Dançando no escuro escrita por paodemelwriter


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Esse texto foi feito em parceria com uma amiga e tem como temática a Anne Frank usando a música Dançando da Pitty.

Boa leitura!



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Até pouco tempo, eu podia andar de bicicleta tranquilamente pelas ruas da nossa tão amada Amsterdã, mas de repente eu tive de me enfiar em um esconderijo improvisado para minha segurança e a de minha família. Um cubículo sufocante, e com certeza, outras
pessoas não suportariam permanecer naquele espaço em que não se tem privacidade para nada. E o tédio parecia que não ia embora, era como se todos os dias fossem muito longos. Em compensação, uma estranha esperança que por vezes se alojava em meu peito tinha uma curta duração.

Queria qualquer coisa pra domar o peito em fogo. Algo pra justificar uma vida morna.

Além disso, a comida não era suficiente para tanta gente, mas era o que tínhamos para não morrermos de fome. O período de guerra na Holanda tornou-se um verdadeiro martírio para os judeus, às vezes, sentia que éramos inocentes como cordeiros indo para o matadouro. Não há como perceber até onde isso iria e qual seria o nosso destino.

Se os bois soubessem que iriam para o abate depois de ser bem alimentados, não comeriam o pasto. Porém, éramos seres humanos, e eu, uma criança. Poucos tinham contato com o mundo exterior, traziam o que julgavam necessário. Contudo, havia algo que nada poderia preencher, nem alimentos, livros ou roupas. Arrancaram uma parte da minha vida, como uma folha de papel que não fosse fazer falta.

Eu sei que lá no fundo há tanta beleza no mundo.

Eu só queria enxergar.

As tardes de domingo.

O dia me sorrindo.

Eu só queria enxergar.

Minha mãe e eu não nos dávamos bem porque ela era extremamente crítica e eu estava cansada daquilo. Se o papai Noel existisse eu pediria outra mãe para mim, pois sinceramente ela não se parecia em nada com o que uma filha gostaria de ter. Fazia eu me sentir um soldado recebendo ordens do general o tempo todo, como se não bastasse aquele inferno que vivíamos.

Eu acho que o único que me entende é o meu diário e eu gosto de escrever o meu mundo, e tudo que eu não posso falar através dele. Posso criticar um senhor que insiste em usar o quarto justo quando eu quero ficar sozinha, e então fazer a única que me apraz que é
escrever. Sempre após o almoço, realizava algumas atividades das disciplinas gerais, o estudo e a escrita ocupavam boa parte do meu tempo. Não havia muitas distrações, além das quais me aterrorizavam. Os livros e as linhas que eu preenchia significavam uma espécie de liberdade, ao menos aparentava menos doloroso compartilhar os acontecimentos.

Mas a paz é tão longínqua quanto à felicidade. E vieram perturbar o mínimo de paz que ainda nos tinha restado, pois um informante nos denunciou e seríamos apenas mais um dos inocentes enviados a um campo de concentração, na Polônia. Mas eu preferi manter uma doce lembrança na mente para tentar ter esperança em meio a esse terror e futuro incerto.


Não esqueço aquela esquina.

A graça da menina.

Por isso eu me entrego a um imediatismo cego.

Pronta pro mundo acabar.

Minha irmã estava apavorada e se aconchegava no meu peito, apertando minha mão. Os seus olhos amendoados estavam levemente inchados, o que me fez pensar no seu choro oculto e silencioso. Naquele trem barulhento, sabia que o pôr do sol nunca mais seria o mesmo. Eu apenas queria aproveitar enquanto a tinha perto de mim. Queria me lembrar de quando dançávamos na chuva sem nos preocupar com mais nada. O seu corpo pesava sobre o meu, e eu sabia por que se apoiava desta forma sobre mim: temíamos que nos separassem. Como fizeram com nossos pais.

Assim que fechei meus olhos, percebi que estava escuro. Lá fora, e aqui dentro. A noite pode ser bem assustadora, assim como os nazistas. Mesmo que eu não tivesse uma boa relação com minha mãe, e ela agisse feito um general, tudo prosseguia da mesma forma. Mas, agora, não havia alguém que nos protegesse ou que se importasse com nossas lágrimas, sentia falta do meu pai também. Quando chegamos ao campo de extermínio, Auschwitz, estava de olhos esbugalhados e ao longe, via-se o amanhecer.

E, de alguma forma, ainda permanecia no escuro.

O mundo acaba hoje eu estarei dançando.
O mundo acaba hoje eu estarei dançando com você.


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