Assassin's Creed: Omnis Licitus escrita por Meurtriere


Capítulo 29
Acerto de Contas


Notas iniciais do capítulo

Mais um dia de Thor que vos trago o último capítulo de nossa Main Quest em Portugal. De longe este é o maior capítulo dessa saga até aqui e espero que a leitura não esteja maçante. Estou há uma semana sem jogar o Rogue porque estava me dedicando total a esse capítulo. Sei que o título foi bem clichê, mas é o que tem pra hoje. Sem mais apreciem a leitura ;)



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O sol da tarde rumava a passos lentos para a chegada daquela noite e próximo a um grande depósito de bacalhau fedido, John mantinha os braços cruzados e as sobrancelhas suspensas enquanto ouvia Jenny lhe explicar cada etapa de seu plano para a luta e posteriormente a invasão no castelo.

— Isso é loucura. – Concluiu o jovem marinheiro.

— Vai dar tudo certo, confie em mim. Com essa pequena dose na bebida dele, conseguiremos garantir que o príncipe tenha uma bela noite de sono.

— Que seja...

O marinheiro observava Jenny trajada como um rapazote mais uma vez, sob uma de suas mangas era notável o volume que as bandagens rendia ao local, onde ele sabia haver um ferimento grave a qual a garota adquiriu coincidentemente no mesmo dia da morte do tabelião. John preferiu abster-se em saber qual relação entre ela e o assassinato, mas temia que a jovem fosse a Assassina que o filho do homem alegou ver fugir da cena do crime. Além desse detalhe, ela também tinha bandagens velhas enroladas em volta das mãos e isso lhe chamou a atenção.

— Tem certeza que conseguirá dar conta de sua vingança com o braço assim?

— Os pontos já secaram e seu rosto já está inteiro também. Não podemos prolongar ainda mais, agora vá se preparar e avise a Rosa para se preparar também. – Ela lhe cedeu um sorriso confiante.

Percebendo que pouco conseguiria da garota, John se virou e partiu para encontrar sua amada e terminar os preparativos para a noite.

Enquanto isso, no Gralha, Anne Bonny arrumava-se e escolhia a melhor veste para tal ocasião. Desta vez não seria algo ousado, pois não eram dessa forma que as jovens do Moinho Vermelho se vestiam. Pelo contrário, as moças trajavam-se no limite do vulgar e do elegante. Optara por uma calça sob medida na cor preta, um corpete branco com detalhes em vermelho para marcar a cintura e seios, e por cima desta uma camisa de seda que esconderia sua Hidden Blade no pulso direito e de maneira discreta iria expor o decote fruto do corpete apertado. As madeixas vermelhas foram presas sobre o ombro esquerdo e na orelha direita uma flor dava o toque final. A ruiva vislumbrou a si mesma diante do espelho e de olhar fixo no próprio espelho refletia sob sua promessa e sob o que aconteceria a noite.

Duas batidas na porta lhe findaram seus devaneios e a Assassina se recompôs para responder. – Ente.

Era Sexta-feira que se limitou a abrir a porta e ali permanecer para dar um breve aviso. – A noite está caindo, está pronta?

— Quase, logo lhe encontro.

O rapaz assentiu e tornou a fechar a porta. Ela prendeu a Hidden Blade em seu pulso direito, abaixo da manga da camisa e no bolso da calça guardou um pequeno frasco de vidro. A ruiva deixou a cabine do capitão e juntamente de Sexta-feira partiram do Gralha a procura do trio que junto a ela tocariam naquela noite no pub onde ocorrem as lutas. Feito conseguido pela própria Assassina que com um pouco de charme convenceu os três a deixarem que cantasse junto a eles, obviamente os homens nutriam fortes esperanças de que Bonny gostaria de se juntar a eles em outros assuntos mais íntimos após o show.

A princípio o dono do pub, um português baixinho e barrigudo, não se importara com o repentino acréscimo no grupo que costumava alegrar as noites em seu estabelecimento. Enquanto os outros músicos subiam ao humilde palco para ajustarem seus instrumentos, o homem que já gozava de seus cinquenta anos, segurou a mão de Bonny, impedindo-a de se juntar aos primeiros e puxando para o chão, cochichou em seu ouvido.

— Podes ganhar cinquenta por centro a mais do que esses paspalhos se cantar para mim em meu quarto particular. Tenho uma flauta que irás adorar tocar.

Anne, que aprendera uma e outra palavra de português fora tomada por repulsa devido ao comentário sujo da tentativa de piada feita pelo homem, porém, sendo ela uma mulher que já convivia há anos com homens que lhe rendiam todos os tipos de investidas, estampou um falso sorriso e respondeu.

— Desde que me permita beber qualquer coisa.

— Combinado.

Excitado com a noite que em sua mente teria naquela data, o homem voltou para seu balcão onde logo começaria a receber as apostas da luta daquele dia.

Um pouco mais distante, em meio às ruas que já perdiam o movimento do comércio, Sexta-feira que se trajava com as roupas típicas de um escravo, puxava sozinho uma carroça cheia de feno em direção ao porto. Sendo facilmente ignorado por que passassem por perto, tomando-o apenas por um escravo qualquer a ser punido pelo seu dono que não deveria estar longe.

Misturado em meio a outros marujos, comerciantes e mulheres libertinas, John adentrou o pub com uma boina a fim de que não o reconhecessem. Jenny, também chegara e logo fora procurar o velho português para inscrever seu lutador no espetáculo daquela noite. Com um português salpicado de sotaque londrino, ela o abordou enquanto contava algumas moedas de ouro.

— Boa noite. – Ela vestia a tradicional boina puída pelo tempo, calças largas e blusa de tecido barato que escondia seus seios enfaixados.

— Boa noite. – Ele lhe respondeu sem nem ao menos lhe dirigir o olhar. –A aposta mínima é um vintém e nem adianta chorar por menos.

— Não pretendo chorar e sim te oferecer o adversário do Príncipe.

De imediato, o português ergueu a face avermelhada pelo calor que fazia naquela noite e coçou o bigode nojento com pingos de suor.

— E quem quer lutar contra o Príncipe? Pois já temos um candidato para hoje?

Jenny ficou alguns instantes a tentar adivinhar o que o homem lhe dissera, visto que seu português ainda era precário.

— Alguém hábil e com experiência que certamente irá derrotar seu Príncipe.

O velhote soltou um riso único e seco para depois lhe responder. – Essa não é a primeira vez que ouço isso, muitos já tentaram antes e acredite em mim quando digo que nenhum deles cumpriu o que disse. Deixe-me ver seu estupendo lutador e vejo se posso lhe encaixar em alguma luta até o fim do mês.

A Kenway suspendeu um saco pesado de moedas e depositou sobre a bancada diante dos olhos do dono de pub que quase não acreditou ao ouvir aquele som.

— Acredito ser o suficiente para encaixar meu lutador hoje não? Ele está muito ansioso.

— Apenas me diga o nome para que eu possa anunciar ao público.

— James. Estarei esperando pelo Príncipe.

Com um sorriso no canto dos lábios ela o deixou a contar as moedas que pretendia reaver mais tarde e sentou-se não muito distante com os olhos fixos na entrada a espera de seu adversário. Em um canto, Bonny cantava músicas irlandesas indecentes à maioria dos ouvidos ingleses, em outro estava John rastreando os escravos alforriados que ele deveria tirar de circulação durante a luta e em algum lugar lá fora estaria Sexta-feira pronto para abater esses mesmos escravos e esconder seus corpos de vista. Mas quase que reclusa em meio a tantas pessoas que pareciam se multiplicar em um piscar de olhos estava Jenny com o seu coração acelerados, suas mãos soando e a boca seca. Primeiro havia o temor de enfrentar pela primeira vez alguém que não seria seu amado Sexta-feira. E mesmo vencendo a luta, iria ouvir poucas e boas tanto do rapaz quanto de sua mentora e sabe-se lá o quê ela decidiria fazer e pra piorar nem podia tomar um gole de rum para lhe acalmar sem por em risco suas chances de vitória. Por isso seu estômago revirava-se feito um peixe recém-pescado ansiando voltar para casa.

Perdidas em seus próprios questionamentos internos, a Kenway não soube mensurar o tempo que esperou até ouvir os gritos e bagunça que anunciava a chegada do grande campeão, José. Ela se ergueu de um salto, respirava igual a mulheres em trabalho de parto, esticava o pescoço e saltitava para aquecer as pernas. O dono do pub a caminho de encontrar seu pote de ouro ambulante parou próximo a ela.

— Essas são as regras, perca a luta e ganhará dez por cento do valor das apostas, tente pensar em ganhar a luta e ganhará uma boa surra com sorte, duas se tiver azar.

Com dois tapinhas sobre o ombro da menina, ele seguiu em seu trajeto para receber seu magnífico Príncipe. Com todo o alvoroço em torno de José, ela voltou até o balcão onde o português recebe as apostas e achou algumas garrafas vazias e velhas empilhadas abaixo deste. Com agilidade e cuidado para evitar barulhos, ela retirou meia dúzia das garrafas e achou o que queria, um baú pequeno de madeira e trancado com um cadeado longo. Certamente ali estavam as moedas das apostas.

Sem demora, ela colocou as garrafas de volta em seus respectivos lugares e afastou-se do balcão de apostas para tomar seu lugar no ringue. Seu plano começava a ser executado. Em um local alto e de fácil localização, Anne Bonny foi avistada pelo Príncipe José e este se desviou de todos até chegar até ela que continuava a cantar, mas com a aproximação do monarca encerrou a canção.

A Kenway não poderia ouvir o que estava sendo dito a ela àquela distância, mas o viu segurar em uma das mãos da ruiva que mantinha um sorriso sem igual nos lábios. A loira viu a Assassina oferecer sua garrafa para José e teria pago um vintém para descobrir como ela o havia convencido a beber tão facilmente, agora precisava esperar e torcer. Voltando ao seu caminho, ela emaranhou-se entre as pessoas até chegar à arena onde ocorreria o embate.

O dono do pub parecia arrastar o Príncipe para longe de Bonny que mandou um beijo para ele, Jenny não conseguiu conter o risco e concluiu que a pirata era sem dúvida a melhor atriz que já vira em ação na vida.

— Senhoras e senhores, hoje teremos um espetáculo inesquecível. Um jovem audaz e corajoso desafia nosso Príncipe José para uma luta de homens! – O pub parecia perto de explodir em meio a gritos e vaias dos mais vários timbres. - Seria uma prova de amor para a mais bela das mulheres? – Anne recebera sobre si o olhar do dono do pub e do Príncipe que estava afoito para terminar aquilo. – Pois somente pela glória de derrotar nosso imbatível Príncipe ou pelo amor de uma mulher os mais bravos se aventuram em nosso ringue.

— Ou pelo rum! – Gritou alguém em meio à multidão, arrancando risos e gargalhadas.

— Tem razão, ou pelo rum e pelo vinho. Bom, preparem-se, pois de um lado teremos o nosso herói, Príncipe José! – Gritos e aplausos tomaram conta da atmosfera a ponto de ensurdecer alguém já surdo. – Do outro o destemido James! - O homem ergueu o braço bom de Jenny para o alto a fim de apresentar a concorrente da noite para o público. – Façam as suas apostas!

Anne Bonny cessou o levar da garrafa aos seus lábios ao visualizar que o tal adversário do Príncipe José seria Jenny disfarçada, seus olhos castanhos eram puro espanto que passara despercebido por aqueles que estavam por perto e na pior das hipóteses ela poderia dizer que se espantaria com tamanha audácia do rapaz franzino a desafiar o campeão invicto. Mas era tarde, o plano já estava em curso e o príncipe havia bebido a pequena dose do sonífero que não o apagaria, mas reduziria significativamente seu vigor. Não havia como tirar a Kenway da luta a essa altura e tudo o que restava era torcer para que o efeito da droga não demorasse a surtir efeito em José.

Também estupefato estava John que deixou o copo de cerveja cair juntamente com seu maxilar ao ver quem era o misterioso lutador da garota. O marinheiro não conseguiu nenhuma reação melhor se não observar e aguardar que tipo de plano ela teria em mente, pois ela já havia demonstrado algum conhecimento em lutas, mas lutar efetivamente e contra alguém como o Príncipe era algo deveras difícil. Não precisaria de muito esforço para que Jenny saísse da luta com alguns ossos quebrados.

Um dos escravos alforriados passava a sua frente recolhendo apostas fervorosas dos homens e mulheres que se empolgava com a perspectiva de ver o massacre que haveria naquela noite. O dono do pub de certo calculou que aquela seria sua noite de sorte devido aos lucros que recolheria e também com a noite luxuriosa que ele esperava junto a Bonny. José, por outro lado, também pensava na cantora ruiva que compartilhou da mesma cerveja com ele e tudo o que queria era acabar logo com a luta. Por sua vez, John pouco via de sorte ao seu lado e só torcia para sair vivo daquela que seria sua maior empreitada.

— Apostas encerradas! – Anunciou o velho português. – Estejam preparados, pois teremos sangue hoje! Lembrem-se, dois homens entram e apenas um homem sai! Tomem suas posições.

José esticava os ossos dos punhos e pescoço de um lado da arena no exato centro do pub, permitindo assim, plateia de todos os lados. Jenny apenas tentava controlar seu coração dentro de sua caixa torácica. O Príncipe foi o primeiro a avançar e a Kenway o imitou, começaram então a valsa em que um avalia o outro, nesse caso apenas ele a avaliava, visto que a jovem já o vira lutar anteriormente. A jovem mantinha a guarda alta, mas sem esperanças em ter alguma defesa efetiva contra o homem que devia ter pelo menos uns quinze centímetros a mais e sem brechas em sua postura. De fato era um lutador com experiência enquanto a loira era uma novata.

A garota trabalhava os pés, hora mantinha a base na esquerda e noutra mantinha na direita, dessa forma ele não poderia calcular de onde viriam os golpes, mas o Príncipe tinha pouco interesse de prolongar aquilo e iniciou o show cedendo um gancho de direita que ela desviou sem dificuldade e aproximou-se das costelas do homem com o claro intuito de lhe acertar um golpe, mas José fora rápido em perceber isso e deu um passo para trás.

— Com medo grandão? – Ela o provocou em inglês.

O monarca arqueou as sobrancelhas em espanto e o breve instante permitiu Jenny se aproximar, em resposta ele tentou o gancho mais uma vez e ela fez a mesma firula. As vaias ecoaram e a careta de José refletia seu aborrecimento, de certa pensava que um reles magricela estava a zombar de sua cara.

— É você que está fugindo. – Grunhiu ele atrás dos punhos fechados.

— Então vem me pegar.

No meio da multidão John abordou um dos escravos que fazia a “segurança” local e com o pretexto de ter vistos homens cochicharem sobre um assalto e com muita gentileza, John o guiava até a porta dos fundos e assim que chegaram ao exterior encontraram uma carroça carregada de feno.

— Não tem ninguém aqui, o que significa isso?

O negro já enraivecido se virou para o marinheiro e repentinamente uma sombra saltou de dentro da carroça e acertou a nuca do escravo em um baque quase surdo. O homenzarrão desabou no chão e John se viu cara a cara com outro negro, este muito mais baixo e magro que o primeiro.

— Quem é você? – Perguntou o jovem ao marinheiro.

— Amigo da Jenny e você? 

— Não devia estar lutando lá dentro? E cadê a Jenny? – Questionou Sexta-feira encarando aquele homem dos pés a cabeça.

— Lutando.

— O quê? Como assim? Você é quem devia estar lutando.

— Eu? Eu disse a ela que não entraria mais naquela arena e ela me disse que tinha um amigo bom no navio dela. - O rapaz negro praguejou qualquer coisa em uma língua irreconhecível aos ouvidos do galês e este concluiu que estava diante do tal amigo bom dela. – Você é o amigo dela?

— Um pouco mais que amigo.

— Vocês são amantes? – Sexta-feira arqueou a sobrancelha e John rapidamente completou. – Curiosidade profissional.

— Guarde sua curiosidade para outra hora, ainda há mais desses lá dentro não? – O marinheiro assentiu. – Traga-os para cá enquanto dou um jeito nesse corpo.

John já se virava para voltar para o interior do pub quando o jovem negro lhe chamou novamente. – Hey! – o loiro virou-se para encará-lo e com algo que pode ser nomeado como preocupação, viu Sexta-feira perguntar. – Como está a luta?

— Ela está inteira, parece dominar a situação.

Um pequeno e discreto sorriso desenhou-se nos lábios do companheiro de Jenny antes de John voltar para a multidão que gritava lá dentro a tempo de ver a garota provocar ainda mais José, mas desta vez, já sabendo do movimento dela, o Príncipe antecipou a finta que ela iria dar e acertou em cheio uma cotovelada no nariz dela. A plateia foi à loucura ao ver sangue escorrer. O monarca riu enquanto ela tentava conter o sangue e a dor, era a primeira vez que tinha os ossos do nariz quebrado.

Bonny estava estarrecida com o golpe, em sua face estava a apreensão de ver uma menina sendo espancada por um homem, mas ninguém parecia reparar em nada que não fosse a luta. John fazia careta como se fosse seu próprio nariz a sangrar enquanto seguia para o próximo alforriado.

Jenny ergueu o rosto sujo de sangue e encarou seu adversário – Isso é tudo o que tem?

O sorriso do monarca desapareceu e incrédulo com a ousadia dela, José avançou com ambos os punhos em riste e desta vez tentou ajustar um gancho por debaixo do queixo da loira e ela inclinou-se levemente para trás, sentindo o sutil raspar do punho dele contra sua pele. Não seria o suficiente para lhe derrubar, mas ela caiu de propósito para avivar ainda mais os gritos do público. Afinal era um show que eles queriam e era isso que ela precisava lhes dar, além de tempo para que John se livrasse dos escravos junto a Sexta-feira.

John ajudava Sexta-feira a erguer o corpo do segundo alforriado e jogá-lo dentro do feno junto ao primeiro desacordado. O marinheiro optou por não contar ao rapaz sobre o golpe que vira Jenny receber instantes atrás, mas a possibilidade dela perder botava em cheque todo o plano e isso lhe causava o mesmo temor que criminosos sentem ao pensar nas consequências de serem pegos em flagrantes.

— Me diga, o que faremos se ela perder lá dentro?

— Ela não irá perder. – Sexta-feira limitou-se a responder, sem nem pensar duas vezes.

— Você nunca viu aquele cara lutar...

— E você nunca viu Jenny lutar.

O rapaz se virou e deu um sorriso confiante ao marinheiro que mesmo com aquelas palavras ainda se mostrava descrente das capacidades da Kenway.

No conflito, a loira fingia se recuperar da queda enquanto José dava voltas na arena com os braços erguidos, parecia comemorar até ver de relance a garota ajeitar a boina puída sobre a cabeça e se reerguer. Com um ímpeto de fúria, o monarca avançou tal qual um touro em direção ao seu adversário e nos instante seguinte os dois corpos se chocaram, ele a derrubou mais uma vez no chão com a potência de seu ombro e aproveitando-se que a guarda estava baixa, Jenny alocou uma joelhada no exato ponto do estômago de José. Ele arfou com o golpe, mas a garota não lhe deu tempo de reação e iniciou uma sequencia de socos de rápidos em suas costelas.

Havia ali uma escolha a ser feita, ou o Príncipe refazia sua guarda ou ele a mantinha presa sobre si e devido aos sucessivos golpes ele optou em defender-se, pois era claro agora que seu adversário era mais ágil e de maneira que ele nunca poderia imaginar era bem resistente também. Foram segundos para Jenny escapulir daquela montanha que a aprisionava e dar uma boa olhada nas pessoas ao redor e enquanto José se levantava já demonstrando algum cansaço, ora o homem podia ter bons punhos, mas não estava acostumado a adversários que não desistiam para manter sua glória intacta. A vida boêmia cobrava um preço e por mais que mantivesse diariamente a pequena diversão de meter-se em brigas baratas e compradas era incomparável a rotina de treinamento que a Kenway levou nos últimos anos com a rotina regada a mulheres, bebida e uma vida fácil no castelo onde residia José.

Jenny não conseguiu localizar nenhum escravo alforriado e na cara do dono do pub encontrou um misto de fúria e espanto, ele gritava para ela palavras que se perdiam em meio a toda algazarra que se instalou no local e era difícil dizer se o que movia tantas vozes era a grande reviravolta da luta ou insatisfação de ver seu herói perdendo e levando consigo todo o dinheiro de vossas apostas. Era hora de acabar a luta.

A jovem correu na breve distância que separava ela de José e quando ao alcance do punho dele que se esticava para lhe atingir a fase ela abaixou-se e com a perna esquerda passou uma rasteira nos pés do Príncipe que veio desabar no chão de bruços. Ele tinha uma péssima base e não sabia trabalhar bem as pernas, isso lhe custava agilidade que sobrava na loira. O monarca apoiava-se sobre as mãos e joelhos para se levantar, porém antes que pudesse de fato erguer o rosto, o cotovelo da Kenway o atingiu na nuca e de seguida seus olhos fecharam quando seu rosto bateu contra o solo do pub. A luta estava encerrada.

Silêncio. Olhando para todas as direções, tudo o que via era surpresa, pessoas estupefatas, talvez até admiração em certas expressões. O dono do pub correu até José que permanecia desacordado e assim ficaria até a manhã seguinte. A primeira voz a ecoar foi da cantora ruiva misteriosa que muito coincidentemente havia aparecido naquela noite.

— Vivas para o novo campeão! James, o audacioso.

Quase que como crianças envergonhadas, os gritos e assobios retomavam o local. As pessoas se aproximaram de Jenny e alguém suspendeu o seu braço para o alto. O nível alto de embriaguês fazia aqueles homens e mulheres esquecerem o dinheiro perdido. Tão repentino quanto a nova empolgação diante de um novo campeão, surgiram por entre a multidão a dupla que a Kenway esperava ver. Sexta-feira e John abriam caminho por desculpas e com licença aqui e ali até alcançarem o corpo moribundo do Príncipe.

— Quem são vocês? – Questionou o dono do pub assim que percebeu que os dois se ajeitavam para pegar o corpo de José.

— Ele é o cocheiro e eu sou o cara que terei meu salário descontado porque esse canalha vai chegar apagado no castelo. – respondeu John sem deixar de fazer o serviço.

— Eu o conheço de algum lugar? – O velho tentava se aproximar do rosto do marinheiro que tinha a cautela de mantê-lo baixo.

— Talvez de outros turnos meu... Agora se nos da licença.

Com um árduo trabalho ambos suspenderam o corpo de José, cada um segurando uma extremidade oposta à outra e assim foram abrindo caminho pelas pessoas bêbadas que começavam a cercar o dono pub e cobrar, sem razão, o dinheiro das apostas. Jenny não precisava entender português para distinguir uma discussão que se acalorava. Aproveitando-se da confusão que se instalava no local, ela voltou até o pequeno galpão onde ficava escondido o baú velho. Sem muito tempo a perder, a loira jogou as garrafas vazias de lado e puxou para si o pesado baú.

Quando se reergueu, a Kenway não vira mais Anne sob o palco onde os músicos antes tocavam, contudo estes também foram cobrar o pagamento do dono do pub, que sem seus escravos alforriados para intimidarem seus cobradores, via-se cercado e sem saber o que fazer. Sem levantar qualquer alarde, Jenny fugiu pela porta dos fundos e lá encontrou a carroça com feno e um braço pendurado para fora deste.

Sem delongas ela passou pelo lixo e alguns ratos que corriam pela viela até chegar à rua principal onde diferenciou sem maiores dificuldades a carruagem real. Era estranho não ouvir música alta vinda do pub e sim vozes que se alteravam enquanto alcançava enfim o transporte que colocaria ela e seus amigos dentro do palácio.

Ao abrir a porta, Jenny deparou-se com um John que sorria animado e uma Ane Bonny com cara de poucos amigos, enquanto Sexta-feira seguia a frente como cocheiro.

— Cuidado ao subir.

A Kenway paralisou a perna já levantada e deu uma olhada no chão da carruagem, vendo ali estirados José e outro homem que ela desconhecia. Evitando pisar neles, ela empurrou ambos para o lado e subiu. Era uma bênção a carruagem ser larga e bem confortável, assim poderia acomodar os dois desacordados.

— Quem é esse?

— O verdadeiro cocheiro. – Respondeu Bonny enquanto batia sobre a portinhola que dava acesso ao cocheiro, logo estavam em movimento. – Agora me responda o que deu na sua cabeça para se meter naquela luta? Não era John que iria lutar?

John olhou surpreso para a ruiva que mantinha os orbes fixos na loira, ignorando completamente a presença do marinheiro ali e ele assim preferiu ficar.

— John não quis lutar e eu não quis por em risco a segurança dele.

— Você deveria ter-nos avisado primeiro.

— E quem, se não eu lutaria?

— Encontraríamos outro meio de entrar no castelo se fosse o caso. – Bufou Bonny enquanto retirava um lenço de dentro da camisa. – Limpe esse sangue do seu rosto e daremos um jeito no seu nariz.

— Eu sei concertar narizes quebrados. – Afirmou John com euforia na voz.

— Ótimo, de um jeito no rosto dela.

O marinheiro e ela aproximaram-se da janela para assim captarem o máximo possível da luz do luar e em um crack e com uma dor lancinante, o nariz da Kenway estava no lugar tão dolorido quanto o resto de seu corpo.

— Uma vez meu pai arrancou o nariz de um cara e ele provavelmente sentiu menos dor do que eu. – Jenny lamentava-se com as mãos sobre o local como se pudesse proteger o rosto de mais algum dano.

— Era o cozinheiro e ele nunca mais conseguiu falar corretamente. – Concluiu Bonny, tentando manter para si a lembrança repentina de seu capitão lhe contanto a mesma história.

— Imagino que seu pai tivesse um paladar muito refinado para punir alguém assim... – Comentou John.

— Foi um acidente em meio uma invasão.

A velocidade, então, diminuiu gradativamente e lembrar-se de Sexta-feira fez a garota se recordar que o pior sermão viria dele depois que tudo estivesse concluído e ele provavelmente ficaria de mau humor por um bom tempo.

— Chegamos e agora? – Indagou um John apreensivo a olhar de Jenny para Bonny a espera de uma resposta.

— Agora você será o guarda do Príncipe e Jenny o ajudará a por esse traste para dentro. – Explicou Anne tanto ao marinheiro quanto a jovem.

— Espera! Eu pensei que iria junto com você atrás de Paul.

— Não. Chega de meter você em confusões desnecessárias, siga com John até os aposentos do Príncipe e eu encontrarei nosso alvo.

A carruagem real enfim estacionou de frente a grandiosa e gloriosa entrada do palácio que sobre a escuridão da noite pouco mostrava de sua beleza estonteante. Do lado de fora, a espera de sua realeza, estava um servo sonolento erguendo uma lamparina acessa a queimar óleo de baleia em seu interior.

— Não estamos uniformizados como soldados.

— Os guardas de José se embriagavam e se divertiam tanto quanto a ele, duvido muito que usassem os uniformes. Agora vão.

John abriu a porta da carruagem e logo desceu ao solo, o servo que pareceu surpreso ao ver John descer e de seguida pegar as pernas do que ele viria logo, a saber, serem do Príncipe José, se adiantou em se aproximar e questionar o motivo daquele estado.

— M-Mas o que aconteceu com o Príncipe?

Jenny já descia segurando com grande esforço o tronco do homem, mantendo sempre o rosto baixo para evitar questionamentos que ela sem entender uma palavra não poderia responder. Bonny manteve-se na escuridão interna da carruagem, assim como o corpo do verdadeiro cocheiro que fora sentado apoiado sobre a porta fechada, do lado oposto de onde retiravam o corpo moribundo do monarca.

— Briga boa. Um cara de Londres o botou pra dormir hoje. Agora se puder abrir as portas para que possamos levar ele para seu aposentos, eu muito ficaria grato. – Afirmou John em um perfeito sotaque português adquirido depois de muito tempo conviver nas terras lusitanas.

— E quem é você?

— João, oras. Não está me reconhecendo? Estive na ronda das manhãs nas ultimas semanas, por isso não se lembra. Se não se importa em se apressar, não quero que vossa alteza desperte em meus braços e tenha uma péssima surpresa.

— Oh sim, claro...

Com isso, o servo magro e ainda confuso com toda aquela explicação no alto da madrugada, adentrou o castelo e seguiu por corredores e escadas até chegar aos aposentos do Príncipe, com John e Jenny no encalço esforçando-se ao máximo para carregarem mais de cem quilos com apenas quatros braços. Quando por fim o apressado servo abriu as portas de madeira polida que davam acesso ao local de descanso do Príncipe, a dupla quase o deixou cair no chão, tamanha eram vossas insignificâncias diante de todo aquele luxo ali contido. Espelhos com bordas de ouros, taças de ouro, flores silvestres, cortinas de seda egípcia, tapetes persas e toda a mobília de pau-brasil faziam parte daquele local.

 - Apressem-se, apressem-se! – O servo dizia após perceber o encantamento por parte da dupla. O que para ele não era surpresa, pois poucos eram os criados e servos que tinha permissão para adentrar nas acomodações reais.

Os dois seguiram até a cama e com alivio nos ombros e braços jogaram o corpo do Príncipe sobre a cama macia e espaçosa, causando inveja até mesmo na Kenway que teve lá sua pequena dose de luxo ao viver em Londres, mas nada se compararia àquilo. Nesse instante dois homens entraram conversando no quarto, tomando o trio de “servos” por espanto com a repentina aparição. John e Jenny manteram as frontes baixas e retiravam com cuidado sapatos e meias de José.

— Veja que absurdo! O Príncipe de Portugal ser carregado feito um mendigo até sua própria cama por dois lacaios imundos dele. Isso é inadmissível, Marquês!

— Tenha calma Paul. Ele é jovem, são coisas da idade.

De imediato Jenny ergueu os olhos para fintar o homem a qual o Marquês chamou de Paul e lá estava ele. De tez clara, olhos azuis e cabelos oleosos que lhe caiam até os ombros, vestindo nada mais que calças e uma camisa. No dedo mindinho de sua mão direita estava o anel em formato de cruz que o denunciava como templário. De certo saíram da cama às pressas, pois alguém já os havia informado da vergonhosa situação do Príncipe.

— Ele será o futuro rei de Portugal, terra muito apreciada e agraciada pelo nosso rei Jorge.

— Tenho certeza que tal situação é deveras insignificante e que não valeria o incomodo a vossa alteza.

— Oh, meu bom Marquês, como bem se lembra, situações extremas pedem medidas extremas. Vossa graça deve saber e ser informada de tudo o que vos lhes respeita. Uma carta será enviada amanhã logo cedo e espero que tome as rédeas de seu Príncipe ou alguém irá fazer isso por você.

Dita todas as ameaças, Paul se virou e partiu do quarto com o Marquês de Pombal em seu encalço ainda balbuciando qualquer coisa e sem esperar um único instante, Jenny seguiu o rastro deixado por ambos.

— Hey... Para onde está indo rapaz? Volte aqui! – Exclamou o servo que abaixava as cortinas para ceder privacidade ao Príncipe.

— Ele está apertado para mijar, bebeu muita cerveja. Sabe como é né?

John esboçou seu melhor sorriso amarelo, visto que estava tão surpreso quanto o criado português que deveria ser o baba ovo particular do Príncipe em seu dia a dia dentro do castelo. Estando a lua alta no céu, havia poucos ruídos no palácio real e devido a isso não fora difícil seguir os passos apressados do Marquês que parecia um cachorro atrás de Paul. Também não havia movimento, logo não havia de quem se esconder, sendo assim descendo alguns degraus e passando por corredores enfeitados por quadros, bustos, escudos e espadas ela ouviu por fim um baque forte. Jenny esgueirou-se atrás de um busto de mármore, esperando o Marquês de Pombal desistir de convencer Paul e ires embora, ao passo que o segundo se trancou no que provavelmente seria seus aposentos particulares.

Sem ninguém a vista, ela seguiu até a porta de onde nascera o barulho, contudo antes de qualquer coisa, ela procurou por entre as tochas que iluminava o castelo alguma espada de adorno, com sorte encontrou um sabre fino e com uma para mão decorada de ouro e prata. Não havia fio, mas a ponta era fina e iria bastar para o que ela pretendia fazer. Seu peito inchava enquanto reunia dentro si coragem antes de por sua mão na maçaneta, estava obviamente trancada e sem ter a certeza se haveria uma janela ou qualquer outro acesso ao local, sua escolha limitou-se a bater e esperar.

— Quem é? – A voz de Paul saiu nítida e autoritária do outro lado da porta.

— Tenho uma carta de ordem destinada a você. – Jenny lhe respondeu em seu inglês, torcendo para que sua mentira descabida despertasse o mínimo de curiosidade no homem.

O som do ferrolho a correr pela tranca lhe deu a certeza que ele mordera a isca e no primeiro momento que ela o viu pela fresta da porta, que mal havia sida aberta, ela jogou-se contra a madeira e empurrou como um touro enfurecido a fim de entrar. Assustado, o homem cedeu alguns passos para trás enquanto a Kenway bateu a porta atrás de si e trancou-a antes de se virar para o homem.

— Quem é você? – Ele a questionou em seu inglês londrino.

A loira olhava rapidamente o ambiente onde estava, havia conforto e fartura ali. Um luxo encontrado apenas dentro de palacetes como aquele. Com espada em punho ela enfim o enfrentou.

— Vejo que matar meu pai lhe rendeu bons frutos até agora.

Atordoado com repentino ataque, uma confusão tomou conta da face de Paul que se mantinha a distância dela.

— Não sei do que estás falando.

— Olha bem para mim, tente se lembrar...

— Eu não o conheço e não faço ideia do que está me acusando.

— O nome Kenway talvez possa lhe ajudar a recordar.

De imediato a expressão dele transformou-se de confusão e indignação para temor. Seu pomo de adão destacou-se em sua garganta quando engolira a seco antes de lhe questionar.

— Você é um Assassino? Pois não tenho nada do Kenway comigo, um único mapa sequer. Então se veio aqui com intuito de recuperar qualquer coisa sinto em lhe desapontar.

Jenny ignorou as perguntas dele, pois em sua garganta ansiavam por sair questionamentos que ela precisava esclarecer. - Qual era o propósito de o matarem? Tomarem para vós Londres? Roubarem mapas de frotas? Dinheiro? Diga-me!

— E importa? O que está feito já está feito e um reles Assassino não vai conseguir mudar isso, ainda que me mates. Grande honra há em matar um homem desarmado. – Ele cuspiu no chão ao término de sua fala.

— Não me venha falar de honra quando seis homens invadiram a minha casa, mataram o meu pai e levaram meu irmão! Tu não tens moral para falar de honra para mim! Tu não tens direito de julgamento quando condenaram toda uma família sem um. E tu não terás direito a piedade e perdão de nenhum Kenway ainda vivo.

Impulsionada pela fúria e sede de vingança, Jenny correu com o sabre em punho e para sua surpresa Paul correra até sua própria espada, sacando-a de dentro da bainha. O homem se defendeu do golpe e bradou sua arma contra ela que não se desviou, mas segurou a lâmina afiada dele com a mão que sangrou ao toque do fio. A loira não sentiu dor, e nem a quentura do sangue a escorrer pelo seu braço, pois ao passo que o templário estava estupefato com sua repentina atitude. O punho direito de Jenny estocou a ponta de seu sabre conta a barriga de seu alvo e lentamente ela perfurava pele, gordura, músculo, fibra, nervos e intestino. Um fio de sangue brotou da pequena, mas profunda ferida do templário que olhava o cintilar reluzente da arma que lhe tirava pouco a pouco a vida. 

— Para onde levaram o meu irmão? – A jovem cochichou junto ao ouvido do templário.

— Turquia... A garota... Birch... Reginald Birch.

— Birch? Como conhecem esse homem? Que garota? Meu irmão está na Turquia? Responda-me!

Sem paciência, Jenny sacudia o homem tentando arrancar de qualquer maneira suas preciosas respostas, mas tudo o que fizera era perfurá-lo ainda mais até que as pernas de Paul perderam as forças e percebendo o ímpeto de cair, ela retirou o sabre de sua barriga, permitindo assim que os joelhos dele enfim cedessem e seu corpo tombasse de lado. O sangue escorria do corpo para o chão, levando consigo as respostas que ela tanto ansiava.

— Templário...

Sussurrou Paul pela última vez em sua vida. Não havia mais nada a ser feito, de sua mão caiu o sabre sujo de sangue e começava a sentir a dor da palma esquerda que insistia em sangrar. Ela precisava escapar dali o quanto antes, não tardando em deixar o quarto para trás e se vendo perdida dentro do castelo. Não sabia como reencontrar John e muito menos Bonny que poderia estar escondida em qualquer lugar. Optou por descer todas as escadas que encontrasse, em algum momento estaria novamente no térreo e nos estábulos estaria Sexta-feira a espera de todos.

Conseguira de fato chegar ao térreo do castelo, mas não sem esbarrar naquele criado magricela que conduzira ela e John até os aposentos de Príncipe.

— Hey! Aí está você. O que é esse sangue na sua mão?

A nítida curiosidade expressa nos olhos do homem foi o suficiente para que Jenny compreendesse que o homem se referia à sua mão ferida e como último recurso ela começou a chorar e balbuciar palavras indecifráveis.

— O que está dizendo? O que houve? Diga-me.

O criado começava a se desesperar e a loira apontou para o local de onde viera e conforme planejado o homem a deixou para seguir até os andares superiores. Quando ela por fim alcançou o ar fresco da madrugada o sino tocou no alto e ela sabia que o criado havia encontrado o corpo ensanguentado de Paul. John estava já no jardim exterior à espera e alcançou a garota assim que vira sair do castelo.

— Onde está sua amiga de cabelos vermelhos? – Ele a questionou.

— Eu não sei.

Não muito distante, Sexta-feira incitou os cavalos que aproveitaram o breve descanso para se alimentarem e beberem água. O corpo do verdadeiro cocheiro fora despachado em uma baia vazia e com toda aquela algazarra ele logo despertaria. Não havia tempo a perder e sem pestanejar ele refez o mesmo caminho que o levou até o estábulo. Os cavalos relincharam, mas obedeceram ao comando e em seus picos de velocidades tornaram-se logo a vista de Jenny e John.

Sexta-feira freou os dois animais para que os comparsas adentrassem à carruagem e logo questionou pela Assassina.

— Onde está Bonny?!

— Não sei! O que faremos?

— Seguimos para o Gralha, Owel e a tripulação estão preparados para partir. – Respondeu Sexta-feira.

— Eu preciso ir ao Moinho primeiro!

— Não podemos deixar Bonny para trás. – Indagou à jovem

— Ela irá nos alcançar, seguirá para o Gralha.

Desta vez Sexta-feira não esperou por qualquer argumento fosse de Jenny ou de John, as rédeas dos eqüinos estalaram e os quadrúpedes avançaram sobre a estrada de pedras que cortava o jardim real até os limites dos muros. Contudo, alertados pelos sinos, soldados surgiram a postos e sinalizando para que parassem, visto que Sexta-feira ignorou completamente seus avisos, pelos flancos aproximavam-se soldados montados que diminuíam com rapidez a distância entre eles e a carruagem. Quando o primeiro preparava-se para abordar o veículo ouviu-se um tiro. O soldado caiu em seguida. Mais um disparo e outro corpo no chão. Pela retaguarda e com a bravura de um cavaleiro nato, estava Anne Bonny dando cobertura à carruagem que já seguia pelas ruas de Lisboa

Com a ruiva distraindo os soldados montados, Sexta-feira pôde enfim frear o veículo em um local seguro para que o marinheiro pudesse descer em segurança. Sem perder tempo ele escancarou a porta que já tinha alguns arranhões causados pela fuga e pulou para terra firma. Virando-se para encarar Jenny e Sexta-feira uma última vez.

— Isso é para você. - A Kenway puxou de baixo do banco o baú que roubara do dono do pub, ainda com o cadeado fechado. - Seja cauteloso com isso.

O jovem marinheiro tomou para si o pequeno baú e o segurou por sua alça lateral. – Nos veremos novamente?

— É mais seguro para você e Rosa que nós nunca tenhamos nos conhecidos. Acredite em mim, ninguém gosta de ser amigo de piratas. – O loiro lhe cedeu um sorriso e meneou com a cabeça. – A propósito, nunca abandone a Rosa, não acharás outra como ela por aí.

— Fique tranqüila quanto a isso.

Os sons de tiros se aproximavam e era sinal que a Assassina estava queimando pólvora não muito distante do trio. Logo, Sexta-feira desceu de seu banco, soltou os dois cavalos enquanto a loira cedia um forte abraço no galês. No instante seguinte, ela e o negro cavalgavam rumo ao porto ao passo que John corria em direção oposta, para libertar a amada enfim.

Com uma mira de causar inveja, a Assassina não desperdiçou uma única bala, mesmo porque seu estoque era limitado e sua Hiden Blade havia tido sua parte no trabalho. Sendo Lisboa uma cidade portuária, as ruas possuíam caimento sempre para o mar, auxiliando na fuga do trio que logo alcançou o cais. O Gralha que já tinha as velas cheias abria distância para com a terra, fazendo o trio apresar-se em deixar para trás os cavalos ao desmontarem ás pressas e saltarem no primeiro bote a remo a vista deles. E quando o sol começava a raiar no horizonte, Anne Bonny, Sexta-feira e Jenny Kenway subiram a borda pelas escadas laterais na fragata que ostentava a bandeira pirata mais uma vez.


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Notas finais do capítulo

Não me considero boa para escrever cenas de luta, mas acho que acertei nessa (espero né). Tivemos uma boa dose de ação e um pouco da Jenny Assassina. Sinceramente não vejo ela desejando um "descanso em paz" pros templários, o pai não desejava né rs

E tivemos enfim o nome revelado do Grand Vilão Dessa história né? Reginald Birch...Olha, essa Jenny está tão mortal quanto o Haythan no Forsaken, ele que se prepare. Falando em Haythan, ela perguntou por ele... O que aguarda agora para essa Jenny ferida e com mais perguntas do que respostas?

Nos próximo capítulo... Levantar velas, homens e sigamos para a Turquia.



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