Assassin's Creed: Omnis Licitus escrita por Meurtriere


Capítulo 1
Salto da Fé


Notas iniciais do capítulo

Capítulo Editado pós postagem!



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O céu estava povoado por nuvens que se aglomeravam para informar que logo chuva iria cair sobre Londres, o que de fato não era algo incomum. Sentada sobre o chão duro e encostada em uma parede da escola para meninas, Jenny anotava aquela peculiaridade como fazia todos os dias. Anotava a data e como estava o tempo naquele dia, se tinha vento ou não e se tivesse de qual direção vinha, se chovia ou fazia sol, se estava frio ou quente. Nos últimos quatros anos ela passou a fazer isso, começou com uma simples brincadeira com seu pai e hoje ela vê como sua missão. Na verdade, essa era sua missão quando seu pai ainda navegava pelo mar ocidental, mas agora ela devia se comportar como uma dama e não mais ficar fazendo viagens em meio a marujos sujos e beberrões, marujos esses que eram seus melhores amigos de risadas.

Edward havia decidido colocar Jenny em uma escola depois de muita insistência de sua mulher e ao contrário da vontade da menina que herdara o gosto pela navegação do pai. Sua madrasta por outro lado sabia que sua filha não teria futuro na marinha pelo simples fato de ser uma menina e não um menino. Resolveu que ela deveria ser instruída para ser uma dama e um futuro bom partido, ainda que seus vizinhos não os vissem com bons olhos, já que Edward em um passado não muito longínquo era um pirata conhecido desde as ilhas da riqueza até a cidade do rei. Porém, mesmo que suas cicatrizes no rosto e sua barba que ele mantinha com orgulho o denunciassem como ex-pirata, ex-ladrão etc não havia nada que um bom punhado de dinheiro não resolvesse e isso não faltava a Edward.

As escondidas de sua madrasta, Jenny alimentava sonhos de ser como seu pai, obviamente ela não sabia que ele roubava e matava sem pensar duas vezes quando era pirata. Em sua inocente mente, ele desenterrava tesouros escondidos, mergulhava em navios afundados e defendia seus marujos como uma família. Ela não estava totalmente errada, mas também não sabia de toda a verdade.

Mas seus sonhos para uma futura Jenny, a terrível, foram interrompidos por algumas gargalhas não muito distantes. Há poucos metros, ali no meio do pátio umas três meninas pareciam confrontar uma quarta que estava com os braços abertos perante elas. A Kenway não tinha amigas, isso porque odiava todas as atividades que outras alunas da escola praticavam. Tomar chá, apreciar vestidos e brincar de bonecas era tudo maçante a seu ver. Logo, seus dias eram solitários e quase sempre iguais ao anterior e ao posterior.

— Saia da frente Ana! Vamos expulsá-lo daqui. – Ordenou a garota que estava bem no meio do trio.

— Não! Vocês estão machucando-o. Ele não fez nada.

Jenny se virou um pouco ao notar algo atrás das pernas da tal Ana, parecia um animal pequeno. Pelos escuros e estava encolhido tornando difícil saber o que era.

— Ele estava roubando comida. – Outra garota proclamou.

— Ele estava apenas pegando restos e migalhas. Nada mais que pão duro. - Exclamou Ana que defendia o animal vigorosamente.

— Não importa. Não era dele. - A terceira respondera.

Cansada daquela discussão, ela guardou o caderno dentro da bolsa que jogou sobre o ombro e foi até o local.

— Hey. Deixem o pobre coitado em paz.

O trio que estava de costas para ela se virou para encará-la de frente e a menina que estava no centro riu.

— Olha só, a filha do pirata. Quem você acha que é para nos mandar? - A menina do meio levou as mãos a cintura como que para se impor diante de Jenny, mas com pouco sucesso em seu intuito.

— Eu sou Jeniffer Scott Kenway, filha de Edward James Kenway, o demônio pirata.

Jenny sentiu-se ali como alguém mais velho, alguém que vira coisas que aquelas meninas nunca imaginariam, alguém a quem elas deveriam respeitar, mas as garotas não a viam deste modo e fizeram questão de demonstrar.

— Acha que temos medo de você por que é filha de um bêbado?

O trio rio em uníssono após o comentário, para Jenny, mais pareciam como três papagaios que repetem uns aos outros.

— Não. Vocês são burras demais para entender o que significa ser um pirata. – Ana reprendeu um risinho que nitidamente irritou a garota que até poucos instantes atrás a confrontava.

— Claro, só porque seu pai achou um punhado de moedas de ouro por aí, você se acha nobre como nós. Mas não passa de uma rele peble.

A expressão desgostosa que Scott interpretou sendo nojo na face das três meninas não era novidade para ela ou para alguém de sua casa e ela estava cansada daquela expressão.

— Longe de mim ser igual a vocês. E por isso estou aqui. Se vocês se incomodam tanto com o cachorro, eu tiro ele da escola.

— Não! Ele precisa ser punido. - A menina do meio esbravejou, como um juiz que proclama a sentença a um ladrão, mas naquele caso era apenas um cão faminto e uma garota metida e mimada.

— Você não quer punir ninguém, quer fazer um show para mostrar que você tem poder, mas nem mesmo deve ter escolhido essa roupa que você está vestindo agora. – As meninas que estavam ao lado dela a olharam com receio em suas faces

— Certo. Quer salvar seu amigo ali? Ótimo, então que seja você a ser punida. Peguem as pedras.

As outras meninas logo se adiantaram em procurar e recolher pequenas pedras do chão, mas antes de se levantarem Jenny as empurrou para os lados e pegou o filhote atrás de Ana que estava tão atônita quanto as outras garotas. Ela viu algumas pedras passarem por seu lado e percebeu que a mira delas era tão boa quanto a de um cego armado. Mas uma e outra pedra atingiram suas costas, mas com uma força mínima de meninas que nunca ergueram coisas mais pesadas que um vestido volumoso. Ela corria rumo ao prédio onde tinha aulas diversas e só então se lembrou de que não poderia entrar com o cachorro lá, seus olhos procuraram rapidamente uma alternativa pela esquerda ou direita, mas havia apenas os muros contornando o pátio, jardim e escola. Ela não podia parar e resolveu tentar algo que vira seu pai fazer diversas vezes, mas nunca pôde fazer igual porque Edward sempre dizia ser perigoso demais, até então. O pequeno prédio estava passando por algumas reformas para aumentar o número de salas, havia um simples mecanismo ali próximo composto por roldana, corda e balde. No topo do telhado havia a roldana presa que estava transpassada por uma corda longa em que tinha um balde amarrado em uma das extremidades. Os construtores usavam esse balde para subirem materiais necessários e no chão uma madeira era usada para amarrar a outra ponta da corda, fazendo o balde ficar lá em cima o tempo que fosse preciso. Jenny sendo filha de pirata sabia fazer e desfazer nós mais rápido que muito marinho profissional, passou boa parte de sua viagem de volta para Londres fazendo e desmanchando diversos tipos de nós. Sem poder perder um segundo em sua fuga pouco planejada, ela usou seus dedos hábeis da mão livre para desatar o nó que mantinha o balde suspenso próximo a roldana e quando as pequenas ”nobres” chegaram perto o suficiente para lhe tacarem mais pedras, ela subiu. Um braço apertava o cãozinho fortemente contra o peito enquanto o outro segurava a corda que a alavancou tão velozmente que ela mal percebeu quando estava no telhado. O balde cheio de pedras se espatifou no chão próximo as outras alunas, fazendo-as se afastar momentaneamente. Jenny se virou e teve a face beijada por uma brisa que a tanto tempo ela havia sentido, ainda a bordo do gralha. Contemplou por alguns instantes a cidade do rei, o movimento das ruas, o comércio e ficou tão maravilhada com a visão privilegiada que o local lhe fornecia que esquecera por meros instantes o motivo que a levou ali, mas logo começaram os gritos lá de baixo.

Ela correu até o outro lado do telhado, saindo da vista da meninas que certamente permaneceram no chão ainda tentando entender como a Kenway fugiu para o telhado. As telhas eram íngremes e por isso ela sentou-se para escorregar mais cautelosamente, causando alguns rasgos no vestido e certamente um sujeira que nem podia imaginar como explicaria em casa, mas eram problemas para outra hora. Chegando à borda ela calculou que uma queda daquela lhe causaria no mínimo um tornozelo torcido, mas ali no canto direito, um pouco escondido estava uma carroça com feno. As vozes estavam se aproximando, as outras meninas estavam contornando o edifício e sem muito mais tempo a perder ela se jogou.


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