Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 24
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

Hellooooo!



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Os segundos pareciam se passar ordinariamente devagar diante da minha sede. Mas pior eu fico ao ver Djoser se aninhar em meus braços como se pedisse socorro, como se desejasse se salvar ao tocar em minha pele. Antes meu filho estivesse em meu ventre, talvez ele não estivesse sofrendo tanto como sofre agora. Me sinto ainda mais inútil ao ver Djoser sentir sede do que saber que mal posso me manter de pé. Que fraca que estou sendo comigo mesma, que fracasso estou sendo como mãe! Fracasso duas vezes por não conseguir ir até Moisés e pedir que ele pare com a praga —É assim que chamam essa catástrofe. — e não conseguir água para que Djoser beba.
E por último, lembro-me de que Anippe está passando maus bocados na ilha de Philae, distante de mim e de Hur por seu próprio orgulho e escolha. Se Djoser está fraco, imagino como Anippe deve estar. Minha filha não deve estar mais entre nós, ela é frágil demais para suportar tudo isso.

—Senhora. —Leila me chama e então eu vejo que já é de dia. —Acabo de descobrir que tem água limpa na vila dos hebreus...

—Como? —Pergunto incrédula. —O deus de vocês estão mesmo nos castigando?

—Isso não importa. Eu revelei isso para que a senhora vá até a vila matar a sua sede. —Leila fala me auxiliando a ficar sentada na cama. —O dia já amanheceu e toda a água do Nilo ainda está contaminada. —Leila me deixa assustada.

—Até quando teremos sangue ao invés de água? —Pergunto ao ficar de pé após muito esforço. Acabo derrubando uma caixa média de madeira escura no chão e me deparo com um bracelete. —Mas o que é isso? —Pergunto admirada por ter agora em minhas mãos, uma jóia ainda desconhecida. —Esta jóia não é minha.

—Eu sei de quem é. —Leila fala sorridente. —Ou pelo menos de quem seria.

—Do que fala? —Pergunto curiosa.

—Meu sogro estava produzindo esse bracelete para a princesa Anippe.

—É a deusa Ísis. —Falo admirada pela jóia. Minúsculas pedras alaranjadas davam um auto contraste no bracelete, mas o mais bonito da jóia é a deusa Ísis com suas asas cravadas em ouro e esmeraldas. —Agora eu entendo todo o desapontamento de Hur...

—Depois da senhora, Anippe é a mulher que meu sogro mais se dá ao luxo de inventar novas peças. —Leila fala. —Ele demorou muitas luas para confeccionar esta peça. —Minha dama fala ao me fazer olhar para o rosto da deusa no bracelete. As duas safiras minúsculas representam os olhos da deusa, mas ao mesmo tempo faz referência aos olhos de Anippe.

—Hur deve ter feito esta jóia com tanto amor e dedicação para no final Anippe sentir desprezo pelos hebreus. —Falo apoiada á cama e Leila me ajuda a deitar novamente. —Onde ele está?

—Com Uri. —Leila revela e então repousa na poltrona. —O que iremos fazer, senhora?

—Quem decide não somos nós, Leila. Quem decide é Ramsés. —Falo me sentindo inútil. Se o governo estivesse em minhas mãos, com certeza eu daria a liberdade que os hebreus tanto clamam e assim essa praga acabaria. —Leila... —Chamo por minha dama e ela me olha atenciosa. —Diga para Hur que eu estou pedindo que ele leve Djoser para a vila e lá beba da água limpa que ainda resta neste reino.

—O príncipe do Egito na vila? E bebendo da mesma água que os escravos? —Leila fala enquanto faço carícias no rosto de Djoser. Meu filho ainda dorme ao meu lado, todavia sei que ele pode estar escutando a conversa.

—Antes dele ser um príncipe ele é meu filho. —Falo emocionada. —Eu já perdi tantos filhos, Leila. Não posso perder Djoser já grande, um adolescente por fora mas um homem por dentro. —Minha mão esquerda foi até o peito de Djoser, e então notei o quanto fraco seu coração está. —Ele é o meu primeiro filho, aquele que saiu de minhas entranhas e que carrega meu sangue em suas veias. Aliás, Djoser é fruto do meu amor com Hur, é a prova viva de meu amor por ele é verdadeiro e forte o suficiente para superar tudo.

—Eu sempre soube do amor que a senhora sentiu por Moisés, sempre amou Anippe e deu toda a atenção que ela precisou, mas quando se trata de Djoser... —Leila para de falar ao me ver chorar. —Eu não sei explicar. Realmente, eu não sei explicar todo o amor que a senhora sente pelo príncipe.

—Nem eu mesma sei. —Falo observando Djoser. —Desde que Djoser ainda era um bebê eu o olho sem acreditar que ele é meu filho, Leila. É sublime o fato dele ser meu filho.

—Nunca iríamos imaginar que a princesa do Egito fosse vingar uma gravidez. —Leila fala me fazendo lembrar de quando descobri que estava grávida. —E em tão pouco tempo fosse conceber outra criança.

—Tudo isso parece ser um sonho, não é mesmo? —Pergunto emocionada. —Enquanto eu me preocupava com Djoser, Anippe tomava todo o espaço possível em meu ventre...

Flash Back On

Hur carrega Djoser em seus braços enquanto eu carrego o nosso segundo filho em meu ventre já volumoso o suficiente para chamar atenção. Por onde passamos somos vigiados pelos nobres e servos com uma certa curiosidade, talvez tenha um pouco de admiração não sei distinguir ao certo o que as pessoas sentem ao me ver com minha família.
Mas eu sei o que sinto todas as vezes que Hur me acompanha com Djoser em seus braços. Eu vejo amor nos olhos de Hur todas as vezes que ele olha para mim, mas também vejo algo ainda mais inusitado: Esperança.

—Você não para de crescer, não é mesmo? —Pergunto tomando Djoser dos braços de Hur com cautela. —A cada dia que se passa você se parece comigo, Djoser.

—Ele teve sorte em ter olhos iguais aos seus. —Hur faz por onde me deixar envergonhada. —Ele se sente mais confortável com você do que comigo.

—Está com ciúmes por acaso? —Pergunto ironicamente e faço Hur sorrir.

—Não posso sentir ciúmes de vocês, Henutmire. —Djoser levou uma de suas mãos até o meu rosto enquanto Hur falava. —Para um filho, a mãe é a grande mulher, a que mais lhe dá confiança e amor. A mãe é a primeira mulher que um homem pode amar e ter como heroína. —Hur fala pondo sua mão na cabeça de Djoser.

Flash Back Off

—Senhora? —Leila me chama e acabo me desfazendo de minha lembrança.

—Faça o que lhe disse, Leila. Diga para Hur que estou pedindo que leve Djoser para a vila. —Falo firme antes que Leila me questione.

—Mas, a senhora...

—Não questione a minha decisão, Leila. —Falo friamente. É a vida do meu filho que está em jogo! —Eu não irei, isso chamaria muita atenção.

—Prefere morrer sedenta para que Djoser beba da água da vila? —Leila pergunta espantada.

—Eu disse que daria a minha vida por Djoser, não disse? Pois então eu prefiro morrer sedenta do que vê-lo morrer em meus braços. —Falo e em seguida beijo o topo da cabeça de meu primogênito. Meu filho se mexe confortável ao sentir a minha carícia, mas não abre os olhos. —Vá avisar para Hur, Leila! —Falo firme ao temer pela vida de meu filho. Entre mim e ele, quem deve saciar a sede é meu filho. Ele é jovem e tem uma vida inteira pela frente, ele precisa se salvar antes que seja tarde demais.

Minha dama então se retira e me deixa sozinha com Djoser. Eu preciso salvar a vida do meu filho, caso contrário não terei paz em vê-lo morrer aos poucos ao meu lado. Uma vida precisa ser salva e esta vida será a de meu filho.
Eu sei bem que não irei suportar minha sede por muito tempo, sei muito bem que posso desfalecer a qualquer momento sem ter Moisés e Anippe ao meu lado. Mas o meu sacrifício terá validade por que salvei a vida de Djoser ou invés de salvar apenas a minha. Mãe sabe o que é melhor para os filhos e tem a obrigação de ser forte o suficiente para dar o seu melhor mesmo que isso lhe custe a própria vida.

—Mãe. —Ouço Djoser me chamar sonolento. —Estou com muita sede. Já temos água?

—Ainda não, meu príncipe. —Falo ao acariciar o rosto de Djoser. Rapidamente percebo que meu filho arde em febre por causa de sua sede. —Mas tudo vai ficar bem por quê eu vou encontrar uma maneira de matar a sua sede.

—E se não encontrar? —Djoser me assusta com sua pergunta, mas eu evito mostrar o meu susto. —Mãe, peça para Moisés parar com isso. Se continuarmos sem água morreremos.

—Não se preocupe com isso, meu filho. Seu irmão e o soberano quem devem se preocupar com isso, não você. —Minhas palavras fazem com que meu filho adormeça novamente. Com isso eu espero ansiosa pela chegada de Hur. Ele precisa levar o nosso filho até a ilha dos hebreus, caso contrário ele irá morrer.


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