Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 29
Capítulo 29


Notas iniciais do capítulo

Senhoras e senhores se preparem para o mais novo rebelde da família real, o príncipe Djoser.
Também se preparem para ver Henutmire brigar com uma certa pessoa...



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—NÃO! —Grito apavorada ao ouvir a revelação de meu próprio filho.
Djoser então me apóia em seus braços ao me ver perder o equilíbrio de minhas pernas.

—Mãe, por favor. Por favor... —Djoser pede aparentemente nervoso com a minha reação.

—Pelos deuses! —Falo levando as minhas mãos aos ouvidos. Me sento na beira da cama para não cair e então choro meu pranto. —Eu não sei o que dizer ou o que pensar...

—Mãe, me ouça! —Djoser pede ajoelhado diante de mim. —Eu apenas pensei na hipótese de ir com o meu irmão para a terra que foi prometida ao nosso povo.

—Nosso povo? —Pergunto incrédula, quase enfurecida. Mas tento entender o que Djoser sente em relação as suas origens hebréias. —Perdão.

—Foi apenas modo de falar. —Djoser fala manso. —Eu me deixei levar por... Por... —Meu filho não conseguiu completar, não conseguiu descrever o que sente. —Esqueça. —Ele pede se pondo de pé. —Onde já se viu um príncipe egípcio em meio aos hebreus e sem rumo.

—Você pensou tanto em partir com Moisés? —Pergunto um pouco mais calma. —Me responda, Djoser...

—Eu senti uma necessidade muito grande de partir com eles, mãe. Mas eu não posso deixar a senhora aqui com o papai... —Djoser fala e se ajoelha perante mim novamente. —Me perdoe pelo susto. —Ele se desculpa e então eu noto que o coaxar das rãs cessou e que elas não estão mais na porta, ou em qualquer outro lugar do palácio.

—As rãs... —Falo surpresa e então Djoser abre a porta. —Não restou nenhuma.

—Moisés deve ter cessado com a praga. —Djoser presume sorridente. —Certamente ele e o seu povo devem estar se preparando para partirem. —Meu filho fala com um certo desânimo. —É uma pena que Anippe não tenha conhecido Moisés.

—É...—Concordo perdida com meus pensamentos conturbados. —É uma pena. —Falo ao me lembrar de que Miriã sairá do Egito assim como o neto de Hur. —Me desculpe por ter gritado com você, meu filho. Eu fiquei apavorada com a notícia. —Falo tentando me redimir com o meu filho. —N-não quis te assustar... —Falo nervosa e então meu filho segura as minha mãos. Estou tão surpresas que minha voz se torna falha e mais lenta do que o de costume.

—Não precisa se preocupar, mãe. Eu não vou a lugar algum sem a senhora. —Djoser me promete e eu acabo me acalmando. —Agora venha... —Djoser me chama e me leva até a porta. —Temos que comemorar a vitória do meu irmão sem que meu tio saiba.

—E o que pretende fazer? —Pergunto receosa pela idéia de Djoser.

—Me diga a senhora. —Djoser responde. —Prefere ir ao Nilo?

—Não. Acho que lá ainda pode ter rãs... —Falo e acabo fazendo meu filho rir de mim.

—Gostei da ironia... —Djoser fala risonho e eu acabo me lembrando da última conversa que tive com meu pai.

Flash Back On

—Talvez seja a intensidade da luz real que me ofusca. —Falo.

—Gostei da ironia... —Meu pai fala risonho e então o olho com veracidade. —Mas gostaria que também acreditasse no meu amor. Amor paterno que é grande demais.

—Eu estou muito magoada, pai. —Rebato fria e sem demonstrar os meus sentimentos. Nem sei se ainda sinto algum afeto pelo meu próprio pai...

—Como deus vivo na terra, como amado de ptah, estou sempre certo e não posso ser contestado. —Meu pai fala destruindo nossa conversa amigável. —Mas vejo que como pai eu falhei. —Senti lágrimas se formarem em meus olhos com suas palavras, mas segurei meu choro pela primeira vez. —Lamento muito.—Meu pai então segura minhas mãos e as beija em forma de carinho. Ou seria perdão? Seja lá o que for, não me faz mudar de opinião. —Pode me perdoar? —Ele pergunta.

Em minha mente se passou o dia em que meu pai mandou caçar Moisés como um animal, de todas as vezes que meu pai desprezou o meu filho! Me lembro de tudo, absolutamente tudo! Não posso simplesmente perdoá-lo de uma hora para outra. Até por quê eu não sinto a necessidade de perdoá-lo, não sinto nada por ele. Nem mesmo o amor que uma filha sente por um pai...

—Filhinha querida... —Meu pai passou a me chamar como me chamava antes, então abaixo o olhar. —Quando a mágoa permitir você sabe onde me encontrar. —Então volto a olhá-lo nos olhos com segurança.

Meu pai beija a minha face, todavia não falo nenhuma palavra se quer. Sinto nossas mãos se desprenderem aos poucos e, uma espécie genuína de ligação, ser quebrada assim que nos separamos. Assim que meu pai dá as costas para mim, eu sinto meu coração bater mais forte pedindo para que meu pai fique comigo. Mas minha cabeça, a minha razão e as minhas lembranças me fazem parar e olhar meu pai sair pela porta.

Flash Back Off

Vi meu pai sair pela porta pela última vez e até hoje me pergunto se nossa última conversa foi obra dos deuses. Eu não pretendia voltar a conversar com meu pai, mas eu também não esperava que ele viesse até mim pedir perdão. Lembro-me bem que até mesmo minha mãe se preocupava com a minha forma de pensar sobre o meu pai, tanto ela quanto Hur pediam para que eu perdoasse o meu pai. Mas eu estou magoada até hoje.

—Mãe? —Djoser me chama risonho. —Ficou pensativa.

—Eu me lembrei de seu avô. —Falo. Meu filho sempre teve curiosidade sobre meu pai, seus olhos sempre brilharam de emoção ao me ouvir falar de Seti. —Você falou como ele agora.

—Fui rude ou algo do tipo? —Djoser pergunta preocupado e me faz rir. Quem me dera que meu pai tivesse sido como Djoser! Mas agora eu não posso mudar isso, o que aconteceu agora é passado e eu preciso aceitar o fato de que meu pai está morto e que eu estou viva.

—Nada disso! Muito pelo contrário. —Falo orgulhosa de meu filho. —Talvez eu esteja apenas com saudades dele e eu não queira admitir... —Falo olhando no fundo dos olhos de Djoser. O olhar de Djoser é misterioso demais e talvez seja por isso que em alguns momentos eu perco a noção do tempo olhando para ele, desde que meu filho ainda era um recém nascido eu tenho esse costume. O olhar dele me é familiar, mas algo me impede de decifrar o enigma do seu olhar.

—Eu sinto muito por não conhecer o meu avô. —Djoser lamenta.

—Ele ficaria orgulhoso por ter um neto como você, meu filho. —Toco no rosto dele. —As vezes eu penso que você não existe...

—Mas eu existo, mãe. Eu vim da senhora. E eu sempre serei o filho da princesa do Egito, não importa se meu nome seja esquecido ou seja lembrado vagamente na história de nosso reino... —Meu filho então me fez chorar de orgulho mais uma vez. —Pare de chorar, mãe.

—Eu não consigo. Você sabe que sou sensível. —Respondo envergonhada.

—Você está aliviada por Moisés não correr o risco de morrer, minha irmã? —Ramsés é arrogante ao interromper o meu momento com Djoser.

—Eu também me preocupo com você, meu irmão. Acha que me senti bem ao ver você e Moisés em lados opostos?

—Ainda estamos, Henutmire. —Ele fala pleno de sarcasmos e então eu fico desnorteada com suas palavras. —Os hebreus não vão a lugar algum!

—Mas você é rei e não pode voltar atrás, Ramsés! —Falo angustiada e Djoser aperta a minha mão.

—O que você entende de poder, Henutmire? Nada. —Por um momento senti uma necessidade enorme de esbofetear Ramsés, mas vi que isso seria vergonhoso demais para mim e para ele. Eu amo o meu irmão ao ponto de me angustiar ao vê-lo tão... Tão parecido com o nosso pai.

—Entendo a dor que sente por ter Moisés longe, Ramsés. Entendo que está dividido entre o poder e a amizade que tem com o Moisés.

—Mas eu não posso me deixar levar pelos sentimentos, minha querida irmã. Preciso enfrentar tudo para que meu reinado não seja um fracasso. —Ramsés fala como o nosso pai falava e então eu me aproximo dele e me afasto de Djoser.

—Mesmo que você tenha que enfrentar o seu irmão, Ramsés? Você se esquece do que viveu com Moisés? —Pergunto incrédula e meu irmão me olha com desconfiança.

—Eu não posso me deixar levar, Henutmire. Portanto... —Ramsés exita em falar, todavia seu egoísmo fala mais alto. —Portanto...

—Portanto você não vai permitir que os hebreus partam. —Falo e ele se cala. —Quem cala consente. —Minha voz foi falha assim como a palavra de Ramsés.

—Aqueles imundos já devem saber que não vão a lugar algum... —Ramsés presume egocêntrico. —Os hebreus são minha propriedade.

—Eu sei, Ramsés. Por mais que me doa em sei. —Lágrimas brotaram de meus olhos ao compreender que os hebreus nunca serão livres.

—E se outra praga vier? —A pergunta de Djoser nos calou. Ramsés me olhou com desconfiança, todavia não se deixou intimidar.

—Nossos deuses nos protegerão. —Ramsés fala seguro de si. Tento disfarçar o meu incômodo causado pela infame dor de cabeça que agora sinto. —E você como irmã do Hórus vivo deve me apoiar, Henutmire.

—Eu não posso dar as costas para Moisés, soberano. —Minha paciência deixou de existir diante do pedido de Ramsés. —Com licença. —Peço fazendo uma reverência logo em seguida e me retiro rumo a sala de Paser. Agora que Djoser e Ramsés estão a sós, penso que talvez meu irmão tente fazer com que Djoser fique contra Moisés.

Seja lá qual seja o nosso destino, tanto dos hebreus como o destino dos egípcios, estaremos em guerra. Guerra essa que não sei bem quem sairá vitorioso, guerra essa que será derramado sangue de inocentes, em outras palavras, sangue hebreu. Se eu pudesse forçar Ramsés a libertar os hebreus eu com certeza faria isso. Se eu estiver conspirando contra meu irmão isso não irá importar ou preocupar ninguém.

—Você? —Pergunto assustada ao me deparar com Simut. O aprendiz de Paser me olha confuso, todavia não se deixa espantar.

—Precisa de alguma coisa, princesa? —Simut pergunta com frascos em suas mãos.

—Você não pode me ajudar, mas Paser pode. —Falo forçando um sorriso. Talvez Paser me ajude com alguma fórmula calmante ou até mesmo algo que faça com que minha dor de cabeça se vá.

—Bom, sendo assim eu preciso ir. —Simut fala nervoso e então segue o seu caminho.

(...)

—Princesa?—Paser indaga surpreso ao me ver entrar. Seu olhar vai até um papiro assim como a curiosidade que atinge a minha alma.

—Preciso de uma fórmula que faça com que minha dor de cabeça se vá. Pode me ajudar? —Pergunto e então ele me entrega um pequeno frasco esbranquiçado.

—Isso irá resolver o problema da senhora. —Paser fala e volta suas atenções para o Papiro.

—Alguma notícia importante? —Pergunto. Então Paser arregala os olhos e eu me sinto envergonhada. Talvez seja um assunto pessoal e estou sendo indelicada com o sacerdote.

—É da princesa Anippe para o príncipe Djoser, senhora. —As palavras de Paser fizeram por onde eu me surpreender. Anippe escrevendo para Djoser?—Entregue ao príncipe com segurança. Me informaram que a princesa pediu para que este papiro fosse entregue com segurança para o príncipe.

—Mas é claro que irei entregar. —Respondo e então Paser me entrega o papiro.

—E este outro ela destinou ao rei. Terei que entregá-lo eu mesmo, princesa. Sabe como o soberano é...

—Eu não ligo. Sabemos que Anippe e Ramsés se dão bem. —Falo decepcionada com o papiro e a fórmula em mãos. —Com licença. —Me despeço e então me retiro do local.

Mesmo sabendo que ao abrir e ler o papiro que Anippe destinou para Djoser estarei sendo indelicada, eu me sinto tranquila e ao mesmo tempo satisfeita por que minha filha deu notícias. Não sei explicar ao certo o que sinto por saber que Anippe ainda se preocupa conosco, com a sua família. É então que me acalmo e leio o papiro no corredor.

"Soube que um hebreu, um certo libertador chegou ao Egito e que ele pede para que o soberano liberte os hebreus, Djoser. Fiquei indignada com tamanha afronta de um homem tão baixo, mas fiquei surpresa ao saber que este mesmo homem é o nosso irmão, o filho adorado de nossa mãe.
Os últimos dias foram aterrorizantes para mim com a chegada dessas pragas. Primeiro tive o rosto manchado por sangue e depois acordei com o coaxar da rãs, mas nenhuma delas se colocaram em meu caminho, apenas nas mulheres egípcias.
Pensei em voltar para casa, para vocês, mas sei que a ira que tenho pelos escravos se tornará ainda maior e sei bem mais ainda que terei que ficar contra Moisés. E para não entrar em um novo confronto com nossa mãe eu decido não ir até o palácio.
Saiba que mandei uma correspondência para o soberano pedindo com todo o ódio que sinto pelos escravos que não dê a liberdade para essa raça que é inferior a nós, Djoser. Podemos ter sangue hebreu nas veias, mas somos soberanos egípcios que não devem se deixar levar pelos sentimentos. Eu sinto muito pelo o que sinto em relação ao povo de nosso pai, mas é maior e mais forte que eu.
Não ajude Moisés, Djoser. Em hipótese alguma o ajude. Moisés deve voltar a ser um príncipe egípcio para ficar ao seu lado, ao lado de nosso tio e de nossa mãe ao invés de ser fiel á um deus que não se pode ver."

—Princesa? —Leila me chama ao me ver com o papiro em mãos. Minha dama se assombrou ao ver meus olhos avermelhados por causa das lágrimas que caem dos meus olhos. —O que aconteceu? —Ela pergunta assustada ao me ver despedaçar o papiro com minhas próprias mãos.

—Não é nada. —Respondo secamente. —Eu estou muito emotiva, Leila. Sabe que choro por tudo...

—Isso mostra que a senhora tem bom coração. —Leila fala risonha.

—E para que isso serve, Leila? —Pergunto rude.

—Para o deus do meu povo isso vale muito, princesa. O coração da senhora é como a seda que pode ser despedaçada, mas que nunca perde a sua essência e deixa de ser plana e valiosa. —Leila fala me fazendo pensar que talvez esse deus hebreu saiba dar mais valor ao coração das pessoas do que os meus deuses.

—Começo a gostar desse deus, Leila. —Revelo para surpresa da minha dama de companhia. —Chego a pensar que ele existe.

—Todos pensam dessa forma, princesa. —Leila fala dando um sorriso sincero. —Ainda precisa de mim por hoje?

—Está dispensada. —Falo e então Leila se retira conformada. —Se eu estiver ficando louca ou não, agora começo a acreditar neste deus sem rosto e sem forma.

Agora entendo o que Djoser sentiu quando desejou partir com os hebreus. É algo sublime, algo que me faz pensar que talvez os deuses não existam. —Balanço a cabeça tentando afastar o meu pensamento insano. —Eu de fato estou ficando louca! Como posso pensar que os deuses não existem? Estou louca! Não sei o que pensar ou o que fazer diante dessa situação. Estou dividida e perdida em meus pensamentos, mas ao mesmo tempo estou brava, decepcionada com Anippe e surpresa por saber que Djoser desejou partir com os hebreus.
Só de imaginar o meu filho longe de mim sinto todas as minhas forças saírem de meu corpo. E pior ainda seria saber que ele ficaria próximo de Miriã, mulher que sempre amou Hur.

Que tola que sou! Fico preocupada ao pensar que Miriã poderá ficar perto de Djoser quando na verdade a maior preocupação é a de meu filho vagar pelo deserto. Mas agora isso não importa, não adianta eu me preocupar com isso por que ele não irá embora. Até por quê Ramsés voltou atrás com sua palavra...

—A senhora deve ser a princesa Henutmire. —Uma moça alta e simpática fala após me referenciar. —Sou Radina.

—A prima do príncipe Gab e irmã de Jahi. —Noto que um sorriso se forma nos lábios de Radina ao me ouvir falar sua família. —Se sente bem no palácio?

—Muito. —Radina responde e então meu olhar vai para a caixa avermelhada que está em suas mãos. —Com a falta de água as plantações foram afetadas e então eu pedi, com a autorização dos soberanos, para que meu irmão e meu primo mandassem mantimentos.

—E eles atenderam ao seu pedido?

—Claro que sim, senhora. Meu irmão aproveitou a oportunidade para me presentear. —Radina fala com um belo sorriso no rosto. —Mas o meu primo Gab pediu para que eu entregasse isso para a senhora. —Ela então me entrega a caixa avermelhada.

—Gab lhe pediu para me entregar essa caixa? —Indago confusa.

—Ele sempre me falou muito bem da senhora e acho que deve ter ficado preocupado. —Radina fala. —Bom, era só isso. Com licença...

(...)

Depois de conhecer Radina e ter recebido o presente de Gab sem ao menos ter aberto a caixa para saber o que tem dentro, fico hipnotizada com os detalhes cravados na madeira nobre que dão contraste na caixa. Após beber a fórmula oferecida por Paser, me sento na poltrona e então coloco à caixa em meu colo. —Meus dedos percorrem nos detalhes marcantes da caixa e então sorrio maravilhada. — Ao abrir a caixa me deparo com um papiro e algo coberto por um manto negro. No momento que abro o papiro para lê-lo, Hur surge na porta e seu olhar vai em direção a caixa que está em meu colo e no papiro que está em minhas mãos.

—O que é? —Hur pergunta curioso ao olhar para dentro da caixa. Fico muda e sem saída diante da situação inusitada em que me encontro. Não sei como explicar para Hur que Gab ainda insiste em me cortejar, mesmo que de longe.

—Desculpe interromper, senhora. —Karoma fala ao entrar em meu quarto. —Mas a grande esposa real deseja vê-la no jardim.

—Eu já estou indo. —Falo e ponho a caixa sobre a mesa, mas não deixo o papiro para que Hur não o leia. Sabe-se lá o que Gab pode ter escrito neste papiro... —Depois conversamos. —Falo ao sentir o olhar curioso de Hur cair sobre mim. Sai dos meus aposentos com o papiro em mãos, segura de que ao voltar já terei uma resposta convincente que faça com que Hur não descubra que quem me enviou este presente seja Gab. —Ela falou sobre o que queria conversar comigo? —Pergunto para Karoma.

—Não, princesa. A rainha apenas me pediu para acompanhá-la até o jardim real. —Karoma responde risonha. —Me desculpe a indiscrição, senhora... —Ela fala enquanto andamos. —Mas soube que o príncipe da Núbia lhe presenteou.

—Como soube? —Pergunto assustada. Como as notícias correm neste palácio...

—Radina me falou. Mas todos nós sabemos o quanto o soberano da Núbia admira a senhora. Ele sempre falou maravilhas ao seu respeito. —Karoma fala ingênua, todavia entendo sua forma de expressar de outro modo.

—Você viu Djoser pelo palácio? —Mudo de assunto.

—Se não me engano ele estava com o príncipe Amenhotep. —Karoma fala enquanto chegamos no jardim real. Mesmo de longe posso avistar Nefertari andando de um lado para o outro.

—Aqui estou. —Falo fazendo surpresa para a minha cunhada e então Karoma se retira.

—Precisamos conversar, Henutmire.

—Sobre? —Pergunto.

—Ramsés não cedeu e eu temo que Moisés mande uma nova praga. —Nefertari fala me fazendo rir. —Do que tanto acha graça?

—Você me chamou aqui para isso? Eu não posso fazer nada. —Falo rapidamente.

—Você é mãe de Moisés, Henutmire. Pode nos ajudar! —Nefertari fala euforicamente. — Você sabe como dominar um hebreu... —Nefertari fala com segundas intenções e então eu lanço um olhar desafiador para a minha cunhada.

—Se refere á Hur, Nefertari? —Pergunto frente a frente com Nefertari. —Mais uma vez vai deixar claro seu desprezo por ele?

—Já está mais do que na hora de você terminar esse relacionamento absurdo com esse hebreu, Henutmire. —Nefertari fala brava.

—Você deveria me entender, cunhada. —Minhas palavras fazem com que Nefertari se lembre de seu passado. —Ou já se esqueceu que foi apaixonada por um hebreu?

—Moisés era um príncipe e eu era apenas a filha de um sacer... —Nefertari para de falar imediatamente ao se lembrar que na verdade é filha de Disebek e não de Paser.

—Hur é um nobre e eu sou a princesa do Egito, filha e irmã de reis. —Fui tão frívola que eu mesma me desconheço.

—Ainda assim acho prudente que se divorcie de Hur. —Nefertari fala com mais clareza e então segue com sua insanidade. —Tantos nobres como pretendentes e você casada com um hebreu...

—Talvez seja por que os hebreus saibam amar. Se Moisés quase matou Ramsés por sua causa, por que Hur não aguentaria as provocações alheias por mim? —Deixei claro a minha falta de paciência com Nefertari. Mas antes mesmo que a conversa se tornasse ainda mais profana, Amenhotep e Djoser chegaram.

—Olhe o que ganhei de meu pai, mãe. —Amenhotep fala eufórico e então mostra um punhal para Nefertari.

—Já estava na hora, meu filho. —Nefertari fala orgulhosa e eu deixo claro a minha indignação ao ver meu sobrinho com um punhal nas mãos. Então, em um movimento brusco, Amenhotep estende o braço cuja a mão manuseava o punhal e acaba ferindo o braço esquerdo de Djoser.

—Pelos deuses! —Nefertari fala surpresa.

—Como arde! —Djoser reclamava enquanto eu coloco minha mão sobre o ferimento e melava meus dedos com o sangue de meu filho.

—Ten sorte que o sangue que sai de sua carne é egípcio porque se fosse totalmente hebreus você perderia a cabeça, primo. —Amenhotep fala me dando nojo e então passa a rir junto com sua mãe.

—Não dê importância. —Falo para Djoser, mas meu filho não me escuta. Então em um ato de revolta, com os olhos marcados de raiva e soberba, Djoser imobiliza Amenhotep e toma o punhal de suas mãos. —Djoser! —Grito assustada ao ver que o mesmo punhal que feriu meu filho, agora está perigosamente posicionado na garganta de Amenhotep.

—Faça alguma coisa! —Nefertari fala assustada.

—Eu tenho o mesmo sangue do faraó sanguinário que mandou matar vários bebês hebreus inocentes, primo. —Djoser tinha a voz rouca e branda como a de meu pai. —E ao mesmo tempo pertenço ao povo de um Deus que transformou água em sangue. —O olhar enfurecido de meu filho então caiu sobre Nefertari, mas em seguida vejo até mim. Um olhar misto de ódio e fúria, uma verdadeira fera me encarava. O seu olhar ao mesmo tempo era perdido, mas ao mesmo tempo era pleno de soberba, a mesma soberba que continha no olhar de meu pai. Todo o encanto do olhar de meu primogênito se foi dando lugar ao olhar malicioso de meu pai, o faraó sanguinário que escravizou sem dó nem piedade o povo de Moisés. —Você não sabe do que eu sou capaz. —Djoser fala para Amenhotep e então eu o olho com aflição. Mais uma vez sou surpreendida por um de meus filhos.


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Notas finais do capítulo

Amenhotep bem que pediu e Nefertari precisava ouvir umas verdades... Não tenho culpa se Henutmire PISOU neles



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