Assassin's Creed: Omnis Licitus escrita por Meurtriere


Capítulo 61
Um Vislumbre do Passado


Notas iniciais do capítulo

Olá! Mais de duas semanas sumida e cá estou com mais um capítulo. Eu havia prometido capítulos ENORMES nessa reta final, mas como está demorando pra eu conseguir finalizar capítulos ENORMES, tive que mudar o planejado.

Sem mais desculpas esfarrapadas, espero que gostem de mais um pouquinho de Young Bellec.



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Jenny poderia ser muitas coisas na sua vida, mas não era de quebrar suas promessas. Antes do raiar da primeira luz vespertina, ela estava de pé e preparada para sair até a floresta. O jovem Pierre parecia ainda mais disposto do que ela, parecia uma criança que sairia em um passeio com seus pais. A loira lembrou-se de como seu irmão ficava em mesmo estado quando iam ao teatro com seu falecido pai.

Delphine, por outro lado, parecia pouco contente em ver o único filho seguindo uma estranha para cima e para baixo, e o pior, uma estranha inglesa. O céu estava dividido entre noite e dia quando ambos deixaram o casebre para trás. Graças a seu treinamento e sua experiência, a Kenway conseguia caminhar silenciosamente mesmo sob galhos e folhas que enfeitava o solo. O mesmo não podia ser dito de Pierre que se denunciava a cada respiração sua presença ali.

— Você precisa ser menos barulhento. Pise com cautela, não queremos avisar a todos os coelhos que estamos aqui. – Jenny revirou os olhou ao perceber que após seu conselho, o garoto parecia andar sobre cascas de ovos, tão lento quanto uma baleia.

— Como você pretende matar coelhos com essa sua arma estranha? – Bellec não tirava os olhos do chão, procurando pelos locais onde deveria pisar.

— Isso não é para coelhos. Para eles montaremos algumas armadilhas, mas primeiro preciso conhecer o local. Você sabe subir em árvores? – Ele balançou positivamente a cabeça. – Ótimo. Então vamos deixar o chão livre.

Dito isso, a Assassina se dirigiu a uma árvore que havia crescido com o tronco torto, parecendo uma ponte natural. Não era de fato um grande desafio caminhar ali em cima e ao menos ali o rapazote era menos barulhento. Mas o local não era alto o suficiente e foi nesse instante que o um som muito familiar chamou a atenção de Jenny.

Uma águia sobrevoava o perímetro, havia uma presa em suas garras, parecia ser outro pássaro, um menor. Os olhos da Kenway acompanharam o sublime voou do imponente animal até um galho solitário que ousou nascer no topo de um rochedo. Ela se virou e encarou Pierre que também estava a observar a ave de rapina.

— Fique aqui, eu não irei longe.

Bellec não teve um raciocínio rápido o suficiente para formular qualquer resposta a ela, pois a Assassina já havia se pendurado em um galho da árvore à frente e corria por entre troncos e folhas como tamanha destreza e confiança que ele não pôde deixar de se impressionar. Mas em dado momento não havia mais árvores e ela estava frente a frente ao rochedo, para a surpresa do garoto, ela saltou e se segurou sabe-se lá como. Por um instante ela ficou pendurada e Pierre achou que ela estava prestes a cair, porém o que na verdade aconteceu foi que pouco a pouco aquela misteriosa mulher escalou rochedo acima até seu topo.

O garoto observava tudo com muita admiração. Seus olhos acompanharam cada passo dela sobre o galho solitário onde a águia devorava sua presa, mas sua aproximação fez a ave se retirar pelos ares, ainda com o animal morto preso às garras afiadas. Jenny ficou no local onde antes estava o animal e lá permaneceu por alguns instantes, olhando o horizonte. Repentinamente ela se jogou. O coração de Pierre disparou e o ar fugiu de seus pulmões. Sem pensar duas vezes ele desceu de volta para o solo, espantando coelhos e raposas dos arredores. Seus pés corriam enquanto as mãos afastavam a vegetação que ousava entrar em seu caminho.

Quando Bellec alcançou o ponto onde a viu cair, encontrou uma Jenny erguida a retirar folhas de seu manto cinzento. Ela parecia perfeitamente bem e sem a menor preocupação enquanto ele a observava com os olhos arregalados.

— Mas que porra foi essa?

A Assassina ergueu a face e o encarou com a sobrancelha arqueada. – Sua mãe sabe que tu usas esse tipo de palavreado?

Todavia, o rapaz apenas ignorou o questionamento e se aproximou dela, ainda incrédulo quanto o que acabara de ver. – O que foi isso?

— Eu saltei.

— Isso eu vi, quero saber que loucura foi essa de saltar a essa altura.

— Chama-se salto de fé.

— E por que você não morreu?

Uma gargalhada espontânea tomou a Kenway, mas apenas fez Pierre se emburrar. – Porque eu caí nesse monte de folhas aqui. Mas a queda continua dolorida. Agora temos trabalho a fazer, encontrei um bom lugar para fazer uma armadilha um pouco mais a frente.

A Kenway deixou o núcleo de monte de folhas e seguiu para o ponto que havia escolhido lá do alto para preparar a armadilha. No caminho ela instruía o jovem a pegar suprimentos necessários, como alimentos para serem usados como isca. Enquanto ela mesma recolhida galhos finos e alguns cipós das árvores próximas.

— Como tu conseguiste pegar aquelas coelhos antes? – Ela o questionou enquanto testava a resistência de um cipó seco.

— Bom, eu colocava um pouco de comida próximo de onde eu pudesse me esconder e os pegava quando se aproximavam.

— Como eu fiz com você na cidade?

— É, acho que sim.

— É mais eficiente com gente. – Ele riu, mas o garoto não pareceu entender. – De qualquer forma, irei te ensinar a fazer uma rede simples e pequena. Ela irá prender o coelho quando um nó fraco se desmanchar. Assim você não precisa ficar perto todo o tempo.

— Está bem, mas ainda temos que passar pelos Assassinos que observam os limites da cidade atrás de alguém que não queria pagar suas taxas. Não poderá fingir ser uma deles novamente.

— Não, não poderei. Por isso eu irei retornar só à noite, como uma sombra.

— E quanto a mim? – Pierre cruzou os braços e franziu o cenho, mas a cena só causou divertimento na Assassina.

— Que bom que perguntaste. Disseste-me antes que conhecia bastante gente da cidade. – Os dedos da loira, já acostumados a dar e desfazer diversos nós diferentes iniciaram seu trabalho nos galhos.

Ele deu de ombros, fazendo pouco caso do que ela acabara de lhe perguntar - Sim, a cidade é pequena e não há como fugir de idas quase que diárias lá.

— E quanto às pessoas do cais?

— O que têm eles?

— Tu os conheces?

— A maioria são pescadores locais, ninguém muito importante.

— Não, certamente há alguém lá que receba coisas e também as despacha pelos barcos.

— E como você pode ter tanta certeza?

— Porque os Assassinos enviam cartas e ao que tudo indica, dinheiro para a base um pouco mais ao sul. Próximo à Boston. É muito arriscado, caro e demorado fazer esse tipo logística por terra. Achas que consegue ficar no porto sem causar problemas?

— Posso levar algumas das verduras de minha mãe para vender por lá.

— Certo. Preciso que encontre quem é essa pessoa. Talvez um Assassino fique pelos arredores, cobrando as tais taxas.

— E se essa pessoa em questão for um deles?

— Então será mais complicado. Tentaremos pelo meio mais fácil primeiro.

— O que eu faço quando eu encontrar essa pessoa?

— Observe-a. Atentamente e pacientemente. Quero saber detalhes dela. O que faz ao longo do dia, onde come, o que come, se possui família e tudo mais o que puder descobrir.

O jovem assobiou e meteu as mãos nos bolsos das calças enquanto observava-a a trançar a rede. - Nossa, para que tanta informação?

— Conhecimento é poder, mas a maioria das pessoas não percebe isso. Quanto mais soubermos dessa pessoa, mais facilmente encontraremos uma necessidade.

Pierre intrigou-se em meio a tanto conhecimento que ele, na pouca experiência que acumulava de vida, não conseguia compreender. – Necessidade?

— Sim, todos nós temos necessidades e nossas vidas nada mais são do que o conjunto de escolhas e atitudes que tomamos em prol de nossas necessidades. Veja tu e tua mãe, necessitavam de alimento e por isso aceitaram minha ajuda. Eu encontrei suas necessidades e ofereci ajuda para saciá-la. Por isso estamos aqui.

— E qual a sua necessidade?

— No momento descobrir onde exatamente Haytham está.

— Está bem. Farei isso então.

— Ótimo, nos vemos a noite, garoto.

 

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Jenny voltou para casa antes de Bellec e o esperou plantada na janela o tempo inteiro. Delphine estava ocupada na cozinha, satisfeita em ter outro coelho para cozinhar junto a suas alfaces. A vítima daquele dia não demorou a cair na armadilha e com um golpe de misericórdia, a Kenway perfurou a jugular do pobre animal e deixou a pequena rede escondida onde ela pudesse encontrar no dia seguinte. Mesmo após tantos anos, caçar ainda lhe causava certo desconforto e principalmente despelar, mas era um mal necessário.

Ela retornou à fronteira entre a cidade e a natureza, encontrando alguns Assassinos rondando o perímetro, porém não eram muitos. Em um combate provavelmente conseguiria dar cabo de todos, todavia, um punhado de pedras e amêndoas a rolaram por entre a mata foi um suficiente para chamar a atenção do grupo e abrir uma brecha para que ela passasse sem maiores dificuldades.

Faltavam umas duas horas até a noite cair e durante todo esse tempo a Assassina não tirou os olhos da rua. De tempos em tempos ela estalava os dedos das mãos e esse era praticamente o único som da casa, tirando o cantarolado de Delphine na cozinha. Somente quando o sol havia partido de uma vez por todas ela visualizou Pierre caminhando tranquilamente, resultando em um suspiro de alívio por parte de Jenny.

Tão logo ele abriu a porta, ela se pôs de pé e seus olhos se encontraram. O rapaz sorriu e fechou a porta atrás de si. – Tinha razão. Há alguém. Um homem chamado Morris, ele não foi pra casa agora à noite, ao menos não era a casa dele.

— O que quer dizer?

— Há um lugar com algumas mulheres próximo ao cais...

— Eu já entendi.

— Quando eu cheguei ao cais ele já estava lá, presumo que chegue ao mesmo tempo em que os pescadores. Mas foi só no meio da tarde que um Assassino o encontrou e lhe deu um embrulho pequeno com uma carta junto.

— Ele guardou o embrulho junto a si?

— Sim.

— E você o viu pegar novamente esse embrulho depois? – Pierre negou com a cabeça enquanto a loira tinha o olhar distante, certamente estava refletindo sobre as informações que havia recebido. – Há ursos por aqui por perto, não há?

— Eu nunca vi um, mas sei de alguns caçadores que se aventuram em território nativo atrás da pele deles, mas o que um urso tem a ver com encontrar seu irmão?

— O verão parte em algumas semanas e logo eles irão dormir. Recolhidos em suas cavernas, preciso de algo para barganhar e como não tenho dinheiro preciso recorrer ao que posso encontrar com certa facilidade, mas que seja valioso o suficiente para valer uma boa quantia.

— Não pode estar falando sério.

— Tem alguma sugestão melhor?

— Já escutei terríveis histórias de quem foi atacado e até morto por ursos.

— Eu ficarei bem. Apenas me mostre o caminho.

Bellec bufou e revirou os olhos antes de se recostar à parede e cruzar os braços. – Eles vão para o sudoeste. Armados com rifles, ganchos e cordas. Alguns nunca mais retornaram.

— Partirei amanhã, agora é melhor você ter com a sua mãe. Ela estava preocupada.

O jovem a deixou em direção à cozinha, falando em francês com Delphine que o respondia prontamente na mesma língua. A Kenway manteve-se no quarto pelo resto da noite, afiando sua lâmina oculta e quando Pierre bateu à porta ela testava o ejetar de sua arma. Estava mais barulhento do que devia, sua Hidden Blade ficava tão velha quanto ela, mas tudo iria acabar quando matasse seu irmão.

— Eu trouxe um pouco de caldo e pão. – Havia um prato cheio de comida e cheirando apetitosamente nas mãos do garoto.

— Obrigada, mas não quero ser um incômodo para sua mãe.

— É o mínimo que podemos fazer por nos ajudar.

— Nosso acordo era ajuda por um teto e não comida quente.

Pierre começava a achar que todas as mulheres eram tão problemáticas quanto Jenny e sua mãe. Sempre colocando empecilhos para tudo. Mas ele entrou e deixou o prato ao lado dela mesmo assim. A Assassina olhou para a comida e depois lhe direcionou a atenção. Sem convite, o rapaz se sentou na cama há poucos centímetros do caldo de coelho.

— Eu vou com você.

— Não vai.

— Se eu não for com você qualquer caçador pode lhe dar falsa informação e você pode se perder por dias.

A Kenway se virou de frente para Bellec e com a sobrancelha arqueada e os braços cruzados lhe respondeu. – Eu naveguei da Inglaterra para o Caribe e depois do Caribe para Portugal. Seguia para a África e enfim voltei para a Inglaterra até enfim chegar aqui, nas Colônias e tu achas que eu irei me perder?

— Seu francês está muito... Limitado. Se qualquer soldado francês te pegar sozinha por aí irá te matar na primeira oportunidade ou pior, lhe farão de prisioneira.

— Aprecio sua preocupação, mas sua vida estaria tão em risco quanto a minha e não posso assumir isso. Além disso, não pode deixar sua mãe sozinha aqui.

— Tenho certeza que não pretende demorar.

— Não pretendo.

— Minha mãe é mais durona do que parece e ela ficará segura aqui, o mesmo não posso dizer de você.

— Eu já fui mãe e não permitiria que meu único filho partisse com uma estranha para uma caçada distante e perigosa.

— Desde que meu pai morreu ela tem sido o homem nessa casa, ela tem provido comida, segurança, dinheiro. Tudo o que eu quero é que ela descanse e pare de se preocupar como irá nos sustentar no dia seguinte. Como iremos sobreviver por mais um inverno sem colheita para vender e se eu conseguir outro modo para nos manter, então eu preciso tentar.

Jenny encarou os olhos profundos de Pierre, duas piscinas negra. Havia sinceridade em suas palavras, na verdade havia mais do que isso, havia esperança e uma determinação inacreditável na voz de um garoto com pouco mais de uma década de vida. Ela não conseguia lhe dizer não, mas também não podia lhe dizer sim e ao perceber que a Assassina não diria nada, ele tornou a falar.

— Além do mais, não vai conseguir trazer a carcaça de urso sozinha até a cidade. Não pode negar isso.

A Kenway suspirou, vencida e cansada daquela ínfima discussão. Afinal ela desejava ser tão independente quanto ele quando tinha a mesma idade e tal oportunidade lhe foi negada por seu pai. Se ela estiver por perto então ao menos poderá protegê-lo de fugir como ela mesma fez há muitos.

— Está bem. Prepare corda e qualquer coisa onde pudermos embrulhar o animal.

Pierre sorriu satisfeito e lhe anuiu positivamente antes de se erguer de sua própria cama e seguir para a porta. – Aproveite o caldo, está realmente muito bom.


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Notas finais do capítulo

Jenny se sentindo mãe uma vez mais ♥ Se Nala estivesse viva, ela seria um pouco mais velha que o Pierre. O que termina dando uma amolecida no coração dela.

No próximo capítulo veremos esses dois botando o plano de Jenny em ação. E claro ela sacaneando cada vez mais o pobre Pierre.

O capítulo já está em construção e o seguinte também, então acho que podemos ter esperança de mais capítulos na semana que vem ok?

Desde já agradeço por lerem, beijos e até o próximo!



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