Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 31
Capítulo 31


Notas iniciais do capítulo

Feliz Páscoaaaaaaa! Coelhinho da páscoa trouxe capítulo novo para vocês



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—Leila! Paser! —Chamo enquanto corro pelos corredores completamente desnorteada. —Simut! Alguém me ajude pelo amor de Ísis! —Peço angustiada por ninguém me ouvir. —Me ajudem...

—Princesa? —Ikeni surge acompanhado por Karoma.

—Olha o estado dela. —Karoma fala e então vem até mim.

—Chame Paser, Karoma! —Falo angustiada por Hur e irritada com os sanguessugas em minha pele. —Hur passou mal e desde então chamo por Paser...

—Eu vou atrás do sumo sacerdote, princesa! —Ikeni fala e se retira com pressa.

—Vamos até o harém, alteza...

—Não,não,não! Eu tenho que voltar para ficar ao lado de Hur...

—A senhora está muito abalada, princesa. —Karoma fala e então fere a pele com suas unhas. —E essa praga que não cessa?!

—Uri... Uri e Djoser precisam saber que Hur passou mal. —Falo levando minhas mãos á boca. —Ele foi perdendo as forças, Karoma... Quando o deitei na cama seus olhos se fecharam...

—A princesa precisa ir comigo até o harém, precisa se acalmar! —Karoma pede me apoiando em seus braços.

—O que aconteceu? —Leila pergunta apavorada ao me ver em um estado penoso. —Por que a princesa está neste estado, Karoma?

—Hur, Leila... Hur! —Falo angustiada e então Leila me apóia.

—Vamos levá-la para o harém! —Leila fala.

—Eu quero ficar ao lado dele...

—A senhora não pode. O sumo sacerdote precisa examiná-lo com calma... —Karoma tenta me convencer. —A senhora precisa se acalmar!

—O que está acontecendo? —Ramsés surge com o semblante preocupado ao me ver desamparada.

—Hur... —Respondo desvairada e então Ramsés se aproxima de mim.

—Venha comigo até a sala do trono. —Ramsés não esperou pela minha reposta, fez por onde eu me separasse de Leila e Karoma. Meu irmão me puxa pela mão até a sala do trono com rapidez, parece estar nervoso com algo.

—Por que me trouxe até aqui? —Pergunto enquanto Ramsés me leva até o trono. —Ramsés...

—Estou perdido, minha irmã. A começar por este sanguessugas que me irritam... —Ramsés fala ferindo sua pele. —Todo o Egito parece estar de pernas pro ar!

—Pelos deuses, Ramsés! Deixe este povo ir de uma vez por todas! —Peço histérica. —Eu já não suporto tudo isso. —Revelo amedrontada e então Ramsés me olha temeroso.

—O que nosso pai faria, Henutmire? —A pergunta de Ramsés não tem resposta. —Eu não sei o que fazer!

—Liberte o povo hebreu e então teremos paz! —Falo nervosa com os piolhos em meu pescoço. —Essa praga é ainda mais inadmissível que as outras...

—Eu não aguento mais! Não aguento mais esse fardo! —Ramsés fala irado e então me afasto dele. —A coroa pesa em minha cabeça, a responsabilidade dói em meus ombros...

—Basta libertar os hebreus... —Falo mais uma vez.

—Mas voltando ao assunto... O que aconteceu com Hur? —Ramsés pergunta.

—Ele passou mal e então o coloquei na cama... Mas quando me dei conta ele havia fechado os olhos. —Falo assombrada. —Talvez tenha sido o coração.

—Isso me faz lembrar a morte de nosso pai. O coração dele o traiu... —Ramsés fala nostálgico. —Se lembra do dia em que ele morreu?

—Claro que me lembro. —Respondo. —Mas se o coração de Hur parar...

—Vamos pedir aos deuses que não pare, Henutmire. —Ramsés fala e em seguida segura a minha mão. —Mas se caso parar... —Ramsés fala como se quisesse me preparar para o pior. —Você terá que ser forte por você e pelos seus dois filhos...

—Eu não vou conseguir cuidar deles dois sem Hur, meu irmão. —Falo. —O que será de mim sem o pai dos meus filhos em meio a tantas pragas?

—Paser cuidará de Hur. —Meu irmão fala. —Assim como os deuses te protegerão de todos os males. —Ele fala dando credibilidade aos deuses. Mas eu não acredito que eles terão a capacidade de me proteger. —Nem mesmo a maldade de Yunet e os venenos que ela te induzia a beber sem saber foram capazes de te derrotar, Henutmire. Você é mais forte que tudo, até mesmo que uma praga...

—Eu espero. —Falo. Mas quem saiba eu não seja forte o suficiente para resistir a morte de Hur.

—Os piolhos... —Ramsés fala e então notamos que estamos nos coçando involuntariamente, todavia nenhum piolho está em nossa pele.

—A praga acabou. —Falo.

—Nossos deuses venceram o deus invisível dos hebreus, minha irmã! —Ramsés fala pelo de orgulho e então eu desci do trono. —Não vá até lá, Henutmire. Paser cuidará de Hur.

—Meu coração pede para que eu vá, Ramsés. —Falo e em seguida faço uma reverência antes de sair da sala do trono.

(...)

—E então? —Pergunto assim que vejo Leila entrar no harém. Ao sair da sala do trono me encontrei com Karoma e ela insistiu para que viesse até o harém.

—Meu sogro está bem. —Leila fala e então eu sinto um enorme alivio em meu peito. —Paser disse que seu coração ainda está fraco. Como se tivesse se emocionado demais... —Leila fala e então me olha com desconfiança. —Alguma coisa aconteceu?

—Eu vou atrás de minha senhora, com licença. —Karoma fala e se retira de cabeça baixa.

—Eu falei sobre o que ocorreu com Djoser e Amenhotep para Hur. —Falo.

—E o que aconteceu? —Leila pergunta confusa.

—É uma longa história, Leila. Não quero voltar a contar... —Falo. —Eu já posso vê-lo?

—Uri ficou com o meu sogro assim que eu sai. Eles precisavam conversar. —Leila fala entristecida.

—Brigou com o seu marido? —Pergunto.

—A verdade é que Uri sente um certo desprezo pelo nosso povo. —Leila revela.

—Assim como Anippe...

—Mas Uri não tem sangue real nas veias, princesa. Ele é de fato um hebreu e nega a existência de nosso Deus. —Leila fala e seguida abaixa a cabeça ao sentir meu olhar cair sobre ela. —Três pragas já caíram sobre o Egito e Uri não acredita no poder do nosso Deus.

—Nem mesmo Ramsés crê. —Falo profundamente magoada com Uri. —E Anippe então... —Lágrimas rolaram em meu rosto ao lembrar das palavras de Anippe.

—A senhora sente a falta dela. —Leila fala. —Todos conseguem ver isso.

—Minha filha arruinou todos os planos que eu fiz para minha família, Leila. —Falo magoada. —Ela era uma menina tão doce e alegre, mas com o passar do tempo se transformou em uma pessoa tão amarga e soberba...

—É apenas uma fase, princesa.

—Ela se coloca acima de tudo e de todos, Leila. —Me levanto então fico se frente para a minha dama. —Eu sofro por Moisés enquanto Hur sofre com Uri. —Falo. —Enquanto nós dois sofremos juntos por Djoser e Anippe.

—Eu lamento muito, princesa. —Leila fala sentindo pena de mim. —Do fundo do meu coração eu sinto muito.

—Muito obrigada por estar sempre comigo, Leila. Você é como se fosse do meu próprio sangue. —Falo e então unimos nossas mãos.

—Somos uma família. —Leila fala emocionada. —Eu sempre estarei com a senhora.

—O sempre é muito tempo, minha querida. Com o poder desse deus não podemos saber quanto tempo teremos. —Falo e em seguida a doce mulher me abraça.

—A senhora vem falando tanto na morte que eu sempre me assusto ao imaginar esse palácio sem a sua presença. —Leila fala chorando em meu ombro.

—Então não vamos mais falar disso, minha querida...

—Eu vou com a senhora ver o meu sogro. —Leila fala enxugando minhas lágrimas.

—Não. Preciso que faça um favor para mim. —Falo. —Escreva uma mensagem para Anippe por mim, Leila.

—Para a princesa Anippe? —Leila pergunta surpresa.

—Para ela mesma. —Falo entristecida. —Avise para ela sobre Hur.

—Não será pior avisar para ela que o pai...

—Faça o que estou pedindo, Leila. —Falo e Leila abaixa a cabeça. —Peço que faça isso por quê se algo de ruim acontecer com Hur... —Leila então me olhou nos olhos. —Se algo ocorrer ela estará avisada. —Não falei mais nenhuma palavra sequer e então sai do harém acompanhada pelo meu medo.

Em toda minha vida eu nunca tive tanto medo como tenho agora. É o pai de meus filhos quem está prostado em uma cama por que soube do que nosso filho fez. Ninguém pode saber que Hur está morrendo por causa de Djoser... Seria uma vergonha para meu filho e uma carga muito grande. Mas eu sei que foi por causa de Djoser que o coração de Hur quase parou. —Lágrimas brotaram de meus olhos ao lembrar do momento que Hur precisou de meus braços para se manter de pé. —E então eu me lembro do dia em que Hur me pediu em casamento sem eu menos esperar...

Flash Back On

—Por que demorou tanto para vir até aqui, Hur? —Pergunto nervosa tendo o Nilo como paisagem.

—O soberano me chamou para conversar, Henutmire. —Hur revela e então eu arregalo os olhos.

—O que aconteceu?

—Uma coisa muita importante, meu amor. —Hur fala calmo mesmo me vendo nervosa. —E só você vai poder decidir por nós dois agora. —A primeira coisa que me veio em mente foi uma possível revolta de Ramsés contra Hur.

—O que aconteceu, Hur? Ramsés voltou a falar que não deixará nosso casamento acontecer? —Pergunto eufórica e faço Hur rir. —Ele te ofendeu?

—Você me ama, não ama? —Hur pergunta se aproximando de mim.

—Você ainda me pergunta? Você sabe que sim. Mas Ramsés segue impedindo que... —Paro de falar rapidamente ao ver Hur se ajoelhar diante mim.

—Henutmire... —Hur fala mostrando um anel para mim e então um sorriso se forma em seus lábios. —Você aceita se casar comigo?

—Mas e Ramsés? —Pergunto magoada por saber que meu irmão não se importa com minha felicidade.

—Foi para isso que ele me chamou na sala do trono. Para me avisar que permite a nossa união. —Hur fala com clareza e então um sorriso se forma nos meus lábios ao compreender tudo. —Mas agora quem dá a palavra final é você. —Um vento forte veio trazendo o frescos das águas do rio Nilo e fazendo com que o calor cessasse, mas o que mais está aquecido é o meu coração. O vento é tão forte que sinto a seda de minhas vestes lutar contra ela mesma em meu corpo e o meu cabelo interferir na visão dos meus olhos. —Eu vou perguntar mais uma vez. —Hur fala risonho e me olha amedrontado pela minha reposta. —Você aceita se casar comigo, Henutmire? —Hur pergunta.

—Aceito. —Falo baixo o suficiente para que Hur duvide de mim. Mas a emoção é tanta que eu não sei o que falar. —Mas é claro que eu aceito ser a sua esposa e passar o resto da minha vida ao seu lado. —Minhas palavras fizeram Hur colocar o anel em meu dedo e então se levantar para me olhar nos olhos. —Eu não sei nem o que dizer...

—Seu olhar diz tudo. —Hur fala afastando os fios de cabelo que insistem em esconder o meu rosto. —Temos como testemunhas o céu e o rio Nilo. —Hur fala e então olhamos para o sagrado rio.

—Hur? —O chamo e ele me olha rapidamente com atenção. —Eu te amo tanto... —Falo.

—Eu te amo muito mais. —Hur responde. —Agora volte a sorrir como sempre sorriu. —Eu de fato sorrio para ele com suas palavras carinhosas. —Eu te amo mais do que á mim mesmo.

—Então me prove. —Falo e então Hur olha a mesa repleta de frutas na tenda. Mas seu olhar vai para as flores colocadas no vaso pelas servas. —O que você vai fazer? —Pergunto enquanto vejo Hur tirar todas as flores do vaso. —Nefertari ficará uma fera ao ver o vaso vazio, Hur! —Falo e então ele volta a sorrir. —O que pretende fazer com as flores? Jogá-la em meus pés como se eu fosse uma deusa?

—Não é má idéia. —Hur fala para minha surpresa e então joga as flores brancas nos meus pés como se eu fosse a deusa Isis em vida. —Por quê para mim você é uma deusa.

—Isso é quase uma blasfêmia... —Falo sorrindo de canto a canto. Hur então fica paralisado ao se deparar com o meu olhar, eu sei muito bem o quanto ele admira a força do meu olhar.

—Não é uma blasfêmia. É a verdade. —Hur fala e então unimos nossas mãos. —Eu prometo te fazer a mulher mais feliz de todo o Egito, Henutmire...

As palavras de Hur foram levadas para os quatro cantos com o vento forte e sublime que os deuses dão para que o frescor do rio Nilo chegue até nós dois. Mas esse vento não é forte o suficiente para levar todo o amor que tenho por Hur. Nada será capaz de nos destruir enquanto eu estiver certa sobre o que sinto por Hur.

Flash Back Off

—Ela chegou. —Paser fala ao me ver entrar no quarto. Olho para Uri e em seguida para Hur que agora me olha de uma maneira estranha.

—Meu pai deseja conversar com a senhora. —Uri fala e se despede de Hur.

—Evite emoções fortes, princesa. Hur precisa de paz, caso contrário seu coração não irá resistir. —Paser sussurra em meu ouvido antes de se retirar.

—Venha cá. —Hur me chama e estende a mão. Então eu seguro em sua mão e me sento ao seu lado com cautela.

—Você me assustou.

—A dor foi mais forte que eu. —Hur confessa fraco. —Mas eu não senti medo ao fechar os olhos e ter como última lembrança o seu rosto.

—Não fale assim, Hur. Eu fiquei tão desesperada que mal me reconheci! —Falo. Sinto minhas mãos tremerem ao ver Hur tão debilitado e sem esperança em seu olhar.

—Eu já estou melhor, meu amor. Foi apenas um susto. —Hur fala risonho, todavia eu sei que ele está mal.

—A praga cessou...

—Ainda bem. Já não aguentava mais te ver daquele jeito. —Hur fala com carinho.

—Acho melhor que você descanse agora. —Falo pondo algumas almofadas perto de Hur.

—Não quero descansar agora que precisamos conversar sobre nosso filho...

—Hur...

—Me ouça, Henutmire. —Hur exige a minha atenção e segura o meu rosto com firmeza assim que me aproximo dele. —Djoser é muito mais que um guerreiro, muito mais que um príncipe.

—O que quer dizer? —Pergunto.

—Há muito tempo noto que Djoser é dono de uma força maior que ele mesmo, Henutmire. Eu perdi as contas de quantas vezes vi uma conexão sublime entre ele e você. —Hur fala com lágrimas nos olhos. —Ele te olha com o mesmo olhar que o rei Seti tinha quando olhava para você.

—Não existe semelhança entre eles, Hur...

—Existe, Henutmire. Você sabe que existe... —Hur fala emocionado. —Quantas vezes a rainha Tuya falou que o faraó Seti passava a maior parte do tempo olhando para você quando criança e que o mesmo falava que não entendia o que sentia ao olhar em seus olhos, Henutmire? Quantas?

—Várias vezes. —Respondo.

—É o mesmo que acontece com você e Djoser. —Hur fala de cabeça baixa. —Nosso filho nasceu com a missão de te proteger como o faraó Seti deveria ter feito...

—Não fale mais nada, poupe suas forças. —Mudo de assunto ao me lembrar de meu pai.

—Reflita, Henutmire. Talvez os deuses tenham mandado Djoser para que você pense em perdoar o seu pai. —Hur me assusta com suas palavras. —Nunca pensou nisso?

—Meu pai não merece o meu perdão, Hur.

—Ele precisa para poder ter paz. —Hur me assusta mais uma vez com suas palavras.

—Mas ele matou tantas crianças inocentes, Hur. Fez por onde Moisés ir embora...

—Não o veja como o rei rígido que ele foi, Henutmire. Por que Seti pediu o perdão da filha e não da princesa do Egito. —Hur mais uma vez me deixa sem palavras.—Existe um elo entre você e eles. Entre você, Seti e Djoser...

—Pode até existir, Hur. Mas isso não vem ao caso agora... —Tento fazer com que ele esqueça o assunto.

—Você gerou dois filhos no ventre, Henutmire. Como quer ser um exemplo de mãe se nem como filha consegue perdoar? —Hur pergunta incrédulo e me deixa assustada com suas palavras. Em nossos vinte anos de casados ele nunca foi tão franco comigo! —O perdão é algo simples que vem do coração.

—Mas este é o problema. Meu coração não quer perdoá-lo. —Deixo claro o quanto estou magoada com ele e então Hur suspira pesadamente por saber que eu não irei perdoar o meu pai por tudo o que ele fez.

—Reflita. —Hur pede insistente e eu consigo fazer por onde ele esquecer o assunto.

—Descanse. —Falo e então Hur fecha os olhos para descansar. Eu me levanto da cama e então me retiro dos meus aposentos para não incomodá-lo.

—E o meu pai? —Djoser pergunta assim que me vê sair pela porta.

—Seu pai ainda está debilitado, Djoser. —Respondo.

—Mas o que aconteceu? —Meu filho pergunta assustado.

—Ele se emocionou ao extremo e seu coração não aguentou e por isso desmaiou. —Omito sobre o real motivo de Hur ter quase morrido em minha frente. —Ele precisa descansar agora.

—A senhora já soube que Moisés está no palácio? —Djoser pergunta com desconfiança.

—Peça para o seu irmão me encontrar no jardim. —Falo. —Rápido! —Esbravejo e então Djoser corre á procura de Moisés.

(...)

—Aqui estou eu, minha mãe. —Moisés fala e então sou surpreendida por Moisés e Djoser.

—Me deixe sozinha com o seu irmão. —Falo para Djoser. Meu filho mais novo se retira com desconfiança e então eu me sinto mais à vontade com Moisés.

—Eu já soube do que aconteceu com Hur. Espero que ele melhore. —Moisés fala.

—Com que finalidade veio aqui?

—Vim pedir para que Ramsés liberte meu povo novamente, minha mãe.

—E ele fez isso? —Pergunto.

—Ramsés não me escuta mesmo sentindo na pele o poder do Senhor. —Moisés fala e então eu o olho prestes a falar o meu desejo de partir do Egito com ele.

—E para onde você conduziria os hebreus? —Pergunto.

—Canaã, minha mãe. A terra que nos foi prometida por Deus. —Moisés responde com um belo sorriso.

—Mas, meu filho... Os hebreus são escravos a centenas e centenas de anos. —Falo. —Além do mais essa terra já deve ter sido ocupada por outros povos...

—Deus avisou que não seria fácil, mãe. Por isso me capacita... —Moisés fala seguro de si. —Ele irá me guiar e eu irei libertar o meu povo.

—Mas Ramsés não cedeu...

—A senhora sabe que com isso Deus mandará outra praga. —Moisés fala com cautela e então tento me manter de pé com a notícia.

—Qual?

—Eu ainda não sei, Deus ainda não me falou. —Fico espantada com as palavras de meu filho.

—Está me dizendo que esse deus invisível fala com você?

—Fala, minha mãe. A voz de Deus é tão branda, mas ao mesmo tempo serena. Eu sinto paz ao ouvi-lo falar comigo... —Moisés fala emocionado. —E ele me guia, ele não me desampara.

—Então eu tenho muito o que agradecer á ele. —Falo para alegria de Moisés. —Sendo assim eu não preciso me preocupar?

—De forma alguma. —Moisés responde.

—Arão não veio com você?

—Eu decidi vir sozinho. —Moisés responde.

—Diga para ele que mando lembranças. —Falo e então meu filho me abraça antes de se despedir. —Vejo você novamente?

—Mas é claro. —Moisés fala e beija a minha face. —Eu sinto muito pelo o que a senhora está passando.

—Por você eu sou capaz de qualquer coisa. —Falo para tranquilizar o meu filho. —Você sabe o quanto é importante para mim, Moisés.

—Eu sei, mãe. Eu sempre serei o filho da filha do faraó. —Moisés fala e então eu me lembro do que Hur falou. —Saiba que não guardo mágoa do faraó Seti...

—Mas eu sim. —Falo com o coração endurecido pela mágoa. —Não sinto a necessidade de perdoá-lo.

—Uma mulher como a senhora não pode guardar mágoa do próprio pai, mãe. —Moisés fala. Eu não sei o que está sendo do meu dia já que o meu pensamento é voltado em meu pai. —Meu avô só me viu como uma ameaça, mãe. Ele só quis defender a filha amada de um possível mal...

—Ele mesmo me fez mal!

—De modo algum. —Moisés insiste. —Por sua causa o faraó rasgou o decreto que ordenava a matança dos bebês hebreus. E eu somente entrei neste palácio por que ele sabia que eu era o filho que a senhora desejava ter... —Moisés então põe a mão em meu rosto. —Mantenha seu coração humilde, mais do que já é!

—Serei mais humilde se perdoá-lo? —Pergunto sentindo remorso por não ter perdoado o meu pai.

—A senhora já devia ter feito isso. —Moisés fala e sorri para mim novamente. —Mesmo tendo tudo e todos ao seu redor o faraó apenas se importava com a senhora. —Abaixo a cabeça ao ouvir meu filho falar. —A senhora e meu pai mentiram para mim para me proteger. Certamente sentiram o mesmo medo que o faraó sentiu...

—Não vamos mais falar disso... —Falo desnorteada por saber que estou errada. —Isso não importa agora.

—A senhora sabe que precisa perdoar o seu pai. Somente assim a senhora terá paz... —Meu filho me deixa sem palavras mais uma vez. —Espero que Hur melhore o mais rápido possível para cuidar da senhora e do meu irmão.

—Eu também espero. —Falo.

—Anippe não irá voltar para o palácio? —Moisés pergunta esperançoso. —Acredito que minha irmã não esteja levando tão a sério o sacerdócio.

—Eu e Anippe discutimos, Moisés. Foi uma discussão muito forte e hoje ela está no alto Egito.

—Sabe que por ter sangue hebreu Anippe não sofrerá com nenhuma das pragas, não sabe?

—Fico mais aliviada por isso. —Respondo. —Saiba que Anippe não voltará para o palácio nem tão cedo.

—Ela irá voltar quando a senhora menos esperar... —Moisés fala seguro de si.

(...)

—Está mais calma? —Chibale pergunta ao me servir vinho e em seguida servir Leila.

—Estou, Chibale. Agradeço a preocupação. —Respondo.

—Me desculpe pelo o que vou perguntar agora, princesa... —O rapaz fala tímido e então o olho curiosa. —Mas a senhora tem notícias da princesa Anippe?

—Chibale! —Leila repreende o rapaz sem motivo aparente.

—Ela é tia de Bezalel, Leila. Me desculpe! —Chibale fala nervoso. —Além do mais a princesa Anippe e eu éramos amigos.

—Eu não sabia que você era tão amigo de minha filha, Chibale. —Falo e então o rapaz se intimida com meu olhar.

—A princesa cresceu ao lado de Amenhotep, Djoser, Bezalel e Chibale. Princesa... —Leila fala. —Sofria nas mãos nos meninos.

—Era a única garota do quinteto. —Chibale fala animado e eu o olho desafiadora novamente. —Com sua licença, princesa. —Ele pede envergonhado e se retira.

—Chibale sempre foi muito espontâneo, princesa. Sempre foi cúmplice do príncipe Djoser e da princesa Anippe. —Leila fala e então olha ao seu redor e percebe que estamos sozinhas no harém.

—Minha filha sempre foi cercada do bom e do melhor e mesmo assim... —Estou tão decepcionada que não termino de falar.

—Ela estava ficando muito parecida com a senhora. Talvez agora esteja ainda mais parecida...

—Anippe é idêntica a mim quando eu tinha a mesma idade que ela, Leila. —Minha dama sorri para mim ao me ouvir falar sobre a aparência de Anippe. —Como isso possível?

—O faraó já falou várias vezes que é possível que Anippe fique ainda mais parecida com a senhora. —Leila fala e eu fico pensativa demais. —Que belo seria ver a sósia da princesa no palácio.

—Eu acabaria me lembrando da minha juventude todos os dias ao olhar para Anippe. —Falo lembrando vagamente do rosto de minha filha mais nova. —Eu pensava que Anippe fosse se tornar uma mulher e construir sua família neste palácio.

—Seria magnífico. —Leila fala deslumbrada com o meu desejo. —Que lhe desse muitos netos!

—Que me presenteasse com uma neta. —Falo olhando meu reflexo na taça. —Mas pelo o que vejo não terei netos da parte de Anippe.

—Quem sabe o príncipe Djoser realize o seu desejo um dia. —Leila fala. —Estarei aqui para ver todos crescerem!

—Espero que não sejam tantos. —Repreendo Leila.

—Uma descendência numerosa como as estrelas. —Leila fala e bebe o vinho em seguida.

—Espero que Hur esteja aqui para ver os nossos netos nascerem. —Falo preocupada com a saúde de meu marido. —Estou muito preocupada com ele.

—Ele ficará bem, princesa.

—Mesmo assim, Leila. —Me levanto em seguida e olho para a minha dama pela última vez.

—Mãe! Mãe! —Ouço Djoser me chamar eufórico. —A senhora precisa ver o céu!

—O que tem o céu? —Pergunto assustada.

(...)

Da sacada do palácio, acompanhada por Djoser e Leila, vejo traços negros ganharem espaço no céu e os gritos dos súditos me deixam amedrontada. —Meu filho segura a minha mão com força e então eu me afasto um pouco com medo. —Os piolhos voltaram para nos atormentar?

—O que é que é aquilo? —Pergunto assustada e então vejo uma imensa nuvem negra se formar e se dirigir até o palácio. Eu vou me afastando aos poucos com Leila e Djoser.

—Moscas. —Leila fala e então volto para o harém. —O que faremos?

—Eu não sei. —Falo ao ver todas as mulheres no harém ocupadas. O que será de todos nós assim que as moscas invadirem o palácio?

—Mãe! —Djoser esbravejou nervoso ao ver as moscas entrarem no harém. Meu filho se viu sem saída e então me abraçou para que as moscas não me atacassem assim como atacam as outras mulheres. Todas menos a minha dama... —Traga algo para ela se cobrir, Leila! Rápido! —Meu filho ordena bravo e então Leila se retira com pressa.

—O seu pai, Djoser!—Falo preocupada com meu marido que está sozinho enquanto eu estou no harém sendo protegida por meu filho.


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Notas finais do capítulo

Meio mundo pedindo para Henutmire perdoar o pai e ela dando mais trabalho que Anippe e Nefertari juntas



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