capaz de sentir isso, mas ela é sua irmã e é parte do jogo para desvendar esse crime, então ela não pode morrer, isso deve significar algo pra você. Por favor, seja paciente e trabalhe comigo, nós dois somos muito diferentes, você odeia pessoas e eu as amo, você não tem sentimentos e eu sou um vulcão deles, mas isso não significa que não pode dar certo. Nós podemos ser uma dupla, você é a inteligência e eu os músculos, você desvenda o mistério e eu salvo as pessoas, todo mundo sai feliz. Pode fazer isso?

Esperei por alguns segundos que parecera uma eternidade, porém o rapaz não respondeu. Lágrimas brotaram nos meus olhos, e quando dei por mim, elas começaram a rolar pelo meu rosto e consequentemente o molharam, ainda assim ele nem se quer se mexeu.

–A biblioteca deve ter registros históricos dos Piratas sombrios

–O que? – eu não entendo o que ele quis dizer

–A armadilha é uma forma de tortura, morte por asfixia, faz parte da história do castelo, a biblioteca deve conter livros que podem nos ajudar a salvá-los.

–Isso é um sim? – eu sorri

–Isso é um: Não vou perder este jogo, venha como, assistente.

–Não sou assistente, sou sua dupla.

–Chame como quiser, vamos, nós temos apenas algumas horas para encontrar uma falha.

Visão de Draco Malfoy

–Draco...

–Fale logo a má notícia

–Eu não posso petrificar ou paralisar você, - Hermione suspira sentando-se perto da minha perna com a varinha na mão, ela me olha profundamente nos olhos para dar a notícia – se eu fizer isso, seu sangue vai parar de correr nas veias e quando eu fizer a cirurgia, você pode ter uma parada cardíaca, são regras mágicas.

–Então quer dizer que além de sem morfina você não pode me paralisar para eu não me debater de dor com você enfiando uma faca em mim?

–EI, eu não faço as regras. Tô tentando salvar você.

–Tenho a impressão que não... – eu resmungo

–EI! Como estão aí embaixo? – uma voz surge acima de nós

–Draco esta piorando! – Hermione gritou de volta – Eu vou precisar fazer uma cirurgia

–O que? Não! É muito arriscado. Pode mata-lo!

–Que merda... Sou um homem morto – eu falo baixinho para mim mesmo

–Nós já estamos há duas horas aqui em baixo, se eu não fizer alguma coisa ele pode morrer, acho que eu não tenho escolha.

A voz não respondeu mais e Hermione encarou o silêncio como um sim

–Eu só vou colar suas mãos e sua outra perna no chão, assim você não vai se debater – ela diz e depois sussurra um feitiço, imediatamente sinto minhas mãos e minha perna boa presa ao chão, como se a gravidade me puxasse fortemente e me impedisse de me mover – Tudo bem?

–Sim

Surpreendendo-me completamente, Hermione Granger tirou a camisa na minha frente, meus olhos imediatamente pousaram em seu busto. Eu nunca havia imaginado a sangue-ruim sem roupa antes, a castanha sempre me pareceu sem graça, porém o que meus olhos viram não parecia se graça, sua cintura era fina e delicada, a barriga seca e lisa, e seus seios eram médios, nem muito pequenos, nem muito grandes, do tamanho certo para caber na palma da minha mão, cobertos por um recatado sutiã preto e branco.

A garota pôs sua blusa na minha boca e apertou o casaco que ela havia posto na minha perna para conter o sangue, ela realmente parecia saber o que fazia.

–Eu só vou fazer uma incisão longa para aliviar a pressão interna, no início vai doer muito, não posso fazer rápido por que nunca fiz isso antes e não posso correr o risco de cortar algo importante. Não lute para não desmaiar.

Eu apenas concordo a cabeça, assisto segurar a faca com a mão e encarar a minha ferida, nós nos entreolhamos uma última vez e meu coração da um salto batendo freneticamente de repente, eu respiro fundo e fecho os olhos.

No segundo seguinte eu sinto uma dor cortante que me faz prender a respiração, eu mordo com todas as forças a blusa em minha boca, porém não consigo evitar as tentativas falhas de me debater e me livrar da dor.

A faca rasga minha pele devagar, devagar, devagar, e parece nunca acabar, xingo mentalmente de tudo que eu consigo imaginar a maldita bruxa grifnória que esta me arrancando tanta dor, mas nada alivia, ainda sinto uma insuportável agonia que faz meus olhos lagrimarem de dor

Abro os olhos para ver a garota e me arrependo quando tenho a terrível visão da minha perna sendo fatiada e mordo com mais força, ofegante, respiro fundo repetidas vezes.

Dor, muita dor, uma agonia interminável...

Até que o sono me atinge e em alguns segundos eu caio em inconsciência.

***

Escuridão... Nada além do irritante barulho do silêncio, perdido em um sono profundo, quando meus ouvidos capitam um novo som, um ruído... Um choro, alguém esta chorando perto de mim.

Pisco algumas vezes, mas ainda estou no escuro, demoro alguns segundo para lembrar onde e com quem estou e me sinto aliviado por ainda estar vivo, apalpo o chão de barro e encontro minha varinha.

–Lumus

–Malfoy!

Hermione pula em mim e me agarra em um abraço, ainda estou tentando entender o que esta acontecendo ao meu redor e não entendo por que a rata da biblioteca esta me abraçando, afinal ainda estamos nesse buraco e somos inimigos mortais.

A moça esta outra vez vestida com sua blusa, e me aperta pela cintura, enterrando seu rosto cheio de lágrimas no meu peito. O que eu perdi?

–Meu Merlin! Eu estou tão feliz que não ti matei

–O que aconteceu? – eu pergunto ainda sem entender – Por que esta me abraçando?

–Como eu previ, você desmaiou, e tive medo se você ia morrer – Hermione responde afastando-se de mim e enxugando as lágrimas que continuavam a rolar pelo seu rosto claro – foi assustador estar aqui sozinha com um cadáver que eu causei

–Pois bem... Pode se acalmar, eu tô vivo.

Apesar de ver que eu estava vivo, a garota ainda estava chorando ruidosamente e logo viria a soluçar com tantas lágrimas.

–Hermione... Por favor, se acalme eu estou bem.

Ela não respondeu, apenas continuou chorando sozinha.

–Ei, se acalma, você não me matou.

–Sabe quantas horas ficou desmaiado?

–Não... – eu digo olhando para o relógio que Hermione havia transfigurado e me assustei, a numeração dizia 8h25min. Eu fiquei todo esse tempo dormindo e não tiraram a gente daqui?

–Eles ainda não sabem como nos tirar daqui, ainda agora explodiram alguma coisa lá em cima e não serviu pra nada, por sorte não foi forte o bastante para provocar um desabamento e nos matar.

Não respondi.

Hermione parecia desolada, mas pelo menos, não havia mais lágrimas, seus olhos castanhos transmitiam o desespero. Logo não restaria oxigênio e a Srta. Sabe tudo esta a beira da loucura por não saber como nos salvar.

Meu coração pesou, a primeira pessoa que surgiu em minha mente foi minha mãe, meu último encontro com ela não foi agradável, eu gritei, fui insensível, ordenei que ela não morresse como se isso fosse mudar alguma coisa, eu gostaria muito de poder mudar isso, abraça-la mais uma vez e de quebra encontrar Pansy.

Astoria... Meu Merlin, minha noiva deve estar desesperada. Minha pequena irmãzinha bailarina precisa de mim para protegê-la de idiotas que não a compreendem.

–Como esta sua perna? – ela pergunta de repente

–Muito melhor

–Que bom – um sorriso esboça em seu rosto

Prefiro Hermione assim... Sorrindo. Vê-la chorar me faz ficar desesperado, se a “garota esperança” esta sem esperança, então não há motivos para eu ter também.

–O que fazemos agora? – eu pergunto

–Nada

Sem mais palavras, a garota enterrou seu rosto nas mãos e encolheu as pernas. Hermione não voltou a chorar, porém parecia uma menina perdida, desolada, sem esperança, e hoje descobri que não suporto vê-la dessa forma. A castanha sempre foi uma menina muito forte, em todos esses anos até hoje durante minhas investidas de deixa-la arrasada, ela sempre me respondeu a altura, e agora que finalmente a enxergo arrasada de verdade percebo que vê-la assim não me satisfaz da maneira que eu pensava.

Talvez seja o medo da morte, isso afeta nossas emoções e nos faz sentir e fazer coisas que jamais faríamos em um bom dia, tipo ter pena de Hermione Granger.

Será que vamos mesmo morrer?

Temo essa pergunta e ainda muito mais essa resposta, por mais que eu tente não pensar nisso, em meus devaneios não consigo encontrar uma forma de eles no tirarem daqui sem nos soterrar ou até coisa pior. Nós dois estamos morrendo devagar, talvez já até estejamos mortos, esperando nosso fim completo, acabou para mim e Hermione, amanhã estaremos além da morte.

Baixo os olhos sentindo uma onda de tristeza tomar meu coração, sentindo minha morte mais perto e me arrependo de não estar mais tempo vivo e salvar minha mãe de morrer de Lithius. Arrependo-me de não ter cuidado melhor de Pansy e Astoria...

E papai! Arrependo-me de não tê-lo perdoado, agora ele esta em Azkaban, esperando sua execução, e apesar de saber que o ódio entre nós é reciproco, eu gostaria de ter feito minha parte e o perdoado por ser um péssimo pai.

Olho minha perna, e dentro do meu coração sinto um respingo de gratidão, a cirurgia salvou minha vida e quase não sinto mais dor na perna que esta enfaixada com o casaco de Hermione.

–Hermione? – eu chamei a garota que ainda esta com as mãos tapando o rosto – Hermione?

A castanha baixou as mãos e me olhou com ódio

–Se for alguma gracinha engula suas palavras, Malfoy, eu mereço morrer em paz.

–Eu sei... – foi à única coisa que eu respondi, demorei um tempo formulando o que eu deveria dizer, e por fim decidi dizer o mais simples e o que agredia menos o meu ego Malfoy – Obrigado.

–Por nada – ela respondeu com uma careta, surpresa comigo – o que esta sentindo?

–Muita sede – eu respondi mordendo os lábios secos

–Eu também... E fome, se sairmos daqui, eu vou querer um hambúrguer bem grande.

–O que é um hambúrguer?

–Você não sabe? – ela sorriu. Por Merlin! É muito melhor vê-la sorrindo, desse jeito quase me esqueço de que vamos morrer – É como uma carne muito gostosa que colocamos no pão, se sairmos, eu ti apresento.

–Eu vou cobrar

–Pode cobrar

Ficamos em um silêncio estranho nos minutos seguintes, até Hermione me surpreender pela terceira vez e se aproximar de mim, por reflexo eu me mexi assustado com a proximidade da garota.

–Calma, eu só quero ficar perto de alguém.

Sem conseguir encontrar palavras, eu apenas assenti com a cabeça, então Hermione Granger “deitou-se” no meu colo, o fundo do poço sendo muito estreito, ela apenas sentou ao meu lado, de frente para mim e inclinou seu tronco para cima de mim, apertou-me em um abraço pela cintura e encostou sua cabeça no meu peito, e assim ficou, sem dizer qualquer palavra.

Depois de alguns segundos decidindo como reagir aquele carinho, eu apenas a abracei de volta. Se vamos morrer mesmo, não há mal em receber um abraço pela última vez.

Visão de Gina Weasley

–Não adianta Blásio, não há nada aqui!

–Tem que estar! Um castelo tão antigo quanto esse precisa ter registros dos antigos donos, isto não faz sentido.

O relógio avisa que Malfoy e Hermione estão no poço há 11h e o desespero começa a me atingir, pois já estamos há horas examinando cada livro da prateleira de história da biblioteca e não encontramos nada relevante sobre os Piratas sombrios.

Blásio não desiste, não para, folheia cada livro, concentrado em encontrar seja lá o que ele realmente esta procurando, são sete da manhã, passamos a noite inteira na biblioteca e o sono tem me deixado mais lenta, meus olhos estão pesados e eu ameaço cair no sono a qualquer instante, tudo o que eu consigo pensar é em como Hermione deve estar, que jeito mais odioso de se morrer, asfixiada com seu pior inimigo.

Morto seja esse assassino.

Blásio fechou o último livro com força

–Não esta aqui!

–Então vamos voltar lá, entre naquilo e ache um jeito de tirá-los de lá.

–Preciso de informações, Ginerva.

Ignoro o fato de ele ter me chamado de Ginerva outra vez e me atiro em uma cadeira totalmente exausta

–Eu sei onde está. Venha comigo

–O que? Pra onde?

Ele correu para fora da biblioteca e eu o segui, subimos as escadas as pressas até o próximo andar, Blásio parou de correr e encarou uma porta fazendo algum tipo de feitiço que eu nunca vi antes, ao perceber de quem é a sala tomo um susto.

–E da dona do castelo, Celestina Warbeck, precisamos da permissão dela pra entrar.

–Não temos tempo para isso. Entre logo – o moreno me empurrou pelas costas para dentro da sala

Durante os próximos dois minutos, estou encantada com a decoração espalhafatosa e azul, mas Blásio esta concentrado nos livros da estante.

–Achei alguma coisa

–O que? – eu corro para o seu lado

–O livro da história da Ilha, - ele diz com os olhos vidrados em um enorme livro vermelho vinho, velho e provavelmente muito manuseado, é possível ver pelo estado das páginas e algumas palavras grifadas com tinta de pena – contém informações sobre os Piratas e a construção do castelo.

–O que diz aí?

–Durante o século XVI até o século XVIII o mar sul das terras mágicas era terreno de caça para os piratas que atacavam primeiramente os navios ingleses, mas posteriormente aqueles de todas as nações com colônias e postos avançados de comércio na área. As tripulações de piratas eram formadas por todos os tipos de bruxos, desde sangue puro a sangue-ruim que procuravam na vida de pirataria riquezas, as tripulações eram normalmente muito democráticas, o capitão era eleito por ela e podia ser removido a qualquer momento, porém um grupo de piratas em particular ficou famoso pela maneira brutal e cruel que saqueavam os navios inimigos, os Piratas sombrios, a tripulação do temido capitão Killian Bartholomew, o terrível.

Esta tripulação em particular foi a responsável por inúmeros ataques durante quinze anos, acumularam muitos tesouros durante seu reinado de terror e quase nunca deixaram sobreviventes, graças a seus conhecimentos profundos em artes das trevas. A ancoração do navio era quase sempre na Ilha Pégaso, onde os Piratas sombrios construíram sua própria civilização e adotaram o hebraico como sua língua oficial para tornar sua comunicação imperceptível para os inimigos.

–O livro contém informações das armadilhas do castelo?

–Não muitas, mas pode ser o bastante.

–O que faremos agora?

–Você vai entrar pela passagem e ser os meus olhos

–Como?

–Nos comunicamos através de um feitiço, você diz o que vê e eu digo o que fazer.

–Ótimo, vamos fazer funcionar.

Visão de Hermione Granger

–Já passaram 11h15min... – eu sussurro

–Ainda tem esperança de a gente sair daqui? – Draco perguntou baixinho

–Um pouco, sou realista.

Ainda estamos abraçados no chão, porém quase não falamos, a agitação poderia nos tirar oxigênio e não queremos apressar a morte.

Esfrego meu rosto na blusa de Draco e aspiro o perfume amadeirado que ainda resta no tecido, o rapaz respira profundamente afagando meu cabelo e me aperta mais forte em seus braços musculosos, tudo tão carinhosamente e docilmente que não consigo deixar de pensar que nós perdemos tempo nos odiando por tantos anos, quem sabe, talvez, houvesse uma possibilidade da vida de nós termos sido amigos.

Nossa... Não acredito que realmente estou pensando isso sobre o Malfoy, há falta de oxigênio deve ter causado em mim alguma confusão mental.

Mesmo se sairmos daqui, ela ainda será o mesmo rapaz arrogante que me odeia.

–Hermione, qual é seu pior arrependimento? – ele pergunta baixinho – Tipo se saísse daqui, uma coisa que iria querer corrigir.

Imediatamente pensei em Harry.

–Não vou contar pra ninguém, a gente vai morrer mesmo.

–Eu... Iria contar a verdade para um amigo – eu admito

–Sobre você e Blásio?

–Sim, e outras coisas a mais para o Harry.

–Sei, o testa rachada – ele diz e eu me afasto alguns centímetros para o olhar feio nos olhos, mas ele resolveu ignorar meu olhar e perguntou – Contar o que?

–Não vou dizer, Draco, eu já disse o bastante.

–Ok, teimosa. E o que mais vai fazer?

–Continuar uma busca

–Pelo idiota que nos colocou nisso, eu espero.

–Também, - eu sorri, com todo esse diálogo sobre morte, eu até já havia me esquecido do patife que indiretamente nos trouxe aqui – é mais uma busca pessoal.

–Você também vai fazer mistério sobre isso?

–Não... Acho que posso falar sobre isso

–E o que é?

–Um romance, amor verdadeiro, provar para o meu irmão que existe – eu sorri calorosamente fantasiado sobre como deve ser estar apaixonada – eu sempre quis isso, entender o amor, ser amada, esse parece um bom motivo para lutar em um mundo tão cretino como o nosso.

–Não acredito em amor, - ele diz calmante, sem seu tom provocativo, apenas sendo sincero sobre algo que ele pensa, e eu gostei disso – pessoas se interessam por outras pessoas e sugam o que elas querem, um relacionamento de troca de favores e desejos, nada como os poetas românticos querem fazer com que a gente acredite.

–Nunca sentiu isso por uma menina?

–Senti desejo, paixão eu acho, nada que durasse até eu conseguir o que eu queria, uma noite de sexo, só isso. Não quero uma menina no meu pé enchendo o saco com ciúme e picuinhas que não me interessam

–Entendi... Talvez você só não tenha encontrado a garota certa ainda.

–Ou talvez eu viva no mundo real

–E sua noiva?

–Astoria?

–Sim. Você também só quer sexo dela? Ela parece tão... Pura

–Eu nunca nem beijei a Astoria – ele riu – ela não parece, ela é uma puritana.

–Você deve odiar isso.

–Até que não, pelo menos até agora. Nós dois sempre nos damos bem, e nossas famílias sempre acharam que um dia nós nos casaríamos, ela é fantástica, ti faz sentir bem. Entende?

–Sim...

–Ela é uma boa ouvinte, tem um incrível dom de perdoar pessoas e é muito sonhadora, tipo muito ambiciosa, ela não quer ser só uma bailarina, ela quer ser a melhor bailarina da história e escrever sua própria peça de balé, uma sonserina do jeito dela, é uma irmãzinha para mim.

–Ela parece encantadora – eu sorri – e uma bailarina... Até posso imaginar

–Sim, ela é ótima nisso, uma artista mesmo.

–Você vai ficar surpreso, mas eu sei cantar um pouquinho.

–Você? Cantar? – ele arregalou os olhos cinzentos, exageradamente surpreso com a revelação – Não acredito nisso, me mostra.

–Quero deixar minhas pegadas nas areias do tempo, saber que havia algo lá e algo que deixe para trás,– eu comecei a cantar - quando eu deixar este mundo, não deixarei arrependimentos, deixarei algo para ser lembrado, e eles não se esquecerão

–Linda voz, Hermione – ele sorriu encantadoramente.

–Obrigado.

–Por que nunca ti vi cantar antes?

–Ninguém leva a sério uma cantora sangue-ruim, então eu prefiro ser só uma bruxa muito inteligente, afinal eu não canto tão bem assim.

–11h50min... – Draco alertou olhando o relógio – O oxigênio esta quase no fim... Se eu ao menos pudéssemos fazer mais

–Talvez eu possa! – eu saltei de repente tendo uma ideia brilhante – tire as pilhas da máquina fotográfica da Gina

Pulei na bolsa e procurei até achar o kit higiênico, ainda tinha um pouco de sabão, peguei o saco de provas e a garrafa de água.

–Aqui – ele me deu as pilhas da máquina fotográfica – o que você esta fazendo?

–To tentando a sorte com um purificador de dióxido de carbono

–O que? Fala minha língua.

Peguei uma faca e raspei o sabão pondo na sacola, abri as pilhas e suspirei de alívio, as baterias eram feias de íon lítio, raspei o lítio com a faca e despejei junto das raspas de sabão, sem entender nada, Draco apenas me olhava.

–Bicabornato de sódio e lítio reage com altas concentrações de dióxido de carbono – eu disse enquanto adiciona o único restante de água que tínhamos a formula, imediatamente os ingredientes formaram bolhas e chiaram como quando abrimos uma lata de refrigerante – o resultado é ar.

–Você fez oxigênio? – Draco sorriu largamente e me apertou em um abraço – Você é brilhante menina!

–Obrigado – eu sorri, muito animada com o que fiz – isso vai nos dar um pouco mais de tempo

–Hermione? Malfoy!

Ouvimos Gina gritando, porém a voz não vinha de cima e sim do nosso lado.

–Não respondam. Se estiverem vivos batam duas vezes

Eu bati duas vezes na parede e podemos ouvir Gina suspirar de alivio do outro lado

–Vou tirar vocês daí

Gina Weasley

–Blásio, segui o que você pediu, encontrei a lateral do poço que Hermione e Malfoy estão, e eles ainda estão vivos.

Uma esfera azul citoplástica feita com magia é o meu comunicador com Blásio. Estou em um corredor muito estreito provavelmente ao lado do fundo poço, e existem figuras estranhas na parede, tenho medo de tocá-las devido a o que aconteceu na última vez que toquei.

–O que você vê? – a voz de Blásio soa abafada saindo da esfera citoplástica, porém ainda é audível – Tem imagens?

–Não, são tracinhos, pontos, não sei o que.

–Tracinhos? Seja mais exata

–Parecem instruções

–Desenhe o que você vê na esfera

–Ta bem

Com cuidado, toco na fria esfera de luz e ela se abre como uma lousa, com o dedo eu desenho o que vejo: תא

–É hebraico

–Onde vamos encontrar alguém que fale hebraico? Eles estão quase sem oxigênio

–Eu falo hebraico

–Como assim? Por que alguém saberia falar hebraico

–Parecia mais interessante do que aprender ucraniano. O que mais você vê?

–Não consigo entender...

–Jogue água na parede

–Ta bem – eu respondo enquanto jogo um jato de água de água salgada pela varinha na parede – Ok. Vou desenhar o que restou e agora também tô vendo uma escultura dentro da parede, acho que é o capitão com a boca aberta.

עינויים בחנק, להסרת עצורים לפתוח את הפה של הקפטן קיליאן

–Você tem que destrancar a boca do capitão, enfia a mão na boca.

–esta bem.

Mesmo com medo, enfiei minha mão na boca aberta da escultura e senti uma corda melequenta nos meus dedos, a puxei e a parede ao meu lado começou a se mover, finalmente encontrei Hermione e Malfoy no chão. Salvei a vida deles!

–Vamos encontrar o assassino - Hermione diz com firmeza - depois disso nada mais pode me matar


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