PDV SAM PUCKETT

Talvez eu estivesse perdendo aquele meu lado duro e sem sentimento. Não sei o que estava acontecendo comigo, apesar de saber muito bem o motivo. Contraditório não?

(***)

–Garota! Não jogue pedra aí!

Olhei para trás e vi um guarda me encarando feio. Eu estava sentada num banco qualquer da praça, do centro da cidade. Não tinha nada mais entediante do que está ali, vendo aquele monte de velhinhos jogando xadrez.

Pensei em jogar a pedra no guarda, ou xingá-lo com um palavrão. Mas ele não tinha culpa, só estava fazendo o trabalho dele.

Nós estávamos no final do verão e daqui dois dias as aulas voltariam. Apesar de detestar escola, acho que se eu ocupar minha cabeça com qualquer outra coisa, que não seja com aquele par de olhos castanhos, eu iria sair dessa minha "mini depressão".

"Mas você não quer um namorado Nerd né? Fica tranquila, você não terá!"

O que ele queria dizer com isso? eu sempre amei o lado "geek" dele, porém ele vinha exagerando ultimamente. Tudo bem que ele gosta dessas parafernalhas de tecnologia; ou que adora montar aplicativos. não tenho nada contra, mas aquela história de sabre...ainda não engoli!

–Talvez ele só estivesse sendo gentil! - pensei - Ou quem sabe tentando te dar alguma cultura, já que você não tem!

É ironico como em algumas situações seus pensamentos se tornam seu pior inimigo!

Dois dias depois...

Não dormi bem nos últimos dois dias, não por causa do nerd, até porque não o vejo desde o ocorrido no sótão; mas não dormi porque realmente estava impossível. Minha mãe arranjou um namorado francês e ele veio morar com nós. Eu tinha uma certa queda por franceses, mas agora não tenho mais. Ele, além de não parar de falar, fede mais do que meu gatinho raivoso.

Acordei, milagrosamente cedo. Não que eu estivesse ansiosa para ir para a escola e sim porque meu celular não parava de vibrar em cima do criado-mudo.

Ligação on

–Alô?

–Sam...até que enfim! - Alerta, Carly estressada - Por que sumiu?

–Eu não sumi Carlinha, só...precisava de um tempo.

–Sei... - É, ela não acreditou - É por causa do Freddie...não é?

–O que tem aquele idiota? - ela não respondeu, só deu um risinho sacana e suspirou - Olha Carly, vou desligar porque não quero me atrasar.

–Nossa...está animadinha para ir a escola.

–Não é animação!

Ligação off

Nem esperei ela dizer qualquer coisa, já fui logo desligando e me dirigindo para o banheiro.

–Bom di... - pensei em saudar minha mãe, mas ela estava aos amassos com o francês. Não é uma boa coisa para se ver a essa hora.

Peguei dois bolos gordos e sai da minha casa. Como ela conseguia?

dez minutos depois...

Eu andei o mais devagar que consegui, pois sabia que o veria naquela manhã, e não estava preparada emocionalmente. Porém, apesar de eu ter me esforçado, minhas pernas pareciam que queria vê-lo logo.

Entrei na escola pertubarda, era estranho estar de volta. Caras novas surgiam no meio da multidão de alunos, porém continuava a mesma coisa entediante de sempre. Alguns conversavam, outros comiam ou...

se agarravam pelos cantos. Gostaria de ter alguém para agarrar agora, quem sabe o Freddie? - que pensamentos são esses Samantha?!

Assim como no telefone, a Carly estava irritada. Motivo? Não sei, aliás, nunca sei de nada.

Me aproximei dela normalmente, enquanto a vi tacar, literalmente, os livros no armário.

–Bom dia estressadinha!

–Tenho motivo não?

–Não, não tem!

Ela levantou a mão, como se quisesse me socar, porém neguei com a cabeça. Era uma má ideia, e ela sabia disso.

–Te liguei trezentas vezes nos ultimos dois dias! - ela colocou as mãos na cintura e me olhou com seu jeito bravo - Por onde andou?

–Lugar nenhum. Estava em casa.

Bem, não só em casa, mas ela não precisava saber disto certo?

–Você está tão estranha quanto o Freddie.

–Por que? - eu não quis soar interessada no assunto, mas eu realmente queria saber.

–Eu não sei, ele só...Está muito enteressada ein Sam! - ela sorriu maliciosa, senti as maças do meu rosto queimar.

Interessada? Eu? Não pode ser.

–Olá meninas!

Talvez aquilo se tornaria comum daqui pra frente, até porque, na verdade, isto sempre aconteceu. Sempre quando ele diz algo sinto um milhão de borboletas voarem no meu intestino e minha face envermelha rigorosamente. Acho que isto sempre vai acontecer comigo.

–FREDDIE!?

Seria um pouco desnecessário relatar o que ele estava vestindo, porém não fará mal algum se eu descreve-lo mesmo assim, correto?

A começar que ele estava com uma regata super ajustada ao seu peitoral, agora depilado. Aquela regata branca demarcava de um jeito provocante o seu tanquinho definido. Vestia também uma calça de Moletom larga que realçava, de um jeito sutil, suas nádegas. Tinha nos pés um tenis cano alto da Nike e, acredite ou não, um óculos escuros.

Ele estava chamando muita atenção, e quando digo muita não é exagero. Não parava de passar meninas assobiando ou se jogando nele. Oferecidas!

–Oi Carls! - ele a deu um abraço ajeitável e depositou um singelo beijo na bochecha dela. Senti uma pontada de ciúmes.

–Oi Sam! - ele não fez o mesmo comigo, apenas acenou, e apesar da distância senti seu hálito de eucalipto inundar minhas narinas.

Nós o acompanhamos até seu armário e quando ele se abaixou para guardar os livros, vi uma tatuagem na parte interna de seus bíceps. Não era grande, mas o bastante para ser notada. Li rápido e tentando não ser notada, e estava escrito : I'll try again. O local ainda estava meio avermelhado, mostrando que não tinha muito tempo que ele havia a feito.

Carly não percebeu, ao contrário, estava entretida demais com algo no celular. Ele se levantou e nos chamou para ir para nossa primeira aula. Carly não foi, disse que iria ao banheiro, então sobrou somente eu e Freddie nos corredores da Ridgway. Incrivel como esse corredor está vazio.

–Gostei da tatuagem! - eu não queria soar decepcionada por ele não me cumprimentar como fez com a Carly, mas percebi que minha voz estava ocilante.

–Ah você viu!

Ele arqueou as sombrancelhas e enfiou as mãos no bolso. E sem querer percebi seu olhar sobre mim.