Assassin's Creed: Omnis Licitus escrita por Meurtriere


Capítulo 51
Aproveitando a Situação




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Liam e Shay deixavam lado a lado a fazenda Davenport, cada um montado em um cavalo e seguindo para a fronteira. Com o casarão já fora de vista, Cormarc julgou ser seguro o suficiente para questionar seu amigo quanto aquela saída repentina tão cedo da fazenda, ele pigarreou e ganhou a atenção de Liam sobre si.

— Hope me falou sobre a mulher que esteve aqui ontem.

O Assassino arqueou a sobrancelha enquanto Shay apenas deu de ombros a ele. – Eu não sei quem é pior, você ou ela.

— Ela era o assunto que Achilles quis tratar com você antes de partirmos?

— Era.

— Achilles nunca ligou antes para esse tipo de coisa antes.

— Ela não é como as outras, Shay.

— Por que não?

— Porque ela é uma Assassina.

— Então por que Achilles não a quis aqui, conosco?

— Eu não sei... Eles se conheceram em Tullum, acredito eu.

— Mas você passou a noite com ela mesmo assim não é? – Shay esboçou um sorriso maroto nos lábios, mas desta vez Liam não fez o mesmo.

— Não do jeito que você está imaginando.

— Aposto que ela é bonita.

— Por que acha isso?

— Porque você está indo encontrá-la ainda que contra a vontade de Achilles. Você não o desobedeceria por qualquer uma.

— Ela veio até aqui com a missão dela e não conhece absolutamente nada daqui. Eu não podia simplesmente deixá-la em Boston.

— É o que você disse para você mesmo antes de dormir?

Liam revirou os olhos e ficou em silêncio, pois sabia que não havia motivos para manter aquela conversa, afinal Shay tinha um pouco de razão e ele não podia negar. De repente, Cormarc rumou para outra estrada diferente da dele e antes que se distanciasse demais, Liam parou sua montaria.

— Hey, Shay. Obrigado pela ajuda.

— Não é como se fosse um grande sacrifício e você não será o único a aproveitar a noite. Só lembre-se de chegar cedo amanhã.

Ambos riram, acenaram um para outro e continuaram por estradas distintas, cada um seguindo para um vilarejo e com seus próprios planos em mente.

[#]

O céu estava com nuvens claras e rasas nos céus e o sol matinal lhe incentivou a dar uma volta pelo vilarejo. A loira cumprimentava a todos por quem passava e percebeu um misto de reações pelos moradores locais. Eles lhes respondiam, mas a maioria a assistia passar com estranheza estampada em suas faces. Seu modo de falar não negava suas origens e mesmo a educação um pouco mais requintada denunciavam-na como inglesa e pior, como uma inglesa rica.

Alguns olhares masculinos carregavam malícia e é claro, haviam aqueles desconfiados demais para responderem uma estrangeira recém-chegada. Todavia, Jenny já estava mais do que acostumada com esse tipo de tratamento, ainda que os motivos para tal variassem de localidade para localidade.

Dos limites entre a mata e as construções era possível avistar animais como lebres, raposas e também o animal chamado guaxinim que Liam havia lhe mostrado no dia anterior. Mais adentro na floresta, a caça era comum e era possível encontrar ursos, linces e até mesmo pumas. O risco de encontrar algum animal selvagem lhe desencorajava a explorar, visto que ela pouco se familiarizou com a caça e era pouco habilidosa nesse assunto.

Já passava da metade do dia e Jenny permanecia em sua espera pelo jovem irlandês para juntos partirem até Boston. A Kenway desfrutou de um bom almoço servido pela Sra. Jones e matava sua ociosidade com um pequeno pedaço de corda que sempre carregava consigo para praticar diferentes maneiras de se dar um nó.

E foi quase como uma criança que ela saltou da cadeira ao ouvir Beatriz cumprimentar Liam na entrada da estalagem. O Assassino chegou até o recinto onde haviam jantado na noite anterior e encontrou Jenny já em pé.

— Esteva me esperando?

— Não é educado deixar uma dama esperando.

A loira estava séria e falou em igual tom, contudo, sua atitude apenas divertiu Liam que reprimiu um pequeno riso. –Está bem, me desculpe pelo atraso. Tive algumas coisas para fazer.

— Sinto o cheiro de Achilles.

— Não se preocupe com ele. Mas é melhor irmos o quanto antes.

Liam sinalizou para que ela o seguisse para fora da estalagem e a Kenway o fez de bom grado, mas ao chegar ao exterior encontrou apenas um cavalo, que ela reconheceu como Valete.

— Onde está Donzela?

— Com um amigo..

— Então precisamos de outro cavalo, deve haver algum por aqui.

— Há, mas cavalos são caros e preciosos, não irão simplesmente nos emprestar um e não vale à pena pagar por a viagem até Boston. Vamos dividir a cela do Valete.

Jenny olhou do Assassino para o cavalo e com um suspiro pesarosos se ergueu sobre o animal, logo em seguida o irlandês fez o mesmo, ficando atrás dela. A loira ajeitou-se o máximo que pôde para frente, mas era inevitável o contato entre eles.

Liam mantinha um sorriso nos lábios e incitou o avanço de Valete para fora do Vilarejo, seguindo pela principal estrada local, a estrada que levava até Boston.

— Você está se aproveitando da situação. – Ela disse, mas não de modo de agressivo.

— E você não parece incomodada.

— Beatriz acha que estamos juntos.

— Nós estamos juntos.

— Não como ela está pensando.

— Eu lhe disse que isso aconteceria. Aliás, todos os moradores vizinhos da estalagem já devem estar dizendo coisas sobre nós.

— O que é ótimo.

O irlandês franziu o cenho e olhou para ela, mas a loira não percebeu sua reação. – Por que é ótimo?

— Ora, pois assim não ficarão desconfiados de mim. Afinal o que uma Inglesa iria fazer em um vilarejo isolado no meio da fronteira?

— Então você está se aproveitando da situação também. – Ele a respondeu em um tom divertido e ela lhe deu de ombros.

— Sou filha de um pirata, sempre tiro proveito quando posso.

— Devia ter imaginado...

Tanto a Kenway quanto o Assassino riram juntos e lentamente Jenny ia relaxando suas costas sobre o tronco de Liam. Contudo, tal gesto o deixava em dúvida se o mesmo ocorria por livre espontânea vontade ou apenas por distração.

— Não está fazendo isso apenas para provocar Achilles está?

— Me ofende se acha que gasto meu tempo com aquele velho ranzinza.

— O que houve entre vocês dois? Você o abandonou ou alguma coisa assim?

— Liam, você está começando a passar dos limites se pensa que um dia existiu algo entre mim e ele. Mas irei saciar sua curiosidade. Ele não gosta do meu pai e me acha indisciplinada por ter fugido de Tullum.

— Por que você fugiu?

— Embarquei escondida no Gralha e fui com Anne Bonny atrás de um dos homens que invadiu a minha casa e mataram meu pai.

— Então ele a vê como um mau exemplo.

— Algo do gênero.

— Ao menos fico aliviado em saber que não eram nenhum tipo de amantes ou algo do tipo, estava começando a achar que havia despedaçado o coração dele.

Jenny deu uma cotovelada nas costelas dele, mas conseguiu apenas arrancar mais uma risada do jovem. – Por favor, Liam. Eu tenho um excelente gosto.

— Então eu tenho alguma chance afinal.

— Temos uma confissão aqui? – A loira sorriu vitoriosa ao ouvir tal comentário.

—Você parece animada com a ideia, talvez devêssemos dividir o quarto hoje de novo.

— Que atrevido, não tem vergonha de propor algo tão indecente a uma jovem solteira?

— Desculpe, esqueci que foi criada em Londres. Mas mantenho a proposta.

A Kenway não era do tipo que se envergonhava, mas desta vez ela sentiu um leve ardor nas bochechas e agradeceu por ele estar atrás e não poder ver seu rosto, pois tinha certeza que estava corada como há muito tempo não ficava.

Obstinada a mudar o foco daquela conversa, Jenny endireitou-se sobre a cela, tentando manter a postura ereta e com baixo contato entre ambos.

— Dei uma volta pelo vilarejo hoje

— E como foi?

Ela lhe detalhou as reações e olhares que recebeu ao longo de seu curto passeio enquanto ele lhe explicava o pacato modo das pessoas viverem na região. Assim, o casal seguiu conversando por todo o caminho até chegarem a Boston. Na cidade, a loira observava a movimentação e Liam indicava bares, lojas, estalagens e tudo mais que poderia ter alguma serventia futura.

A passo lento devido a quantidade de pessoas que transitavam de um lado para o outro, eles chegaram ao Porto. O irlandês levou Valete até um pequeno estábulo nas docas para seguirem a pé a partir dali. Ele desceu primeiro e logo depois a ajudou a desmontar também.

Ali, ninguém tinha tempo para perder olhando para Jenny de maneira esquisita, seu vestido era simples e tinha as barras sujas de lama, seu cabelo não mais estava preso a moda inglesa e sim soltos, o que não a tornava tão diferente assim das demais moças. Ele estava um passo a frente, mostrando-lhe o caminho até que ao dar uma leve espiada nela, Liam reparou não ter nenhum papel em suas mãos.

— Onde está a carta?

— Guardada.

— Não trouxe bolsa consigo.

— Está guardada em um lugar seguro.

— É bom que esteja, pois já chegamos.

Um prédio de dois andares concentrava uma pequena multidão em suas portas, mesmo que a entrada para o mesmo fosse ampla, a quantidade de pessoas a saírem e entrarem era impressionante. Alguns saiam com pequenas caixas nas mãos e outros traziam consigo envelopes de variados tamanhos, alguns estavam de saída enquanto outros acabavam de chegar.

Jenny se virou para Liam e com um sorriso sutil estampado nos lábios, levou os dedos para seu decote e retirou por entre os seios um envelope dobrado e uma pequena bolsa de moedas. O Assassino soltou um curto assobio e manteve seu sorriso costumeiro.

— Lugar interessante para guardar algo. – Mas ele desviou os olhos para a entrada do prédio e deixou de lado a postura divertida. – Procure pelo Jimmy lá dentro, ele irá providenciar que sua carta seja embarcada o mais rápido possível.

— Ele é um de nós?

— Não, é só um amigo de velhos tempos. Diga que está comigo.

— Está bem.

A Kenway se dirigiu para fluxo de pessoas que se enfileiravam para adentrar o local e logo sumiu de vista em meio a tantas cabeças e chapéus juntos. O irlandês, por sua vez, caminhou até o limite da doca e ficou a contemplar o oceano, suas ondas e os barcos que nele repousavam. Seus ouvidos estavam surdos para as vozes, ou para os passos apressados e barulhentos que ecoavam atrás de si. Tudo o que ele ouvia era o som estridente emitido pelas gaivotas enquanto sua atenção estava em um pelicano inerte sobre um rochedo pertencente à costa. A maresia era inebriante, parecia ter a capacidade de incitar qualquer homem a se aventurar pelos mares sem nem ao menos considerar os riscos de tal empreitada. Não atoa os velhos marinheiros diziam: O mar é uma mulher cruel, a mais sedutora e mortal delas. Liam não tinha um pingo de dúvida e ainda sim era facilmente hipnotizado pelas curvas daquela infinidade azul.

A Assassina retornou em poucos instantes e seus olhos procuraram o rapaz por algum tempo até o reconhecer de costas há poucos metros onde o deixou. Ela o observava com empatia, pois podia imaginar o que se passava na cabeça dele e também em seu coração. Com passadas lentas e silenciosas, fez seu percurso até ele que não deu por sua presença até ouvir sua voz.

— Conheço esse olhar apaixonado.

— É mesmo?

— Sim, eu o tive por muito tempo e ficava como você, namorando o mar do porto de Londres. Acho que é de família, pois minha mãe nutria igual fascínio pelo mar.

Ele se virou e esqueceu o mar para se atentar à outra mulher que ocupava muito de seus pensamentos ultimamente. – Mas você navegou e pela corda que tinha em mãos quando a encontrei hoje, diria que sabe viver bem em alto mar.

— Sempre muito observador... – Um pequeno riso escapou por entre seus lábios enquanto ela o encarava nos olhos. – Meu pai me ensinou a velejar e terminei por ganhar um apreço especial pelas velas. São minha parte favorita no navio. Vejo nelas toda a beleza e também toda a peleja já enfrentada pela embarcação.

— Curioso, eu podia apostar que gostava mais do leme.

— Não conseguimos acertar todas, não é mesmo?

— É verdade.

O sino dá igreja próxima ecoou para todos ouvirem, cinco badaladas anunciaram o fim da tarde, anunciaram o chá dos ingleses e anunciaram a partida do sol. As pessoas apressavam-se para findarem seus afazeres, terminarem de carregar navios ou de descarregar. E aos poucos os comerciantes locais recolhiam sua mercadoria e fechavam as lojas.

— Vamos, logo será noite e a fronteira torna-se extremamente perigosa no escuro.

Jenny assentiu e o seguiu por entre as pessoas que cruzavam seus caminhos, tendo seu contato visual obstruído por diversas vezes devido às pessoas à intensidade do trânsito, a loira se apressou e segurou em uma das mãos de Liam que olhou surpreso ao sentir o toque dela.

— Não quero te perder de vista. – Ela lhe respondeu e teve um aceno com resposta.

Juntos eles driblaram e alcançaram o estábulo onde Valete aproveitou para beber água e descansar um pouco. Rapidamente, o rapaz desfez as amarras que prendiam o animal ali e o puxou suavemente para fora.

Liam o montou e auxiliou a loira a fazer o mesmo logo a seguir, contudo o frenesi de fim de tarde dificultava o avanço deles, com tantas pessoas ocupando as ruas, Valete tinha o passo lento e ainda que o Assassino preferisse por vias opcionais, não parecia haver jeito de melhorar a situação.

Após um tempo eles enfim deixaram Boston para trás e aceleram o passo rumo a fronteira, com o sol já se pondo no horizonte. Jenny apreciava os céus que adquiriram tons alaranjados e quando o cavalo fez uma curva em torno de uma alta montanha a visão do vale se expôs a eles, deixando-a completamente maravilhada.

— Liam, espere.

Ele freou Valete e em um salto ela já estava no chão, caminhando para as rochas no limiar do desfiladeiro. Seus olhos prendiam-se no brilho sobre as águas do rio que serpenteavam para o infinito, a brisa suave brincava com seus cabelos e desta vez foi ela quem não percebeu a aproximação dele até ouvir sua voz.

— Conheço esse olhar apaixonado.

— É tão bonito e tão pacífico.

— Veja ali embaixo, um casal de ursos. – Ele apontou para a base do desfiladeiro, onde um par de ursos se recolhia para uma caverna.

— Não deveríamos estar aqui. Não deveríamos trazer nossas guerras para essas terras.

— É tarde para isso, só nos resta lutar para não perdermos esse lugar.

— Esse lugar não nos pertence Liam, pertence aos nativos e eles continuam a perder.

— Nós os ajudamos, lhe ensinamos a lutar e se defender. – O irlandês se virou e a puxou em sua direção. – Até onde você me disse, também veio para proteger esse lugar não?

Jenny estava agora a poucos centímetros dele, seu olhar encarava o dele e antes que qualquer coisa pudesse resultar de tamanha proximidade, ela assentiu e se voltou para a vista uma vez mais. Todavia, Liam segurou-lhe o queixo e sem muito esforço a virou de frente para si.

— Então podemos fazer isso junto. – Ele se aproximou e com o cochicho completou. – Com ou sem o consentimento de Achilles.

— O que você está fazendo Liam?

— Me aproveitando da situação, como você me ensinou.

No instante seguinte a Kenway se rendia ao beijo caloroso do rapaz, envolvendo seus braços ao redor do pescoço dele e se permitindo aproveitar do momento e dos prazeres que aquela noite reservava aos dois.


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Notas finais do capítulo

Liam já saiu de casa com segundas intenções e agora se meteu entre a cruz e a espada.

Enquanto a Jenny está aproveitando para dar mais uma chance ao rapaz.

Aliás o nome desse cap quase foi A Beatiful Day porque eu tenho ouvido​ U2 pra entrar no clima desses dois rs.

Bom, veremos as consequências que essa pequena desobediência irá trazer ao casal.

Obrigada por lerem e até o próximo!



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