Coração De Seda escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 111
Capítulo 111


Notas iniciais do capítulo

Heyyy, gente



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Tento não demonstrar que sinto dor enquanto Paser cuida dos ferimentos de minhas mãos. De tanto bater em Yaffa, minhas próprias mãos estão machucadas. Minha pele é muito sensível e por isso os ferimentos foram profundos. Nunca me senti tão violenta em toda minha vida. As chicotadas que dei em Yaffa foram o suficiente para que ela ficasse inconsciente em seus aposentos. Assim que ela desmaiou de dor eu parei de bater em seu corpo, mas logo veio as consequências. De tanto dobrar o chicote e fazer força, minhas mãos estão cortadas e em chamas. Vi Yaffa no chão e inconsciente antes de sair e por alguns segundos senti pena.

—Ela quebrou a minha coroa com as próprias mãos. —Falo pensativa. —Quanta irônia. —Falo ao olhar para minhas mãos. Paser então olha para mim enquanto vejo os curativos.

—A rainha mãe sabe disso? —Paser pergunta.

—Claro que sabe. Todos sabem. —Falo irônica. —Pode ir, Paser. —Falo ao ver Djoser entrar totalmente transtornado.

—Você enlouqueceu? —Djoser pergunta enquanto olho surpresa para ele. —Quase matou Yaffa como se ela fosse uma escrava. Que tipo de pessoa é você?


—Ela me empurrou e eu quase perdi Ashira. Por ter feito um parto tão complicado eu fiquei estéril. —Minhas palavras fazem Djoser respirar fundo. —Ter sido surrada não é nada perto disso.

—Mas você tem sua filha. Aliás, sua única filha. Você nunca quis ter um, lembra? —Indaga e então me deixa confusa. —Você disse que nunca se casaria e nem teria filhos. No entanto seu casamento veio como um anexo ao meu. —Fala e então sorri. —Rápido até. Nossa mãe até despejou em meu rosto que ela quem iria tomar a decisão. Você não sabia que o nosso pai estava vivo, mas eu sim. E ele foi totalmente contra o seu casamento com Zion. Mas nossa mãe insistiu dizendo que era preciso. —Djoser fala com um pouco de ironia. —Qual seria o motivo? Nossa mãe nunca iria insistir para casar você mesmo que nosso pai negasse tal coisa. —Fala e então fico nervosa. —É claro. —Djoser fala como se tivesse entendido tudo. Logo tento me servir de vinho, mesmo que minhas mãos doam. —Você estava grávida. —Meu irmão fala e então deixo a taça escorregar de meu dedos. Não sei se derrubei a taça por medo ou por dor. —O nervosismo garante isso.


—Estou com minhas mãos em carne viva. —Falo, usando um pouco do drama, sempre fiz isso quando criança para conseguir o que queria. —Eu não me casei grávida. —Falo seriamente. —Eu me casei e ainda era virgem. Não fiz como Halima e Yaffa fizeram. —Falo entediada, deixando meu irmão assustado. —E como viemos parar neste assunto? —Pergunto enojada. —Meu pai sempre teve ciúmes de mim com Zion. É algo natural. —Completo. —Aos poucos ele aceitou Zion.


—Como é? —Meu irmão indaga depois de um tempo e então fico sem entender. —Como é ser a filha que decepcionou o pai? —Pergunta e então permaneço muda. De fato eu decepcionei meu pai, mesmo que Djoser não tenha falado no sentido em que penso. Decepcionei meu pai quando me entreguei à Arão sem sermos casados. Quando gerei uma filha dele em meu ventre, sua única filha mulher, minha única filha. Mas o que eu faria? Interromper a gravidez? Jamais. Ashira não tem culpa de nada.


Se acaso um dia tudo fosse descoberto e eu fosse apedrejada por ter me entregado á Arão e ter enganado Zion, eu farei isso sem negar. Mas nada irá atingir a minha única filha. Podem fazer qualquer tipo de atrocidade comigo, mas não irão tocar em Ashira.

—Mas decepcionante foi você. —Falo. —Nossa mãe é a prova disso. —Meu irmão então permanece intacto. —Você sempre foi o centro das atenções. Sempre tinha o amor da mamãe. Nosso pai tinha orgulho de você, afinal você era um príncipe e agora é rei. Nunca levava uma lição de moral enquanto eu era vista como a filha rebelde. Não que me faltasse amor, nem carinho.

—Você quem tinha a atenção deles. —Djoser dispara. —Eles sempre se preocupavam com você. —Noto uma certa amargura no meu irmão. —Mas isso não é nada agora. Um dia seremos apenas nomes na história, depois seremos esquecidos. —Djoser fala com uma certa tristeza. —Não maltrate Yaffa, Anippe. Quem deve sofrer é Amun, não ela. Yaffa perdeu a mãe, entende isso? Oritia nunca deu vestígios que era uma má pessoa. Ela amava Yaffa, eu vi isso várias vezes. —Revela. —Yaffa não tem culpa se esta ficando louca graças ao pai. Eu sei que ela te fez mal, mas ela não está em plenas condições de entender isso. —Acabo me calando com o que Djoser fala. —Quando ela acordou e viu nossa mãe do lado dela, de imediato ela pediu ajuda.

—Yaffa culpa nossa mãe pela morte do filho que ela perdeu. —Falo.


—Mas Yaffa abraçou nossa mãe. —Djoser revela. —E pediu para que ninguém fizesse mal para ela. Eu vi medo nos olhos de Yaffa, Anippe. Pela primeira vez em toda minha vida eu pude entender o que é medo. Mas medo de morrer, entende?

(...)


—A senhora quase a matou e agora está cuidando das feridas dela? —Leila pergunta formalmente por estar na presença de Yaffa. Logo ouço gemidos de dor vindo de Yaffa ao limpar as feridas de suas costas.

—Não se mova. —Peço calma enquanto Yaffa chora de dor. Nunca vi o estrago que um chicote pode fazer na carne de uma pessoa. Nunca pensei que eu pudesse fazer o que um dia vários feitores fizeram contra o povo de meu pai.

—Está ardendo. —Yaffa lamenta e então tento ter mais calma ao limpar suas feridas. —Suas mãos... —Ela fala, mas logo sua fala é interrompida por um gemido. —Nem parecem ser as mesmas que me agrediam. —Fala. —A mão que bate pode afagar depois? Isso é mesmo possível? —Pergunta e então machuco uma de suas escaras profundas. Fecho os olhos ao ouvir seu grito e logo sinto uma dor inevitável em meu estômago ao abrir os olhos e ver seu sangue sair.

—Miriã me faz falta. —Falo. —Nunca pensei que eu fosse dizer isso. —Falo arrependida. —Leite de papoula iria ameni...


—Já tomei. —Yaffa me interrompe. —Não quero beber mais. —Nega ao ver Leila se aproximar com o leite. Logo olho para Leila e então ela coloca a taça sobre a mesa. —Quando ela vem?


—Ela? —Indago.

—Minha mãe. —Responde e então olho incrédula para Leila. Logo toco no rosto de Yaffa e vejo que ela está ardendo em febre e isso leva ao delírio.

—Chame Paser. — Susurro para Leila ao ver que Yaffa está ardendo em febre.


(...)


Sentada próximo a janela, amamento Ashira e canto para ela sem notar. Aos poucos vou ninando minha filha e então vejo seus olhinhos azuis brilharem para mim com amor e inocência. Sentir o calor de uma criaturinha tão pequena e indefesa nos braços me faz mudar de opinião. Ashira é a melhor coisa que aconteceu em minha vida. Suas mãos pequenas e delicadas pousam em meu seio enquanto lhe ofereço o néctar da vida. O seu perfume é tão suave quanto ela, nenhuma essência se compara.


—Acho que você vai se parecer comigo. —Falo ao notar os fios de cabelos loiros de Ashira. Esvoaçantes e claros como um dia os meus foram. Os olhos de Ashira são azuis claros e atraentes como os de Arão, ou talvez mais. Acabo rindo ao perceber que isso teria mesmo que acontecer. Ashira herdou o tom azul graças à mim e minha mãe. E na família de Arão, apenas ele e Miriã possuem olhos azuis. Não seria estranho minha filha ter os olhos desta cor. —Daqui de cima tudo parece ser calmo. —Falo para minha filha enquanto olho para o Egito. —Eu não sei qual o nosso destino, meu amor. Mas até agora, você é a minha herdeira. E quando eu morrer você será rainha. —Falo. Ashira então parece não se importar e se dá por satisfeita com o leite que acaba de ingerir. —Eu já errei muito, minha filha. Mas você não foi um erro. Mesmo que fosse, seria o melhor de todos. —Falo ao beijar seu rosto e ouvir seu gritinhos de alegria.

—Anippe? —Ouço Lyanna chamar por mim. Logo eu vejo minha irmã caçula com uma de suas bonecas. —Ela já está dormindo? —Pergunta enquanto me observa de longe. —Você está ofuscando o sol. —Ela fala e então sorrio.

—Ashira está quase dormindo. —Falo e então Lyanna vem até mim.


—Ela se parece com você. —Lyanna fala. —Ela vai demorar a crescer? Eu queria brincar com ela. —Minha irmã fala e então sorrio.

—Eu brinco com você. —Falo ao me levantar da cadeira e colocar Ashira na cama. Aos poucos minha filha vai se rendendo ao sono.


—A mamãe fazia isso comigo? —Lyanna pergunta assim que senti com ela no divã.


—Sim. —Respondo. —Essa é a sua boneca? —Pergunto e então Lyanna afirma que sim. Brinco com minha irmã e logo noto o quanto delicada ela é.


—Anippe... —Lyanna chama por mim enquanto observo a boneca. —Você sabe lutar? —Pergunta.

—Nunca me interessei. —Falo de imediato, mas logo vejo o brilho no olhar de Lyanna desaparecer. —Mas acho que você... Bom, acho que você tem o dom de lutar. —Falo no sentido de minha irmã ter nascido quando minha mãe já não devia mais engravidar.

—A mamãe disse que ainda não tenho idade. —Lyanna fala. —As vezes eu acho engraçado como Djoser luta.

—Numa guerra não tem graça alguma. —Falo risonha. —Mas você vai aprender em breve. —Minhas palavras fazem Lyanna sorrir. —Vai proteger os bons e ajudar os fracos quando crescer? —Pergunto olhando bem para minha irmã. Lyanna afirma com um sorriso de orelha a orelha e então vejo o quanto pura ela é. —Eu costumava ver Djoser e Amenhotep, nosso primo, treinarem com espadas feitas de madeira. Isso quando eles ainda eram crianças, com a sua idade até os doze anos. —Falo. —Você pode usar elas também. —Revelo. Lyanna então atira seu corpo contra o meu e me abraça forte.

(...)


—Sua mãe vai me esfolar vivo. —Gab fala assim que vê Lyanna com uma espada feita de madeira em mãos. —E seu pai pode me enterrar mesmo que eu esteja vivo. —Fala e então Lyanna olha para mim. —Mas é uma espada de madeira, não vai te machucar. —Fala e então sorri para a menina.

—Se lembre, Lyanna. —Falo assim que minha irmã solta minha mão e vai para o centro do campo de treinamento com Gab. Minha irmã olha para mim sorridente e afoita. —Proteger os bons e ajudar os fracos. —Falo. Lyanna então começa a rir e vai até Gab. Por incrível que pareça Lyanna começou a lutar como se já tivesse nascido para isso, deixando Gab abismado. —Está perdendo para uma criança de cinco anos? —Pergunto para Gab.

—Esse é o ponto fraco. —Gab fala. —Ela tem cinco anos. —Fala e então começo a rir. —E pior ainda é que Lyanna sabe que a amo. Não teria coragem sequer de gritar com ela. —Fala.


—Ela sabe mesmo disso. —Falo ao ver Lyanna bater diversas vezes com sua espada feita de madeira na espada de madeira de Gab.

Sorrio e então observo Lyanna e Gab no centro de treinamento. Cruzou os braços ainda de pé e sinto a brisa do vento em meus cabelos. Lyanna é de fato a rainha que Amun profetizou, não eu. Um dia eu irei entregar o poder para minha irmã, mas não será agora. Não sei o que irá acontecer comigo daqui para frente, mas de todo modo Lyanna será rainha. Minha irmã nasceu para proteger os bons, as pessoas que ama. Lyanna nasceu para proteger os indefesos, os fracos. Ainda criança eu posso ver que Lyanna é pura demais para se corromper com poder. —Minha irmã caçula é estupidamente bela. E ficará ainda mais bela com a coroa de rainha do Egito. —Lyanna, a rainha da nova ordem, a rainha prometida.


—Muito bem. —Elogio Lyanna ao vê-la driblar Gab. Minha irmã se aproveita de sua pequenez, porém não deixo de me sentir orgulhosa.


Acabo me lembrando de quando era criança e me perguntava qual a razão de Djoser e Amenhotep sempre se divertirem nos treinos. Naquela época eu não fazia ideia do que era uma guerra e agora eu acabo de voltar de uma. Lágrimas saudosas saem de meus olhos ao lembrar de minha infância e do quanto rápida ela foi. Me lembro de Nefertari e meu tio Ramsés na sala do trono, do quanto bela a rainha era. Me lembro de sempre mexer em suas jóias, assim como nas jóias de minha mãe.


(...)


—Onde está Lyanna? —Minha mãe pergunta enquanto jantamos na sala do trono.


—Dormindo, senhora. —Karoma responde e então minha mãe olha para o meu pai. —Ela se alimentou antes e acabou adormecendo.


—Tão cedo. —Meu pai fala risonho.


—E sem mim. —Minha mãe fala achando estranho. —Ela nunca dorme sem que eu ou Hur estejamos perto dela. —Ela completa e então sorrio.

—Lyanna estava muito cansada. Passou toda a tarde... —Olho para Gab e vejo receio em seu olhar. —Brincando. —Falo e então me sirvo de vinho.

—Que tipo de brincadeira? —Foi a vez de Djoser perguntar incrédulo.

—Lyanna ainda é uma criança. —Falo. —Está crescendo e a medida disso vai ficando cansada. —Falo e então olho para meu pai.

—Ela não estava no harém. —Minha mãe fala curiosa e então olha para Gab e para mim.

—Devia estar correndo pelo palácio. —Gab afirma sem olhar para minha mãe. —Ela adora correr. —Fala com uma certa irônia.

—Karoma? —Minha mãe chama pela dama. —Khalid estava no harém?

—Toda a tarde. —Karoma responde. —E ela disse onde Lyanna estava?


—Disse que a princesa Lyanna estava nos aposentos da rainha Anippe. —Karoma responde. Minha mãe então olha desconfiada para mim, mas logo o assunto é deixado de lado.

—Onde está Zion? —Pergunto para mim mesma, preocupada. Foi quando sem querer eu mesma derramei vinho em minhas vestes. Uma das servas tenta limpar, mas eu nego ao ver que o negro do pano esconde a mancha do vinho. O tecido que esconde meus braços são finos. Mas ao cobrir meu colo e pescoço, ele se torna mais grosso, dando espaço para rubis.


(...)


—Zion? —Chamo por meu marido ao entrar em nosso quarto. Logo ouço tosses e vejo que vem dele. —Você está bem? —Pergunto.


—Claro. —Fala e então volta a tossir forte. —Só estou com a garganta seca. —Reclama.

—Você quer que eu traga seu...

—Não quero nada. —Zion me interrompe irritado. —Eu fiquei aqui com Ashira. Mas não toquei nela por causa da tosse...—Fala. Eu então noto que Zion está doente, não é uma simples inflamação de garganta. —Tente dormir. Eu vou logo depois. —Fala sem sequer olhar para mim.

Eu então me preparo para descansar, mas não posso evitar a minha preocupação ao ver Zion tão doente. Meu marido evita tossir, mas o incomodo é tão grande que ele não consegue evitar.


—Beba. —Peço e então ofereço vinho para ele. —Talvez traga algum alívio para sua garganta. —Falo enquanto ele bebe aos poucos. —Vou pedir para Paser examinar você. Amanhã bem cedo...


—Não. —Zion nega irritado. —Eu não vou me consultar com ninguém. Logo essa irritação irá passar. —Fala. —Pode descansar. —Ele fala mais calmo e então sorri. Eu me deito no meu lado da cama e tento dormir, mas a tosse de Zion se torna um incômodo para meu sono.


(...)


Lyanna subiu na cama e começou a escovar meus cabelos loiros enquanto as servas me ajudavam a me arrumar. Hoje eu irei andar pela cidade até olhar tudo com meus próprios olhos. Ao me levantar coloquei minha coroa e esperei minha aia trançar meu cabelo. Ela deixou algumas mechas soltas e entrelaçou outras acima de minha cabeça, parecendo ser uma parte de minha coroa. Cada jóia foi colocada em seus devidos lugares, mas uma chama a minha atenção. A minha própria coroa parece pesar mais que meu próprio corpo, mas nem por isso curvo meu corpo.

Era um laranja sobre vermelho que dava cor no vestido. Um colete de pedrarias revestia minha cintura enquanto o tecido caia levemente em meus ombros. Uma abertura diante de meu ventre faz com que o tecido vermelho chame mais atenção à medida que ando lentamente. Seguro no tecido como e vejo Lyanna me seguir atenta enquanto ando. Minha irmã tenta seguir meus passos mas assim que passo pelos portões as servas seguram Lyanna.

—Venha. —Peço ao ver minha irmã apressar seus passos para vir até mim. —Mas não corra. —Ordeno. Foi quando Lyanna seguiu meus passos e sorriu quando as pessoas se aproximaram.


—Eu quero! —Lyanna pediu eufórica me deixando assustada. A menina apontou para um vendedor de espadas e olhares caíram nela. Foi quando sorri tímida e puxei minha irmã pela mão.

—Fica caladinha, meu amor. —Peço risonha notando que muitas pessoas estranham o desejo de Lyanna por uma espada. Minha irmã sorriu ao ver gatos sendo vendidos e passou sua mão em cada um deles.

—Ele tem seus olhos. —Lyanna falou enquanto seguiamos as pessoas. —Nós somos gatos também?

—Em tese somos sim. —Falo após uma gargalhada sair de minha boca com a pergunta que Lyanna fez. Mas minha risada é interrompida quando sinto algo pequeno esbarrar em minhas pernas, segurando meu vestido e se apoiando em mim. —E você? De onde vem? —Pergunto para a criança que sorri para mim. Lyanna pegou a pequena criança em seus braços e fez um esforço imenso para andar, mas assim fez até entregar o pequeno anjo para sua mãe.

Na mão de cada vendedor de tecido eu deixei o preço de cada seda que comprei. Eu sempre fiz isso quando era uma menina e agora tenho essa oportunidade novamente. Andei por cada venda como se fosse uma pessoa normal, sem títulos ou riquezas. Tal como Lyanna está fazendo. Minha irmã parece pular de venda em venda como se fosse algum menino arteiro que ganha fazendo suas maldades.

—Posso levar essa? —Lyanna me perguntou ao olhar pela milésima vez para um felino ainda filhote. —Ela é toda branca...

—Acho que não, Lyanna. —Falo. —Esse filhote não é muito pequeno? Nem deve ter desmamado ainda. —Falo enquanto Lyanna segura a felina em suas mãos. —Vai separar ela da mãe. —Falo tentando evitar que Lyanna leve o filhote.

—Leva a mãe dela também. —Lyanna sugere. —E os irmãos dela. —A família toda, penso. Eu me vejo sem saída ao ver que Lyanna pega o cesto com a gata e seus filhotes. —Por favor. —Seus olhos pareciam brilhar pedindo para que eu leve os felinos.

Flash Back On


—Eu quero! —Eu e Djoser falamos ao mesmo tempo assim que avistamos um vendedor de iguarias.


—Anippe, nada de doces até seu dente crescer. —Uri fala enquanto Djoser ainda sorri. —Nem você. —Fala acabando com a alegria de meu irmão.

—Mas eu quero. —Falo. —Por favor...


—A mãe de vocês vai me prender se souber que empaturrei vocês tão cedo com comida. —Uri fala enquanto eu e Djoser olhamos para ele. Ai da estamos em frente a venda de doces e não saímos por nada.

—Por favor. —Pedimos docemente enquanto Uri tenta manter a postura.

—As coisas que faço por amor. —Meu irmão fala atendendo ao nosso desejo.

Flash Back


Olho para Lyanna e vejo o quanto irônica a vida está sendo comigo. Por isso sorrio para a menina antes de falar o mesmo que Uri falou para mim e Djoser. —As coisas que faço por amor. —Falei fazendo Lyanna sorrir. Ela seguiu segurando o cesto com os felinos enquanto eu pagava pelos animais.

—Esse vai se chamar Hur. —Lyanna fala me fazendo rir. —Parece com o papai.

—Lyanna... —Repreendo minha irmã antes de rir alto.

—E a mãe deles? Como vai se chamar? —Pergunto olhando para a felina que protege seus filhotes.


—Anippe. —Lyanna responde. —Ela protege os filhotes como você protege nossa família. —A menina falou antes de sorrir docemente para mim. —Vai sempre nos proteger não vai? Você e Djoser? —Pergunta inocente enquanto andamos pela plebe.

—"Sempre" é muito tempo, Lys. —Falo, chamando minha irmã pelo seu apelido. —Mas eu proteger cada um de vocês...


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Notas finais do capítulo

Eu já disse muitas vezes aqui que Anippe foi feita em homenagem para minha irmã. As duas não tem nada parecido, eu sei. Mas Anippe foi feita e dada de presente para minha irmã para mostrar o quão intensa uma pessoa pode ser.



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