Assassin's Creed: Omnis Licitus escrita por Meurtriere


Capítulo 23
O Moinho Vermelho


Notas iniciais do capítulo

Eu amo o filme Moulin Rogue e por isso escolhi o nome. Tem notas importantes no final... Boa leitura ;)



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Certamente Jenny era merecedora de todas as pragas que jovens rapazes lhe renderiam se soubessem da grande oportunidade que a Kenway tinha diante dela de estar em um dos melhores bordéis, se não o melhor, de toda Portugal. É bem verdade que as mulheres portuguesas não eram lembradas pelas suas belezas e não atoa havia espalhadas pelo país meretrizes de todas as cores e sabores, o que era ótimo para deleite daqueles que podiam pagar. Mas por outro lado, Jenny nascera com peitos e não com bolas e simplesmente por isso não havia nada de excitante na ideia de um local recheado de jovens lascivas a procura de um homem rico. E tudo o que mais queria naquele momento era sair daquele poço de lama a qual ela chafurdava cada vez mais como James. 

— Não sejas tímido e aceite a oferta, pois dificilmente você terá outra tão boa, James. – John lhe sorria de forma camarada e vendo isso, a menina sentiu o coração apertar por enganar o pobre marinheiro. – Veja! Lá está o Moinho Vermelho. 

Ele ergueu o indicador da mão direita para a construção que se destacava em meio a tantas outras, era uma mansão bem cuidada, com janelas decoradas com cortinas brancas, música de piano e, claro, vozes de homens e mulheres vindas de lá. John não estava exagerando quando disse que o Moinho era o maior bordel da cidade e provavelmente o mais caro também. Não havia prostitutas nas portas, oferecendo-se como nos locais mais pobres e menos luxuosos, ao contrário, o local até poderia se passar por um clube de moral elevada. Um pouco atrás, estava o moinho velho que nem ao menos girava mais com o vento, se um dia fora vermelho, Jenny nunca poderia saber, pois o tempo cobrara seu preço e era espantoso ver o moinho ainda de pé. 

John já estava a meio caminho do local e puxava Jenny pelo braço, esta que ainda tentava encontrar uma boa desculpa para se livrar do que quer que o homem estivesse planejando, mas o desespero de ser desmascarada a impedia de pensar claramente e logo ambos transpassaram as portas da entrada. 

O som da música foi o primeiro a recebê-los e a menina viu ao fundo, sobre um palco de madeira, uma mulher, mas não uma simples mulher, uma linda mulher de cabelos loiros e ondulados que lhe caiam sobre os ombros, até os seios e seus dedos passeavam de uma tecla a outra do instrumento de maneira que a Kenway nunca conseguira fazer em seus tempos de aprendizado. 

— John, é bom vê-lo novamente.  

Jenny voltou sua atenção, para a mulher que agora os recebia pessoalmente. Ela não era nova, já devia estar com seus quase cinquenta anos, mas ainda assim sustentava uma elegância e certa beleza para sua idade. Os cabelos negros estavam amarrados em um coque, algumas mechas brancas eram visíveis aqui e ali e entre seus dedos um cigarrete expelia fumaça. 

— Vejo que tens companhia hoje. – Ela tragou mais um pouco de seu cigarrete e olhou maliciosamente para Jenny. – Um rapazote tão pelado quando um bebê. 

— Esse aqui é o James e não se engane pela aparência dele. – John dera um soquinho amistoso no ombro de Jenny que respondeu com seu melhor sorriso amarelo. – Ele salvou minha vida e por isso o trouxe aqui, uma recompensa justa não acha? 

Ela riu e se virou de costas. – Venham comigo. 

A mulher seguiu para uma porta a sua direita e ao abri-la uma cortina de tecido e outra de fumaça saudou a dupla, a menina tossiu um pouco enquanto seus olhos se acostumavam para ver o que a maioria dos homens chamaria de paraíso. O salão amplo a qual adentraram estava repleto de sofás e divãs para todos os outros lados e Jenny tinha que admitir que nunca vira tantas belas mulheres reunidas em um só local. Alguns homens, que devido à cor e cabelos bem arrumados, a Kenway julgou serem homens de poses, estavam deitados em alguns dos sofás e almofadas. Mulheres jovens, esbeltas e cheirosas dançavam sobre suas virilidades, fazendo o local um antro de gemidos e prazeres. 

John não tinha dinheiro para pagar uma noite, nenhum marinheiro, marujo ou pirata teria dinheiro para estar ali, talvez seu pai o tivesse, mas ele não era um simples pirata. E tão logo a menina percebera isso, virou-se para lhe questionar, como ele podia frequentar o Moinho Vermelho? Mas sua chance se foi, pois os lábios do homem estavam colados aos lábios de uma jovem que estava abraçada a ele, pareciam que a qualquer momento iriam se tornar uma pessoa só. O beijo cessou e Jenny não viu na jovem a expressão de uma meretriz e sim de alguém perdidamente apaixonada. 

— Oh John, fiquei tão preocupada quando não veio ontem. – Sua voz era serena e suave, mas seu inglês era arranhado, de certo não era sua língua natal. 

— Sinto muito se a preocupei, minha doce Rosa.  

— O que houve? – Seus olhos marejados por lágrimas que não chegaram a cair brilhavam com a as luzes tremeluzentes que vinha da lareira do local. 

— Luta ruim. – Ele apontou para o corte acima do olho e ela de imediato fora checar por si própria. – Mas, graças ao meu amigo James aqui, estou inteiro ainda. – John lhe rendeu um sorriso sincero e novamente, Jenny sentiu o coração apertar. 

— Muito obrigada por cuidar dele. – Rosa se virou para a menina e lhe tomou as mãos entre as delas.  

Os olhos amendoados da moça eram encantadores, em tons de mel e cheios de vida. Os lábios carnudos e vermelhos mais pareciam duas frutas maduras e o rosto fino e delicado compunha uma harmonia perfeita. Que Bonny nunca a ouvisse falar isso, mas era a mulher mais linda que Jenny um dia conheceu.  

— Tudo bem. – Foi tudo o que conseguiu dizer à boa moça. 

— Rosa, eu trouxe James aqui exatamente para agradecê-lo e gostaria de sua ajuda para isso. – Ela o observava atentamente, não era muito mais velha que Jenny, talvez uns quatros anos ou menos. – Sei que há meninas jovens aqui, ainda aprendendo as artes do amor. Acha que conseguiria uma dessas para nosso amigo? 

Rosa pareceu pensar por um momento, provavelmente escolhendo a melhor opção para a proposta de John. E Jenny tentou uma ultima evasiva do local. 

— Está tudo bem. Não foi assim, um grande corte mesmo né? 

— Tenho uma rapariga perfeita para ele. – Ela concluiu por fim, aumentando ainda mais o desespero da Kenway. – Me esperem aqui, por favor. 

Com isso, ela partiu por aonde viera antes, por entre cortinas que dançavam com sombras das meninas ali e aqui. Jenny sentia os olhares delas em cima dela, e sim, era ela que estavam observando, pois John certamente já era conhecido, mas ela era um filhote assustado e mulheres sentem de longe o cheiro do medo. Para seu alívio ou não, Rosa retornara com uma menina mais ou menos da mesma estatura da Kenway, com cabelos castanhos e lisos, escondendo a parte superior das costas. O vestido de seda deixa a vista seus mamilos pequenos e rosados e Jenny não ousou olhar para mais embaixo, ela ainda tinha algo dos bons costumes em si.  

— Boa noite senhores. – Ela cumprimentou em um inglês nortenho, típico de escoceses.   

— Essa é Kenna. Ela é ainda é novata aqui e por isso ainda está em fase de treinamento, mas ela não é de toda uma inexperiente.  

Ambas sorriram, uma para a outra, como se ali compartilhassem um segredo só delas enquanto a jovem aterrorizada tentava pensar em coelhos e ovelhas para espantar a imaginação fértil, comum nas cabeças joviais. Kenna segurou a mão de Jenny e a puxou para a porta de onde ela e John vieram, a menina tentou argumentar qualquer coisa com o amigo, mas este já ia em outra direção junto a Rosa e logo sumiram de vista. 

Kenna a conduziu para o hall de entrada, onde a pouco, Jenny vira a mulher tocando piano, mas ela não estava mais lá. A morena a levou para uma escada mais ao fundo do corredor e logo ambas caminhavam pelos corredores, passando por portas bonitas que escondiam os segredos daquele que estavam dentro, embebedando-se no primeiro prazer conhecido pelo homem, o da carne.  

Por fim a rapariga parou frente a uma das portas, igual a todas as outras, e girou a maçaneta para empurrar a madeira para o interior do quarto. Por alguns instantes, Jenny se maravilhou com o que seus olhos lhe mostravam. Havia uma cama retangular, grande o bastante para umas quatro pessoas dormirem nela, os lençóis de seda cintilavam com a luz de velas que ardiam nos candelabros espalhados pela parede. No canto direito um divã com almofadas repousadas e no canto esquerdo uma banheira com água quente lhe chamava para relaxar. 

Kenna fechou a porta atrás de ambas e percebendo o olhar concentrado de Jenny sobre a banheira, insinuou-se para a menina, ainda sem perceber a natureza daquela situação. A Kenway dirigiu-se até a banheira e tocou na água morna com a ponta dos dedos. 

— Por Deus, quanto tempo não tomo um banho? 

Mas seu encanto se fora quando sentiu o toque de Kenna sobre seus ombros e a boca perigosamente perto de demais de seu pescoço. As mãos dela deslizaram pela lateral de seus braços e quando já estava na altura de sua pélvis, a escocesa agarrou o sexo de Jenny, ou ao menos pensou que agarraria.  

— Mas o quê...?  

Jenny se virou e sacou a pequena lâmina que carregava o tempo todo às costas, escondida por debaixo das roupas, uma mão tapou os lábios de morena enquanto a outra pressionava a pele do pescoço da agora indefesa jovem a apenas um suspiro de ser morta. 

— Sinto muito termos chego a isso. Não preciso te machucar se você prometer se comportar ok? 

Os olhos vívidos expressavam o pavor da rapariga que tinha suas pernas bambas, ela meneou com a cabeça positiva e vagarosamente. Jenny a avaliou antes de se decidir se iria confiar ou não, preferiu por arriscar. Sua mão deixou os lábios dela, mas a lâmina permanecia. 

— Certo, sem gritos e nem pavor. Vamos conversar. – A mão firme permanecia a segurar lâmina, sua mão estava suando, mas já fizera isso antes com Al e se saíra bem. 

— E o que você vai fazer comigo depois?  

— Absolutamente nada, se você prometer guardar meu pequeno segredo. 

— E se não? 

— Volto aqui e termino o serviço. 

— E se eu fugir? – Jenny revirou os olhos, começava a se cansar da rapariga amedrontada. 

— Não vai fugir e se o fizer... Bem, eu a encontrarei e termino o serviço. Entendeu? – A morena sinalizou que sim e a Kenway sentiu que era o momento de tirar a lâmina do pescoço dela. – Agora, será sua vez de responder às minhas perguntas. Como John paga por todo esse luxo? 

— Tudo isso é por causa de John? O que ele fez? – Ela riu com a situação, parecia totalmente recuperada até Jenny lhe apontar novamente o fio de lâmina. 

— Você responde aqui e eu faço as perguntas. 

— Ele furta alguns caixotes de mercadoria do capitão dele, ganha algumas lutas e claro ganha o próprio salário. Ele deixa todo o dinheiro aqui, para Rosa. 

— Ela é apaixonada por ele...  – A loira abaixou a lâmina, seus olhos se perderam por um instante enquanto em sua mente as peças se encaixavam.   

— E ele por ela. – Completou a rapariga – Viagem após viagem, ele chega e paga todas as noites para ficar com Rosa. 

— E por que ele simplesmente não a leva embora? – Jenny voltou o olhar para Kenna que tinha as curvas sobressaltadas devido às luzes de velas bruxuleantes do local.  

— Pelo que sei, John não tem casa, não tem família e não tem para onde levar Rosa, que ao menos aqui tem teto e comida garantida. Mas Rosa disse-me uma vez que ele prometeu leva-la para Gales, país natal dele.  

A loira assentiu e tratou de ir ao assunto seguinte.- Próxima pergunta. O Marquês de Pombal é frequentador daqui? – A rapariga arqueou a sobrancelha e repuxou o lábio, visivelmente desconfiada daquela pergunta. 

— Não creio que seja. Nunca o vi e pelo que sei, ele é perdidamente apaixonado pela esposa. O mesmo não dizem dela, é claro. 

— Como assim? O que dizem dela? 

— Alguns soldados do palácio, que ganham relativamente bem para passarem algumas noites aqui, ficaram bêbados demais e todo homem bêbado torna-se um livro aberto. – Ela sorriu, parecia se sentir orgulhosa por conhecer tamanha sabedoria. – Eles disseram que não raramente um inglês metido chamado Paul visita os aposentos dela. 

Os olhos de Jenny se arregalaram ao ouvir tal declaração. Agora ela tinha certeza de onde encontrar seu alvo e tomada pela ansiedade voltou a erguer a arma para o pescoço da rapariga. 

— Você já o viu? Ele vem aqui? 

— Precisamos mesmo disto? – A morena olhou para lâmina perigosamente próxima ao seu belo pescoço.  

— Desculpe. – Disse a Kenway ao se controlar e abaixar o pulso. 

— Nunca o vi também e provavelmente não vem aqui. Apenas alguns soldados nos visitam às vezes, a maioria dos fregueses são comerciantes ricos, alguns de passagem, outros moradores locais, alguns nobres, mas do castelo ninguém mais vem aqui. Todos sabem o que é isto e homens da realeza ou aqueles que convivem com estes não podem arriscar serem vistos aqui. Por isso Príncipe José leva as meninas para o castelo. 

— Ele leva prostitutas do moinho? 

— Apenas as mais belas que cantam bem. – A loira franziu o cenho e Kenna reparou a confusão em sua face de fácil leitura. – Ele gosta que cantem para ele. 

— E como elas são levadas para o palácio? 

— Todos os dias o Príncipe sai madrugada afora atrás de uma boa briga e um bom par de peitos, mas ele gosta de ouvir música e por isso, antes de chegar ao palácio, a carruagem passa aqui e leva a sortuda da noite. 

— Sortuda?  

— Se ele gostar da rapariga ela passa ser exclusiva e dizem que ele tem a borracha fraca, então é dinheiro fácil por algumas horas. Eu mesma estou treinando a voz para poder ter a chance um dia.  

— Bom, então hoje é sua noite de sorte. Ganhará seu dinheiro sem nenhum esforço, só peço que aja naturalmente quando sair dessa quarto.  

— Se quiseres, sei dar prazer a mulheres tanto quanto sei dar a homens? – Kenna deslizou os dedos por sobre o tórax de Jenny, sabendo que ali estariam os seios dela. 

— Não. – A loira retirou os dedos dela de cima de si e com a outra mão retirou a boina suja e esfarrapada do topo da cabeça. - Agradeço a oferta, mas tudo o que quero agora é desfrutar dessa banheira aqui. 


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Notas finais do capítulo

O segredo de Jenny por hora está salvo! O que Edward diria ao saber o tipo de coisa que a filha tem passado? rs Ele me mataria provavelmente. Mas ela sobreviveu sã e salva.

Agora vamos as notas importantes...

Eu venho tentando manter o ritmo de postagem em todas as quintas, pois fico receosa de der algo errado na sexta e meus fds são corridos. MAS não sei se haverá capítulo semana que vem, os motivos? Shay Patrick Cormarc e Geraldo de Rivia rs.
Acredito que teremos ainda mais uns 4 capítulos em Portugal, porém não estão escritos ainda. Vou tentar escrever no fds ok? A parte boa é que talvez jogando o Rogue eu possa colocar mais coisas na fic :D

No próximo cap... Jenny traça um plano para chegar a Príncipe e a Paul, um dos bandidos que invadiram sua casa.



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