Tenerife Sea escrita por GrangerHastings


Capítulo 1
Capítulo Único.


Notas iniciais do capítulo

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Neve.

Eu encarava a neve grossa que caia incessantemente do lado de fora. Perdi a conta dos minutos que estava no corredor que dava a Torre da Sonserina. Traje a rigor negro, gravata prata, cabelo ridiculamente penteado e no momento, mãos nos bolsos, pés nervosos. Rose estava demorando.

- Scorpius meu chapa! - Levo um susto com Alvo chacoalhando meus ombros.

- Chapa? - Reviro os olhos. - Você definitivamente não tem senso do ridículo, Alvo.

- Mau humor? - Ele riu, bagunçando ainda mais os cabelos. - E olha que a noite com a minha priminha mal começou.

Revirei os olhos novamente.

- Vai procurar a Bárbara e vê se não me enche.

- Ei ei ei - Alvo estava muito risonho para o meu gosto. - Lembre-se que você mesmo foi o culpado por a Rose estar indo ao Baile de Natal com você.

E ele não precisava me lembrar. Mas a culpa não foi inteiramente minha. Todos os moleques - do sexto ano, ou não - estavam começando a me irritar, de tanto que perseguiam Rose. Em contrapartida, ela jurou que também havia a comitiva...como ela chamou mesmo? Comitiva das adoradoras de doninha para mim também. Tive que tomar a atitude de chamá-la para ir comigo. Foi super divertido ver a cara de todos quando souberam que ela já estava acompanhada. E pelo melhor amigo, ainda por cima.

- Meu Deus.

- Que foi agora Alvo? - Girei nos calcanhares pronto para mandar Alvo ir para um lugar não muito bonito, mas fui forçado a parar.

You look so wonderful in your dress

(você está tão maravilhosa nesse vestido)

I love your hair like that

(eu amo seu cabelo assim)

The way it falls on the side of your neck

(o jeito que ele cai ao lado do seu pescoço)

Down your shoulders and back

(e sobre seus ombros e costas)

Frio.

Foi o que senti de dentro para fora. Muito maior que o frio do lado de fora do castelo. Rose. A garota que não sabe fechar a boca um minuto sequer. A garota mais chata, teimosa e mandona de Hogwarts inteira, estava bem na minha frente. Sorrindo para mim. E estava absurdamente linda. Me senti culpado pelo olhar estranho que possivelmente estava lançando a ela. Mas eu simplesmente não consegui fechar a boca ou desviar os olhos. Ela estava mais bonita do que jamais a vi, em todos os seis anos que estudamos juntos.

O longo vestido era verde escuro, mas a cor ia desbotando conforme chegava na calda. Seus cabelos estavam lisos como sempre - ao contrário dos cabelos do irmão - mas a cor parecia se sobressair ainda mais. Era vermelho fogo. Se eu olhasse por muito tempo, poderia ouvir o crepitar de uma lareira. Sem falar nos olhos, marcados por uma leve maquiagem que os fez ganhar vida. Era, de alguma forma, revigorante.

- Deixa o tio Rony ver isso. - Alvo disse, despertando-me dos meus devaneios inúteis. Ele se aproximou da prima e levantou os braços para bagunçar os cabelos dela.

- Sai Alvo! - Rose riu.

- Está linda,priminha. - Ele a abraçou. - A baba do Scorpius não me deixa mentir.

Pigarreei, olhando feio para Alvo.

- E você também não está nada mal, Gabriela - Notei que logo atrás de Rose, sua amiga Gabriela, exibia um vestido tão escuro quanto a noite. Seus cabelos escuros estavam presos em um elegante coque. Estava muito bonita. Jasper vai ficar louco.

- Vá se ferrar, Potter. - Gabriela revirou os olhos, mas sorriu, esbarrando no ombro dele. - Melhor eu me apressar, Jasper odeia esperar. Divirtam-se crianças. - Por algum motivo, ela lançou um olhar cúmplice a Rose e sorriu divertida, esta por sua vez, riu e revirou os olhos para a amiga, ficando vermelha.

- Vamos, Scorpius. - Rose se aproximou, enganchando seu braço no meu e praticamente me arrastando para o Salão. Ouvi Alvo dizer algo sobre ir até a Sala Comunal da Lufa-Lufa para esperar Bárbara mas não dei muito atenção.

Meus olhos se demoraram um tempo desnecessário em seu decote. Era elegante e discreto, mas não consegui evitar. Fiquei enojado comigo mesmo. Havia algo errado acontecendo ali. E como se não bastasse, as costas dela estavam nuas. Pela primeira vez em muitos anos, dei razão a Alvo: e se o senhor Weasley visse isso?

Droga, Rose estava muito bonita e não pude deixar de verbalizar isso.

- Está linda, Rose.

Descemos a escada do salão principal, atraindo alguns olhares de pessoas próximas. Eu não poderia me importar menos.

- Você também não está de se jogar fora, doninha.

Girei os olhos. Quando nos aproximamos de uma das mesas vazias, ela parou e ficou de frente para mim. Prendi a respiração sem querer. Ela mecheu na minha gravata, provavelmente arrumando-a.

- Prata e verde. - Ela sorriu, parecendo pensativa. - Parece que combinamos para fazer homenagem a Sonserina.

Sua boca levemente tingida de vermelho, suas mãos que agora deslizavam sobre o tecido da minha gravata, seus olhos azuis encarando os meus vez ou outra. Não consegui responder.

- Foi meu protesto silencioso. - Rose admitiu, me fitando de vez. - Para mostrar para todo mundo que eu tenho orgulho da minha casa.

Sim. Eu me lembro do nosso primeiro ano. Como se não bastasse Alvo e Rose andando comigo, nós três fomos para a mesma casa. A Casa mais odiada. Tempos depois, para piorar, Hugo foi para a Grifinória e muitos fofocavam que o defeito estava em Rose. Que defeito? Quero perguntar. Todos eles podem vê-la agora? Que defeito ela poderia ter?

- Vamos dar o que falar essa noite. - Disse. - De um jeito ou de outro.

Ela assentiu, sorrindo. Puxei a cadeira e ela se sentou. Lily se aproximava meio correndo, meio andando.

- Viram Hugo?

Rose e eu negamos.

- Era para ele estar me esperando. - Ela passou as mãos pelo cabelos que estavam meio presos, meio soltos. - Não ao contrário!

- Deveria saber que quando se trata de Hugo Weasley, nada é convencional. - Rose sorriu do desespero da prima.

Lily assentiu, aparentemente, se dando por vencida. Saiu pisando duro dali. De longe, passei a observar Gabriela e meu melhor amigo Jasper dançando no meio da pista, bem perto para uma música que não era nem um pouco lenta.

- Eles estão nessa enrolação desde o quarto ano. - Rose pareceu perceber para quem eu estava olhando. - Como lidar?

- Nunca vi alguém mais lerdo que Jasper. - Eu ri.

- Acho melhor procurar melhor.

- Como assim?

Rose desatou a rir.

- Está aí a resposta.

- Que?

- Sabe, Scorpius, você é tão inteligente para umas coisas...- ela suspirou divertida. - mas tão burro para outras.

- Outras tipo o que?

- Vem, vamos dançar. - Rose me puxou pela mão em direção ao centro da pista e começou a tocar uma música lenta. Ótimo.

Minhas mãos na sua cintura, as mãos dela na minha nuca. Nada de mais até aí. Não tínhamos esse tipo de restrição de contato. Perdi as contas de quantas vezes já carreguei Rose no colo, de quantas vezes andei abraçado com ela pelos corredores. Éramos apenas um casal de amigos dançando no meio do baile, certo?

Errado.

Uma coisa estranha começava a acontecer.

O cheiro de Rose pareceu mexer comigo de uma forma tão grande, que toquei seu pescoço com a ponta do meu nariz, enquanto ela permanecia com a cabeça reta, olhando para algum ponto atrás do meu ombro. Senti que ela tensionou em meus braços.

Senti suas mãos apertarem levemente minha nuca, um sinal de carinho, imagino. Ela encostou a testa na curva do meu pescoço. Foi a minha vez de tensionar. Minhas mãos que, percebo agora, possuem vida própria, deslizaram para as costas dela, senti toda a extensão de sua pele nua. Suspirei. O frio novamente. Comecei a brincar com uma mecha dos seus cabelos que caiam pelas costas, entre os dedos. Era macio e incrivelmente cheiroso.

Nos movimentávamos bem devagar pela pista.

Der repente, senti Rose afastar a cabeça e eu fiz o mesmo. Encostamos nossas testas, sem motivo aparente. Abri os olhos que nem percebi que estavam fechados e acho que os dela também se abriram na mesma hora que eu. Aqueles olhos.

- Andei lendo sobre a Espanha, nas últimas férias.

Rose franziu o cenho, mas antes que pudesse explicar, a música parou e o pequeno encanto que parecia ter se formado, se dissipou.

- Vamos tirar foto! - Lily apareceu de mãos dadas com um Hugo que, claramente, preferia estar aconchegado perto de uma lareira com a prima.

Rose até abriu a boca para dizer algo, mas entrelacei nossos dedos e dei um leve aperto na mão dela em um claro sinal de: era melhor não discutir com Lily. Enfrentamos uma maratona de perguntas de Hugo, sobre as vestimentas da irmã.

We are surrounded by all of these lies

(estamos cercados por essas mentiras)

And people who talk too much

(e pessoas que falam de mais)

You've got that kind of look in your eyes

(você têm aquele tipo de olhar em seus olhos)

As if no one knows anything but us

(como se ninguém soubesse de nada, só nós)

Depois de uma verdadeira sessão de fotos, paramos para comer alguma coisa. Quem vê Rose incrivelmente delicada com esse vestido, não imagina o tamanho de sua fome. No instante em que ela começava a devorar a segunda empada de frango, uma voz irritante se fez ouvir.

- Ainda passando fome, Weasley?

Rachel Belmore. Uma grifinória ridiculamente branca, de cabeços escuros tingidos de vermelho e uma voz insuportável. Ela e seu fiel cão de guarda, Alexander Jekins se aproximaram de nós. Ele, era a imagem da ignorância. Arrogante, preconceituoso, tão debochado quanto Rachel e com um caráter precário. Não sei como conseguia ficar com tantas garotas.

- Pensei que Scorpius te sustentaria.

- Até no Natal, Belmore? - Rose a encarou.

A partir do quarto ano, aprendemos a ignorar Rachel e Alexander, mas, por vezes, agíamos por impulso.

- Por que não? - Rachel sorriu com escárnio.

- Jingle bells, Malfoy e Weasley andam juntos. Luzes de Natal, Malfoy sangue sujo. Neve, Rose é uma vergonha para a família. - Alexander cuspiu as palavras e eu não pude me conter.

- Qual é o seu problema, cara!? - Alexander caiu no chão com o empurrão que lhe dei.

- Scorpius! - Rose me puxou pelo braço. Pessoas começavam a notar a pequena confusão.

- Vai me lançar um cruciatus, Malfoy? - Ele riu enquanto se levantava. - Como a sua família vez com centenas de bruxos e trouxas durante anos!?

Avancei para ele, depois de me livrar dos braços de Rose. Quando dei por mim, Alexander tombava para trás, com a boca sangrando.

Rachel olhava tudo aquilo como se já esperasse. Ela me fitava com um ar sarcástico e braços cruzados. Pessoas se amontoaram ao nosso redor e Rose tentava me puxar para sairmos dali mas eu simplesmente não conseguia.

- Alguém pode me explicar o que está havendo aqui? - A diretora McGonagall abriu espaço entre os estudantes enquanto Alexander me fuzilava com o olhar.

- Esse Malfoy nojento me socou sem nenhuma razão! - Alexander apontou para mim. - Rachel e eu chegamos na mesa e eles começaram a implicar conosco!

McGonagall nos encarou com as mãos na cintura.

- Pare, Scorpius! - Rose me puxou quando ameacei avançar.

- É MENTIRA! - Gritei. - Eles não valem nada! Falaram mal da Rose!

- É verdade, diretora. - Rose concordou, ainda agarrada no meu braço. A olhei pela primeira vez desde que a confusão começou e notei que estava com o rosto vermelho e expressão assustada. Me senti culpado. - A senhora bem sabe que Belmore e Jekins não tem uma reputação muito boa.

- Somos da Grifinória! - Rachel praticamente gritou.

- E desde quando a casa se interfere no caráter de alguém!? - Rose a encarou, com raiva.

- Olha aqui sua imunda- ela levantou um dedo no ar se aproximando de Rose e eu me postei em frente as duas. McGonagall interrompeu antes que ela pudesse continuar.

- Senhorita Belmore e Senhor Jekins, queiram me acompanhar até a direção, por favor.

- Mas isso não é justo Minerva! - Alexander gritou e a diretora estreitou os olhos para ele, parecendo não acreditar no que ouvia. Ele pigarreou. - Digo, diretora. - Abaixou a voz.

- A senhora sempre vai dar preferência a esse tipo de gente só porque é amiga dos pais da Weasley!

- Pode se calar e me acompanhar, Senhorita? - Ela estendeu a mão para indicar o caminho. A contragosto, Rachel e Alexander seguiram pisando dura, não sem antes lançar um olhar mortal para mim e Rose. - Quanto ao senhor, Senhor Malfoy, seja menos impulsivo.

E saiu.

Should this be the last thing I see

(esta deveria ser a última coisa que vejo?)

I want you to know it's enough for me

(quero que saiba que isso é o suficiente para mim)

'Cause all that you are is all that I'll ever need

(porque tudo que você é, é tudo que eu sempre vou precisar)

I'm so in love, so in love

(eu estou tão apaixonado, tão apaixonado)

So in love, so in love

(tão apaixonado, tão apaixonado)

- Melhor sairmos daqui. - Rose me guiou para fora, ainda segurando firme em meu braço direito. - Não acredito que fez isso Scorpius. - Ela disse, quando chegamos ao jardim iluminado e com apenas alguns casais ao longe, sentados na grama, ou se agarrando, em pé. E como eu odiava aquele tom autoritário. Ela largou meu braço e se postou a minha frente.

- Esperava que eu os deixasse falar assim da gente? - Repliquei. - Francamente, Rose, eles nos importunam a seis anos. E não me diga que não adorou ver Jekins com a boca sangrando. - Ergui uma sobrancelha, com um início de sorriso zombeteiro nos lábios.

Rose revirou os olhos, contraindo os lábios.

- Talvez.

A encarei, cruzando os braços, sorrindo torto.

- Ok, pode ser...

- Rose...

- Está bem! - Ela riu, e eu não pude deixar de sorrir. - Foi mais que satisfatório, tenho que admitir.

- Então pronto. - Sorri, vitorioso. - Vem, vamos andar um pouco.

Rose estremeceu. Só percebi agora que suas roupas não eram próprias para um passeio invernal, ainda mais a noite.

- Pegue. - Tirei meu paletó e coloquei em suas costas. Por algum motivo, notei que suas orelhas e bochechas ficaram vermelhas enquanto eu ajeitava seus cabelos para ficaram por cima do casaco.

Andamos em silêncio até Rose fazer sinal para que sentássemos em um banco de pedra, a alguns metros a frente.

- Deveríamos voltar a ignorá-los.

Eu bem sabia que os acontecimentos de instantes atrás e as palavras de Alexander e Rachel ainda rondavam a cabeça dela, por mais que ela não acreditasse nelas.

- Está certa, mas não somos de ferro. - Respondi. - Eles provocam de mais, Rose.

- Crianças. - Ela suspirou. - Confesso que ficava incomodada quando diziam que eu era a vergonha da família por ter ido a Sonserina...- ela abaixou a cabeça. - mas não pense que era por causa da casa, não. Mamãe sempre me ensinou o certo. É que fiquei com medo de ter desapontado meus pais. Principalmente, meu pai.

A encarei. Era a primeira vez que ela me dizia isso e quase fiquei com receio de respirar um pouco mais alto e estragar o momento.

- Foi um choque para ele. - Rose entrelaçou suas mãos no colo. - Mas depois de um ano já estava acostumado, e mamãe me ajudou muito nesse processo todo. E você? - Ela perguntou subitamente, erguendo os olhos para mim.

- O que tem eu?

- Ainda se incomoda quando falam da sua família?

- Bem, não deixa de ser verdade não é? - Olhei para alguns alunos que voltavam para o grande salão. - Mas com o tempo, me acostumei também. Não é fácil carregar o sobrenome Malfoy, nunca foi. Mas meus pais também me ajudaram em tudo. Não tenho o que reclamar.

- Sua mãe é adorável.

Ela disse e eu sorri, voltando a olhar para ela.

- Seu pai é...- ela estreitou os olhos parecendo pensativa, fitando a grama. Contive a vontade de rir. Como ela elogiaria meu pai? Ele é ótimo mas possui um gênio bem complicado. - único.

Soltei uma risada pelo nariz e Rose pareceu suspirar aliviada por eu não ter me zangado e voltou a olhar para mim.

- Eles se amam.

Assenti, ciente de que ela fora sincera. E realmente era uma verdade palpável.

- E quanto a nós...

Se eu estivesse comendo ou bebendo água, estaria me engasgando bem feio.

- O que tem nós? - Perguntei, com os olhos repentinamente arregalados.

- As implicâncias deles sobre nós andarmos juntos. - Ela respondeu simplesmente e senti meu coração voltar a bater normalmente, mas não pude esconder um estranho desapontamento. - Isso é uma coisa que podemos ignorar com extrema facilidade. Entenda, ninguém sabe nada da gente, só nós mesmos.

E Rose me lançou aquele olhar e eu sorri.

Minutos depois estávamos dançando alguma música das Esquisitonas - mesmo a banda não podendo comparecer ao baile - e Rose insistia em bagunçar meus cabelos. Desisti de arrumá-los na décima vez. Afrouxei minha gravata na terceira música agitada que dançávamos, estava começando a soar em pleno inverno e meu paletó já estava jogada em uma das cadeiras próximas. Rose prendeu o cabelo em um coque frouxo e cada vez que eu a girava seus cabelos se soltavam esvoaçantes contornando seu rosto risonho. E é claro, que eu a girava com mais frequência que o necessário.

Gabriela e Jasper se aproximaram e nós quatro começávamos a dançar juntos, trocando de pares, pulando, rindo e o incidente que ocorreu mais cedo parecia nem ter existido. Era incrível como uma onda de bons momentos com pessoas importantes faziam toda a diferença.

You look so beautiful in this light

( você está tão linda nessa luz)

Your silhouette over me

(sua silhueta sobre mim)

The way it brings out the blue in your eyes

(o jeito como destaca o azul em seus olhos)

Is the tenerife sea

(é como o mar de Tenerife)

Exausto, depois da quinta música consecutiva, acenei para nossos amigos e puxei Rose para fora do salão novamente, nos encaminhando para o outro lado do jardim, onde a mesma iluminação se fazia presente nas árvores e pequenas bolinhas de luz flutuavam no ar, ao nosso redor.

- Eles se superaram esse ano. - Rose sorriu, esticando a mão para tocar a bolinha luminosa e pareceu se surpreender com alguma coisa. - Nem queima. No mundo trouxa, a iluminação é feita com lâmpadas e elas são quentes.

- Devo confessar que a única coisa no mundo dos trouxas que me fascina, é a televisão que sua mãe ligou para assistirmos um filme no verão passado, se lembra? - Disse, enquanto enxugava o suor que escorria pela minha testa.

Ela assentiu, parecendo recordar a lembrança com carinho. Nos sentamos embaixo de uma das árvores iluminadas, a essa altura, sem nos importarmos com o frio.

- O que você dizia sobre a Espanha, antes de Lily nos interceptar com as fotos? - Ela perguntou, parecendo se lembrar subitamente. Tirou os sapatos que só agora percebi que eram um pouco altos e ajeitou o vestido longo para se acomodar melhor.

- Andei lendo sobre o país, depois de assistirmos uma tourada na sua casa.

- Se eu pudesse acabar com aquilo...- Ela suspirou, penalizada. Eu assenti.

- Acabei conhecendo um pouco das praias de lá e, sei lá, você me lembrou uma delas.

Comecei a tropeçar nas palavras. Não saberia que soaria tão ridículo dizendo isso em voz alta. Talvez, naquele clima da dança, soaria menos idiota. Fiz uma anotação mental para nunca mais dizer algo sem pensar.

Rose me fitou curiosa, com um semblante meio surpreso, meio...satisfeito? As luzes a deixavam mais bonita. Refletiam em seus olhos azuis, o que me lembrou uma tarde ensolarada na praia, onde a luz solar refletia no mar dando a impressão que ele brilhava.

- Seus olhos. - Respondi a pergunta muda que ela me fazia com aquele olhar. - Parecem o mar de Tenerife.

Senti meu rosto pálido esquentar. As bochechas, as orelhas e o pescoço de Rose pegaram fogo. Definitivamente, havia algo muito errado ali. Rose abaixou o olhar sorrindo, mas logo sua boca se abriu em um perfeito o, segurando minha mão direita. Segui o olhar dela e vi que os nós dos meus dedos estavam roxos, provavelmente devido ao soco. Ela entrelaçou nossos dedos, a fitei por alguns segundos mas seu olhar ainda estava direcionado à nossas mãos unidas, a expressão indecifrável.

- Seus olhos são o oposto. - Rose se pronunciou e eu ergui a cabeça novamente para encará-la, mas ela ainda não me encarava de volta. - Parece o mar revolto em um dia nublado. As nuvens cinzas fazem parecer que as águas também são dessa cor.

Ciente de que estava com um sorriso bobo estampado na face, me senti um completo estúpido.

Elogiando os olhos das garotas e recebendo um elogio desse de volta, a que ponto você chegou Scorpius Malfoy?

Rose finalmente levantou seu olhar para mim. Nossos rostos em chamas. Com a mão livre, afastei seu cabelo do pescoço e me aproximei. Meu olhar se fixou em seus lábios e notei que os dela se fixaram nos meus também. Encostei nossas testas, com receio de me aproximar mais e acabar fazendo alguma besteira. Acabar com o momento. Estragar tudo, como sempre faço.

Nossas mãos ainda entrelaçadas no colo dela, minha outra mão agora acariciava sua bochecha e fiquei com medo desse momento escapar entre meus dedos.

Sim, havia alguma coisa diferente ali.

Mas não parecia nada de errado.

Rose se curvou para frente, nossas testas ainda grudadas, minhas costas encostaram no tronco da árvore, quando visualizei sua silhueta sobre mim.

And all of the voices surrounding us here

(e todas essas vozes que nos cercam aqui)

They just fade out as you take a breath

(elas desaparecem quando você respira)

Just say the word

(apenas diga a palavra)

and they'll all disappear into the wilderness

(e todas eles irão desaparecer no deserto)

Nossas respirações se misturaram e meu estômago despencou, junto com a minha sanidade. Pois no instante seguinte, colei nossos lábios.

O que eu estava pensando?

Eu não estava pensando.

E foi a melhor coisa que já fiz.

Quando o ar faltou, afastamos ligeiramente nossos lábios, respirando um contra a boca do outro. Eu a beijei novamente, aprofundando o beijo pois percebi que apenas o toque dos lábios não seria o suficiente. Precisava sentir o gosto dela.

E se ser impulsivo me proporcionaria momentos como aquele, teria que ignorar o conselho da Diretora.

Soltei a mão dela e usei minha mão marcada para fazer o caminho inteiro das suas costas, enquanto a outra mão segurava sua nuca como nunca antes. Uma das mãos dela se perdeu em meus cabelos, os bagunçando ainda mais e a outra agarrava minha camisa social nas costas.

Meu corpo inteiro reagiu àquilo.

Rose estava me deixando maluco.

Rose.

Rose Weasley.

Minha melhor amiga, conselheira, confidente, compreensiva e linda de mais para ficar longe de mim.

A mandona, sabe-tudo, chata e teimosa. Que adora gesticular e gritar comigo quando não concordo com ela.

Ela cresceu e estava me deixando maluco.

Quando que eu poderia imaginar?

Should this be the last thing I see

(esta deveria ser a última coisa que vejo?)

I want you to know it's enough for me

(eu quero que você saiba que isso é o suficiente para mim)

'Cause all that you are is all that I'll ever need

(porque tudo que você é, é tudo que eu sempre vou precisar)

I'm so in love, so in love

So in love, so in love

(eu estou tão apaixonado)

Conforme aprofundamos ainda mais o beijo que parece já durar horas, tive certeza que não era só desejo. O oxigênio pediu espaço e nos afastamos, Rose voltando a se acomodar ao meu lado e nos separamos por completo, para não correr o risco de passarmos a noite inteira saindo de um beijo e entrando no outro. Contudo, devo confessar que a ideia era tentadora.

- O que...- Resolvi me pronunciar, sem sucesso e sem fôlego.

- Ora, Scorpius...- ela puxou o ar. - nos beijamos.

A naturalidade do seu tom de voz me fez soltar a risada mais verdadeira desde o início daquele ano. Senti meu rosto esquentar ainda mais e notei o rosto dela combinar perfeitamente com os cabelos. Os lábios dela estavam vermelhos e ela inclinou a cabeça para trás, rindo com a língua entre os dentes. Era uma visão daquelas.

No instante seguinte, seus braços estavam em volta do meu pescoço e ela me abraçava a apertado. Afundei meu rosto em seus cabelos e respirei fundo.

- Ainda bem que Alvo e Hugo não estão aqui. - Verbalizei a primeira coisa que passou pela minha mente quando saímos do abraço. O som da risada de Rose encheu o local vazio.

- Hugo é três vezes menor que você, francamente, Malfoy. - Ela estreitou os olhos, brincalhona.

- Com todos esses anos de convivência com você, aprendi a nunca duvidar de um Weasley.

E dessa vez, ela me beijou.

Lumiere, darlin'

(brilhe querida)

Lumiere over me

(brilhe sobre mim)

Lumiere darlin'

(brilhe querida)

Lumiere over me

(brilhe sobre mim)

Lumiere darlin'

(brilhe querida)

Lumiere over me

(brilhe sobre mim)

Não voltamos mais para o Salão Principal e quando o som de uma música lenta começou a tocar, começamos a dançar no jardim, com as luzes e árvores como testemunhas. Entrelacei nossos dedos e a fiz girar incontáveis vezes até ela reclamar que a estava deixando tonta. Minhas mãos apertavam fortemente sua cintura e as dela acariciavam minha nuca e giramos juntos, tombando para o lado quando nos desequilibramos e rindo depois disso. Nossas risadas se misturavam e com uma sensação que não quero esquecer, estava me apaixonando ainda mais por ela.

Essa era a magia, afinal.

Enquanto tirava Rose do chão pela cintura, sentia suas mãos ao redor do meu pescoço, e a beijava novamente, percebi que me inundaria nas águas daquele mar sem medo de me afogar.

Um pedaço do paraíso que daqui para a frente aprenderia a cuidar melhor, dar mais valor.

Meu pedacinho do Céu.

Meu mar de Tenerife.

I'm so in love, so in love

So in love, love, love, love

So in love

(estou tão apaixonado)

You look so wonderful in your dress

(você está tão maravilhosa nesse vestido)

I love your hair like that

(eu amo seu cabelo desse jeito)

And in a moment I knew you better.

(e nesse momento, eu conheci você melhor)


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