Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 67
Capítulo 67


Notas iniciais do capítulo

Eu estou aqui novamente e como sempre hehehehe E espero que vocês entendam esse capítulo, meus amores. Me desculpem pelas lágrimas que vocês vão chorar...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/661291/chapter/67

Um grito foi dado do alto do trono assim que o papiro foi finalmente ditado para Ramsés. Permaneci ao lado de Gab ao ver Ramsés andar de um lado para o outro, olhou amedrontada para Hur, todavia não sou capaz de falar nada. Agora todo o Egito sabe que Amun matou um dos filhos de Seti e que pretendia tomar o trono para si próprio. —Sinto meu filho se mover dentro de mim como se desejasse algo, todavia eu evito pensar que algo de errado acontece com ele. —Amun prometeu matar toda a minha família, mas eu não quero imaginar que ele irá matar uma criança.


—O que você vai fazer? —Pergunto para Ramsés. —Amun foi capaz de matar uma criança, Ramsés. O que acha que ele é capaz? Ele não está brincando!


—Eu sei muito bem, Henutmire. —Ramsés fala ainda pensativo. —Como ele conseguiu enganar todos nós esse tempo todo?


—Não se sabe. —Respondo. —O objetivo de Amun é o trono, sempre foi isso.


—E pensar que eu quase casei Yaffa e Djoser. Agora ela seria quase uma rainha. —Ramsés fala apreensivo. —Mãe dos futuros herdeiros.


—Ela já devia saber de alguma coisa. —Gab fala sugestivo. —Yaffa é para Amun o que Henutmire era para Seti. —As palavras de Gab pesam em meus ouvidos, mas não mais que a criança que carrego no ventre.

—Então temos tudo. —Ramsés fala me deixado confusa. —Traremos Anippe e Yaffa de volta ao palácio.

—Anippe? —Hur indaga confuso.


—Por que trazer minha filha de volta? —Pergunto.


—Por que Yaffa voltará apenas se Anippe voltar. —Gab fala antes que Ramsés fale o que pensa. —Faz sentido.


—Mas com que finalidade traremos ela de volta?—Pergunto curiosa.


—Yaffa virá porque Anippe virá, Henutmire. Aquela garotinha vai fazer tudo o que você mandar. —Gab fala sugestivo. —Por que assim vai agradar Djoser.


—Vocês vão usar uma garota de apenas quinze anos? —Minha pergunta faz Ramsés e Gab se olharem.


—Anippe corre perigo com Yaffa, Henutmire. —Hur fala como se estivesse apoiando meus irmãos.


—Faça Djoser escrever para a bastarda de Amun o mais rápido possível, Henutmire. —Ramsés pede. —Com Yaffa dentro do palácio, Amun não fará nada contra nós.


—E o que vai fazer para obrigar Yaffa no palácio? —Pergunto curiosa.


—Oras, Henutmire! —Ramsés fala extrovertido. —Casarei Djoser e Yaffa. —A ideia de meu irmão me assusta. —Vá me dizer que ainda não entendeu?


—Você vai estar apenas se aliando á Amun. —Falo ao lado de Gab. —Não o ameaçando.


—Teremos que correr o risco. —Gab fala me deixando surpresa. —É a nossa família que está em jogo, Henutmire.


—Nossa? —Pergunto irônica. —Desculpe não entendi.


—Parem. —Ramsés pede ao ver que eu e Gab estamos a ponto de brigar na sala do trono. —O importante agora é trazer Yaffa para o Egito...


(...)


—Tem certeza que vai fazer isso? —Pergunto ao ver Djoser escrever a última palavra no papiro que será mandado para Yaffa.


—É pela minha família. E pela minha família eu faço qualquer coisa. —Djoser fala me deixando orgulhosa.


—Mas, você acha que isso é certo? —Hur pergunta. —O que vai fazer caso Yaffa volte?


—Ela vai voltar. —Djoser fala. —Mas o que vou fazer com ela ainda não sei. —Meu filho fala pensativo. —Não quero ser da mesma família que Amun, pai.


—O que vai fazer para impedir isso? —Hur pergunta para mim enquanto eu olho para Djoser.


—Prender Yaffa seria uma boa idéia. —Falo. —Mas eu não teria coragem de fazer isso com uma garota. —Falo pensativa.


—Seja lá o que meu tio planeja de fato, não é nada bom. —Djoser fala. —Eu não quero nem imaginar o que Yaffa vai pensar ao chegar no Egito.


—E Anippe? Será que ela vai mesmo querer voltar? —Hur pergunta com seus olhos brilhando com a idéia.


—Ela vai voltar. Mas ao saber o real motivo, não vai parar de falar e reclamar. —Falo. —Estamos usando ambas. Tanto Anippe quanto Yaffa... —Paro de falar ao gemer de dor. Hur então me segura firme em seus braços e me ajuda a sentar na beira da cama onde Djoser está deitado.


—O que aconteceu? —Meu marido pergunta ao pôr sua mão em meu ventre. —Ficou pálida, meu amor. Fale o que sentiu. —Ele pede preocupado comigo.


—Foi apenas uma cólica que me pegou de surpresa. —Minto, a dor foi muito maior para ser apenas uma cólica. Hur não pode saber, mas essa gravidez de fato está me matando aos poucos. —Logo ficarei bem.


—Você não vai ficar bem, está ficando mais pálida. —Hur fala e então eu olho para Djoser.


—Mãe, o que está acontecendo com a senhora? —Djoser pergunta assutado, talvez eu esteja ficando muito pálida.


—Eu não sei. —Falo segurando firme nos braços de Hur. Começo a ficar tonta, mas consigo manter meus olhos abertos.


—Me ajude a deitar sua mãe. —Hur pede ajuda ao nosso filho. Eles então me ajudam a deitar na cama, mas eu ainda me sinto tonta. —Se sente melhor? —Hur pergunta ao tocar em meu rosto com toda sua delicadeza.


—Claro. Já está passando... —Minto. Eu então seguro na mão de Djoser e sorrio ao vê-lo preocupado comigo. —Foi apenas um mal estar. —Falo enquanto sinto minhas forças voltarem aos poucos.


Já não é a primeira vez que sinto isso, talvez não seja a última. A verdade é que o sangramento que tive deixou mais que claro, deixou ainda mais óbvio que estou fraca, mas que aos poucos a criança está crescendo e tomando toda a minha força. Paser tem toda razão, no parto apenas um sairá com vida. —Mas eu não posso ser egoísta com um filho. Eu seria a pior mulher do mundo se assim fizesse. —Mas não nego que ainda não aceitei o fato de que irei morrer. Não quero e nem posso fazer isso com meus filhos, muito menos com Hur.


(...)


—O que não se sabe é onde Amun está. —Ouço Ramsés falar assim que ponho os pés no jardim.


—Mesmo assim. Devemos ter muito cuidado com ele. Amun sabe que Henutmire é frágil e insegura demais quando o assunto é a família, Ramsés. —Ouço Gab falar e então me escondo para ouvir a conversa. —Já imaginou o que ele pode fazer com a criança que está no ventre dela? E com a própria Henutmire?


—Não me atormente, Gab! —Ramsés fala no exato momento em que ponho minha mão em meu ventre. —Henutmire está frágil, eu sei. O certo seria mandá-la com Djoser para o Alto Egito, ou então para a ilha de Philae. As sacerdotisas iriam cuidar dela na hora do parto e Djoser ficaria a salvo com a guarda real. —Ramsés aconselha. —Eu não me surpreenderia se Amun rasgasse o ventre de Henutmire para assim ter a criança em mãos como uma forma de vingança.


—Mande-a para longe, Ramsés. É o certo a se fazer. —Gab fala temendo pela minha vida. —Amun está louco. Somente Deus sabe o que ele pode fazer com Henutmire.


—Eu não quero nem imaginar, Gab. Não quero nem imaginar o que Amun faria se tivesse Henutmire em suas mãos. —As palavras de Ramsés me fazem imaginar o pior. Com certeza Amun seria capaz das piores atrocidades.


—Temos que proteger Henutmire com essa criança e Djoser. —Gab insiste. —Paser me falou que a gravidez dela é perigosa...


—Ela sabe o risco que corre. Mas Henutmire vai até o fim do mundo pelos seus filhos. Não viu como foi com Moisés? Henutmire e nosso pai quase se mataram por isso. —Ramsés fala nostálgico. —Não vê como ela é com Djoser?


—Os filhos são a nossa continuação. Mas Henutmire ama seus filhos mais que tudo por eles serem a extensão dela mesma. —Gab fala orgulhoso. —Viu como Anippe é parecida com ela?


—Anippe e Djoser são cópias autênticas de Henutmire, Gab. Djoser herdará apenas a totalidade dos fios de cabelo do pai e a humildade, os olhos são os mesmo de Henutmire. —Ramsés fala antes de se voltar para Gab com uma certa desconfiança. —Mas Anippe também se parece com você...


—Não me diga que ainda pensa que eu e Henutmire...


—Anippe herdou traços da família que somente você e Henutmire possuem. —Fico incrédula ao ouvir Ramsés falar com tanta desconfiança. —Os fios de cabelo, os olhos... Até mesmo a personalidade duvidosa Anippe tem em comum com você.


—O pior erro de Anippe foi ter nascido em uma família cujo o avô era Seti e os tios são Ramsés e Gab. Espero que aquela garota não se torne como nós. —Gab deseja como se estivesse prevendo algo no futuro de Anippe.


—Não quero duvidar da integridade de Henutmire. —O faraó fala infeliz consigo mesmo. —Mas Anippe...


—Se deseja ouvir de minha boca que Anippe é filha de Gab, você vai ouvir. —Falo ao aparecer de surpresa para ambos. —Não esperava isso de você, Ramsés.


—Não me culpe se Gab espalhou isso aos quatro ventos e agora Amun usa esse mentira para ter o trono. —Ramsés fala na defensiva. —Mas...


—Um dia você me ouvirá dizer que Gab é pai de Anippe, Ramsés. Mas neste dia estarei tão louca que nem mesmo Amun irá acreditar em mim. —Falo fazendo Ramsés me olhar com espanto.


—Todos sabem que isso é mentira. Henutmire. Não se altere. —Gab pede convencido de que irei cometer alguma loucura.


—Como não posso me alertar ao saber que Ramsés agora dúvida da minha integridade? —Pergunto brava. —Você é sangue do meu sangue, Ramsés. Partilhamos do mesmo ventre! —Minhas palavras fazem Ramsés me olhar envergonhado. —Eu poderia esperar isso de qualquer outra pessoa, menos de você.


—Vamos sair daqui, Henutmire. —Gab pede ao segurar firme em meu braço. —Você não precisa mentir para tirar a dúvida de Ramsés. —Ele fala envergonhado e então me empurra como se quisesse de fato me tirar daquele jardim.


Meus olhos azulados acabaram se encontrando aos olhos extremamente azuis de Gab, de fato Anippe parece ser uma continuação apenas nossa, mas não é. Anippe é minha filha, não de Gab. Maldita foi a hora em que Gab foi impedido de ser rei por culpa da minha mãe. Talvez agora eu estivesse em paz e não em guerra com Ramsés sobre a paternidade de Anippe. Mas, mesmo que Gab não fosse meu irmão, eu não seria louca o suficiente para trair Hur com ele. A única coisa que sinto em relação à Gab é pena, antes era ódio e temor, mas agora é apenas pena. Pena porque lhe roubei tudo que era de direito.


—Sabe porque nosso pai não te trouxe para cá? —Minha pergunta é plena de fúria ao lembrar das mentiras de Gab assusta-o. —Por que não havia espaço para você.


—Não havia porque todo o espaço era seu. —Gab fala tomado pela fúria. —Eu sei muito bem que todo o Egito tinha olhos para a única filha de Seti, para a princesa invejada, a filha legítima. Mas saiba Henutmire, que nem por isso deixo de ser filho de Seti. O sangue que corre em suas veias é o mesmo que o meu. —Ele me enfrenta. —Você querendo ou não seus filhos tem o meu sangue.


—Mas eles não são seus, são meus. —Falo estarrecida com as palavras de Gab.


—Mais seus até mesmo mais do que de Hur? —Gab me pergunta com um certo deboche.


—Sim, Gab. Djoser e Anippe são mais meus do que de Hur. —Falo. —Não haverá outro príncipe ou outra princesa que sejam mais gloriosos e puros que eles. —Respondo. —Nenhum filho meu será bastardo como você. —Minhas palavras feriram o seu ego, notei isso em seu olhar. —Dói saber que um hebreu assume seus filhos e um faraó não, Gab? —Pergunto comparando Hur e meu pai. Vejo Ramsés dar alguns passos adiante, mas para de andar ao ver Gab frente a frente comigo.


—Não dói mais do que ver você se tornando uma mulher vil. —As palavras do meu irmão bastardo não foram mais dolorosas que o peso de minha mão em seu rosto. Seus olhos estavam faiscando de tanto ódio assim como os meus. Não adianta, no final eu e Gab nunca seremos irmãos na prática. —Gosto de saber que está descontando todo o ódio que nutria por nosso pai em mim, Henutmire. Por fim está liberando todo esse rancor. —Gab segurou firme em meu pulso quando o levantei novamente, desta vez ele não permitiria outro tapa em seu rosto. Vejo em seus olhos uma certa fúria, que na verdade é o reflexo do puro ódio dos meus olhos.


—Solte Henutmire! —Ramsés ordena ao fazer por onde Gab soltar o meu pulso. Gab então respirou fundo ao ver Ramsés disposto a me defender. —Sei que não sou a melhor pessoa para falar isso, mas devemos estar unidos agora. —O reconhecimento de Ramsés me faz respirar fundo e então me recomponho diante da situação. —A situação é complicada entre nós, eu sei muito bem disso. Mas não devemos seguir com tanto ódio...


—Você estava agora mesmo quase gritando aos quatro ventos que Gab é pai de Anippe, sendo que ele não é... —Interrompo Ramsés com minhas palavras plena de indignação e repugnância.


—Enquanto a isso vamos deixar para conversar depois. —Ramsés fala ainda com uma certa dúvida sobre a paternidade de Anippe.


—Anippe é filha de Hur, Ramsés. Se ela não fosse, teria sido atingida pelas pragas. —Minhas palavras fazem Ramsés enxergar o óbvio, assim seus olhos são plenos de pena. —Esse é o melhor argumento que você pode dar para aqueles que ainda duvidam disso, meu irmão.


—Eu não entendo que espécie de características são essas que todos os meus irmãos têm, menos eu. —Ramsés fala com uma certa dificuldade óbvia em entender a lógica. —Acaso existe alguém na nossa família com olhos tão claros como os seus e de Anippe?


—Nossos pais não, mas nosso avô paterno sim. Quando eu era jovem estudei sobre a nossa família, e as características minhas e de Gab são herdadas de Ramsés I. —Falo ao entender que Ramsés está confuso. —Mas isso não significa nada, Ramsés.


—Como não? Mas parece que você deu continuidade as verdadeiras características da família e eu não. —Acabo por entender tudo. Ramsés ainda está magoado pela morte do filho. E mais magoado ainda ao saber que Amenhotep não possuía as caraterísticas primárias da família real. —O sonho que tive com Amenhotep morto... —Meu irmão fala e assim desperta até mesmo a curiosidade de Gab. —Aquele sonho se concretizou.


—Todos os sonhos devem se concretizar. —Gab fala, assim Ramsés me olha ainda mais atormentado. Neste mesmo sonho Ramsés estava morto, assim como em meus sonhos a coroa estava em mim e não nele.


(...)


—Parece que foi um dia desses que ele nasceu. —Falo para Hur ao ver Djoser adormecido em nossa cama. Tento memorizar cada momento de Djoser como se eu mesma estivesse prestes a partir e nunca mais vê-lo.

—Está deixando de se parecer tanto com você. —Hur brinca, mas eu não sorrio, apenas observo Djoser descansar. —Ele ainda está muito assustado com tudo o que aconteceu.


—Não era para menos. Não é todo dia que um mar se abre. —Brinco. —Se eu mesma estivesse lá não iria acreditar. No mínimo teria desmaiado com tanto medo... —Falo ao me imaginar em meio ao povo hebreu. —Eu gostaria tanto de estar lá agora. Como acha que Anippe deve estar? Ela não tem a mínima ideia do que é viver no deserto sem rumo.


—Anippe tem fé, muita fé. E uma pessoa que vive de fé, não padece nem mesmo em um deserto. —Hur acaba me confortando com suas palavras e então eu me recolho em seus braços sem ao menos ele oferecer um abraço.


Hur entende que eu preciso de consolo porque estou ferida por dentro, ele melhor do que ninguém me entende. Uma de suas mãos faz carícias em meu rosto enquanto minha cabeça está em seu ombro, é uma leve sensação de paz e estabilidade emocional que sinto agora. Estar nos braços de Hur me faz esquecer que há rebeldes nos portões da cidade e dentro dela mesma.


—Não vejo a hora dessa criança nascer. —Hur fala feliz e então eu olho bem para o seu rosto. —E pensar que ela está aí dentro de você como Djoser e Anippe estiveram.


—Você vai amá-lo como os outros? —Pergunto ao olhar para o rosto de meu primogênito


—Claro que vou, Henutmire. —Hur fala ao segurar meu rosto com suas mãos. —Essa criança é nossa. Além de ser meu filho, também é filho da mulher que amo. —As palavras de Hur me fazem rir. —Não quero perder vocês. Já me basta ter Anippe tão longe e Uri sem vida. —Noto que Hur sente receio e assim me sinto culpada. Culpada por saber que não vou resistir ao parto. —Acho que, fora essa criança, verei apenas Djoser crescer. —Meu marido brinca e então eu o abraço novamente com mais força.


—Eu te amo muito, Hur. Te amo mais que minha própria vida. —Falo completamente apaixonada. Hur então me abraça com mais fervor e então choro em seus braços. —Não. —Falo ao ver Hur a ponto de enxugar minhas lágrimas como sempre fez. —Não são de tristeza, mas sim de amor.


—Não quero que chore por mim, Henutmire. Não quero que chore por nada, entende? Estou te fazendo feliz, não estou? —Hur pergunta e eu concordo que sim. —Então não chore por mim. —Ele pede risonho e então eu aceito sua condição. Seus lábios se chocam com os meus assim que fecho os olhos, minhas mãos ainda trêmulas percorrem de seus ombros até sua nuca o puxando mais para perto de mim.


—Prometo não chorar. —Falo assim que interrompo o beijo.


—Tenho que ir na oficina buscar algo para você. —Hur fala ao pôr suas mãos quentes e fortes em meu ventre. Suas carícias me fazem arrepiar, mas eu acabo rindo ao ver a concentração de Hur para com meu ventre.


—Você pode buscar depois. —Falo ao querer Hur perto de mim, mas ele insiste em ir.


—Prometo não demorar. —Hur fala antes de depositar um beijo em meu ventre e então sorrio ao vê-lo tão carinhoso. —Eu volto logo. —Hur fala antes de me beijar novamente e se despedir.


—Já posso abrir os olhos? —Djoser pergunta assim que Hur sai de meu quarto.


—Você estava acordado? —Pergunto ao ir até Djoser em minha cama. —Não tem vergonha de fingir que está dormindo?


—Não queria incomodar o momento. —Djoser fala pleno de ironia e então eu faço cócegas em meu filho. Sua risada enche o local de alegria. —O que meu pai foi buscar?


—Ele não me disse muito bem. Mas conhecendo seu pai, deve ser algo bom para mim. —Falo orgulhosa de Hur. —Deve ser algum presente para seu irmão.


—Com certeza deve ser. —Djoser argumenta risonho. —Ele está feliz por que vai ser pai de novo.


—Seu pai é carinhoso, uma das melhores virtudes dele. —Falo ainda risonha, mas logo fico séria ao olhar para o ferimento de Djoser. —Ainda dói muito?


—Apenas quando forço a perna. —Djoser fala assim que tenta se sentar na beira da cama com a minha ajuda. —Mas eu já posso andar.


—Djoser, não se esforce! —Falo, mas meu filho se levanta da cama no momento em que o repreendo. Ele então dá alguns passos e fica de pé sem a minha ajuda me fazendo sorrir de canto.


—Eu estou bem, aos poucos vou me recuperar. —Djoser fala sorridente, mas seu sorriso se desfaz assim que ouvimos passos apressados e Paser adentrar em meu quarto. Ponho Djoser para trás de mim tentando protegê-lo de algum mal, mas fico aliviada por ver que nada vai acontecer.—O que diabos está acontecendo? —Djoser pergunta assustado.


—Ainda bem que os dois estão aqui a salvos. —Paser fala enquanto eu vejo guardas passarem pelo corredor e outros ficarem em frente ao meu quarto. —Invadiram o palácio. —Paser informa. A primeira pessoa a quem penso é Hur. Meu marido pode ter sido atacado! —Foram alguns rebeldes.


—Hur. —Falo e então ponho a mão em meu ventre. Vejo uma certa dúvida e temor nos olhos de Paser e por isso me preocupo. —Onde está Hur, Paser? —Pergunto ao ouvir gritos.


—Eu sinto muito. —Paser fala lastimoso e então olho para Djoser tentando entender. Meu filho então tenta me fazer por onde sentar na cama, mas eu permaneço de pé. —Mas o senhor seu marido, assim como outros nobres, ouviram os gritos dos invasores e então foram para a sala do trono... —Paser tenta me contar alguma coisa, mas parece não estar pronto. —Era uma armadilha.


—C-como? —Pergunto assustada ao imaginar o que aconteceu. Olho assustada para Djoser que a essa altura já deve ter entendido tudo.


—Hur foi encontrado morto, minha rainha. —Paser fala pausadamente, mas suas palavras parecem ferir o meu coração. Como assim? Como Hur pode estar morto? —Ele tentou se esconder na sala do trono no momento em que os rebeldes de Amun estavam lá para matar o rei.


—Meu pai foi de encontro a morte. —Djoser fala um pouco pensativo, mas então ele olha seriamente para Paser.


—Meus sentimentos, soberana. —Paser lamenta. —Lamento por quê sei o quanto feliz Hur estava com a gravidez da rainha.


Fico sem chão com as palavras de Paser. Olho para Djoser assustada e então ponho as mãos em meu ventre, todo o peso que sinto parece aumentar ao ouvir as palavras de Paser. Eu escutei muito bem, não estou ficando louca como penso. Como isso foi acontecer? Como eu não pensei nisso antes? Claro que Amun não chamaria a atenção para matar Hur. Amun faria isso como um covarde que é! Covarde por ter matado o meu amor, o pai da criança que carrego no ventre com tão pouco tempo.


—Onde ele está? —Pergunto assustada ao sair dos meus aposentos apressada procurando Hur.


—Senhora, não vá! Senhora, por favor! —Paser pede ao me ver andar rápido como um louca procurando por Hur. Seguro firme no pano de meu vestido para que eu possa andar melhor sem risco de tropeçar.


—Henutmire? —Ramsés indaga ao me ver atordoada. —Henutmire, volte para os seus aposentos!


—Onde ele está? —Pergunto olhando para todos os lados. Ramsés segura firme em meus braços, mas eu consigo me desvencilhar de suas mãos.


—Não permitam que ela vá até ele! —Ramsés ordena aos seus oficiais. Mas eu então vejo Gab e Ikeni na entrada da sala do trono olhando para algo.


—É ele. —Falo ao tentar entrar, mas sou impedida por Gab como fui por Ramsés. —Me solte, Gab! —Ordeno ao me irritar pela insistência de Gab ao não me deixar passar. Posso ver o corpo de Hur imóvel no chão frio da sala do trono, e com isso começo a chorar descompensada nos braços de Gab.


—Eu sinto muito, soberana. —Ikeni lamenta enquanto eu tento ir até o corpo de Hur.


—Henutmire, vamos embora daqui. Você não deve ver isso no estado em que está! —Gab insiste, mas eu consigo me soltar de seus braços e ir até Hur.


Não vejo sangue em nenhum local, nem mesmo no corpo de Hur. Nenhuma sinal de violência em seu corpo, nenhuma mancha ou até mesmo sinal de que ele tentou se debater. Isso deixa ainda mais claro que meu marido foi morto covardemente, sem nenhuma chance de se defender. Por que tinha que ser ele? A última vez que estávamos juntos ele prometeu que voltaria para mim. Que voltaria para mim e me mostraria o presente que seria de nosso filho, o filho que Hur não verá nascer.


—Meu amor... —Falo ao tocar em seu rosto e não ver o seu sorriso. Ponho uma de sua mãos em meu rosto na súbita tentativa de sentir mais uma de duas carícias, mas isso nunca mais vai acontecer.


—Mãe. —Djoser chama por mim ao me ver agarrada ao corpo de Hur. Meu filho se ajoelha ao meu lado e me abraça assustado, mas não olha para seu pai. Vejo Ramsés e Gab se aproximarem de mim com cautela, todavia eu fecho os olhos ao ver Hur morto em meus braços.


—Ele matou Kamés, uma criança. —Falo em relação à Amun. Sinto meus dentes trincarem enquanto balanço meu corpo com Hur em meus braços. —E agora matou Hur... —Falo enquanto choro por saber que não terei mais Hur comigo. —Ele fez isso. Matou meu marido de forma covarde... —Falo ao ver que há uma mancha no pescoço de Hur. Amun deveras ter sufocado Hur até a morte. Vejo pessoas na entrada da sala do trono tentando entender o que aconteceu. Também vejo oficiais da guarda real olhando para mim com pena e tristeza. —Prendam Amun! Prendam-o! —Ordeno para Ramsés e Gab. —Prendam-o! —Ordeno olhando para a guarda real onde Ikeni está. —PRENDAM-O! —Grito tomada pelo ódio e fúria que agora estão mais do que nítidos em meu olhar. —PRENDAM-O! —Repito inúmeras vezes ao imaginar que Amun deve estar se divertindo com minha dor. Olho para todos que começam a achar que estou louca por ter perdido Hur. Olho para meu filho que chora em meu ombro, mas rapidamente volto minhas atenções para Hur. —PRENDAM AMUN! —Grito pela última vez ao ver Hur morto em meus braços. Sinto uma necessidade súbita de matar Amun com as minhas próprias mãos.


—Henutmire, calma... —Gab pede ao se ajoelhar diante mim.


—Onde está Radina? —Pergunto ao imaginar que talvez ela tenha ajudado Amun. —E Orítia? —Pergunto balançando Hur em meus braços. —ONDE ELAS ESTÃO? —Pergunto aos berros impaciente por ninguém fazer nada para me ajudar. —EU QUERO TODOS MORTOS! —Esbravejo louca ao tocar no rosto de Hur novamente e beijar uma de suas bochechas.


—Mãe, por favor... —Djoser pede amedrontado pela situação e chora ainda mais forte agarrado a um de meus braços. —Eu quero o pai, mãe. —Djoser pede inúmeras vezes enquanto chora.


Ramsés então nos abraça sem falar uma palavra sequer, mas está claro que em seu olhar há dor. Vejo Gab me olhar assustado pelo meu estado emocional que está descontrolado. Mas eu não consigo evitar meu ódio por Amun, principalmente ao ver Djoser pedir pelo seu pai para mim e eu não poder atender o seu pedido.


—Hur não vai ver essa criança nascer por causa de Amun... —Falo ainda com meu marido em meus braços. Djoser ainda chora em meu ombro como uma criança e isso me faz sentir ainda raiva, quase um ódio. —Eu quero Oritia morta para que Amun sinta a dor que estou sentindo, Ramsés. Eu quero a filha dele morta! —Meu pedido assusta Ramsés.


—Henutmire, Yaffa não tem culpa! —Meu irmão fala ao ver que estou descontrolada. —Não vá se banhar com o sangue dela agora, minha irmã.


—Como isso acontece, Ramsés? Como? —Pergunto com lágrimas nos olhos. —Eu não quero viver sem ele, meu irmão. Você me prometeu que nada aconteceria com Hur, Ramsés. Por que eu o tenho morto em meus braços agora? —Pergunto ao pousar o corpo de Hur no chão novamente, mas em seguida ponho o meu corpo sobre o dele.


Como eu vou criar Djoser sem Hur ao meu lado em meio a tantos caos? E essa criança? Como eu vou explicar para ela que seu pai morreu antes mesmo dela nascer? Eu não sou forte o suficiente para isso! Eu não sou forte para perder o grande amor da minha vida. E pensar que Anippe está longe... Não sei se seria pior ela aqui vendo o pai morto, ou se eu errei ao ficar neste maldito reino. Em parte eu matei Hur. Sim! Eu o matei! Se Amun foi capaz de uma covardia deste tamanho, foi porque eu o irritei, porque eu sou a culpada de tudo isso. Eu desejei que meu pai morresse e assim aconteceu. Agora acontece o mesmo com Hur. Não que eu tenha pedido para que ele morresse, mas de certa eu tenho culpa.


Eu não deveria ter me casado com Hur! Não deveria porque assim ele não iria sofrer tanto por ser um hebreu e morrer por estar ao meu lado. Maldita seja a hora em que me apaixonei! Todos estavam certos! Meu casamento com Hur só traria desgraça! Porquê tinha que ser assim? Porque eu tive que perder o homem que me mostrou o mundo sem sairmos do Egito? Por que foi exatamente isso o que aconteceu. Eu amo um homem que foi capaz de me mostrar o mundo sem sairmos deste reino, mas ele não me amou o bastante para permanece neste mundo ao meu lado.


—Me deixem sozinha com ele. —Peço ao repousar minha cabeça no peito de Hur.


—Henutmire... —Gab tenta intervir.


—SAIAM! —Grito como uma louca. —Se não foram capazes de salvar a vida do pai do futuro rei, façam pelo menos o que ordeno! —Falo. —SAIAM TODOS! —Grito ao me afastar dos braços de Djoser e Ramsés. —Vá atrás de Amun, Ramsés. Me volte com esse homem morto! Faça alguma coisa pelo amor que você tem a sua vida! —Peço. —SE HUR NÃO VIVE, NINGUÉM MAIS VIVE! —Grito abraçada ao corpo de Hur. —Meu amor... —Chamo-o infeliz por não ouvir sua voz. Toco em seu rosto e espero que ele abra os olhos, mas isso não acontece. Choro infeliz por entender que ele se foi. O meu Hur se foi da forma mais covarde que possa existir.


E pensar que ele ainda planejou tantas coisas comigo antes de sair do nosso quarto. Ele tinha um sorriso tão belo nos lábios que mais parecia se despedir de mim. Ainda posso sentir a força de braços em volta do meu corpo e em seguida sua mão em meu ventre inchado. Ainda posso ouvir sua voz falando o quanto Djoser está crescendo e que sente falta de Anippe, mas que está feliz por ela. E pensar que agora não o terei mais comigo para ver a criança que carrego crescer.


—Hur... —Chamo-o ao ficar sozinha com ele na sala do trono. Cada pessoa que aqui estava saiu. —O que vai ser de mim agora, Hur? —Pergunto confusa comigo mesma. Minha cabeça dói com tantos pensamentos dolorosos. Me machuca muito saber e ver que meu marido está morto e eu não posso fazer nada.


Não há sangue em Hur, não pode ser, não pode ser que tenham matado Hur sem derramar seu sangue. Mas a mancha em seu pescoço me faz mesmo crer que ele foi morto asfixiado sem chance de defesa. —Tento encontrar machucados em seu corpo pensando que talvez Hur tenha sido agredido, mas nada encontro.

—Não pode ter morrido. —Falo na esperança de ter Hur vivo. —Deve ser algum engano. —Isso não vai ficar assim. Não pode... —Falo repetidas vezes ao ver Hur morto. —GUARDAS! —Grito como uma louca dentro da sala do trono. Apenas Ikeni aparece assustado em minha frente, mas parece que todo o palácio teme por mim. —Vá você e os outros homens atrás de Amun, mas não o matem... —Falo e então volto a olhar para Hur. —Diga para Amun que meu poder pode não ter salvado Hur, mas o fogo irá consumi-lo. Eu colocarei essa cidade á baixo para fazer justiça! 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sim, eu sei, foi doloroso. Mas eu peço que vocês não se voltem contra mim pela morte de Hur, por favor!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Coração De Seda" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.