Oh, vã cobiça! escrita por Eduardo Marais
– Peço desculpas, Professora Smila, mas não é um bom momento para falarmos sobre a ausência de minhas filhas às aulas...
– Não vim falar sobre isso, Regina. – a professora não se mostra tranquila. – Quero falar sobre Vasco e Yasemine.
O sangue de Regina ferve dentro de se corpo e ela agarra a gola da blusa da visitante. Puxa a mulher com força para dentro de casa e teria batido nela, caso Robin não tivesse interferido.
– O que sabe deles? – grita Regina.
– Eu facilitei o que aconteceu nesta casa e com os dois...
Antes de terminar de falar, Smila recebe um violento soco contra seu rosto e vai estatelar-se contra o chão. Receberia mais golpes, caso a turma do “deixa-disso” não tivesse entrado em ação.
– Maldita! O que fez a eles? Soltem-me!
Robin e a Madre Superiora libertam Regina e a observa transfigurar o rosto para uma careta de puro ódio. Mas não ajudam Smila a levantar-se.
– Eu me apaixonei pelo Vasco e como ele não me notava, penso que deixei a paixão crescer e alguém de fora percebeu. Essa mulher veio até mim e prometeu dar-me Vasco como companheiro, caso seguisse as orientações dela.
– Que mulher, sua piranha maldita?
– Sua irmã Zelena.
O silêncio torna-se sepulcral dentro da sala. Smila quebra a falta de som.
– Ela percebeu minha paixão e disse que estava fraca. Por isso precisaria que fizéssemos algo para Vasco vir para o nosso lado, de vontade própria. – Smila massageia o rosto. – Então, ela usou algum truque e fez com que eu ficasse com a sua aparência, Regina.
Regina e a Madre olham para Robin. Ele estava ficando amarelado.
– Eu provoquei o encontro e recebi um líquido preparado em minha mão, para tocar o pescoço dele o deixar vulnerável. Pensei em usar isso contra Vasco, mas Zelena me disse que ele estava blindado.
Robin precisa sentar-se para não cair. Seria humilhante desmaiar na frente das mulheres.
– Fiz o que fiz usando sua figura, Regina. Ficamos aguardando o resultado e Zelena deveria conhecer seu marido, pois sabia que ele iria sair de casa e ter essa reação de fugir de você. Entramos em ação e o seguimos até o navio amado do Capitão Jones.
– Vocês o raptaram?
– Não, Regina. Nós o seguimos e fomos conversar com ele, oferecendo nosso apoio. Sua irmã conseguiu acalmá-lo, afirmando que tudo havia sido um truque reles e que deveria retornar para casa, quando tudo estivesse mais calmo. Vasco estava deprimido, choroso e furioso.
– E minha filha Yasemine?
– Ela estava vigilante e ameaçadora, mas é uma menina e foi tranquilizada. Então, Zelena aproveitou que os dois haviam abaixado a guarda e levou a todos nós para o bosque, usando um truque assustador nos envolvendo numa fumaça verde.
– Seja direta comigo, Smila! Ou arrancarei seus pulmões com minhas unhas!
– Surgimos perto do poço e tudo foi rápido demais para que eu entendesse. Algo com asas escuras saiu voando do poço e avançou para Vasco, levando-o para dentro. Tentei salvá-lo, e tive de ser contida. Com isso distraí Zelena, o que facilitou o mergulho de Yasemine dentro do poço atrás do pai.
Regina inspira profundamente e crispa as mãos ao longo do corpo, porém seu desejo era apertar o pescoço daquela mulher, até que ela ficasse roxa.
– Quando sai do transe, levei Alda para a cabana e ficamos por lá. Quando percebi a movimentação das equipes de busca, aqueci a menina e saí de lá. Joguei a touca dela no caminho como pista para o resgate.
Cobrindo a boca com uma das mãos, Regina desaba em lágrimas. Imediatamente, Smila começa a chorar também. Seu choro não era por desespero, mas por raiva por ter sido usada por Zelena. Tinha sido traída, abandonada e ainda se submetido a uma relação íntima com um homem desconhecido. Ele agora sabia.
Saindo da sala, Regina vai para o segundo andar da casa. Smila dirige-se para a porta, porém, volta-se ao ouvir a Madre chamando seu nome.
– Vá para sua casa e reflita muito sobre o que fez. Mas fique alerta porque talvez precisaremos de sua ajuda.
Mary não conseguia dizer nenhuma palavra e tampouco esboçar reação. Algo urgente tinha de ser feito e o restante da família precisava ser acionada para uma reunião urgente.
– Suba e vá cuidar de Regina, Robin. Cuidado com suas mãos! Vou falar com David! – ela ordena e é prontamente atendida. Vira-se para Smila. – Como escapou das equipes de busca?
– Eu era uma camponesa quando morávamos na Floresta Encantada. Eu era a única filha e tinha vários irmãos. Usávamos a mata como nosso quintal e aprendemos a conversar com ela e usar a nosso favor.
– Boa noite, Smila! Tenho a certeza de que iremos precisar mesmo de você.
A professora estava enraivecida pelo golpe baixo de Zelena. Envergonhada por assumir aquela participação e humilhada por ter sido ofendida por Regina. Havia assumido uma postura de uma mulher sem escrúpulos para ser exitosa e seus desejos custaram um preço alto demais.
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